terça-feira, maio 31, 2005

Senta-te e chora...

Quando não tiveres mais forças para prosseguir: senta-te e chora...
Chora como um menino, chora como uma criança à qual o mundo ainda não lhe ensinou o seu verdadeiro sentido.
Não tenhas medo de chorar, as lágrimas ajudar-te-ão a crescer, não tenhas vergonha de o fazer, pois tolos são os que não choram.
Não tenhas medo de errar, pois que não erra também não aprende, não tenhas medo de pousar o teu rosto belo no meu ombro e lacrimejar...
Pedir-te-ia que viesses comigo para esse mundo onde não existe dor, mas não tenho esse direito.
Os teus olhos estão inchados do choro, cobertos pelas mãos que escondem a vergonha de um homem ainda pouco maduro, estás a crescer e mal te apercebes. O teu mundo de adolescente parece sempre imensamente traiçoeiro, e onde deveriam surgir as alegrias aparecem subitamente as tristezas.
Diz-me pequeno herói - Quantas vezes quiseste chorar? Quantas vezes desejaste o carinho daqueles que te amam para te ajudarem a superar as dificuldades? Quantas?
Os teus quinze anos de nada servem, são apenas o colorir de uma vida que será para sempre escrita em tons monótonos. Ainda que durante alguns minutos acredites que podes segurar o mundo na palma da mão, no minuto seguinte percebes que o deixaste escapar por entre os dedos.
Sentes-te incompreendido, perdido nessa dimensão à qual julgas não pertencer, queres chorar mas, faltam-te as forças e sobra-te o orgulho.
Olhas-te ao espelho e vês um rosto perdido e cansado, o rosto de um adolescente coberto de borbulhas e com uma expressão ensonada. Sorris tentando disfarçar a tua revolta mas, nunca conseguirás enganar-me, porque sinto o mesmo que tu. Todos o sentimos. Todos sorrimos, todos choramos.
Por isso pequeno jovem não te julgues sozinho no mundo, não te afastes do carinho e do aconchego que os outros podem dar-te, vem senta-te e chora...

Rascunhos de alma

São tolos os que não pensam, mas mais tolos são os que não sentem.
Que frieza impera nessas expressões tristes e monótonas? Para onde foi o brilho dos nossos sorrisos? Onde está a energia e a alegria com que viemos ao mundo?
A nossa existência é feita de puros momentos de extâse, dos sentimentos que albergamos em nós e da nossa própria “essência”.
Há muito que nos habituámos a cingir por estúpidas regras que nos levam apenas à mesquinhice e ao egoísmo.
Quem somos nós? Aqueles que nas ruas vêem os mendigos e são incapazes de levar-lhes algum carinho, os que preferem estar “alegres” através do álcool do que pela sua expressão natural... Digam-me!
Que sociedade é esta? Talvez seja a voz da revolta que fala, mas deparamo-nos constantemente com uma sociedade que não sabe sentir.
Uma sociedade regida pelos interesses, pelo dinheiro que corrompe os nossos sentimentos.
Falava sobre voluntariado um dia destes, e sabem aquilo que ouvi destes humanos que se julgam senhores do mundo? Ouvi que não fariam voluntariado porque não eram remunerados. Para os jovens de hoje em dia, tal como eu, é duro ver esta realidade, esta ilha, este beco sem saída em que se encontra a humanidade.
Bem sei que os jovens não se devem preocupar com assuntos que pela sua perplexidade mais de identificam com os adultos, mas como podemos ficar indiferentes? Como podemos referenciar as nossas belas experiências quando à nossa volta o céu está cinzento e carregado de injustiça?
Nós queríamos um mundo melhor, nós desejávamos que no futuro pudéssemos melhores exemplos para os nossos filhos. Nós queríamos crescer sem o fantasma da guerra a nosso lado, nós queríamos viver sem a ameaça permanente da morte...
Filhos do mundo, filhos do vento, filhos da chuva e do Sol, é isso que somos todos.
Não interessa se uns são mais ricos e outros mais pobres, se uns vivem e outros morrem, se uns são mais felizes e outros menos, se uns são heróis e outros desconhecidos, o que importa é aquilo que existe cá dentro. Quer sejamos novos ou velhos, os sentimentos e os laços que nos prendem a este mundo serão para sempre infindáveis.
As nossas regras compostas numa sociedade em decadência serão apenas a crista de uma enorme onda, na qual navega a profundeza do nosso Ser.
Seremos sempre nós... Nós, os outros e aquilo que sentimos em relação ao mundo.
Enquanto tudo isso existir, então estamos vivos, para nós e para a Humanidade.

Fugitiva

Todos fomos felizes um dia. Tivémos os nossos momentos de euforia, glória ou emoção. Todos lutámos pelos nossos ideias, todos corremos atrás daquilo que nos tornava felizes, todos sorrimos, todos chorámos.
Tocámos a felicidade com as nossas hábeis mãos, sentimo-la com os frágeis corações e quisemos agarra-la para sempre. Não tivémos esse direito, nunca o teremos.
Porque a felicidade é uma fugitiva que corre, salta e se esconde, que aparece e volta a escapar-nos por entre os dedos, como quem busca sempre um novo lugar. Apenas ela surge na neblina suave da noite e nos mostra o seu manto branco, nos leva a voar sobre as suas poderosas asas e nos volta a devolver à vida. Depois... desaparece.
Esconde-se por entre os refúgios da nossa infância, por entre as fragilidades dos nossos sentimentos, perde-se nas ruelas que nos guiam pelo mundo fora. Quando acreditamos tê-la ali tão perto, eis que nos sentimos novamente vazios , ansiosos por buscar a companheira de sempre, a eterna amiga dos bons momentos.
Faz-nos falta a sua capacidade de colocar o sorriso mais sincero do mundo nestes rostos de quem vive arduamente na senda da vida. Sentimos saudade do seu toque, da sua expressão breve, do seu olhar, do calor com que nos aconchegava e revestia as nossas humildes origens. Para ela não havia diferenças, todos podíamos encontrá-la, bastava apenas que lutássemos até ao fim, que ganhássemos essa partida de encontros e desencontros. Alguns prosseguiram, ambiciosos e conquistadores, ávidos por atingi-la e conquistá-la por completo. Outros, resignaram-se, habituaram-se à derrota, saíram de cabeça baixa exibindo com orgulho a bandeira da rendição.
Uns foram felizes, outros continuaram buscando a felicidade a todo o custo.
Ela continua fugindo, como uma criminosa , como uma simples rajada de vento.
Acena-nos lá do fundo, sorri-nos, faz-nos caretas... Mostra-nos que seremos capazes de segurar o seu corpo frágil, os seus pés cintilantes que se movem com perfeição sobre o nosso mundo.
Nós, partimos, corremos, caímos, levantamo-nos e prosseguimos na tentativa de apanhá-la, queremos o seu corpo tocando no nosso, queremos fixar as suas raízes nas nossas e crescer, crescer sempre com um sorriso nos lábios.

