Dentro de mim a noite parece escrever palavras confusas nas folhas soltas e velhas do meu coração. Mas essas, são palavras invisíveis, palavras que apenas tu entendes, que apenas tu lês. São sentimentos perdidos de quem já nem sabe o que é sentir.
Diz-me … será que ainda sinto? Ou abandonei por completo o meu corpo por não poder mais tocar o teu? Agora sou uma analfabeta incapaz de ler o teu pensamento, o teu corpo, o teu olhar, o teu sonho que morreu na minha face manchada pela derrota. E a noite volta a trazer-te para dentro de mim quando ainda nem sequer partiste… traz a tua face ingénua e pura, os teus olhinhos brilhantes fitando o Universo de magia e cor, os teus braços hábeis que agarram todas as coisas e as transformam nos mais bonitos momentos… Eu insisto que ainda é possível, mesmo que saiba que não, os teus olhos continuam a dizer-me que em ti existirá sempre um sim, o teu coração será eternamente o poço fechado onde me afogarei. E quando o mundo morrer eu ficarei viva para saber que ainda estás aqui: no meu peito, nas letrinhas que desenho na folha de papel, nos pedaços de madeira que ardem estridentemente na lareira da nossa juventude.
A minha saudade queima as tuas cartas, deseja tê-las longe, mas, ainda que as tuas palavras pareçam morrer no fogo, ainda que eu as mate, sei que elas jamais poderão extinguir-se dentro de mim.
Mesmo que as minhas roupas estejam perfumadas hei-de sempre sentir o odor do teu tabaco contagiando todas as partes do meu corpo, mesmo que não estejas, imaginar-te-ei sentado junto da lareira contando-me pequenas histórias da vida.
Permanecerás. Sobre o tempo, sobre as coisas mórbidas, sobre os olhares, sobre as crianças que brincam no jardim… Ainda bem que falamos nelas…
Sabes quem são?
São teus filhos…filhos do amor, da compreensão, da luta, da força, do orgulho, da convicção, da loucura, da magia que transportaste para dentro de mim.
Olha por eles…dá-lhes a mão já que serás incapaz de voltar a entrelaçar os teus dedos nos meus.
Vamos…vai vê-los sorrir… afinal, têm o teu sorriso, o abrir do mundo naqueles dentinhos de leite que se escondem por detrás da boca pequenina de lábios encarnados. Sorriem como tu, como sorriste nas noites de amor, nos dias perfeitos em que julgámos contornar a imperfeição. Mas, foi impossível, sabe-lo como eu… e eles que brincam no jardim são um símbolo disso mesmo, da nossa imperfeição. Da nossa incapacidade de amar, de sonhar, de sorrir mesmo quando nos apeteceu chorar.
Mas não me arrependo, porque eles são aquilo que sou, aquilo que somos, o que tu também és…são as palavras invisíveis dessa folha de papel que insisto em queimar todos os dias, são os laços inquebráveis que ainda nos unem, são os sentimentos que jamais morrerão…eles, amor, eles são o mundo…toca-lhes e voarás…ama-os e voltarás a sentir o que o amor.
sexta-feira, fevereiro 17, 2006
segunda-feira, fevereiro 13, 2006
Força
Que tens nessa alma?
Uma força imensa, uma capacidade de superar todos os obstáculos, de sorrir mesmo quando apetece chorar…
Enfrentaste sozinha as maiores tempestades e o teu barco continua firme sobre as imperiosas ondas da vida. No silêncio e na solidão do teu quarto encontras soluções, caminhos para delinear a tua vida, caminhos certos, caminhos de quem ousa sentir e não vive apenas por viver.
Porque essa força que impera no teu sorriso é o espelho do que vai nesse coração cintilante, nessas palavras que sem nada transmitir poderiam conter o mundo apenas na tua expressão apaixonada.
Tu és a flor… A que sofre devido à maldade dos humanos e continua a perfumar a mão que lhe retira vida, a que perdida na imensidão do espaço se destaca pelo seu brilho, pelas suas fortes raízes, pelo seu sorrir, pelo seu olhar…
Mas que força exubera desse nobre coração? Esse coração que sente, que vive, que sorri e que chora.
A vida ensinou-te a crescer, independente, feliz, sozinha na imensidão do mundo que parecia querer devorar-te…e tu cresceste, lutaste pela tua independência e venceste, ensinaste ao mundo que bastava força para vingar, para ser feliz. E quando a vida te impôs obstáculos, tu sorriste novamente, agarraste essa força que transportas no peito e seguiste adiante.
Caíste mas ergueste-te, tal como um anjo que perdeu as asas e anseia voltar a voar.
Sofreste. Mas nunca deixaste que o sofrimento manchasse os bonitos sentimentos da alma, esses mantiveste-os fiéis e intactos perante a ameaça da dor que nos mata os sentidos.
Quando todos esperaríamos a teimosa lágrima que teimava em descer-te das faces ofereceste-nos a força que nos faltou em momentos cruciais. Nós que tínhamos todos os motivos para sorrir, permanecemos quietos e calados, tristes e inconformados perante a tua dor, mas tu voltaste, repleta de forças e ensinaste-nos mais uma vez a sorrir, mesmo quando as forças te faltavam e a alegria não sobejava no humilde coração.
Mas a tua força levou-nos além…Mostrou-nos que tínhamos de ser capazes em todos os momentos, fossem eles de alegria ou dor.
E com os teus sorrisos foste-nos ensinando a crescer… Com a tua força guiaste-nos para a difícil guerra da vida e lutaste connosco lado a lado, como se de irmãos nos tratássemos….
Curaste as nossas feridas e com convicção prosseguimos a luta…. A sorrir, sempre a sorrir. Força no coração, humildade nas faces e um imenso caminho a preencher.
Depois… o caminho para casa, o doloroso destino que tivemos de percorrer sozinhos, porque tu, tu já lá não estavas, apenas a tua força nos guiou pelo mundo fora como bússola que orientou as coordenadas dos nossos frágeis corpos.
Isa Mestre
Uma força imensa, uma capacidade de superar todos os obstáculos, de sorrir mesmo quando apetece chorar…
Enfrentaste sozinha as maiores tempestades e o teu barco continua firme sobre as imperiosas ondas da vida. No silêncio e na solidão do teu quarto encontras soluções, caminhos para delinear a tua vida, caminhos certos, caminhos de quem ousa sentir e não vive apenas por viver.
Porque essa força que impera no teu sorriso é o espelho do que vai nesse coração cintilante, nessas palavras que sem nada transmitir poderiam conter o mundo apenas na tua expressão apaixonada.
Tu és a flor… A que sofre devido à maldade dos humanos e continua a perfumar a mão que lhe retira vida, a que perdida na imensidão do espaço se destaca pelo seu brilho, pelas suas fortes raízes, pelo seu sorrir, pelo seu olhar…
Mas que força exubera desse nobre coração? Esse coração que sente, que vive, que sorri e que chora.
