domingo, abril 10, 2005

A solidão no parapeito da minha janela...

Não caminhas sozinho, ter-me-ás sempre a teu lado.
Como um farol que iluminará o teu caminho, como uma asa que te ajudará a voar, uma pedra que te abrigará em momentos de cansaço, uma água que colmatará a tua sede.
Ainda que não me sintas ou vejas estarei sempre no teu encalço.
Não devemos deixar os outros sozinhos, nunca. A solidão mata-nos, invade-nos, percorre-nos, deixa-nos indefesos e loucos, presos entre quatro paredes que nos parecem todo um mundo.
A solidão alimenta-se da dor e da tristeza que existe em nós. Por isso, quando estiveres triste não te afastes do mundo, mas procura-o com todas as tuas forças.
Existem sempre pessoas do nosso lado, garanto-te. Já olhaste à tua volta?
Nunca julgues que te perdeste, porque neste mundo apenas não se perdem aqueles que nunca se acharam realmente. Não tenhas medo de chorar, haverá sempre alguém para enxugar as tuas lágrimas e acariciar-te o rosto.
Então prosseguiremos consoante os nossos actos e valores. Seremos vitoriosos, perdedores, felizes, tristes, sisudos e risonhos.
A vida é um misto de sentimentos, de momentos, de pessoas.
Nunca estarás inteiramente satisfeito, bem sabes que a ambição será sempre a faceta mais complexa da Humanidade.
Vais querer sempre mais e melhor. Isso far-te-á crescer, mas também te fará chorar.
Com as lágrimas aprendemos a viver.
Passarás pela vida como quem faz uma viagem e apenas no final repara quão curta ela foi. Eu estarei a teu lado, vivendo, sonhando, enlouquecendo. Ainda que não me vejas estarei contigo.
E quando partires não chorarei nem me sentirei só, apenas partirei contigo da mesma forma humilde como cheguei.
È certo que lutámos lado a lado, ombro a ombro, embalados por essa dança de olhares e de momentos.
Hoje o dia está cinzento, mas sei que não estou só.
Do parapeito da minha janela afasto a solidão, trato-a com desprezo, odeio-a.
Quero que vá para longe, para que os amigos e companheiros possam vir, caminhando lentamente e colocando-se cada vez mais perto, até que possa tocar-lhes na faces e sentir que nunca estive sozinha no mundo.

Isa Mestre

A distância que nunca nos separou

Pai, disseste-me um dia que as coisas mais importantes da vida são aqueles que nascem connosco.
Tinhas razão.
Eu nasci contigo e tu criaste-te, implementaste-me o respeito, a ambição e os sonhos.
Quando nasci quiseste oferecer-me uma vida melhor, quiseste poderes orgulhar-te um dia de mim. Todos os pais sonham poder orgulhar-se dos seus filhos.
Partiste então... Com mágoa, dor e muitas lágrimas. Reuniste os teus sentimentos e transformaste-os numa força que te permitiria vencer.
Grande parte da minha infância foi passada distante de ti, cresci longe dos teus olhos, que apenas se fixavam em mim duas vezes por ano.
Como custava não poder ter-te a meu lado... O carinho, o amor, o aconchego e as histórias de encantar que os pais contam aos filhos.
Mas sempre soube que estavas longe para poderes oferecer-me aquilo que julgavas merecer, isso fazia-me orgulhosa.
A tua voz distante que chamava por mim todos os dias, sempre a mesma voz carinhosa, sábia e atenta. Corria para o telefone para contar-te todas as novidades do dia, as vitórias e as derrotas, as lágrimas e os sorrisos. E tu ouvias-me sempre com a mesma atenção, orgulho e emoção de uma pai babado.
Estavas longe mas isso nunca te impediu de participares na minha educação como se estivesses verdadeiramente a meu lado.
Eu cresci. Ouvindo a tua voz, os teus conselhos, as tuas suaves reprimendas marcadas pela saudade.
Ensinaste-me a tornar-me uma “mulherzinha”, a apoiar-me nas fraquezas e torná-las nas minhas maiores forças.
Foste o maior exemplo de esforço e amor que alguma vez poderia ter tido.
Obrigado, pai.
Tu que suportaste a saudade para poderes oferecer-me uma escola, uma casa, livros, cadernos, lápis e canetas. Privaste-te do prazer de me ver crescer, da alegria de levares-me à escola no primeiro dia, do amor da minha mãe. Tudo isto o fizeste por mim e pelo meu irmão.
Enquanto dormíamos, tu apenas dormitavas, pois no dia seguinte seria uma jornada de trabalho intensa sob o frio que te gelava a alma.
Tivémos saudades, muitas saudades, também as tiveste.
A nossa história é o maior exemplo de que a distância jamais poderá ser culpada dos nossos falhanços a nível da educação.
Na verdade, milhares e milhares de quilómetros nos separavam, mas , nunca foste um pai distante.
Pelo contrário, sempre serás um pai brilhante.