Isa Mestre

Neblina

Na neblina da noite perco-te os passos, esqueço que um dia existimos, abraço o vazio como se pudesse abraçar-te.
E nas ruas, o silêncio que um dia criámos, o ar que respirámos, os lugares onde estivemos, tudo o que partilhámos...
Contei-te histórias, de embalar, de encantar, de sorrir e de chorar. Nessa amálgama de abraços construímos a nossa própria fogueira, aquecemo-nos com o lume da vida.
A nossa amizade nunca teve o seu tempo, o seu espaço, o seu significado, apenas existia, e a sua simplicidade marcava a diferença.
No meu quarto as músicas que um dia ouvimos, os gestos, as palavras, as loucuras, tudo está à distância de um simples toque, de um vaguear pela mente desconhecida.
O cheiro do teu perfume, a lembrança do teu rosto singular, os cabelos que te afogavam a cara num misto de beleza e incerteza.
Fomos amigos, um dia fomo-lo com todas as nossas forças e sentimentos.
Talvez nunca nos tivéssemos apercebido, mas, na verdade os maiores amigos são aqueles que o são sem nos darmos conta disso.
Revejo-te novamente diante de mim, cintilante, alegre, tocas nos cabelos e olhas nos meus olhos como se com um simples olhar pudesses tocar-me.
Estás feliz. Sorris para mim e eu sorrio para ti.
Fixamo-nos por momentos, como se nos esquecemos dos nossos papéis neste mundo, como se esquecêssemos as falas, os sentimentos e as acções.
Continuo a olhar nos teus doces olhos, esperando que dos teus perfeitos lábios saiam os signos que te percorrem o pensamento. Mas, continuas calado, apenas esses teus olhos negros dão vida a um corpo imóvel.
Esquecemo-nos do mundo, da plateia gloriosa que nos rodeia, que nos aplaude e nos apupa, agora somos apenas nós.
Faremos aquilo que o coração mandar, seremos escravos desse sentimento tão bonito que nos prende como fortes correntes.
A nossa amizade será sempre a mais forte e sincera, embora saibamos que um dia perdêramo-la.
Quando uma amizade se perde, não há culpados, não há julgados, apenas restam os inocentes, os que sofreram na pele a dor de perder alguém.
Por isso, fomos ambos inocentes neste golpe cruel.
Tu erraste, eu errei.
Nós errámos, como tantos outros o fizeram. Apenas isso...

Isa Mestre






Na neblina da noite perco-te os passos, esqueço que um dia existimos, abraço o vazio como se pudesse abraçar-te.
E nas ruas, o silêncio que um dia criámos, o ar que respirámos, os lugares onde estivemos, tudo o que partilhámos...
Contei-te histórias, de embalar, de encantar, de sorrir e de chorar. Nessa amálgama de abraços construímos a nossa própria fogueira, aquecemo-nos com o lume da vida.
A nossa amizade nunca teve o seu tempo, o seu espaço, o seu significado, apenas existia, e a sua simplicidade marcava a diferença.
No meu quarto as músicas que um dia ouvimos, os gestos, as palavras, as loucuras, tudo está à distância de um simples toque, de um vaguear pela mente desconhecida.
O cheiro do teu perfume, a lembrança do teu rosto singular, os cabelos que te afogavam a cara num misto de beleza e incerteza.
Fomos amigos, um dia fomo-lo com todas as nossas forças e sentimentos.
Talvez nunca nos tivéssemos apercebido, mas, na verdade os maiores amigos são aqueles que o são sem nos darmos conta disso.
Revejo-te novamente diante de mim, cintilante, alegre, tocas nos cabelos e olhas nos meus olhos como se com um simples olhar pudesses tocar-me.
Estás feliz. Sorris para mim e eu sorrio para ti.
Fixamo-nos por momentos, como se nos esquecemos dos nossos papéis neste mundo, como se esquecêssemos as falas, os sentimentos e as acções.
Continuo a olhar nos teus doces olhos, esperando que dos teus perfeitos lábios saiam os signos que te percorrem o pensamento. Mas, continuas calado, apenas esses teus olhos negros dão vida a um corpo imóvel.
Esquecemo-nos do mundo, da plateia gloriosa que nos rodeia, que nos aplaude e nos apupa, agora somos apenas nós.
Faremos aquilo que o coração mandar, seremos escravos desse sentimento tão bonito que nos prende como fortes correntes.
A nossa amizade será sempre a mais forte e sincera, embora saibamos que um dia perdêramo-la.
Quando uma amizade se perde, não há culpados, não há julgados, apenas restam os inocentes, os que sofreram na pele a dor de perder alguém.
Por isso, fomos ambos inocentes neste golpe cruel.
Tu erraste, eu errei.
Nós errámos, como tantos outros o fizeram. Apenas isso...

Isa Mestre

domingo, abril 10, 2005

A solidão no parapeito da minha janela...