A vida ensinou-te a crescer, independente, feliz, sozinha na imensidão do mundo que parecia querer devorar-te…e tu cresceste, lutaste pela tua independência e venceste, ensinaste ao mundo que bastava força para vingar, para ser feliz. E quando a vida te impôs obstáculos, tu sorriste novamente, agarraste essa força que transportas no peito e seguiste adiante.
Caíste mas ergueste-te, tal como um anjo que perdeu as asas e anseia voltar a voar.
Sofreste. Mas nunca deixaste que o sofrimento manchasse os bonitos sentimentos da alma, esses mantiveste-os fiéis e intactos perante a ameaça da dor que nos mata os sentidos.
Quando todos esperaríamos a teimosa lágrima que teimava em descer-te das faces ofereceste-nos a força que nos faltou em momentos cruciais. Nós que tínhamos todos os motivos para sorrir, permanecemos quietos e calados, tristes e inconformados perante a tua dor, mas tu voltaste, repleta de forças e ensinaste-nos mais uma vez a sorrir, mesmo quando as forças te faltavam e a alegria não sobejava no humilde coração.
Mas a tua força levou-nos além…Mostrou-nos que tínhamos de ser capazes em todos os momentos, fossem eles de alegria ou dor.
E com os teus sorrisos foste-nos ensinando a crescer… Com a tua força guiaste-nos para a difícil guerra da vida e lutaste connosco lado a lado, como se de irmãos nos tratássemos….
Curaste as nossas feridas e com convicção prosseguimos a luta…. A sorrir, sempre a sorrir. Força no coração, humildade nas faces e um imenso caminho a preencher.
Depois… o caminho para casa, o doloroso destino que tivemos de percorrer sozinhos, porque tu, tu já lá não estavas, apenas a tua força nos guiou pelo mundo fora como bússola que orientou as coordenadas dos nossos frágeis corpos.
Isa Mestre
domingo, fevereiro 05, 2006
Antes de Partir
Beijo-te antes de partires.
Não sei se voltarei a ver-te, se os meus olhos se cruzarão com os teus no atribulado cais da vida, se a minha alma se juntará à tua para mais uma divagação, se o meu coração se partirá antes que venhas consertá-lo. Não sei.
Mas, não choro, não sofro, apenas vivo nessa recordação que parece guiar os meus passos pela noite escura.
Talvez seja a última…Talvez…Ou quem sabe não será?
Lá vens tu com a tua voz penetrante, acusando-me de tristeza, de semear no teu coração a ansiedade da perda, da morte, do fim de todas as coisas… Trazes nas mãos a alegria de viver, nos olhos o brilho da vida, pois tu sabes o que isso é, eu talvez não o saiba, por isso falo tantas vezes de morte.
Porque tenho medo de perder-te, que os meus olhos não contemplem mais essa figura que me habituei a amar, tenho receio que vás para longe e te esqueças da menina que ensinaste a crescer.
Trazes os livros amontoados nas mãos calejadas pela caneta, um lápis na mão direita disposto a assinalar os meus erros na senda da vida, um sorriso nos lábios, uma alegria no coração que apenas com palavras jamais conseguirei expressar.
Convido-te a ficares comigo mais alguns instantes, mas insistes em partir, outros precisam de ti. Tenho de aprender a deixar de lado o egoísmo, tenho de aprender que a tua grandeza não morre na minha alma pequenina, tenho de aprender que vives atarefado e eu sou apenas mais uma pequena tarefa do teu dia. Sou apenas o momento em que me olhas, me elogias, me criticas, me beijas, me tocas nas faces, me sorris, e depois...o resto da vida é composto de nadas.
Mas, quero sempre beijar-te, como se fosse a última vez, quero dizer-te que te adoro, que és a pessoa mais importante da minha vida, agradecer-te por tudo, mas tu…permaneces calado, tapas-me a boca e impedes-me de fazer-te sorrir.
Mas eu quero dize-lo! Deixa-me falar! Amanhã pode ser tarde demais! «Guarda as palavras no coração, ele saberá como transmiti-las sob a forma de sentimentos».
Sim, eu sei. E tu também sabes porque sentes o quanto te amo, o quanto te admiro. Apenas um olhar diria tudo, pois o amor é criminoso e transporta nas faces o maior símbolo da sua presença.
Eu sorrio-te, sabes como adoro sorrir, tu…devolves-me o sorriso, aquelas nossas expressões são amo-tes largados pela rua, são folhas caídas da grande árvore dos afectos.
Não precisamos dizer mais nada, sabes como somos, falamos apenas com os olhares e quando parto sei tudo sobre ti e tu tudo sobre mim, apesar do silêncio sinto-me como se tivéssemos falado horas e horas.
Tu vais sem pudor, sabes que amanhã me encontrarás no mesmo sítio, porém eu anseio que o amanhã não chegue, que a vida me corte as asas que me permitem voar…
Mas, sossego a minha inquietação…como se os teus olhos azuis fossem o mar calmo perante uma noite de luar, e eu a estrela perdida que sonha contigo.
Afinal no dia seguinte a tua figura serena surge novamente ao final da rua…tinhas razão velhote…mas quem me diz que hoje não será o último? Quem me diz que as minhas raízes querem ficar para sempre presas a este solo? Quem me diz que amanhã na tua eterna convicção de me encontrares não mais me encontrarás? Quem me diz que os momentos são infinitos quando o próprio mundo um dia se esgotará? Por isso, beijo-te antes de partires, deposito os meus lábios nas faces rosadas do frio, na barba fustigada pela chuva que cai sobre as nossas cabeças…é o último, eu sei disso, mas não me impede que aja como se fosse o primeiro…
Isa Mestre
Não sei se voltarei a ver-te, se os meus olhos se cruzarão com os teus no atribulado cais da vida, se a minha alma se juntará à tua para mais uma divagação, se o meu coração se partirá antes que venhas consertá-lo. Não sei.
Mas, não choro, não sofro, apenas vivo nessa recordação que parece guiar os meus passos pela noite escura.
Talvez seja a última…Talvez…Ou quem sabe não será?
Lá vens tu com a tua voz penetrante, acusando-me de tristeza, de semear no teu coração a ansiedade da perda, da morte, do fim de todas as coisas… Trazes nas mãos a alegria de viver, nos olhos o brilho da vida, pois tu sabes o que isso é, eu talvez não o saiba, por isso falo tantas vezes de morte.
Porque tenho medo de perder-te, que os meus olhos não contemplem mais essa figura que me habituei a amar, tenho receio que vás para longe e te esqueças da menina que ensinaste a crescer.
