- Morri dentro de ti,
Dizes-me.
Faço silêncio. Não quero acreditar que existem espaços mortos neste coração repleto de sentimentos, nestas mãos que querem tocar-te sem saber como, nestes lábios que são teus em todos os minutos que nos percorrem as veias.
O teu olhar perde-se no infinito, devoras cigarros como quem devora mundos, em busca da resposta mais adequada. Estou aqui. Senta-te. Ousa perguntar.
Estou aqui.
Responder-te-ei.
Trazes no rosto a gélida expressão da incerteza de um amor há muito vencido, nos olhos a pergunta a balançar de uma retina para a outra, sem saber como fixar-se em mim, sem saber como usar as palavras, sem saber como dizer-me que tens a certeza que morreste dentro de mim.
Apetece-me brincar com o teu sorriso, como no tempo em que te fazia cócegas no coração e acreditava poder fazer-te sorrir para sempre.
Nada do que é verdadeiramente sincero pode morrer.
Escuta.
Ainda vives dentro de mim, ainda és o rosto risonho e o beijo no canto da boca.
Anda. Sorri.
Não pode ter passado tanto tempo. Não pode ter mudado tanta coisa. Não podes ter morto o amor com a banalidade de quem mata um insecto.
Não queres ouvir-me. Lanças frases como quem lança espadas afiadas com destino ao coração. Depois, apenas o silêncio. Esperas a negação das afirmações cruéis, esperas o beijo nos lábios do tempo, o beijo que, no mais profundo de mim, é o nosso amor a querer sorrir-te, o nosso amor a querer saltar-me dos olhos e colar-se nos teus lábios.
Poderia dizer-te o quanto te amo, mas tudo não passariam de palavras. Palavras esquecidas no amanhã, quebradas nas lágrimas que chorámos, perdidas no entrelaçar suave dos nossos dedos, brincando habilmente com a chuva.
Sabes… não direi que te amo.
Talvez nunca mais volte a fazê-lo.
Porque a melhor palavra é aquela que baila nos meus olhos quando dizes que morri dentro de ti, aquela que sorri quando a alma ameaça chorar, aquela que me abraça quando tudo o resto está prestes a ruir.
A palavra escondida por detrás do amor. A palavra que só tu e eu sabemos. Só tu e eu poderíamos saber.
Isa Mestre
domingo, março 30, 2008
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