Não caminhas sozinho, ter-me-ás sempre a teu lado.
Como um farol que iluminará o teu caminho, como uma asa que te ajudará a voar, uma pedra que te abrigará em momentos de cansaço, uma água que colmatará a tua sede.
Ainda que não me sintas ou vejas estarei sempre no teu encalço.
Não devemos deixar os outros sozinhos, nunca. A solidão mata-nos, invade-nos, percorre-nos, deixa-nos indefesos e loucos, presos entre quatro paredes que nos parecem todo um mundo.
A solidão alimenta-se da dor e da tristeza que existe em nós. Por isso, quando estiveres triste não te afastes do mundo, mas procura-o com todas as tuas forças.
Existem sempre pessoas do nosso lado, garanto-te. Já olhaste à tua volta?
Nunca julgues que te perdeste, porque neste mundo apenas não se perdem aqueles que nunca se acharam realmente. Não tenhas medo de chorar, haverá sempre alguém para enxugar as tuas lágrimas e acariciar-te o rosto.
Então prosseguiremos consoante os nossos actos e valores. Seremos vitoriosos, perdedores, felizes, tristes, sisudos e risonhos.
A vida é um misto de sentimentos, de momentos, de pessoas.
Nunca estarás inteiramente satisfeito, bem sabes que a ambição será sempre a faceta mais complexa da Humanidade.
Vais querer sempre mais e melhor. Isso far-te-á crescer, mas também te fará chorar.
Com as lágrimas aprendemos a viver.
Passarás pela vida como quem faz uma viagem e apenas no final repara quão curta ela foi. Eu estarei a teu lado, vivendo, sonhando, enlouquecendo. Ainda que não me vejas estarei contigo.
E quando partires não chorarei nem me sentirei só, apenas partirei contigo da mesma forma humilde como cheguei.
È certo que lutámos lado a lado, ombro a ombro, embalados por essa dança de olhares e de momentos.
Hoje o dia está cinzento, mas sei que não estou só.
Do parapeito da minha janela afasto a solidão, trato-a com desprezo, odeio-a.
Quero que vá para longe, para que os amigos e companheiros possam vir, caminhando lentamente e colocando-se cada vez mais perto, até que possa tocar-lhes na faces e sentir que nunca estive sozinha no mundo.

Isa Mestre

A distância que nunca nos separou

Pai, disseste-me um dia que as coisas mais importantes da vida são aqueles que nascem connosco.
Tinhas razão.
Eu nasci contigo e tu criaste-te, implementaste-me o respeito, a ambição e os sonhos.
Quando nasci quiseste oferecer-me uma vida melhor, quiseste poderes orgulhar-te um dia de mim. Todos os pais sonham poder orgulhar-se dos seus filhos.
Partiste então... Com mágoa, dor e muitas lágrimas. Reuniste os teus sentimentos e transformaste-os numa força que te permitiria vencer.
Grande parte da minha infância foi passada distante de ti, cresci longe dos teus olhos, que apenas se fixavam em mim duas vezes por ano.
Como custava não poder ter-te a meu lado... O carinho, o amor, o aconchego e as histórias de encantar que os pais contam aos filhos.
Mas sempre soube que estavas longe para poderes oferecer-me aquilo que julgavas merecer, isso fazia-me orgulhosa.
A tua voz distante que chamava por mim todos os dias, sempre a mesma voz carinhosa, sábia e atenta. Corria para o telefone para contar-te todas as novidades do dia, as vitórias e as derrotas, as lágrimas e os sorrisos. E tu ouvias-me sempre com a mesma atenção, orgulho e emoção de uma pai babado.
Estavas longe mas isso nunca te impediu de participares na minha educação como se estivesses verdadeiramente a meu lado.
Eu cresci. Ouvindo a tua voz, os teus conselhos, as tuas suaves reprimendas marcadas pela saudade.
Ensinaste-me a tornar-me uma “mulherzinha”, a apoiar-me nas fraquezas e torná-las nas minhas maiores forças.
Foste o maior exemplo de esforço e amor que alguma vez poderia ter tido.
Obrigado, pai.
Tu que suportaste a saudade para poderes oferecer-me uma escola, uma casa, livros, cadernos, lápis e canetas. Privaste-te do prazer de me ver crescer, da alegria de levares-me à escola no primeiro dia, do amor da minha mãe. Tudo isto o fizeste por mim e pelo meu irmão.
Enquanto dormíamos, tu apenas dormitavas, pois no dia seguinte seria uma jornada de trabalho intensa sob o frio que te gelava a alma.
Tivémos saudades, muitas saudades, também as tiveste.
A nossa história é o maior exemplo de que a distância jamais poderá ser culpada dos nossos falhanços a nível da educação.
Na verdade, milhares e milhares de quilómetros nos separavam, mas , nunca foste um pai distante.
Pelo contrário, sempre serás um pai brilhante.

Isa Mestre

Nada se perde, tudo se encontra

Todos os dias nos perdemos, todos os dias nos encontramos.
Perdemos o que amamos, o que não amamos, o que temos e o que nunca tivémos.
Na vida tudo se perde com a mesma facilidade com que se ganha.
Planto uma semente na terra, amanhã será uma bonita árvore, repleta de frutos, disposta a saciar o desejo e a fome humana. Virá uma rajada de vento, uma fria geada que a destruirá por completo, ela perder-se-á, os seus frutos caíram e as suas ramificações deixaram de produzir flor. Mas, na verdade, tudo aquilo que se perde, se lutarmos com determinação, conseguiremos encontrar.
Logo, essa árvore um dia encontrar-se-á de novo, crescerá novamente com força e pujança nas suas raízes e voltará a produzir os melhores frutos. Encontrará tudo o que julgou perdido: a harmonia, a paz, o balouçar dos pássaros sobre os seus troncos...
O nosso caminho é percorrido por diversas fases, onde nos perdemos e nos encontramos, e quando achamos já ter ganho tudo, eis que voltaremos a perder o rumo e teremos de buscar novamente o caminho a seguir.
Os sentimentos também se perdem. Perdem-se como tempo, com a distância, com a falta de afectividade, com a falta de atenção. Voltam a encontrar-se um dia, perdidos na nossa “caixinha” mágica, vagueando à solta por uma alma ávida da sua existência.
E quando decidimos viajar? Pegamos no mapa, seguimos o instinto da aventura, e lá vamos nós. À descoberta de novos lugares, novas pessoas. Acreditamos poder conquistar o mundo nesses breves instantes. Quando menos esperamos, estamos perdidos, à volta tudo nos é desconhecido – as casas, as pessoas, os campos – o terreno parece fugir-nos debaixo dos pés. Sentimos então a necessidade de reencontrar, recorremo-nos das nossas próprias capacidades, usamos a nossa força, garra e espírito e lá estamos nós buscando novas formas de vida.
Encontramo-las sempre, garanto-vos.
Apenas não encontrará o que busca aquele que ficar parado conformando-se com aquilo que a vida lhe retirou.
Perder não é vergonha, vergonha é não querer encontrar.
Na verdade, por vezes, quando julgamos que aquilo que mais prezávamos nos escapou subitamente por entre os dedos, ficamos parados, incapazes, inúteis. Porquê?
Em nós existem capacidades, valores, atitudes que nos podem levar mais além, mostrar-nos o caminho para reaver algo perdido.
Nada se perde. Tudo se encontra.

