quarta-feira, novembro 30, 2005

Gota de Orvalho

Desculpa porque me tornei num monstro. Numa obsessão poderosa por tudo o que impedia de amar. Trabalho, desporto, obrigações, tudo me impediu de amar os outros, de dispensar-lhes um pouco do meu tempo e voltar a ser alguém.
Quando vocês mais precisaram de mim eu estive distante, em compromissos inadiáveis que adiaram o meu encontro com o amor. Hoje sinto-me estúpida, indefesa perante a vulgaridade da vida, tanto tempo perdido, estupidamente perdido. E vocês precisaram das minhas mãos, dos meus abraços, das minhas palavras, e eu estava longe, no egoísmo dos meus dias, na loucura e na consumição de tornar-me feliz. Como poderia ser mais feliz do que aquilo que me tornavam? Segui nessa correria louca e nem me preocupei em saber quem ficava para trás e quem estava ali do meu lado dizendo-me que estava errada.
Uns perderam-se, outros morreram e eu continuei no meu mundo rancoroso e cruel de quem tem necessidade de refugiar-se na falta de tempo para esquecer os falhanços da vida. Hoje houve tanta coisa que ficou por fazer, por dizer… Tanta gente que quis abraçar, dizer-lhes o quanto os amava e agora, agora é tarde demais. O tempo levou as palavras, levou-vos a vós, eu tornei-me numa vagabunda que percorre toda a casa e se revela incapaz de encontrar algo ou alguém que lhe devolva vida.
A vossa luz perdeu-se no final desse corredor da vida, as papeladas tornaram-me velha e agora as minhas mãos buscam no vazio as expressões que quero abraçar.
Oxalá pudesse voltar atrás no tempo, viver convosco o que não vivi, abraçar-vos antes que fosse tarde demais e a vida vos tirasse da minha rota.
Ter-vos juntos de mim, nessa nossa fogueira de carinho, nas hastas de alegria que atiçavam o fogo do calor que nos unia.
Os meus dedos buscam as vossas figuras nos sítios onde tantas vezes estivemos, hoje tudo não passa de névoa, eu permaneço sentada, canto canções, conto histórias, sorrio para vocês como se o tempo parasse nos breves instantes em que sinto que tinha de ter estado do vosso lado.
Perdoem-me por favor, afinal, era apenas uma flor na idade de nascer, queria desbravar o mundo e mostrar que seria maior, mais forte, imbatível, que as minhas raízes jamais seriam arrancadas. Inocentemente fui colhida pelas hábeis mãos da vida que me mostraram que sem vós não poderia ir mais além.
Tornei-me numa planta perdida na imensidão do jardim da vida, distante e infeliz, sem capacidade para crescer e tornar-me mais forte, dar filhos, alegrar as pessoas à sua passagem. Quis ser maior e tornei-me cada dia mais frágil, tal como uma gota de orvalho que desliza até ao solo onde acaba por morrer, sozinha, perdida, triste.