Isa Mestre

Nada se perde, tudo se encontra

Todos os dias nos perdemos, todos os dias nos encontramos.
Perdemos o que amamos, o que não amamos, o que temos e o que nunca tivémos.
Na vida tudo se perde com a mesma facilidade com que se ganha.
Planto uma semente na terra, amanhã será uma bonita árvore, repleta de frutos, disposta a saciar o desejo e a fome humana. Virá uma rajada de vento, uma fria geada que a destruirá por completo, ela perder-se-á, os seus frutos caíram e as suas ramificações deixaram de produzir flor. Mas, na verdade, tudo aquilo que se perde, se lutarmos com determinação, conseguiremos encontrar.
Logo, essa árvore um dia encontrar-se-á de novo, crescerá novamente com força e pujança nas suas raízes e voltará a produzir os melhores frutos. Encontrará tudo o que julgou perdido: a harmonia, a paz, o balouçar dos pássaros sobre os seus troncos...
O nosso caminho é percorrido por diversas fases, onde nos perdemos e nos encontramos, e quando achamos já ter ganho tudo, eis que voltaremos a perder o rumo e teremos de buscar novamente o caminho a seguir.
Os sentimentos também se perdem. Perdem-se como tempo, com a distância, com a falta de afectividade, com a falta de atenção. Voltam a encontrar-se um dia, perdidos na nossa “caixinha” mágica, vagueando à solta por uma alma ávida da sua existência.
E quando decidimos viajar? Pegamos no mapa, seguimos o instinto da aventura, e lá vamos nós. À descoberta de novos lugares, novas pessoas. Acreditamos poder conquistar o mundo nesses breves instantes. Quando menos esperamos, estamos perdidos, à volta tudo nos é desconhecido – as casas, as pessoas, os campos – o terreno parece fugir-nos debaixo dos pés. Sentimos então a necessidade de reencontrar, recorremo-nos das nossas próprias capacidades, usamos a nossa força, garra e espírito e lá estamos nós buscando novas formas de vida.
Encontramo-las sempre, garanto-vos.
Apenas não encontrará o que busca aquele que ficar parado conformando-se com aquilo que a vida lhe retirou.
Perder não é vergonha, vergonha é não querer encontrar.
Na verdade, por vezes, quando julgamos que aquilo que mais prezávamos nos escapou subitamente por entre os dedos, ficamos parados, incapazes, inúteis. Porquê?
Em nós existem capacidades, valores, atitudes que nos podem levar mais além, mostrar-nos o caminho para reaver algo perdido.
Nada se perde. Tudo se encontra.