Trazes os livros amontoados nas mãos calejadas pela caneta, um lápis na mão direita disposto a assinalar os meus erros na senda da vida, um sorriso nos lábios, uma alegria no coração que apenas com palavras jamais conseguirei expressar.
Convido-te a ficares comigo mais alguns instantes, mas insistes em partir, outros precisam de ti. Tenho de aprender a deixar de lado o egoísmo, tenho de aprender que a tua grandeza não morre na minha alma pequenina, tenho de aprender que vives atarefado e eu sou apenas mais uma pequena tarefa do teu dia. Sou apenas o momento em que me olhas, me elogias, me criticas, me beijas, me tocas nas faces, me sorris, e depois...o resto da vida é composto de nadas.
Mas, quero sempre beijar-te, como se fosse a última vez, quero dizer-te que te adoro, que és a pessoa mais importante da minha vida, agradecer-te por tudo, mas tu…permaneces calado, tapas-me a boca e impedes-me de fazer-te sorrir.
Mas eu quero dize-lo! Deixa-me falar! Amanhã pode ser tarde demais! «Guarda as palavras no coração, ele saberá como transmiti-las sob a forma de sentimentos».
Sim, eu sei. E tu também sabes porque sentes o quanto te amo, o quanto te admiro. Apenas um olhar diria tudo, pois o amor é criminoso e transporta nas faces o maior símbolo da sua presença.
Eu sorrio-te, sabes como adoro sorrir, tu…devolves-me o sorriso, aquelas nossas expressões são amo-tes largados pela rua, são folhas caídas da grande árvore dos afectos.
Não precisamos dizer mais nada, sabes como somos, falamos apenas com os olhares e quando parto sei tudo sobre ti e tu tudo sobre mim, apesar do silêncio sinto-me como se tivéssemos falado horas e horas.
Tu vais sem pudor, sabes que amanhã me encontrarás no mesmo sítio, porém eu anseio que o amanhã não chegue, que a vida me corte as asas que me permitem voar…
Mas, sossego a minha inquietação…como se os teus olhos azuis fossem o mar calmo perante uma noite de luar, e eu a estrela perdida que sonha contigo.
Afinal no dia seguinte a tua figura serena surge novamente ao final da rua…tinhas razão velhote…mas quem me diz que hoje não será o último? Quem me diz que as minhas raízes querem ficar para sempre presas a este solo? Quem me diz que amanhã na tua eterna convicção de me encontrares não mais me encontrarás? Quem me diz que os momentos são infinitos quando o próprio mundo um dia se esgotará? Por isso, beijo-te antes de partires, deposito os meus lábios nas faces rosadas do frio, na barba fustigada pela chuva que cai sobre as nossas cabeças…é o último, eu sei disso, mas não me impede que aja como se fosse o primeiro…
Isa Mestre
domingo, janeiro 29, 2006
Bruno
Se a saudade tivesse um nome chamar-se-ia Bruno.
Bruno, a palavra de cinco letrinhas que me fez voar sobre as suas asas, o sentido da vida reunido naquele momento, naquele nome, naquela expressão, naquele olhar…
A noite chora, chama por ti, os barcos trazem inscrições na sua proa, os pássaros levam a minha saudade nas suas frágeis asas, o vento leva-a no peito, enquanto a minha voz sumida chama por ti…Bruno, Bruno, Bruno…
Será que te perdeste por aí? Será que posso ir buscar-te com as minhas mãozinhas delicadas, ou ter-te-ei deixado fugir para sempre? Será que há amanhã? Será que o momento se resume à efemeridade? Será Bruno?
Porque não voltas mais? A este cais atribulado das nossas vidas, a esta rotina estonteante que apenas tu sabias quebrar da melhor forma…
Aquilo que foste desvanece-se aos poucos na nossa memória, os teus contornos perdem precisão e os sentimentos ganham força neste coração que anseia abraçar-te.
Mas tu, tu já lá não estás.
Oxalá pudesse chamar por ti, como fiz tantas vezes quando brincávamos como criancinhas pequenas…mas agora a minha voz trémula perde-se no infinito sem atingir o teu coração, agora as estrelas ficam quietas, são testemunhas caladas da minha dor.
Agora a areia da praia insiste em apagar o teu nome, apenas poderemos escrevê-lo juntos, sei disso.
Queimo folhas, rasgo palavras, oxalá pudesse eu matar a dor que me atravessa a alma.
Não espero mais, Bruno. A cada barco que passa a minha esperança de ver-te voltar morre nas profundas águas do oceano, restam-me as palavras, as que me deixaste, as que ficaram de herança deste amor tão bonito que nem o tempo conseguiu apagar.
E essas não as sepulto junto do teu túmulo que não existe, guardo-as comigo para sempre, na caixinha do meu coração, no sorriso da minha alma.
Porque por mais que eu abra o mapa, o teu nome está em todas as partes, as coordenadas do meu peito serão eternamente tuas, ainda que não exista esse dia, esse momento, esse amar, os meus caminhos serão sempre os nossos caminhos.
Os meus pezinhos percorrem a casa, as minhas roupas espalham-se pelo chão, os meus livros abrem-se perante o atento olhar da vida, mas faltas tu…o teu cheiro, o caminhar decidido, a excentricidade da tua música, a loucura do teu ser. Falta o livro fora do sítio, a camisa desarrumada, o tapete sujo dos teus passos enlameados pela casa, falta a rosa nessa jarra vazia que a minha saudade foi incapaz de preencher. Falta o teu perfume espalhado pela rua, o teu sorriso reflectido nas montras da cidade, o teu flash que captava todas as emoções…
Todas as coisas chamam por ti…mas o meu coração, esse cansou-se de esperar e gravou o teu nome para sempre junto das mais bonitas coisas da vida.
Bruno, a palavra de cinco letrinhas que me fez voar sobre as suas asas, o sentido da vida reunido naquele momento, naquele nome, naquela expressão, naquele olhar…
A noite chora, chama por ti, os barcos trazem inscrições na sua proa, os pássaros levam a minha saudade nas suas frágeis asas, o vento leva-a no peito, enquanto a minha voz sumida chama por ti…Bruno, Bruno, Bruno…
Será que te perdeste por aí? Será que posso ir buscar-te com as minhas mãozinhas delicadas, ou ter-te-ei deixado fugir para sempre? Será que há amanhã? Será que o momento se resume à efemeridade? Será Bruno?
Porque não voltas mais? A este cais atribulado das nossas vidas, a esta rotina estonteante que apenas tu sabias quebrar da melhor forma…
Aquilo que foste desvanece-se aos poucos na nossa memória, os teus contornos perdem precisão e os sentimentos ganham força neste coração que anseia abraçar-te.
Mas tu, tu já lá não estás.