Reencontro

Voltei. Voltei para te ver. Porque nem a distância que separa os oceanos pode separar-nos a nós.
Entrei nessa nave de ilusão e então senti que não havia nada certo, todos os sentimentos se encontravam numa amálgama e eu, só me apetecia abraçar-te para sempre. Tinha vergonha de voltar a ver-te, que te diria, como agiria, o que acharias de mim?
Caminhei pela terra solta como uma heroína que pisa a passadeira vermelha. Conhecia aquele caminho, tantas as vezes que o percorrera que parecia que as pedras, as covas e as bermas ainda eram as mesmas. As mesmas das manhãs frias, das tardes abrasadoras, dos dias bons e também dos maus.
Todos os dias pensava em ti, sentia saudades daqueles momentos que partilhávamos, das conversas, daquilo que me oferecias com o teu carinho. Então tive medo, que já não te recordasses de mim, que agisses com firmeza e me mostrasses o caminho de regresso.
Na verdade, nada mais sabia. Recordava apenas o antigamente, o passado risonho em que eu era ainda uma menina bonita e imatura. No entanto, recordava-me de ti como se pudesse ver-te diante dos meus olhos todos os dias, com a tua voz meiga e suave, com as palavras sábias, com a presença serena.
Cheguei perto do teu local, o único sítio onde tinha a certeza de poder encontrar-te. Os anos passaram e eu senti-me usada pelo mundo e distante dos sítios e das pessoas que outrora tanto amara. Prometi que voltaria, sempre. Afinal, não passei de uma covarde que pela suposta falta de tempo, ou até de coragem se deixou acomodar com tudo aquilo que a vida colocou no seu caminho.
Tudo estava agora mudado, o sítio que tivera aquele brilho incandescente era agora um mar de desilusões. Os vidros estilhaçados, o pouco ruído que se fazia sentir, as flores sepultadas, as faces revoltadas. Antigamente parece que tudo tinha vida, os vidros limpos, a barulheira constante, as flores saltitantes que queriam deixar a sua raiz e saltar-nos para as mãos.
Contive o desespero, olhei em volta e decidi prosseguir.
Não sabia onde estavas mas, recordando os velhos tempos deixei-me guiar por este coração louco que por vezes é farol, bússola e candeeiro.
Lá estavas tu. Como antes, nas quartas à tarde, no entrelaçar dos nossos sorrisos contínuos. Estava tão feliz por voltar a ver-te, ainda que fosse de longe, que nem tivesses reparado na minha presença. Sabia que apenas por isso já teria sido um bom motivo para estar ali.
Esses mesmos cabelos claros, a pele tingida de neve, os olhos penetrantes que se fixavam por momentos no livro que lias. A literatura, a nossa grande paixão. Quem ama nunca esquece, ouviste? Todos os dias antes de adormecer eu lia, apontava, vociferava para mim como se pudesse dizer-te todas aquelas coisas que me saltavam do pensamento. Em cada frase estavas tu, aquilo que me mostraste, o teu sentido que buscou sempre o melhor caminho no meu próprio mundo.
« Psst! Psst! », que saudades tinha deste som com que te chamava normalmente. Ali, naquele momento, alguns anos depois eu estava a chamar-te novamente, parecia irreal e patético, mas estava feliz com isso. Podia ter-te esquecido para sempre mas isso seria impossível.
Levantaste a cabeça do livro e antes de me olhares tive a certeza de que sabias que era eu quem te chamava, que te pedia que me abraçasses.
Corria até ti, como uma menina ansiosa, queria poder contar-te tudo, dizer-te que o tempo foi traiçoeiro, pedir-te desculpa pela longa ausência.
Mas, tu, não me deixaste falar, abraçaste-me nesses teus braços aconchegantes, beijaste-me a testa e apertaste-me contra ti. Chorámos como duas crianças. Voltei a ver esse brilho nos teus olhos, essa luz, o orgulho com que me olhavas. As tuas palavras foram únicas e inesquecíveis, como se eu as pudesse guardar para sempre nesse livro de memórias que há em mim, disseste-me baixinho: «Querida, bom filho à casa torna». E eu voltei a ser a garota que lia e brincava a teu lado, que por ti seria capaz de dar a própria vida.