Isa Mestre
Todos os dias nos perdemos, todos os dias nos encontramos.
Perdemos o que amamos, o que não amamos, o que temos e o que nunca tivémos.
Na vida tudo se perde com a mesma facilidade com que se ganha.
Planto uma semente na terra, amanhã será uma bonita árvore, repleta de frutos, disposta a saciar o desejo e a fome humana. Virá uma rajada de vento, uma fria geada que a destruirá por completo, ela perder-se-á, os seus frutos caíram e as suas ramificações deixaram de produzir flor. Mas, na verdade, tudo aquilo que se perde, se lutarmos com determinação, conseguiremos encontrar.
Logo, essa árvore um dia encontrar-se-á de novo, crescerá novamente com força e pujança nas suas raízes e voltará a produzir os melhores frutos. Encontrará tudo o que julgou perdido: a harmonia, a paz, o balouçar dos pássaros sobre os seus troncos...
O nosso caminho é percorrido por diversas fases, onde nos perdemos e nos encontramos, e quando achamos já ter ganho tudo, eis que voltaremos a perder o rumo e teremos de buscar novamente o caminho a seguir.
Os sentimentos também se perdem. Perdem-se como tempo, com a distância, com a falta de afectividade, com a falta de atenção. Voltam a encontrar-se um dia, perdidos na nossa “caixinha” mágica, vagueando à solta por uma alma ávida da sua existência.
E quando decidimos viajar? Pegamos no mapa, seguimos o instinto da aventura, e lá vamos nós. À descoberta de novos lugares, novas pessoas. Acreditamos poder conquistar o mundo nesses breves instantes. Quando menos esperamos, estamos perdidos, à volta tudo nos é desconhecido – as casas, as pessoas, os campos – o terreno parece fugir-nos debaixo dos pés. Sentimos então a necessidade de reencontrar, recorremo-nos das nossas próprias capacidades, usamos a nossa força, garra e espírito e lá estamos nós buscando novas formas de vida.
Encontramo-las sempre, garanto-vos.
Apenas não encontrará o que busca aquele que ficar parado conformando-se com aquilo que a vida lhe retirou.
Perder não é vergonha, vergonha é não querer encontrar.
Na verdade, por vezes, quando julgamos que aquilo que mais prezávamos nos escapou subitamente por entre os dedos, ficamos parados, incapazes, inúteis. Porquê?
Em nós existem capacidades, valores, atitudes que nos podem levar mais além, mostrar-nos o caminho para reaver algo perdido.
Nada se perde. Tudo se encontra.

Isa Mestre

Campeão

Porque te cortaram as asas doce pássaro inocente? Porquê a ti?
Porque sempre lutaste e quiseste um dia ser feliz ao abrigo da luz do teu maior sonho? Porque deste tudo aquilo que tinhas e ainda o que não tinhas para poder vencer? Porque empenhaste a tua coragem, enquanto outros nem ousaram fazê-lo?
O teu talento tinha asas para voar, soltava-se com leveza sobre algumas folhas de papel, sobre os campos, sobre os relvados, sobre as telas que colorias. Quiseram cortar-te as asas, impedir-te de voar, de ir mais além... Retiraram-te os sonhos como quem te retira o alimento que te mantêm vivo. Mas tu continuaste. A correr, a correr, sempre humilde, guerreiro e honesto, em busca da tua maior arte.
Fizeste tantos planos, sonhaste alto, com o teu futuro e com o nosso, sorriste connosco, brilhaste a nosso lado, iluminaste-nos com a tua luz.
Hoje choras. Choras porque correste quando todos ficaram parados, porque te molhaste quando todos procuraram um abrigo, porque lutaste quando todos desistiram de lutar, porque continuaste vivo quando a eminência da morte estava perto demais.
Não merecias que te cortassem as asas. Apenas querias liberdade para poder fazer aquilo que mais amavas. Merecia-la com o todo o respeito, porque foste um justo vencedor, jogaste limpo e saíste vitorioso, mas, nunca te quiseram oferecer a glória.
No relvado choraste pelo teu destino. No lugar onde tantas vezes nos ofereceste sorrisos depositaste as tuas sinceras lágrimas.
Querias ser um campeão. Era-lo na verdade, embora poucos o tenham reconhecido.
Ninguém quis coroar-te, ninguém quis dar-te a estrela de reconhecimento da grande arte que nasceu contigo.
Por vezes nesse palco onde tudo acontecia, as pessoas não te olhavam, apenas passavam os seus olhos egoístas sobre ti.
Foste trocado, foste vendido, foste coleccionado, foste esquecido. Não o merecias, pois o teu talento estava acima das oportunidades de brilhar que te foram dadas.
Enquanto tu corrias atrás de uma bola, lutavas aguerridamente em cada lance, choravas as derrotas e sorrias ás vitórias, os outros, aqueles que conseguiram singrar, nunca amaram de verdade aquilo que faziam.
Eles foram felizes, tu não.
Não porque te dedicasses menos, tivesses menos talento ou a pontaria aguçada, mas apenas porque ninguém olhou de uma outra forma para ti.
Apenas tu viste sinceridade nesse sujo jogo de interesses, onde foste subjugado em troca de palavras e dinheiro.
Eras demasiado inocente para ver maldade nesses senhores amáveis.
Todos eram iguais aos teus olhos, mas, bem sabes que nem sempre assim foi.
Agora, estás impedido de voar, preso, magoado, inútil.
Na vida por vezes é assim, independentemente do nosso talento ou habilidade.