Oxalá pudesse chamar por ti, como fiz tantas vezes quando brincávamos como criancinhas pequenas…mas agora a minha voz trémula perde-se no infinito sem atingir o teu coração, agora as estrelas ficam quietas, são testemunhas caladas da minha dor.
Agora a areia da praia insiste em apagar o teu nome, apenas poderemos escrevê-lo juntos, sei disso.
Queimo folhas, rasgo palavras, oxalá pudesse eu matar a dor que me atravessa a alma.
Não espero mais, Bruno. A cada barco que passa a minha esperança de ver-te voltar morre nas profundas águas do oceano, restam-me as palavras, as que me deixaste, as que ficaram de herança deste amor tão bonito que nem o tempo conseguiu apagar.
E essas não as sepulto junto do teu túmulo que não existe, guardo-as comigo para sempre, na caixinha do meu coração, no sorriso da minha alma.
Porque por mais que eu abra o mapa, o teu nome está em todas as partes, as coordenadas do meu peito serão eternamente tuas, ainda que não exista esse dia, esse momento, esse amar, os meus caminhos serão sempre os nossos caminhos.
Os meus pezinhos percorrem a casa, as minhas roupas espalham-se pelo chão, os meus livros abrem-se perante o atento olhar da vida, mas faltas tu…o teu cheiro, o caminhar decidido, a excentricidade da tua música, a loucura do teu ser. Falta o livro fora do sítio, a camisa desarrumada, o tapete sujo dos teus passos enlameados pela casa, falta a rosa nessa jarra vazia que a minha saudade foi incapaz de preencher. Falta o teu perfume espalhado pela rua, o teu sorriso reflectido nas montras da cidade, o teu flash que captava todas as emoções…
Todas as coisas chamam por ti…mas o meu coração, esse cansou-se de esperar e gravou o teu nome para sempre junto das mais bonitas coisas da vida.
quinta-feira, janeiro 26, 2006
Canção
Invade-me uma sensação de liberdade e de alegria, quer expandir-se por todos os poros da minha alma… então sorrio, canto canções.
Subitamente vem-me à imaginação as melodias de meninos, recordo as músicas da nossa adolescência conturbada, depois…depois as notas dessa nossa canção saltam-me para o coração e os meus lábios desenham pela casa a música que tantas vezes ouvimos. Eu canto-a, como na primeira vez, com a mesma emoção, como se as minhas cordas vocais ainda permanecessem idênticas, como se a maturidade não se tivesse apoderado do meu corpo.
È a canção da morte…da tua morte. Porque enquanto a canto e recordo os momentos vividos, tu agonizas do outro lado do planeta, tentas despedir-te do mundo, das pessoas, das palavras… na tua cabeça ecoa essa mesma canção, aquela que eu canto com um sorriso nos lábios e alegria na alma.
Não sei de nada, não sei que naquele preciso momento estás a dizer-me adeus, não sei que as horas jamais poderão prolongar a tua estada neste mundo, não sei se devo cantá-la, ou se devo ceder ao silêncio desta casa.
A alegria esvai-se em instantes, volta o vazio, perde-se a alegria, regressa a madrasta tristeza ao meu rosto pueril.
De repente, tento cantar, mas os sons ficam presos nesta garganta ferida de tanto chamar o teu nome, as palavras não saem, as notas perdem-se na minha cabeça sem conseguir atingir o coração.
És tu quem me tira esta canção da alma, és tu que respiras a última lufada de ar da vida, e eu perdida e triste nem me apercebo que apesar da distância estás a morrer nos meus braços.
Então calo-me. Deixo-te ir sem fazer frente à morte, sem lutar com a minha espada de ouro, sem dizer que te amo antes que seja tarde demais…Deixo-te partir, para sempre…
Vejo a tua vida escapar-me por entre os dedos e não consigo detê-la, quero agarrar essa canção, esse som, essa alegria que cultivámos durante anos, mas tu, afastas-me as mãos, guardas a letra da nossa canção junto do teu peito, sorris-me e vais-te.
Vou inocentemente à tua procura, julgo ainda poder segurar-te a mão e prender-te à vida, mas os meus dedos pequeninos revelam-se incapazes de salvar-te da dor e da morte.
Então a alegria foge-me do rosto, a canção junta-se a ti e abandona o meu corpo, a minha alma, a minha vida. Sei que jamais poderei cantá-la sozinha, porque agora tu já não estará do outro lado do Planeta para completar os versos em branco que a minha distracção deixou escapar, porque esses sons parecerão cemitérios daquilo que fomos e que vivemos…
Por isso, se queres que cante, vem! Empresta-me esse coração que ainda é meu, dá-me essa alma que me pertence, junta a tua voz à minha e cantarolemos como loucos a nossa canção, a canção da vida, a canção que te levou nos braços da morte…
Isa Mestre
Subitamente vem-me à imaginação as melodias de meninos, recordo as músicas da nossa adolescência conturbada, depois…depois as notas dessa nossa canção saltam-me para o coração e os meus lábios desenham pela casa a música que tantas vezes ouvimos. Eu canto-a, como na primeira vez, com a mesma emoção, como se as minhas cordas vocais ainda permanecessem idênticas, como se a maturidade não se tivesse apoderado do meu corpo.
È a canção da morte…da tua morte. Porque enquanto a canto e recordo os momentos vividos, tu agonizas do outro lado do planeta, tentas despedir-te do mundo, das pessoas, das palavras… na tua cabeça ecoa essa mesma canção, aquela que eu canto com um sorriso nos lábios e alegria na alma.
Não sei de nada, não sei que naquele preciso momento estás a dizer-me adeus, não sei que as horas jamais poderão prolongar a tua estada neste mundo, não sei se devo cantá-la, ou se devo ceder ao silêncio desta casa.
A alegria esvai-se em instantes, volta o vazio, perde-se a alegria, regressa a madrasta tristeza ao meu rosto pueril.
De repente, tento cantar, mas os sons ficam presos nesta garganta ferida de tanto chamar o teu nome, as palavras não saem, as notas perdem-se na minha cabeça sem conseguir atingir o coração.
És tu quem me tira esta canção da alma, és tu que respiras a última lufada de ar da vida, e eu perdida e triste nem me apercebo que apesar da distância estás a morrer nos meus braços.
Então calo-me. Deixo-te ir sem fazer frente à morte, sem lutar com a minha espada de ouro, sem dizer que te amo antes que seja tarde demais…Deixo-te partir, para sempre…
Vejo a tua vida escapar-me por entre os dedos e não consigo detê-la, quero agarrar essa canção, esse som, essa alegria que cultivámos durante anos, mas tu, afastas-me as mãos, guardas a letra da nossa canção junto do teu peito, sorris-me e vais-te.
Vou inocentemente à tua procura, julgo ainda poder segurar-te a mão e prender-te à vida, mas os meus dedos pequeninos revelam-se incapazes de salvar-te da dor e da morte.