quarta-feira, novembro 23, 2005

Os Cavaleiros da Noite

Os Cavaleiros da Noite

Os cavaleiros da noite têm medo do dia. São fortes, poderosos, heróis quando colocados à prova perante apostas miseráveis e patéticas.
São rapazes e raparigas, homens e mulheres, que buscam na noite o consolo para os seus dias menos bons, para os falhanços, para as tristezas. Eis que os vemos alegres, imponentes segurando as garrafas de bebida que prometem fazer esquecer o mundo. Sentem-se felizes, então saltam, pulam, bebem uns copos, parecem loucos vagueando no seu mundo de perdição e exibicionismo. Os outros, os sóbrios que se divertem e buscam alegria riem-se dos seus actos, das suas quedas, das suas palavras embriagadas pela crueldade da vida.
De noite em noite, de bar em bar, tudo é para esquecer.
Bebe-se para esquecer, fumam-se “charros”, cometem-se erros graves julgando que essa é a única saída para um Universo de desespero.
Mas, mesmo sendo os mais fracos, os cavaleiros da noite julgam-se temíveis e indestrutíveis enquanto a escuridão consome a sua vontade de viver.
Depois, vem o dia.
O terrível dia em que a luz toma o lugar da escuridão e o mundo volta a ser de todos e não apenas deles. A ressaca apodera-se-lhes do corpo e leva-lhes a alma. Nesse momento, os imbatíveis tornam-se novamente nos meninos de outrora, suplicam para que a dor se vá e em seu lugar venha a paz dos dias felizes. Porque os cavaleiros da noite são os vagabundos do dia. Os frágeis que se escondem por detrás da faceta de heróis, os que são pessoas diferentes sob efeitos de álcool e narcóticos.
Os cavaleiros da noite, perdem de dia os seus cavalos e caminham a pé, desprovidos de forças, descalços tal como mendigos que buscam uma razão para viver. Caminham sem rumo, sem futuro, sem sonhos, afinal no terminar de cada tarde o sol cede gentilmente o seu lugar à lua e então voltam a ser os senhores do mundo.
Que haja luz capaz de iluminar as vidas sem rumo, carinho capaz de colmatar a falta que vive nos seus espíritos, mãos capazes de guiá-los pelo mundo fora, sem as luzes ofuscantes e o nevoeiro constante das noites de solidão e euforia perdidas entre uma e outra esquina.

Asas Partidas

Vivemos nas entranhas daquilo que somos, no nosso mundo, nas nossas restrições desse jogo de poder e inocência que controlamos na perfeição.
O mundo não faria o menor sentido se não fossemos nós. Sempre nós, os nossos problemas, as nossas alegrias, tristezas, os gritos de dor abafados pela voz rancorosa do mundo.
E tu, serias capazes de deixar de voar para nos oferecer asas de cetim, inquebráveis, invencíveis tal como as tuas?
Voas, voas, voas e as tuas asas jamais se partem.
Voas sozinho pelo mundo, com o coração magoado, como se morresses a cada segundo e no minuto seguinte as tuas asas estivessem lá em cima outra vez, como um pássaro que voa sem fim, rumo aos sonhos, rumo ás fronteiras do nosso ser.
E vais por aí, duvidas da verdade, enganas a mentira, fazes-nos acreditar que ter-te do nosso lado é ter o mundo na palma da mão.
A multidão passa por ti, olha-te como um estranho, chama-te louco, comentam segredando que és diferente, riem-se de ti, troçam dos teus passos determinados.
Tu, sereno e feliz, envolto na nuvem azul do teu ser, respondes sorrindo: Riem-se de mim por ser diferente, eu, rio-me por vocês serem todos iguais.
A multidão toca-te, olha no teu rosto agudizado pelo terror dos dias tristes, querem magoar-te, porque a sociedade vive na fome da vingança, na inveja daqueles que encontram tudo aquilo que os faz felizes.
Tentam derrubar-te a todo o custo, um a seguir do outro, cospem-te na cara, tu sorris para eles, sorris para o mundo, limpas o rosto, segues de cabeça erguida. Querem matar-te, és incómodo para o mundo, denuncias a verdade, o teu talento seria capaz de alimentar os podres e insaciáveis deste mundo.
Perseguem-te, levam punhais escondidos, serão capazes dos actos mais baixos para ferir-te. Mas tu não sentes, os punhais trespassam-te a pele e tu continuas a sorrir como um menino. As armas dos homens jamais poderão retirar-te a vida, porque no teu mundo apenas a caneta é arma de arremesso. Nas folhas brancas a mancha de sangue denuncia a dor em que a sociedade vive.
Ès anjo? Ès escritor? Ès sábio? Ès louco?
Não sei, mas és alguém e isso torna-te mais “pessoa” do que todos nós.
Alguém que vive, que pensa, que é livre, nós, há muito desistimos de crescer, de viver, de sonhar, agora combatemos invejosamente aqueles que continuam a tentar fazê-lo.
Deixámos de ser alguém e passámos a ser algo, como os objectos, como os animais, sem racionalidade, sem coração, sem asas que nos permitam voar.