Isa Mestre

Em ti

Em ti

Tens uns olhos lindos, sabias?
São verdes, como os de um gato, atentos como os de um falcão.
E no encadear desses olhos que te mostram o mundo, vislumbro essa expressão doce, sempre doce, quer faça chuva ou faça Sol.
Já não vivo sem ouvir a tua voz, sem sentir o teu rosto do lado do meu, as tuas mãos delicadas tocando-me com alegria. E o teu sorriso... Para mim é o mais lindo do mundo.
Parece que tens o Universo na palma da mão, e, eis que movimenta-lo e ele move-se, devagar, devagarinho, da mesma forma como os teus olhos pousam sobre mim.
Ès uma pessoa boa, e, isso hoje é muito difícil de encontrar. Tens os teus defeitos, os teus erros, as tuas infantilidades. Todos nós os temos.
Não és perfeito. Nunca o serás, nem quero que o sejas. Ninguém é.
Nunca direi que és a única pessoa da minha vida, porque isso seria mentir-te e não desejo fazê-lo de forma alguma.
Tenho muito orgulho em ti. Pela pessoa que és e para além disso pelas pessoas que ensinas os outros a serem.
Não tenho medo de perder-te. Não. Na vida tudo se perde e tudo se ganha.
Não te pedirei que vás comigo, que estejas do meu lado, que me apoies, que me dês carinho. Se quiseres fazê-lo, fá-lo-ás. Tenho a certeza disso.
Para além de tudo aquilo que possas ser, acima de tudo és um amigo, e isso vale mais que qualquer outro sentimento que se oponha na nossa relação.
Aconteça o que acontecer, quero contar contigo, nas vitórias, nos empates e nas derrotas.
Merecerás todo o meu carinho em todos os momentos. Os grandes, os que ficam aqui dentro, os que plantam as suas raízes no meu coração jamais serão esquecidos.
Se quiseres chorar, estou aqui. Se quiseres sorrir, estou aqui. Se quiseres falar, estou aqui. Se quiseres apenas olhar o futuro comigo a teu lado, estou aqui.
Esse sorriso maroto que invade o mundo de felicidade, que contagia o próximo e faz sorrir até os mais sisudos. Recordá-lo-ei.
As sobrancelhas carregadas como nuvens negras, prontamente abafadas pela claridade da tua tonalidade de pele e pela clara suavidade da cor dos teus olhos.
E o teu fio com uma cruz, a tua fé, a tua capacidade de acreditar até ao fim. Tudo está em ti, pendurado no pescoço fino que conduz essa medalha sobre o teu peito de menino.
Ès um bom rapaz. Outros já o disseram. Agora foi a minha vez.


Isa Mestre

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Olhando para ti

Olho para ti, mas já não me transmites nada, deixaste a emoção, a saudade e irreverência para trás. Baixaste os braços, deixaste que o mal vencesse sem que nunca lhe fizesses frente. Olhas para tudo com olhos de quem vê o vazio diante de si, com olhos de quem há muito deixou de viver.
Pouco falas, pois preferes observar aqueles que á tua volta enchem tudo de alegria.
Sabes que um dia também foste assim, também amaste o mundo que agora odeias.
Levo-te uma flor, olhas para ela, vejo por momentos um brilho nos teus olhos que pensava já estar perdido, mas deixas que essa flor caia no chão deixando escapá-la entre os dedos. Sim, isso também está a acontecer com a tua vida, aos poucos deixas que ela te escape por entre os dedos porque não tens mais vontade de viver.
Porque não estendes essa mão para que alguém possa ajudar-te? Porque deixaste de amar o mundo de um momento para o outro?
Para ti tudo mudou. A vida mudou, tu mudaste e julgas que os que te rodeiam também mudaram. O ódio não deixa que vejas a verdade, que possas socorrer-te das coisas boas para viver, ele mata-te aos poucos.
Liberta-te dele, pois num coração verdadeiro não existe lugar para esse sentimento que nos magoa e fere em todos os minutos. Pensa naqueles que amas, deixa o amor vencer essa batalha, levanta-te e grita que estás vivo!
Para que eu possa olhar nos teus olhos, sem sentir essa tristeza, para que possa segurar tua mão e levar-te a passear.
Deixa que o sorriso possa invadir o teu rosto, quebra esse cubo de gelo no teu coração.
Deixa-me viver. Não quero que um dia os teus olhos se fechem e a tua imagem desapareça porque o mal não merece essa vitória.
Tenho medo. Medo que aceites tudo aquilo que a vida definiu para ti e que deixes de lutar.
Acredito em ti, sei que um dia verás essa «luz» , abrirás as janelas e respirarás o ar do campo, serás livre, então poderás renascer.
Se quem vai pode um dia voltar, então esperarei que a tua alma volte, deixarei que as palavras meçam a tua vontade de viver.
Esquecerei esse “vazio” para que olhas agora e inventarei no seu lugar a tua emoção, a tua alma e as tuas palavras...

Isa Mestre



Hoje acordei e pensei...

Hoje acordei e pensei...
Quantas pessoas no mundo acordarão como eu acordo hoje? Quantos meninos dormirão descansados nos seus berços de ouro? Quantos outros dormirão nas ruas porque os pais não têm um abrigo para lhes dar?
E aqueles que já acordaram e caminham para a escola? E os que nunca terão oportunidade de lá chegar? Os que pegam nos livros ainda ensonados e os outros que desejam poder pegá-los um dia. Os que pensam e aqueles que estão sempre tão ocupado que nem têm tempo para pensar? Os que saem ainda há hora em que todos dormimos, aqueles que nunca chegam a dormir....
Pensei que algures em cada parte do mundo estaria alguém perguntando-se o mesmo que eu me pergunto hoje. Será?
Acordei e pensei que hoje será um novo dia, e os outros que pensarão eles?
Será que podem também todos ter aquilo que tenho hoje? O amor, o carinho, a generosidade do próximo? Oxalá pudesse ser.
Oxalá pudéssemos gritar juntos ao mundo a nossa felicidade.
O menino, a menina, o velhinho, o adulto, será que todos pensam da mesma forma?
Que interessa isso agora? Que interessa quando queremos apenas que todos possam ser felizes da forma que nós próprios somos. Sonharemos juntos que um dia aqueles que não têm onde dormir possam usufruir de uma cama, que todos possam ter direito a aprender, que possam dormir descansados embalados pelo doce sonho que é viver.
Não queremos mais saber dos lamentos, da desgraça que nos consome, porque há que acreditar, temos de pensar que para além daquilo que vemos existe o mundo onde a esperança impera e pode vencer. Temos que acreditar. Eu acredito e vocês?
Vamos sonhar juntos, vamos ver os meninos na escola, vamos ver os velhinhos vivendo a felicidade da sua experiência na senda a vida.
È tão bom acordar e pensar que está tudo bem... Talvez possa ser sempre assim.
Chega. Não nos vamos mais “contaminar” pelos pensamentos negativos, pelas duras realidades que agravamos com o nosso pessimismo. Vamos deixar o dramatismo e tudo aquilo que é mau para trás, agora há que ser fortes e ganhar forças onde pensamos não existir tentando cultivar em nós um pouco de positivismo e esperança.
Porque ao contrário do que se diz, talvez possamos mudar um pouquinho o mundo através da nossa forma de pensar e da afirmação dos nossos ideais.
Por isso uma palavra pode exprimir tudo: Acreditem!