Isa Mestre
Todos os dias nos perdemos, todos os dias nos encontramos.
Perdemos o que amamos, o que não amamos, o que temos e o que nunca tivémos.
Na vida tudo se perde com a mesma facilidade com que se ganha.
Planto uma semente na terra, amanhã será uma bonita árvore, repleta de frutos, disposta a saciar o desejo e a fome humana. Virá uma rajada de vento, uma fria geada que a destruirá por completo, ela perder-se-á, os seus frutos caíram e as suas ramificações deixaram de produzir flor. Mas, na verdade, tudo aquilo que se perde, se lutarmos com determinação, conseguiremos encontrar.
Logo, essa árvore um dia encontrar-se-á de novo, crescerá novamente com força e pujança nas suas raízes e voltará a produzir os melhores frutos. Encontrará tudo o que julgou perdido: a harmonia, a paz, o balouçar dos pássaros sobre os seus troncos...
O nosso caminho é percorrido por diversas fases, onde nos perdemos e nos encontramos, e quando achamos já ter ganho tudo, eis que voltaremos a perder o rumo e teremos de buscar novamente o caminho a seguir.
Os sentimentos também se perdem. Perdem-se como tempo, com a distância, com a falta de afectividade, com a falta de atenção. Voltam a encontrar-se um dia, perdidos na nossa “caixinha” mágica, vagueando à solta por uma alma ávida da sua existência.
E quando decidimos viajar? Pegamos no mapa, seguimos o instinto da aventura, e lá vamos nós. À descoberta de novos lugares, novas pessoas. Acreditamos poder conquistar o mundo nesses breves instantes. Quando menos esperamos, estamos perdidos, à volta tudo nos é desconhecido – as casas, as pessoas, os campos – o terreno parece fugir-nos debaixo dos pés. Sentimos então a necessidade de reencontrar, recorremo-nos das nossas próprias capacidades, usamos a nossa força, garra e espírito e lá estamos nós buscando novas formas de vida.
Encontramo-las sempre, garanto-vos.
Apenas não encontrará o que busca aquele que ficar parado conformando-se com aquilo que a vida lhe retirou.
Perder não é vergonha, vergonha é não querer encontrar.
Na verdade, por vezes, quando julgamos que aquilo que mais prezávamos nos escapou subitamente por entre os dedos, ficamos parados, incapazes, inúteis. Porquê?
Em nós existem capacidades, valores, atitudes que nos podem levar mais além, mostrar-nos o caminho para reaver algo perdido.
Nada se perde. Tudo se encontra.

Isa Mestre

Campeão

Porque te cortaram as asas doce pássaro inocente? Porquê a ti?
Porque sempre lutaste e quiseste um dia ser feliz ao abrigo da luz do teu maior sonho? Porque deste tudo aquilo que tinhas e ainda o que não tinhas para poder vencer? Porque empenhaste a tua coragem, enquanto outros nem ousaram fazê-lo?
O teu talento tinha asas para voar, soltava-se com leveza sobre algumas folhas de papel, sobre os campos, sobre os relvados, sobre as telas que colorias. Quiseram cortar-te as asas, impedir-te de voar, de ir mais além... Retiraram-te os sonhos como quem te retira o alimento que te mantêm vivo. Mas tu continuaste. A correr, a correr, sempre humilde, guerreiro e honesto, em busca da tua maior arte.
Fizeste tantos planos, sonhaste alto, com o teu futuro e com o nosso, sorriste connosco, brilhaste a nosso lado, iluminaste-nos com a tua luz.
Hoje choras. Choras porque correste quando todos ficaram parados, porque te molhaste quando todos procuraram um abrigo, porque lutaste quando todos desistiram de lutar, porque continuaste vivo quando a eminência da morte estava perto demais.
Não merecias que te cortassem as asas. Apenas querias liberdade para poder fazer aquilo que mais amavas. Merecia-la com o todo o respeito, porque foste um justo vencedor, jogaste limpo e saíste vitorioso, mas, nunca te quiseram oferecer a glória.
No relvado choraste pelo teu destino. No lugar onde tantas vezes nos ofereceste sorrisos depositaste as tuas sinceras lágrimas.
Querias ser um campeão. Era-lo na verdade, embora poucos o tenham reconhecido.
Ninguém quis coroar-te, ninguém quis dar-te a estrela de reconhecimento da grande arte que nasceu contigo.
Por vezes nesse palco onde tudo acontecia, as pessoas não te olhavam, apenas passavam os seus olhos egoístas sobre ti.
Foste trocado, foste vendido, foste coleccionado, foste esquecido. Não o merecias, pois o teu talento estava acima das oportunidades de brilhar que te foram dadas.
Enquanto tu corrias atrás de uma bola, lutavas aguerridamente em cada lance, choravas as derrotas e sorrias ás vitórias, os outros, aqueles que conseguiram singrar, nunca amaram de verdade aquilo que faziam.
Eles foram felizes, tu não.
Não porque te dedicasses menos, tivesses menos talento ou a pontaria aguçada, mas apenas porque ninguém olhou de uma outra forma para ti.
Apenas tu viste sinceridade nesse sujo jogo de interesses, onde foste subjugado em troca de palavras e dinheiro.
Eras demasiado inocente para ver maldade nesses senhores amáveis.
Todos eram iguais aos teus olhos, mas, bem sabes que nem sempre assim foi.
Agora, estás impedido de voar, preso, magoado, inútil.
Na vida por vezes é assim, independentemente do nosso talento ou habilidade.