Então a alegria foge-me do rosto, a canção junta-se a ti e abandona o meu corpo, a minha alma, a minha vida. Sei que jamais poderei cantá-la sozinha, porque agora tu já não estará do outro lado do Planeta para completar os versos em branco que a minha distracção deixou escapar, porque esses sons parecerão cemitérios daquilo que fomos e que vivemos…
Por isso, se queres que cante, vem! Empresta-me esse coração que ainda é meu, dá-me essa alma que me pertence, junta a tua voz à minha e cantarolemos como loucos a nossa canção, a canção da vida, a canção que te levou nos braços da morte…
Isa Mestre
quarta-feira, janeiro 18, 2006
Obrigada!
Há momentos em que o horizonte pára e eu penso... Penso em mim, penso em vós, penso em todos aqueles que de alguma forma ou de outra me ajudam diariamente a poder fazer aquilo que amo. Para vós um obrigada não basta, nunca existirão palavras capazes de expressar o que sinto. Mas, há nomes que nunca se esquecem, há pessoas que ficarão para sempre em nós, naquilo que fazemos e naquilo que somos pela vida fora.
Agradecimentos
Entre todas as pessoas que diariamente me ajudam quero muito especialmente agradecer à Professora Fernanda Lima, grande amiga que desde sempre me apoiou e me iluminou o caminho, tal como uma candeia na noite. Ensinou-me muito daquilo que sei hoje, a si lhe devo a força que me deu em todos os momentos e as alegrias que partilhámos juntas. Obrigada pela paciência , pelos erros que corrigimos, pelas vezes que reescrevemos... Obrigada por tudo. Sempre no meu coração...
Ainda um agradecimento especial à minha Professora de Literatura, Eduarda, pela compreensão e ajuda e por nos ensinar não apenas a Literatura mas também um pouco da vida.
Muito Obrigada!
Agradecimentos
Entre todas as pessoas que diariamente me ajudam quero muito especialmente agradecer à Professora Fernanda Lima, grande amiga que desde sempre me apoiou e me iluminou o caminho, tal como uma candeia na noite. Ensinou-me muito daquilo que sei hoje, a si lhe devo a força que me deu em todos os momentos e as alegrias que partilhámos juntas. Obrigada pela paciência , pelos erros que corrigimos, pelas vezes que reescrevemos... Obrigada por tudo. Sempre no meu coração...
Ainda um agradecimento especial à minha Professora de Literatura, Eduarda, pela compreensão e ajuda e por nos ensinar não apenas a Literatura mas também um pouco da vida.
Muito Obrigada!
Na alegria do teu sorriso
Na alegria do teu sorriso
Longe mas perto. Não quero mais ouvir essa voz magoada, esses sons frágeis que me enganam, que me traem, que se perdem nos palácios da minha recordação infinita. Não és tu. Não a pessoa que eu conheci. A mulher forte e lutadora, a que me ensinou a ver em cada obstáculo um pretexto para ganhar forças e sorrir pela vida fora, não a que me ensinou a vencer e me demonstrou vivamente como faze-lo.
A vida jamais poderá derrubar aquilo que és e o que transportas para o mundo, por isso, esconde as tuas lágrimas, mata-as na rua criminosa da dor, altera o tom de voz, ganha coragem, força, alento.
Vou ter contigo, prometo-te. Para te abraçar e te dizer que te adoro, para te beijar as faces e dar-te forças para prosseguir, ou quem sabe para ficarmos apenas no silencio dos sentimentos que nos unem? Mas eu vou. Vou procurar o rosto risonho que me fez crescer, a expressão bonita que me acolheu tantas vezes as tempestades da minha vida.
Não chores mais, querida, não suporto saber que sofres, mereces o mundo e não o que ele tem de pior. Vamos, segue comigo essa estrela, coloca o teu braço sobre o meu ombro e vamos sonhar um pouco, como nos velhos tempos, como quando íamos à boleia das palavras e parávamos ao abrigo de um pensamento qualquer. Vamos lá, ainda és capaz de me ensinar isto e muito mais, mostra-me como se sorri verdadeiramente, com alma, com coração.
Pega na folha de papel e risca as minhas palavras, obriga-me a pensar, a pôr em causa o que faço, a rescrever, a sorrir para ti, a admirar-te como sempre o fiz. Eu acenarei com a cabeça. Dir-te-ei alguns disparates, afinal a minha juventude não me permite muito mais…Tu voltarás a devolver-me o sorriso nobre, pousas a tua caneta sobre o papel e escreves palavras, palavras que nos ouvem, palavras que nos lêem, palavras que nos libertam, palavras que sentem, palavras que se perdem nas avenidas da nossa vida e se encontram mais além.
Precisas de mim e eu preciso de ti. Hoje e sempre. Será eternamente igual, nada mudará, e eu agradeço ao mundo por isso.
Estou aqui, amiga. Para os bons e para os maus momentos, para a festa e para a tragédia, para sorrir e para chorar, para abraçar e para ficar quieta no meu canto, para falar e ficar calada.
Por isso, caminho até ti, sei que a tua força move o mundo, o teu coração seria capaz de acolher o sofrimento que vive no mundo, sei que sorris, sei que voltarás a sorrir, a tua força nunca mais se acabará, o teu espírito será sempre o teu espírito, o que admiro, o que amo, o que respeito.
E no sorriso dos teus lábios o mundo espelha a alegria que é viver.
Longe mas perto. Não quero mais ouvir essa voz magoada, esses sons frágeis que me enganam, que me traem, que se perdem nos palácios da minha recordação infinita. Não és tu. Não a pessoa que eu conheci. A mulher forte e lutadora, a que me ensinou a ver em cada obstáculo um pretexto para ganhar forças e sorrir pela vida fora, não a que me ensinou a vencer e me demonstrou vivamente como faze-lo.
A vida jamais poderá derrubar aquilo que és e o que transportas para o mundo, por isso, esconde as tuas lágrimas, mata-as na rua criminosa da dor, altera o tom de voz, ganha coragem, força, alento.
Vou ter contigo, prometo-te. Para te abraçar e te dizer que te adoro, para te beijar as faces e dar-te forças para prosseguir, ou quem sabe para ficarmos apenas no silencio dos sentimentos que nos unem? Mas eu vou. Vou procurar o rosto risonho que me fez crescer, a expressão bonita que me acolheu tantas vezes as tempestades da minha vida.
Não chores mais, querida, não suporto saber que sofres, mereces o mundo e não o que ele tem de pior. Vamos, segue comigo essa estrela, coloca o teu braço sobre o meu ombro e vamos sonhar um pouco, como nos velhos tempos, como quando íamos à boleia das palavras e parávamos ao abrigo de um pensamento qualquer. Vamos lá, ainda és capaz de me ensinar isto e muito mais, mostra-me como se sorri verdadeiramente, com alma, com coração.
