quinta-feira, novembro 18, 2004

Para todos vocês...

Para todos vocês...

É para todos vocês que escrevo hoje , aqueles que lutaram comigo lado a lado, aqueles que souberam acompanhar-me nos momentos em que sorrimos e naqueles em que chorámos. Os que estiveram sempre como fiéis amigos dispostos a mostra-me todo o seu amor e carinho. Obrigado a todos vocês. Porque serão os únicos que nunca esquecerei. A recordação é a melhor prova de amor que podemos dar aos outros. E no meu coração guardarei sempre os vossos rostos contilantes nesta "caixinha" pequenina que é o maior tesouro que tenho em mim...
Obrigado. Sem vocês não seria ninguém.

Menino

Menino

Ainda te procuro menino de olhos azulados... Busco o olhar distante, os traços inconfundíveis desse rosto de menino e moço. Procuro a lágrima que descia pelo teu rosto acabando por implantar-se no meu coração. Na minha memória surgem esses teus lábios de cor avermelhada naquela manhã fria de Outono. Não tinhas nada.
Apenas as lágrimas que te desciam pelo rosto acalentavam essa dor que, a tua expressão de menino jamais poderia revelar. Lembro-me perfeitamente de teus olhos azulados, que penetravam no nosso espírito sem nos apercebermos. Era um olhar vazio, olhar de menino inocente, olhar de criança onde apenas perduravam os desejos de menino.
Não querias ser futebolista, não querias ser médico nem tão pouco super-herói, querias apenas ser feliz!
Querias poder ser como todas as crianças, querias uma família...
Desejavas o carinho, o amor, o conforto de um lar e um pai e uma mãe que pudessem adormecer-te contando-te histórias.
Tantas vezes havias sonhado que uns braços fortes e ávidos de carinho caminhavam até ti aconchegando-te e dizendo-te baixinho a doce palavra: Amo-te.
Tiveste tantos sonhos, pequeno herói.
Sonhos de uma doce criança, marcada pela revolta de dois seres ao relação ao mundo.
Não tinhas medo da solidão, da dor, nem dos olhares de pena e admiração. Tinhas sim, medo de conhecer a verdade. Receio de descobrir que existiu alguém que nunca soube dar-te o teu verdadeiro valor, medo de não ter a mão protectora que possa acariciar-te teus cabelos ao amanhecer.
Não tenhas medo menino. Existirá alguém, há sempre esse “alguém”.
Imagino agora teus olhos brilhantes, carregados de orgulho quando dos teus lábios saírem as palavras: Mamã e Papá.
Não estás só. Nunca estarás, porque ainda te procuro menino dos olhos azuis...

Isa Mestre

Doce rebeldia

Doce rebeldia

Somos doces rebeldes. Somos aqueles que anseiam descobrir o mundo e poder tê-lo na palma da mão. Somos seres irreverentes e carregados de garra para vencer e fazer frente a este mundo “louco”.
Queremos trabalhar, queremos mostrar um pouco do que valemos. Porque não nos deixam? Porque nos impõem metas, porque nos colocam pressão sobre os ombros?
O peso das mochilas já é demasiado, levamos nas mãos as expectativas daqueles que acreditam em nós, não podemos desiludi-los. Gostamos de ler, queremos ler, queremos aprender, queremos sonhar. Porque insistem em impor-nos tudo? Porque não podemos ser nós mesmo a marcar a diferença, a escolher, a decidir, a ser livres e independentes. Estão nas nossas mãos as melhores formas de aprender, diante de nós as únicas pessoas que nos podem indicar o caminho certo a percorrer, e, vocês querem mandar nos nossos destinos? Querem impor-nos à força que temos de ler cinco ou seis obras? Querem forçosamente obrigar-nos a “mastigar” sempre da mesma comida?
Também queremos ter a nossa palavra. Também queremos a liberdade de poder escolher e determinar as nossas próprias metas, porque somente nós sabemos até onde podemos chegar. Deixem-nos ler aquilo que quisermos, quantas obras quisermos, deixem-nos espalhar a nossa sabedoria e cultura alegremente, sem a preocupação de ter de cumprir prazos ou apreciar aquilo que não nos agrada.
Dêem aos jovens uma oportunidade de mostrar que afinal, não somos apenas rebeldes, não somos apenas mal-educados e comodistas, deixem-nos provar o contrário.
Nascemos com o peso de termos de ser “alguém” na vida, somos emenda dos falhanços dos outros, somos livres mas não podemos voar...
Nos melhores anos das nossas vidas é-nos imposto que sejamos “cultos” e adultos à força. Queremos sê-lo mas sem carregar esse pesado fardo da pressão psicológica.
Vamos saber vencer, vamos saber aprender e um dia mais tarde ensinar aos mais novos, vamos crescer e ser melhores adultos, vamos ser correctos e irreverentes. Vamos ser livres expressando os nossos ideais e atingindo as nossas ambições.