Isa Mestre

Em ti

Em ti

Tens uns olhos lindos, sabias?
São verdes, como os de um gato, atentos como os de um falcão.
E no encadear desses olhos que te mostram o mundo, vislumbro essa expressão doce, sempre doce, quer faça chuva ou faça Sol.
Já não vivo sem ouvir a tua voz, sem sentir o teu rosto do lado do meu, as tuas mãos delicadas tocando-me com alegria. E o teu sorriso... Para mim é o mais lindo do mundo.
Parece que tens o Universo na palma da mão, e, eis que movimenta-lo e ele move-se, devagar, devagarinho, da mesma forma como os teus olhos pousam sobre mim.
Ès uma pessoa boa, e, isso hoje é muito difícil de encontrar. Tens os teus defeitos, os teus erros, as tuas infantilidades. Todos nós os temos.
Não és perfeito. Nunca o serás, nem quero que o sejas. Ninguém é.
Nunca direi que és a única pessoa da minha vida, porque isso seria mentir-te e não desejo fazê-lo de forma alguma.
Tenho muito orgulho em ti. Pela pessoa que és e para além disso pelas pessoas que ensinas os outros a serem.
Não tenho medo de perder-te. Não. Na vida tudo se perde e tudo se ganha.
Não te pedirei que vás comigo, que estejas do meu lado, que me apoies, que me dês carinho. Se quiseres fazê-lo, fá-lo-ás. Tenho a certeza disso.
Para além de tudo aquilo que possas ser, acima de tudo és um amigo, e isso vale mais que qualquer outro sentimento que se oponha na nossa relação.
Aconteça o que acontecer, quero contar contigo, nas vitórias, nos empates e nas derrotas.
Merecerás todo o meu carinho em todos os momentos. Os grandes, os que ficam aqui dentro, os que plantam as suas raízes no meu coração jamais serão esquecidos.
Se quiseres chorar, estou aqui. Se quiseres sorrir, estou aqui. Se quiseres falar, estou aqui. Se quiseres apenas olhar o futuro comigo a teu lado, estou aqui.
Esse sorriso maroto que invade o mundo de felicidade, que contagia o próximo e faz sorrir até os mais sisudos. Recordá-lo-ei.
As sobrancelhas carregadas como nuvens negras, prontamente abafadas pela claridade da tua tonalidade de pele e pela clara suavidade da cor dos teus olhos.
E o teu fio com uma cruz, a tua fé, a tua capacidade de acreditar até ao fim. Tudo está em ti, pendurado no pescoço fino que conduz essa medalha sobre o teu peito de menino.
Ès um bom rapaz. Outros já o disseram. Agora foi a minha vez.


Isa Mestre