Pega na folha de papel e risca as minhas palavras, obriga-me a pensar, a pôr em causa o que faço, a rescrever, a sorrir para ti, a admirar-te como sempre o fiz. Eu acenarei com a cabeça. Dir-te-ei alguns disparates, afinal a minha juventude não me permite muito mais…Tu voltarás a devolver-me o sorriso nobre, pousas a tua caneta sobre o papel e escreves palavras, palavras que nos ouvem, palavras que nos lêem, palavras que nos libertam, palavras que sentem, palavras que se perdem nas avenidas da nossa vida e se encontram mais além.
Precisas de mim e eu preciso de ti. Hoje e sempre. Será eternamente igual, nada mudará, e eu agradeço ao mundo por isso.
Estou aqui, amiga. Para os bons e para os maus momentos, para a festa e para a tragédia, para sorrir e para chorar, para abraçar e para ficar quieta no meu canto, para falar e ficar calada.
Por isso, caminho até ti, sei que a tua força move o mundo, o teu coração seria capaz de acolher o sofrimento que vive no mundo, sei que sorris, sei que voltarás a sorrir, a tua força nunca mais se acabará, o teu espírito será sempre o teu espírito, o que admiro, o que amo, o que respeito.
E no sorriso dos teus lábios o mundo espelha a alegria que é viver.
Bilhete Perdido
Foge agora… é tempo de saíres pela porta fora, vai, vai depressa para que não possa deter-te.
Precisas do teu mundo, do teu espaço, porque eu por te amar julguei que poderia construir um mundo novo. Liberta-te de mim. Não quero mais causar-te sofrimento, dor, tristeza. Chega!
Não vou mais cortar-te as asas e pedir-te desculpa no momento seguinte. Vai e não tenhas medo, coragem! Porque eu serei sempre a mesma, a que ama mas magoa, a que quer liberdade mas te aprisiona nos seus braços.
Desculpa. Mais uma vez, desculpa. Mas desta feita é para sempre, não voltes, não quero ver-te chorar!
Verás que o mundo lá fora é bem mais bonito. Sem o meu amor que insiste em prender-te, em sufocar-te com o calor da possessão, em manter-te eternamente junto a mim.
Vai, querido.
Não tenhas medo do meu sofrimento, sai por essa porta, descobre o novo mundo que um dia desbravaste com todo o teu nobre coração.
Eu continuarei por aqui, com as minhas manias, com as minhas ideias, com as chatices habituais, gesticulando, discutindo com os objectos, sorrindo com as folhas de papel.
Os meus olhos cansados buscar-te-ão ao final do dia, quando a minha astúcia precisar dos teus lábios para repousar a alma, mas, tu já não vais lá estar.
Tanto as minhas mãos quiseram prender-te que chegou o dia em que decidiram que seria melhor deixar-te ir, tanto os meus lábios quiseram os teus que hoje o nosso beijo perdeu-se na memória do nosso amor, tanto te amei que acabei com as lágrimas salgadas beijando-me os lábios e pedindo-te que fosses.
Não me perguntes porquê? Olha para dentro de ti. As respostas estão sempre dentro de nós.
O mundo espera-te. O universo está repleto de pessoas fantásticas, não te prendas a quem não te merece ou não faz por te merecer. Vai embora!
Não digas mais nada, vai simplesmente.
Deixa a aliança morrer sozinha no fundo da rua, na esquina onde a tua dor e revolta a depositar, no frio chão coberto pelas tuas lágrimas de cetim. Não olhes para trás. Olha adiante, as tuas asas já podem voar, bate-as, inova, grita, sorri!
Eu vejo-te da janela, com os olhos brilhantes de emoção, quero dizer-te adeus. Não! Não consigo! Desviarei o olhar como faço sempre que a dor se insere no meu peito.
Mas, pelo canto do olho ainda te verei chorar, como um anjinho de coração magoado, mas um anjo que voa, que vai mais além sem que nenhuma mão possa tolher o seu voo.
Volta um dia mais tarde… se eu não estiver deixa um bilhete na porta, vem dizer-me que me amas, vem sorrir porque agora já podes sonhar, porque as minhas vagarosas mãos já não possuem o corpo domesticado, porque agora és apenas tu e não aquele que nasceu para ser apenas meu. Entendes?
Dir-me-ás que está tudo bem, que voltaste a amar, a ser feliz, que fizeste todas aquelas coisas que apenas imaginavas serem possíveis ao meu lado. Eu, perdida no meu mundo, sorrirei. Aprendi que pelo facto de estarmos presos ao mundo nada nos dá o direito de prender os outros a nós.
Precisas do teu mundo, do teu espaço, porque eu por te amar julguei que poderia construir um mundo novo. Liberta-te de mim. Não quero mais causar-te sofrimento, dor, tristeza. Chega!
Não vou mais cortar-te as asas e pedir-te desculpa no momento seguinte. Vai e não tenhas medo, coragem! Porque eu serei sempre a mesma, a que ama mas magoa, a que quer liberdade mas te aprisiona nos seus braços.
Desculpa. Mais uma vez, desculpa. Mas desta feita é para sempre, não voltes, não quero ver-te chorar!
Verás que o mundo lá fora é bem mais bonito. Sem o meu amor que insiste em prender-te, em sufocar-te com o calor da possessão, em manter-te eternamente junto a mim.
Vai, querido.
Não tenhas medo do meu sofrimento, sai por essa porta, descobre o novo mundo que um dia desbravaste com todo o teu nobre coração.
Eu continuarei por aqui, com as minhas manias, com as minhas ideias, com as chatices habituais, gesticulando, discutindo com os objectos, sorrindo com as folhas de papel.
Os meus olhos cansados buscar-te-ão ao final do dia, quando a minha astúcia precisar dos teus lábios para repousar a alma, mas, tu já não vais lá estar.
Tanto as minhas mãos quiseram prender-te que chegou o dia em que decidiram que seria melhor deixar-te ir, tanto os meus lábios quiseram os teus que hoje o nosso beijo perdeu-se na memória do nosso amor, tanto te amei que acabei com as lágrimas salgadas beijando-me os lábios e pedindo-te que fosses.
Não me perguntes porquê? Olha para dentro de ti. As respostas estão sempre dentro de nós.
O mundo espera-te. O universo está repleto de pessoas fantásticas, não te prendas a quem não te merece ou não faz por te merecer. Vai embora!
Não digas mais nada, vai simplesmente.
Deixa a aliança morrer sozinha no fundo da rua, na esquina onde a tua dor e revolta a depositar, no frio chão coberto pelas tuas lágrimas de cetim. Não olhes para trás. Olha adiante, as tuas asas já podem voar, bate-as, inova, grita, sorri!