Isa Mestre

Companheiros de Histórias

Companheiros de Histórias

Companheiros de histórias, amigos do pensamento, é para vocês que escrevo hoje, aliás, não só hoje mas todos os dias.
Porque sempre que há algo novo para contar, sempre que a minha caneta não resiste à tentação de tocar o papel penso nos velhos contadores de histórias que já conheci.
Penso, que agora sou eu que deposito no papel tudo aquilo que me vai na alma, que coloco nessa “mancha branca” a maior parte de mim e aquilo que mais amo fazer.
Mas, sem vocês, os companheiros das histórias, dos casos reais, dos pensamentos profundos e também dos superficiais, nada disto faria sentido. Nunca faz sentido abrir o nosso coração para quem não o quer conhecer e amar...
Por isso, que sempre que a caneta desliza sobre o papel, penso nos senhores de óculos, nos jovens, nos adultos e nos velhinhos. São eles os companheiros de histórias, aqueles que semana após semana, mês após mês, estão sempre dispostos a escutar a nossa “voz”, os que não se cansam de pensar, os que procuram constantemente superar os seus limites. São esses que admiro. Esses que tudo fazem para tornar o mundo num lugar mais interessante, os que lêem, os que escrevem, os que pintam, os que contam histórias, os que conseguem ser sábios através do conhecimento.
Porque só vocês, amigos, sabem compreender e ouvir o nosso “grito”, estando sempre dispostos a viver connosco as alegrias e as tristezas. Através das palavras vivemos tudo isto, através delas sentimos, acima de tudo através da sua magia sentimo-nos alguém. Mesmo que não conheçamos os rostos uns dos outros, conhecemos o diálogo, os pensamentos e a alma, que afinal valem bem mais que a nossa “embalagem”.
E, cada vez que sinto aqui dentro esta vontade de comunicar, o coração fala baixinho as palavras que a caneta escreve com todo o carinho. È como se vocês, companheiros de histórias, estivessem em todo o lado, dispostos a ouvir-me onde quer que esteja. Transporto-vos no peito juntamente com as frases, com as palavras, com a profundeza do nosso ser que tantas vezes avaliamos juntos.
Por isso, e tal como dizia um grande escritor, todos somos meramente contadores de histórias, e também companheiros de histórias.
Obrigada por tudo. Sem vocês a minha mão não tem vontade de escrevinhar, sem vocês a minha alma fica demasiado vazia para sonhar.
Também estou aqui para ouvir as vossas histórias, para sentir da mesma forma que sentem, para partilhar aquilo que queremos mudar no mundo.
È por tudo isto amigos, que quero deixar-vos estas palavras de apreço e amizade, porque sem os “meus” companheiros de histórias, não existiria este sentimento tão forte e presente aqui no meu peito.
Porque afinal, aqui deste lado, está apenas uma contadora de histórias...