Isa Mestre


É difícil dizer adeus...

Vivemos amando-nos uns aos outros, convivendo com pessoas que dentro dos seus corações fomentam o respeito, acima de tudo vivemos para os outros e eles vivem para nós.
Por isso que digo que é difícil dizer adeus, é triste ter de deixar para trás aqueles que mais falta nos fazem, é triste olhar nos seus olhos e ver a lágrima no canto do olho.
O momento em que o nosso coração se aperta e a nossa alma percebe finalmente os sentimentos que durante tanto tempo ficaram ocultos nessa imensidão. Sabem como è?
O dia em que simplesmente temos de dizer adeus, esse em que partiremos para longe, como uma estrela que se afasta de tantas outras no azul dos céus.
Basta que olhemos por um momento para eles, vocês também veêm essa lágrima? Eles choram-na porque na sua alma existe amor, amor por nós.
Então por será tão dificíl dizer adeus se a despedida pode mostrar-nos o amor presente dentro de cada coração. Afinal gostamos de ser amados?
Porque não somos capazes de inventar no lugar da lágrima esse sorriso que por tantas vezes esboçámos?
Talvez ao longo das nossas vidas nos faça bem perceber que temos de partir e deixar tudo aquilo que nos faz felizes, talvez precisemos de parar e pensar o quanto os outros nos amam.
E quando sentirmos vontade de os abraçar e dizer-lhes o quanto importante eles são para nós não podemos guardar esse sentimento, temos de exprimi-lo através daquilo que existe dentro dos nossos corações.


sábado, janeiro 01, 2005

Histórias

Há sempre uma história para contar. Porque os verdadeiros homens são os capazes de fazer da vida uma história, por mais dura que ela seja. Aqueles que têm a necessidade de inovar, de criar, os que têm a capacidade de sorrir. Nós próprios somos seres repletos de histórias, desde as histórias dos graúdos até às dos miúdos muda apenas a experiência e a maturidade com que as relatamos. Porque sem o “Era uma vez...” , sem o “Há algum tempo atrás...” nada é igual. E, amigos, as nossas histórias vão seguindo de boca em boca, de mentalidade em mentalidade, até que um dia voltamos a lembrarmo-nos delas.
Pertence-nos o dom de fazer histórias, o poder de adormecer os miúdos, de entreter os velhinhos, de colocar um pouco de magia no coração dos adultos. È isto que nos dá alegria de viver, que nos dá vontade de gritar bem alto ao mundo o quanto o amamos.
Alguém colocou dentro de nós esse desejo de criar, essa vontade imensa de colocar algumas “sementinhas” de curiosidade, de magia e de brilho em nós. Na verdade é contando histórias que nos tornamos mais fortes, mais maduros e sentimentais. Com as histórias aprendemos a viver, com elas aprendemos a sonhar, só elas nos podem dar esse sorriso tão belo que desponta do nosso rosto.
Hoje, senti necessidade de contar-vos esta história, como se uma estrelinha brilhante no céu me disseste: “ Conta-lhes”!

Isa Mestre

Sonhos

Nas asas do sonho...

Afinal o que é um sonho? Um sonho é aquilo que nos coloca com um sorriso nos lábios todos os dias, que nos arrepia só de pensar, que nos leva a lutar sempre.
O sonho é aquilo que nasce de um pensamento, de um desvio da nossa imaginação e cresce dia após dia. O sonho é praticamente aquilo que nos agarra á vida, aquilo que nos acompanha desde miúdos até adultos. No momento em que perdermos os nossos sonhos perderemos a alma que vive dentro de nós.
O sonho é a primeira coisa em que pensamos quando acordamos e a última em que pensamos ao adormecer.
Durante uma vida lutamos por aquilo que mais amamos, ajudamos os outros a realizar os seus sonhos e vivemos dia após dia pensando nos que ainda serão meramente sonhos, mas que um dia poderão ser a nossa realidade. Na nossa caminhada para o sonho existem pessoas que nos mantêm “vivos” e conscientes que um dia temos capacidade para lá chegar, pessoas que lutam batalha após batalha ao nosso lado até ao derradeiro momento, ao teste final.
Todos temos um sonho, todos temos ambição dentro de nós, o dia em que dizemos para nós próprios aquilo que amamos fazer, aquilo é o nosso verdadeiro sonho e na verdade a partir desse dia cada pequeno passo será um passo de gigante na conquista daquilo que nos faz felizes. Muitos procuram nos sonhos meramente uma forma de realização e uma maneira de comprovar aos outros que podem vencer, os sonhos não são somente isso, mas também são isso. Mostrar aqueles que não acreditam em nós que um dia poderemos vencer é uma motivação para lutar até ao fim, no entanto, se não amar-mos realmente aquilo que fazemos nunca poderemos ser realmente bons.
Parece que em nós existe aquele “bichinho” que nos leva para a conquista, para o desafio e que no fundo nos levará ao sonho.
Se alguém sonha tem de acreditar que um dia esse sonho será possível, se acredita tem de lutar para que ele seja efectivamente possível e se um dia ele for possível tem de lutar para manter a sua chama acesa.
Acreditar é o maior passo para conseguir. Saberemos que adiante muitos obstáculos aparecerão, mas, não serão eles que farão com que desistamos de algo tão importante e tão espectacular como aquilo que nos acompanha para todo o lado, que nos deixa a pensar, que nos torna felizes: o sonho!
Temos o direito de sonhar, temos o dever de perseguir o nosso sonho e diria que temos a obrigação de conseguir realizá-lo.
Acredito que todos nós nascemos vocacionados para algo e mesmo que não consigamos seguir esse caminho será sempre aquilo que nos fará felizes, será sempre isso que nos deixará livres para voar e voar batendo as asas tentando chegar somente ao sonho...

Isa Mestre

sexta-feira, dezembro 03, 2004

A juventude e o cigarro...

A juventude e o cigarro ...