quarta-feira, novembro 16, 2005

Falso Rebanho

Num ápice roubaram o que é nosso, invadiram a terra que pisámos, o espaço que nos pertence, o passado que vivemos em comum, as alegrias e as tristezas.
E vocês seguiram, como um rebanho guiado por uma ovelha enganada que em falso foi traída pelas armadilhas maliciosas da vida.
Aos poucos perdemos o que era nosso, os sentimentos que nos ligavam uns aos outros, as brincadeiras, os sorrisos, a felicidade da qual outrora tanto nos orgulhámos. Porque vocês precisavam agradar aos outros, aos que surgiram na vossa vida em melhor momento, os que se mostraram mais alegres e mais divertidos, talvez mais falsos e carregados de sentimentos contraditórios, mas isso não interessa. Porque os laços que nos ligavam foram esquecidos em prol da imagem que transparecia do outro lado do espelho, no lugar onde estavam os outros, os que julgariam ou idolatrariam os vossos actos, os que definiriam se se tratavam de boas ou más pessoas.
Então os nossos rostos ficaram encerrados nas gavetas do vosso pensamento, no álbum de recordações da vida, e agora as forças e amor que nos ligam já não são suficientes para sorrir.
Na vida ganham-se umas coisas, perdem-se outras.
A tela da nossa amizade foi borrada pelos próprios artistas, foram usadas cores cinzentas, o dia chorou, nós chorámos, gritámos ao mundo que tudo estava ao contrário.
Porque não ficámos? Digam-me. Porque não ficámos pelo nosso mundo e fomos felizes da mesma forma que éramos? Porque precisamos sempre de agradar ao que vem, ao que pretende invadir aquilo que somos e deturpar o que existe entre nós? Será que a força que nos unia não era suficiente para nos suportarmos e precisámos de ir mais além? Não sei. Não encontro respostas,o meu céu está cinzento e a minha garganta inflamada pelos gritos de dor proferidos na escuridão da noite.
Como facas que se espetaram no meu peito e feriram gravemente, imagens de dor que jamais esquecerei, como se fosse trocada por algo maior, mais forte, mais digno.
Porque não deixaram que a nossa amizade crescesse ao abrigo daquilo que somos?
Então, seguiram as ovelhas enganadas, ultrajadas, seguiram pela mão do pastor , a mão que separou os nossos caminhos, que vos conduziu por aí, pela estrada do erro, da infâmia, do medo daqueles que erram e temem perder o que anteriormente parecia pertencer-lhes para sempre.
Agora esse espelho já não reflecte as duas faces, porque apenas nós continuamos atónitos e desejosos de voltar a ver-vos, ansiosos que os nossos braços se unam aos vossos numa dança de sentimento. A outra face do espelho escureceu, as figuras que vos olhavam com interesse desvaneceram-se no horizonte e agora a imagem reflectida caiu no vazio do esquecimento.
Nós, continuamos aqui, porque os fiéis e os verdadeiros amigos não partem , continuam à espera , de braços abertos, de coração repleto de amor. Então o rebanho volta, para o bem e para o mal, para as noites frias e para o calor do nosso sentimento.