Isa Mestre

Inverno

Inverno

Estação fria, rostos fechados, mentes cansadas do trabalho e exaustas da rotina que lhes é imposta. As pessoas caminham pelas ruas quase sempre com um passo apressado como que fugindo das “lágrimas do céu”. Todos procuram um abrigo, um sítio onde possam aconchegar-se junto à lareira ou no conforto de suas casas. Na televisão programas patéticos vão-nos entretendo, e não nos preocupa mais nada. Conformamo-nos com a ignorância, despreocupamo-nos em pensar se existe alguém que precisa de nós... Somos frios, gelados... tal como o vento que passa sobre os nossos rostos.
Desanimados, deprimidos e inconscientes vivemos dentro da nossa própria “concha”. Somos irmãos do egoísmo, da depressão, da ignorância e da preguiça. Nossas mãos estão “vazias”, havidas de boas acções, desejosas de poder levar a tão desejada refeição de carinho ao pobre que, nas ruas se sujeita à chuva e ao frio dos Invernos mais rigorosos.
Estamos sempre tão ocupados com os nossos problemas, as nossas questões, as nossas dúvidas e as nossas discussões pessoais que não nos resta nem um minuto para reflectir sobre a vida de muitos outros. Esses que por momentos dormem ao frio e ao relento nessas noite de luar, passadas sobre o banco de um jardim ou na calçada de uma rua qualquer. O Inverno é frio, cada vez mais frio.
Quando chega o Natal pensamos apenas na festa, nos presentes e na comida. E aqueles que nada disso têm? E os que passam o Natal agarrados à seringa, à garrafa de bebida ou ao pobre cão igualmente abandonado?
Esse homem que dorme no jardim, humildemente enfeitado e sob imensas luzes de diversas cores, a pessoa que também sente, o homem que chora.
No entanto, suas lágrimas jamais chegarão até nós, perder-se-ão algures num canto do mundo. Sozinho chora a sua mágoa, esse velho grisalho que faz da rua a sua única casa.
Enquanto nós distribuímos presentes esse homem que nas mãos leva a miséria oferece sua alma ao vício em troca de alguma inconsciência.
O mundo não é justo.
O Inverno é cada vez mais frio.

Isa Mestre

Nos confins de cada gesto...

Nos confins de cada gesto ...

O seu olhar dizia tudo, de dentro da sua alma saíam palavras que encantavam, encantavam de uma forma diferente, enchiam o nosso coração de amor e carinho. Ao contrário daquilo que poderíamos pensar na sua expressão não existia um mínimo rancor, um desprezo ou um sentimento de revolta para com a vida e o seu destino.
Senti que o mais importante era saber ouvi-lo porque realmente a vida já lhe havia ensinado muito e agora ele era alguém diferente de todos nós.
Alguém que com uma simples palavra mostrava todo o seu coração, que estava ali perante todos nós sem poder olhar-nos, mas, que, no entanto, nos sentia como ninguém.
Não era como muitos, que se isolam e escondem os seus sentimentos. Esse homem, cheio de garra e vontade de viver, mostrou-nos o quanto é importante saber sentir.
Nas suas palavras não existia frieza nem rancor, mas um tom suave como cada nota de uma pauta de música.
De uma maneira ou de outra, esse grande homem encarou-nos como aquilo que nós realmente somos.
Com poucas palavras encheu a nossa alma de brilho e alegria, contagiou-nos com a disposição que nós próprios deveríamos possuir, transmitiu-nos não só a vontade de seguir em frente, não só a garra e alegria, mas também essencialmente uma grande lição de vida.
Percebi que, mesmo não podendo olhar todo o mundo à sua volta, como todos nós, ele olhava-o com o coração, sentia-o de uma maneira ainda mais profunda e via aquilo que nós próprios, muitas vezes, não conseguimos ver.
Parecia que cada gesto, cada palavra, era magia, tinha um valor incalculável, algo que não podíamos sentir, mas, sabíamos que estava presente.
Era algo parecido com o voo de um pássaro, também nós voávamos ao sabor das suas palavras, aquelas palavras especiais, que mostravam quanto esse pássaro ágil havia voado nos céus da vida. A sua vontade de viver fez-me perceber que não é pelo facto de nuvens taparem o nosso sol que o nosso dia será eternamente cinzento. É possível que dentro de nós, muitos outros raios de luz, magia e imaginação irradiem tudo á nossa volta, uma luz que afastará essas nuvens carregadas e as levará para um outro lugar distante...

Isa Mestre