Eu vejo-te da janela, com os olhos brilhantes de emoção, quero dizer-te adeus. Não! Não consigo! Desviarei o olhar como faço sempre que a dor se insere no meu peito.
Mas, pelo canto do olho ainda te verei chorar, como um anjinho de coração magoado, mas um anjo que voa, que vai mais além sem que nenhuma mão possa tolher o seu voo.
Volta um dia mais tarde… se eu não estiver deixa um bilhete na porta, vem dizer-me que me amas, vem sorrir porque agora já podes sonhar, porque as minhas vagarosas mãos já não possuem o corpo domesticado, porque agora és apenas tu e não aquele que nasceu para ser apenas meu. Entendes?
Dir-me-ás que está tudo bem, que voltaste a amar, a ser feliz, que fizeste todas aquelas coisas que apenas imaginavas serem possíveis ao meu lado. Eu, perdida no meu mundo, sorrirei. Aprendi que pelo facto de estarmos presos ao mundo nada nos dá o direito de prender os outros a nós.
quarta-feira, janeiro 11, 2006
Dá-me a tua mão
De olhos vendados enfrento o mundo. A loucura cegou-me, o nevoeiro é forte demais e impede-me de seguir em frente.
Parece que as forças se acabaram, os pés recusam-se a tocar o solo, os meus olhos cobertos de lágrimas enfrentam os dias tristes e solitários passados entre uma e outra espera. Espera de quê? Espera de quem? Talvez da morte, quem sabe? Porque pior que morrer é sentir que a morte está perto.
Ela espreita pela janela, eu encubro a cara por entre os lençóis da vida, julgo poder esconder-me para sempre. Ela entreolha-me e vai embora uma vez mais, garante-me que voltará, que da próxima vez será para sempre, que virá buscar-me do meu leito e me levará nos seus braços negros e traiçoeiros.
Baixo a cabeça, caio resignado e choro, tenho medo! Tal como um menino que se esconde por detrás dos armários quando a tempestade está por perto…
Que anjo virá arrancar-me dos braços da morte?
A minha fala está entorpecida pela crueldade de perder os que mais amo, agora, nada mais importa, por isso, se quereis levar-me, vinde, vinde devagarinho, sem barulho, sem dor, sem sofrimento. Leva-me para o céu, ensina-me a voar sobre as nuvens, mostra-me aqueles que retiraste dos meus braços e devolve-me o amor que nos unia.
Mas, antes, deixa-me dizer adeus a este mundo louco, deixa-me dizer “Amo-te” àqueles que sempre mereceram ouvi-lo, deixa-me voltar a olhar para esta imensidão e perceber que tudo isto não me pertence, deixa-me sorrir, deixa-me chorar, deixa-me sonhar uma vez mais… Depois, leva-me… Para o mundo que julgamos existir, para o sítio onde não se sente, não se sofre, simplesmente vive-se.
A nossa presença aqui torna-se insustentável quando tudo o que precisamos para viver já partiu. È mentira quando dizemos que tudo passa, é mentira quando tentamos enganar a dor no jogo vão de lhe dar limites. O mundo não é mais que uma ilusão que criámos para nos sentirmos bem connosco, para julgarmos que seríamos mais fortes que a natureza, que a lei da vida.
Vou com a morte, dar-lhe-ei a mão, chamar-me-ão cobarde porque não consegui suportar a dor e optei pelo caminho mais fácil, mas eu sentir-me-ei feliz pois a minha existência resumia-se a respirar, comer, beber e dormir. Há determinadas fases na vida em que é necessário viver, eu sei que jamais seria capaz de voltar a fazê-lo. Por isso, sou um fugitivo da dor, um vagabundo da noite que deu a mão à morte e a convidou a entrar nos seus sonhos. Um homem que voltou a ser menino, caminhou pela estrada escura e encontrou a luz num país perdido.
Isa Mestre
Parece que as forças se acabaram, os pés recusam-se a tocar o solo, os meus olhos cobertos de lágrimas enfrentam os dias tristes e solitários passados entre uma e outra espera. Espera de quê? Espera de quem? Talvez da morte, quem sabe? Porque pior que morrer é sentir que a morte está perto.
Ela espreita pela janela, eu encubro a cara por entre os lençóis da vida, julgo poder esconder-me para sempre. Ela entreolha-me e vai embora uma vez mais, garante-me que voltará, que da próxima vez será para sempre, que virá buscar-me do meu leito e me levará nos seus braços negros e traiçoeiros.
Baixo a cabeça, caio resignado e choro, tenho medo! Tal como um menino que se esconde por detrás dos armários quando a tempestade está por perto…
Que anjo virá arrancar-me dos braços da morte?
A minha fala está entorpecida pela crueldade de perder os que mais amo, agora, nada mais importa, por isso, se quereis levar-me, vinde, vinde devagarinho, sem barulho, sem dor, sem sofrimento. Leva-me para o céu, ensina-me a voar sobre as nuvens, mostra-me aqueles que retiraste dos meus braços e devolve-me o amor que nos unia.
Mas, antes, deixa-me dizer adeus a este mundo louco, deixa-me dizer “Amo-te” àqueles que sempre mereceram ouvi-lo, deixa-me voltar a olhar para esta imensidão e perceber que tudo isto não me pertence, deixa-me sorrir, deixa-me chorar, deixa-me sonhar uma vez mais… Depois, leva-me… Para o mundo que julgamos existir, para o sítio onde não se sente, não se sofre, simplesmente vive-se.
A nossa presença aqui torna-se insustentável quando tudo o que precisamos para viver já partiu. È mentira quando dizemos que tudo passa, é mentira quando tentamos enganar a dor no jogo vão de lhe dar limites. O mundo não é mais que uma ilusão que criámos para nos sentirmos bem connosco, para julgarmos que seríamos mais fortes que a natureza, que a lei da vida.
Vou com a morte, dar-lhe-ei a mão, chamar-me-ão cobarde porque não consegui suportar a dor e optei pelo caminho mais fácil, mas eu sentir-me-ei feliz pois a minha existência resumia-se a respirar, comer, beber e dormir. Há determinadas fases na vida em que é necessário viver, eu sei que jamais seria capaz de voltar a fazê-lo. Por isso, sou um fugitivo da dor, um vagabundo da noite que deu a mão à morte e a convidou a entrar nos seus sonhos. Um homem que voltou a ser menino, caminhou pela estrada escura e encontrou a luz num país perdido.
Isa Mestre
quarta-feira, novembro 30, 2005
Gota de Orvalho
Desculpa porque me tornei num monstro. Numa obsessão poderosa por tudo o que impedia de amar. Trabalho, desporto, obrigações, tudo me impediu de amar os outros, de dispensar-lhes um pouco do meu tempo e voltar a ser alguém.