sexta-feira, novembro 04, 2005

Na escuridão da noite

Evitas o dia, como se a sua luz pudesse corroer os pedaços de solidão e de tristeza que te invadem a alma.
Pedes que te fechem as janelas, que te cerrem as portas que te podem ligar a este nosso mundo louco.
Queres a solidão, pede-la tal como os poetas desesperados pedem a morte.
A campainha toca, as nossas mãos estão cansadas de tanto esbracejar e pedir-te que abras a porta do teu mundo para que possamos entrar, as nossas gargantas estão inflamadas pelo rancor e pelo ódio que expressas nas palavras amargas e solitárias.
«Desapareçam», gritas-nos com voz autoritária e feroz, ages como um louco que teme falhar e desiludir a solidão. Queríamos um tractor para lavrar o teu sofrimento e semear nesse coração o amor que outrora nos aproximou de ti. Até quando pensas sobreviver sozinho? Na escuridão da noite, nos passos incertos e indeterminados por esse quarto negro, nesse trepar pelas paredes que nos separam de ti.
Escondes-te…Continuas a agir como um cobarde, como um ladrão que roubou a nossa felicidade e teme ser apanhado, como um egocêntrico que o mundo abandonou à beira mar.
Olha para a humanidade, julgas que somos todos felizes? Cada um faz pela sua felicidade, pelo que é, pelo que será amanhã. E tu continuas de braços cruzados à espera que a morte te colha no teu berço abandonado. Luta!
Abandona a escuridão, deixa a solidão para aqueles que, infelizmente, já não podem viver na companhia dos outros.
Vive a vida e não te preocupes com o amanhã. O mundo de lá pode ser bonito, mas aqui também o é.
Deixa que as cortinas dos teus olhos se encantem com aquilo que acontece lá fora, por detrás das paredes obscuras e sólidas que te rodeiam.
Serás um homem completo quando permitires aos outros que te possam completar, encher os teus talentos, preencher os teus dias com a sua alegria.
Abandona a tua capa negra e vêm para o nosso País Azul, onde as pessoas, tal como os pássaros podem voar, voar e voar, sem rumo, sem fim, sem barreiras.
Abre os teus braços e acolhe o mundo que outrora te abraçou aquando da tua primeira lufada de ar fresco. Sê feliz longe dos demónios que te perseguem, deixa-nos entrar no teu mundo, connosco levamos o sol, o brilho das coisas bonitas, o éden do presente, o perfume da alegria que paira no ar.
Não há tristezas, ouviste?


Isa Mestre

Voz Perdida

Deixo-te na timidez dos teus dias.
Na clareza da luz dos teus olhos, na folha de papel que acolhe as tuas palavras solitárias e perdidas. Ès uma voz perdida. Um cristal que se esconde por aqui e por ali, impedindo que alguém te acolha nos braços e possa lapidar-te. Ès uma rocha fora do rochedo, igualmente forte, mas sozinha.
E vejo-te sorrir, com as paredes, com as esquinas, com os pássaros, com a alegria que as personagens dos livros conseguem transmitir-te. Será que o teu mundo é real? Ou valerá mais essa timidez que te esconde por detrás dos olhares inquietos e distraídos da humanidade. Também quero olhar-te, mais uma vez, sentir essa emoção que já não cabe no peito e transborda pelos olhos, mas, quando olho já não estás, partiste e nem disseste um adeus. Adeus, não! Até logo…Adeus é para sempre e sei que voltarás.
Ao nosso olhar esfuma-se na escuridão da noite, desapareces por entre os barcos e a neblina dos nossos passos. És tímido, perdes-te onde os outros se encontram, dizes o que não há para dizer, sentes o que não se sente, sonhas quando o mundo parece pequeno demais para tantas quimeras.
Tenho medo de magoar o teu coração sensível, o que jamais foi amado, o que nunca amou, o que se poderá partir ao toque grosseiro e sentido de alguém.
Não quero que percas essa inocência, a vulnerabilidade louca que têm as criancinhas amáveis e ternas do mundo perfeito.
As tuas mãos são como as pétalas de uma flor nas quais bailam as abelhas numa dança de harmonia e prazer.
O mundo parece girar à tua volta, nesses breves instantes em que a tua voz perdida se solta para o mundo e lhe mostra o talento que vive em ti. Depois volta o silêncio, a timidez dos teus dias, o teu corpo imóvel entregue a uma parede solitária, os olhos que se movimentam como duas esferas brilhantes, como dois berlindes valiosos, observam o mundo e retiram dele a sua melhor parte.
Então cumpres-te, vais com as nuvens e acenas lá de cima, vais até onde a tua força chegar. Vais longe, porque és apenas uma voz perdida que deposita palavras no vento.

Isa Mestre