quarta-feira, agosto 27, 2008

O Fim

Há muito que se esgotaram as palavras. Magoaste. Magoei. Magoámos. Conjugámos os verbos que ferem em todos os tempos e hoje, neste presente que quer sempre ser futuro, somos olhares perdidos, corações abandonados, gestos arrependidos e tristes, mãos frias e rugosas, olhos lacrimejantes e saudosos.
Não me apetece falar. Porque a verdade dói, porque o arrependimento mata mais que a dor, porque ao olhar-te é como se me visse ao espelho e não há nada pior que o reflexo de quem amamos, quando temos a absoluta certeza de só nos amarmos a nós próprios.
Sei que não devia dizê-lo, sei que parece rude, sei que pode ser cruel, mas não te amo, não consigo amar mais ninguém a não ser aquilo que sou.
Gosto demasiado de mim, para poder gostar um pouco de ti.
Sou incapaz de olhar-te. Os teus olhos assustam-me, a tua voz faz-me tremer, o teu sorriso estremece-me a alma. És demasiado de mim e isso mata-me, isso faz-me pensar que te dei aquilo que sou, que deixei de ser um pouco desta pele que visto todos os dias para te emprestar um sorriso, para te oferecer uma lágrima envolta no embrulho cruel do egoísmo.
Sou uma mentira. Quando sorrio sou uma mentira, sou um aglomerado de palavras nas quais não podes acreditar, sou uma ilusão triste, sou um sonho perdido. Dir-te-ia que me esquecesses, se eu própria acreditasse que algum dia posso esquecer-me.
Não tenho já nada para te dar. Podes ir, levaste tudo e deixaste-me nua numa cama de solidão, num lençol de ternura a disfarçar-se de raiva, numa amálgama de palavras duras a sorrir-me timidamente como que dizendo-me que são estas as maiores palavras de amor que alguma vez escutei.
Não tenho medo. Sei que amanhã estarás longe, sei que há distâncias que são maiores do que aquela que vai do meu coração ao teu.
Prefiro não pensar mais. Talvez não te ame assim tão pouco.

Isa Mestre