Qual a relação entre o tabaco e um jovem? A única relação existente é a vontade de descobrir erradamente aquilo que nunca devia ser descoberto por ninguém. O tabaco é um vício que normalmente começa na juventude, nos anos em que se deseja descobrir tudo á nossa volta. Infelizmente que muitos jovens não tem a consciência que o tabaco mata tal como a droga. Para a sociedade fumar é um vício relativamente aceite, mas pensando bem se medirmos as consequências elas não são aproximadamente as mesmas? Esse é um vício como todos os outros, um vício que nasce de uma simples experiência com aquele que chamo de “inimigo número um”.
Muitos jovens sentem-se heróis com um cigarro na boca ou com um maço de tabaco no bolso mas na verdade por detrás dessa faceta só se esconde a pessoa frágil e influenciável que fuma para sobressair e pedir atenção numa sociedade desatenta.
Esses jovens que ao experimentarem fumar um cigarro uma vez não medem mais as consequências que ele lhe pode causar para toda a vida.
De que serve dizer que o tabaco mata ? O vício é quase como algo inultrapassável, algo que esconde a realidade e cega os olhos daqueles que não querem ver.
Os fumadores têm a certeza que o tabaco mata, sabem dos riscos que correm e das consequências que sofrem dia após dia , mas na realidade pensam « Que importa se tantas pessoas o fazem?» . Revolta-me olhar para um jovem ou mesmo um adolescente como eu , da minha idade, com um cigarro na mão , como se fosse somente ele o herói do mundo parecendo querer dizer a todos « Eu fumo. Eu sou bom.» . Pensar que jovens com toda uma vida pela frente decidem agarrar-se a um vício tão perigoso quando tem ainda tudo á sua volta para conhecer.
Depois de alguns anos apercebem-se que afinal quando um amigo lhes disse se queriam experimentar a fumar deviam ter respondido um «não» , esse «não» que os deixaria fora de um vício de que praticamente metade da sociedade sofre.
Aquilo que qualquer jovem quer é ser independente, ser livre para poder voar pelos céus da vida, mas que sentido faz amarrar-se e aprisionar-se nesses vícios? Cada um tem de saber viver, saber dizer «não» nos momentos cruciais, não deixar que influências os levem por caminhos por onde eles não querem seguir. Só desse modo poderemos voar, desfrutar daquilo que melhor tem a vida, amar e ser amados, respeitar e ser respeitados sem deixar que algo tão inútil como um cigarro estrague a nossa juventude, aquela que tanto prezamos. Vale a pena ser forte, ter personalidade para saber habilmente fugir dos vícios porque um dia todos nós saberemos que estamos no caminho certo, naquele que nós próprios escolhemos. Num caminho com obstáculos que serão sublimados etapa após etapa , mas felizmente num caminho em que não existe lugar para vícios.
Isa Mestre

quinta-feira, novembro 18, 2004

Para todos vocês...

Para todos vocês...

É para todos vocês que escrevo hoje , aqueles que lutaram comigo lado a lado, aqueles que souberam acompanhar-me nos momentos em que sorrimos e naqueles em que chorámos. Os que estiveram sempre como fiéis amigos dispostos a mostra-me todo o seu amor e carinho. Obrigado a todos vocês. Porque serão os únicos que nunca esquecerei. A recordação é a melhor prova de amor que podemos dar aos outros. E no meu coração guardarei sempre os vossos rostos contilantes nesta "caixinha" pequenina que é o maior tesouro que tenho em mim...
Obrigado. Sem vocês não seria ninguém.

Menino

Menino

Ainda te procuro menino de olhos azulados... Busco o olhar distante, os traços inconfundíveis desse rosto de menino e moço. Procuro a lágrima que descia pelo teu rosto acabando por implantar-se no meu coração. Na minha memória surgem esses teus lábios de cor avermelhada naquela manhã fria de Outono. Não tinhas nada.
Apenas as lágrimas que te desciam pelo rosto acalentavam essa dor que, a tua expressão de menino jamais poderia revelar. Lembro-me perfeitamente de teus olhos azulados, que penetravam no nosso espírito sem nos apercebermos. Era um olhar vazio, olhar de menino inocente, olhar de criança onde apenas perduravam os desejos de menino.
Não querias ser futebolista, não querias ser médico nem tão pouco super-herói, querias apenas ser feliz!
Querias poder ser como todas as crianças, querias uma família...
Desejavas o carinho, o amor, o conforto de um lar e um pai e uma mãe que pudessem adormecer-te contando-te histórias.
Tantas vezes havias sonhado que uns braços fortes e ávidos de carinho caminhavam até ti aconchegando-te e dizendo-te baixinho a doce palavra: Amo-te.
Tiveste tantos sonhos, pequeno herói.
Sonhos de uma doce criança, marcada pela revolta de dois seres ao relação ao mundo.
Não tinhas medo da solidão, da dor, nem dos olhares de pena e admiração. Tinhas sim, medo de conhecer a verdade. Receio de descobrir que existiu alguém que nunca soube dar-te o teu verdadeiro valor, medo de não ter a mão protectora que possa acariciar-te teus cabelos ao amanhecer.
Não tenhas medo menino. Existirá alguém, há sempre esse “alguém”.
Imagino agora teus olhos brilhantes, carregados de orgulho quando dos teus lábios saírem as palavras: Mamã e Papá.
Não estás só. Nunca estarás, porque ainda te procuro menino dos olhos azuis...

Isa Mestre

Doce rebeldia

Doce rebeldia

Somos doces rebeldes. Somos aqueles que anseiam descobrir o mundo e poder tê-lo na palma da mão. Somos seres irreverentes e carregados de garra para vencer e fazer frente a este mundo “louco”.
Queremos trabalhar, queremos mostrar um pouco do que valemos. Porque não nos deixam? Porque nos impõem metas, porque nos colocam pressão sobre os ombros?
O peso das mochilas já é demasiado, levamos nas mãos as expectativas daqueles que acreditam em nós, não podemos desiludi-los. Gostamos de ler, queremos ler, queremos aprender, queremos sonhar. Porque insistem em impor-nos tudo? Porque não podemos ser nós mesmo a marcar a diferença, a escolher, a decidir, a ser livres e independentes. Estão nas nossas mãos as melhores formas de aprender, diante de nós as únicas pessoas que nos podem indicar o caminho certo a percorrer, e, vocês querem mandar nos nossos destinos? Querem impor-nos à força que temos de ler cinco ou seis obras? Querem forçosamente obrigar-nos a “mastigar” sempre da mesma comida?
Também queremos ter a nossa palavra. Também queremos a liberdade de poder escolher e determinar as nossas próprias metas, porque somente nós sabemos até onde podemos chegar. Deixem-nos ler aquilo que quisermos, quantas obras quisermos, deixem-nos espalhar a nossa sabedoria e cultura alegremente, sem a preocupação de ter de cumprir prazos ou apreciar aquilo que não nos agrada.
Dêem aos jovens uma oportunidade de mostrar que afinal, não somos apenas rebeldes, não somos apenas mal-educados e comodistas, deixem-nos provar o contrário.
Nascemos com o peso de termos de ser “alguém” na vida, somos emenda dos falhanços dos outros, somos livres mas não podemos voar...
Nos melhores anos das nossas vidas é-nos imposto que sejamos “cultos” e adultos à força. Queremos sê-lo mas sem carregar esse pesado fardo da pressão psicológica.
Vamos saber vencer, vamos saber aprender e um dia mais tarde ensinar aos mais novos, vamos crescer e ser melhores adultos, vamos ser correctos e irreverentes. Vamos ser livres expressando os nossos ideais e atingindo as nossas ambições.

Isa Mestre

Companheiros de Histórias

Companheiros de Histórias

Companheiros de histórias, amigos do pensamento, é para vocês que escrevo hoje, aliás, não só hoje mas todos os dias.
Porque sempre que há algo novo para contar, sempre que a minha caneta não resiste à tentação de tocar o papel penso nos velhos contadores de histórias que já conheci.
Penso, que agora sou eu que deposito no papel tudo aquilo que me vai na alma, que coloco nessa “mancha branca” a maior parte de mim e aquilo que mais amo fazer.
Mas, sem vocês, os companheiros das histórias, dos casos reais, dos pensamentos profundos e também dos superficiais, nada disto faria sentido. Nunca faz sentido abrir o nosso coração para quem não o quer conhecer e amar...
Por isso, que sempre que a caneta desliza sobre o papel, penso nos senhores de óculos, nos jovens, nos adultos e nos velhinhos. São eles os companheiros de histórias, aqueles que semana após semana, mês após mês, estão sempre dispostos a escutar a nossa “voz”, os que não se cansam de pensar, os que procuram constantemente superar os seus limites. São esses que admiro. Esses que tudo fazem para tornar o mundo num lugar mais interessante, os que lêem, os que escrevem, os que pintam, os que contam histórias, os que conseguem ser sábios através do conhecimento.
Porque só vocês, amigos, sabem compreender e ouvir o nosso “grito”, estando sempre dispostos a viver connosco as alegrias e as tristezas. Através das palavras vivemos tudo isto, através delas sentimos, acima de tudo através da sua magia sentimo-nos alguém. Mesmo que não conheçamos os rostos uns dos outros, conhecemos o diálogo, os pensamentos e a alma, que afinal valem bem mais que a nossa “embalagem”.
E, cada vez que sinto aqui dentro esta vontade de comunicar, o coração fala baixinho as palavras que a caneta escreve com todo o carinho. È como se vocês, companheiros de histórias, estivessem em todo o lado, dispostos a ouvir-me onde quer que esteja. Transporto-vos no peito juntamente com as frases, com as palavras, com a profundeza do nosso ser que tantas vezes avaliamos juntos.
Por isso, e tal como dizia um grande escritor, todos somos meramente contadores de histórias, e também companheiros de histórias.
Obrigada por tudo. Sem vocês a minha mão não tem vontade de escrevinhar, sem vocês a minha alma fica demasiado vazia para sonhar.
Também estou aqui para ouvir as vossas histórias, para sentir da mesma forma que sentem, para partilhar aquilo que queremos mudar no mundo.
È por tudo isto amigos, que quero deixar-vos estas palavras de apreço e amizade, porque sem os “meus” companheiros de histórias, não existiria este sentimento tão forte e presente aqui no meu peito.
Porque afinal, aqui deste lado, está apenas uma contadora de histórias...

Isa Mestre

Inverno

Inverno

Estação fria, rostos fechados, mentes cansadas do trabalho e exaustas da rotina que lhes é imposta. As pessoas caminham pelas ruas quase sempre com um passo apressado como que fugindo das “lágrimas do céu”. Todos procuram um abrigo, um sítio onde possam aconchegar-se junto à lareira ou no conforto de suas casas. Na televisão programas patéticos vão-nos entretendo, e não nos preocupa mais nada. Conformamo-nos com a ignorância, despreocupamo-nos em pensar se existe alguém que precisa de nós... Somos frios, gelados... tal como o vento que passa sobre os nossos rostos.
Desanimados, deprimidos e inconscientes vivemos dentro da nossa própria “concha”. Somos irmãos do egoísmo, da depressão, da ignorância e da preguiça. Nossas mãos estão “vazias”, havidas de boas acções, desejosas de poder levar a tão desejada refeição de carinho ao pobre que, nas ruas se sujeita à chuva e ao frio dos Invernos mais rigorosos.
Estamos sempre tão ocupados com os nossos problemas, as nossas questões, as nossas dúvidas e as nossas discussões pessoais que não nos resta nem um minuto para reflectir sobre a vida de muitos outros. Esses que por momentos dormem ao frio e ao relento nessas noite de luar, passadas sobre o banco de um jardim ou na calçada de uma rua qualquer. O Inverno é frio, cada vez mais frio.
Quando chega o Natal pensamos apenas na festa, nos presentes e na comida. E aqueles que nada disso têm? E os que passam o Natal agarrados à seringa, à garrafa de bebida ou ao pobre cão igualmente abandonado?
Esse homem que dorme no jardim, humildemente enfeitado e sob imensas luzes de diversas cores, a pessoa que também sente, o homem que chora.
No entanto, suas lágrimas jamais chegarão até nós, perder-se-ão algures num canto do mundo. Sozinho chora a sua mágoa, esse velho grisalho que faz da rua a sua única casa.
Enquanto nós distribuímos presentes esse homem que nas mãos leva a miséria oferece sua alma ao vício em troca de alguma inconsciência.
O mundo não é justo.
O Inverno é cada vez mais frio.

Isa Mestre