Quando vocês mais precisaram de mim eu estive distante, em compromissos inadiáveis que adiaram o meu encontro com o amor. Hoje sinto-me estúpida, indefesa perante a vulgaridade da vida, tanto tempo perdido, estupidamente perdido. E vocês precisaram das minhas mãos, dos meus abraços, das minhas palavras, e eu estava longe, no egoísmo dos meus dias, na loucura e na consumição de tornar-me feliz. Como poderia ser mais feliz do que aquilo que me tornavam? Segui nessa correria louca e nem me preocupei em saber quem ficava para trás e quem estava ali do meu lado dizendo-me que estava errada.
Uns perderam-se, outros morreram e eu continuei no meu mundo rancoroso e cruel de quem tem necessidade de refugiar-se na falta de tempo para esquecer os falhanços da vida. Hoje houve tanta coisa que ficou por fazer, por dizer… Tanta gente que quis abraçar, dizer-lhes o quanto os amava e agora, agora é tarde demais. O tempo levou as palavras, levou-vos a vós, eu tornei-me numa vagabunda que percorre toda a casa e se revela incapaz de encontrar algo ou alguém que lhe devolva vida.
A vossa luz perdeu-se no final desse corredor da vida, as papeladas tornaram-me velha e agora as minhas mãos buscam no vazio as expressões que quero abraçar.
Oxalá pudesse voltar atrás no tempo, viver convosco o que não vivi, abraçar-vos antes que fosse tarde demais e a vida vos tirasse da minha rota.
Ter-vos juntos de mim, nessa nossa fogueira de carinho, nas hastas de alegria que atiçavam o fogo do calor que nos unia.
Os meus dedos buscam as vossas figuras nos sítios onde tantas vezes estivemos, hoje tudo não passa de névoa, eu permaneço sentada, canto canções, conto histórias, sorrio para vocês como se o tempo parasse nos breves instantes em que sinto que tinha de ter estado do vosso lado.
Perdoem-me por favor, afinal, era apenas uma flor na idade de nascer, queria desbravar o mundo e mostrar que seria maior, mais forte, imbatível, que as minhas raízes jamais seriam arrancadas. Inocentemente fui colhida pelas hábeis mãos da vida que me mostraram que sem vós não poderia ir mais além.
Tornei-me numa planta perdida na imensidão do jardim da vida, distante e infeliz, sem capacidade para crescer e tornar-me mais forte, dar filhos, alegrar as pessoas à sua passagem. Quis ser maior e tornei-me cada dia mais frágil, tal como uma gota de orvalho que desliza até ao solo onde acaba por morrer, sozinha, perdida, triste.
Quando vocês mais precisaram de mim eu estive distante, em compromissos inadiáveis que adiaram o meu encontro com o amor. Hoje sinto-me estúpida, indefesa perante a vulgaridade da vida, tanto tempo perdido, estupidamente perdido. E vocês precisaram das minhas mãos, dos meus abraços, das minhas palavras, e eu estava longe, no egoísmo dos meus dias, na loucura e na consumição de tornar-me feliz. Como poderia ser mais feliz do que aquilo que me tornavam? Segui nessa correria louca e nem me preocupei em saber quem ficava para trás e quem estava ali do meu lado dizendo-me que estava errada.
Uns perderam-se, outros morreram e eu continuei no meu mundo rancoroso e cruel de quem tem necessidade de refugiar-se na falta de tempo para esquecer os falhanços da vida. Hoje houve tanta coisa que ficou por fazer, por dizer… Tanta gente que quis abraçar, dizer-lhes o quanto os amava e agora, agora é tarde demais. O tempo levou as palavras, levou-vos a vós, eu tornei-me numa vagabunda que percorre toda a casa e se revela incapaz de encontrar algo ou alguém que lhe devolva vida.
A vossa luz perdeu-se no final desse corredor da vida, as papeladas tornaram-me velha e agora as minhas mãos buscam no vazio as expressões que quero abraçar.
Oxalá pudesse voltar atrás no tempo, viver convosco o que não vivi, abraçar-vos antes que fosse tarde demais e a vida vos tirasse da minha rota.
Ter-vos juntos de mim, nessa nossa fogueira de carinho, nas hastas de alegria que atiçavam o fogo do calor que nos unia.
Os meus dedos buscam as vossas figuras nos sítios onde tantas vezes estivemos, hoje tudo não passa de névoa, eu permaneço sentada, canto canções, conto histórias, sorrio para vocês como se o tempo parasse nos breves instantes em que sinto que tinha de ter estado do vosso lado.
Perdoem-me por favor, afinal, era apenas uma flor na idade de nascer, queria desbravar o mundo e mostrar que seria maior, mais forte, imbatível, que as minhas raízes jamais seriam arrancadas. Inocentemente fui colhida pelas hábeis mãos da vida que me mostraram que sem vós não poderia ir mais além.
Tornei-me numa planta perdida na imensidão do jardim da vida, distante e infeliz, sem capacidade para crescer e tornar-me mais forte, dar filhos, alegrar as pessoas à sua passagem. Quis ser maior e tornei-me cada dia mais frágil, tal como uma gota de orvalho que desliza até ao solo onde acaba por morrer, sozinha, perdida, triste.
Reencontro
Voltei. Voltei para te ver. Porque nem a distância que separa os oceanos pode separar-nos a nós.
Entrei nessa nave de ilusão e então senti que não havia nada certo, todos os sentimentos se encontravam numa amálgama e eu, só me apetecia abraçar-te para sempre. Tinha vergonha de voltar a ver-te, que te diria, como agiria, o que acharias de mim?
Caminhei pela terra solta como uma heroína que pisa a passadeira vermelha. Conhecia aquele caminho, tantas as vezes que o percorrera que parecia que as pedras, as covas e as bermas ainda eram as mesmas. As mesmas das manhãs frias, das tardes abrasadoras, dos dias bons e também dos maus.
Todos os dias pensava em ti, sentia saudades daqueles momentos que partilhávamos, das conversas, daquilo que me oferecias com o teu carinho. Então tive medo, que já não te recordasses de mim, que agisses com firmeza e me mostrasses o caminho de regresso.
Na verdade, nada mais sabia. Recordava apenas o antigamente, o passado risonho em que eu era ainda uma menina bonita e imatura. No entanto, recordava-me de ti como se pudesse ver-te diante dos meus olhos todos os dias, com a tua voz meiga e suave, com as palavras sábias, com a presença serena.
Cheguei perto do teu local, o único sítio onde tinha a certeza de poder encontrar-te. Os anos passaram e eu senti-me usada pelo mundo e distante dos sítios e das pessoas que outrora tanto amara. Prometi que voltaria, sempre. Afinal, não passei de uma covarde que pela suposta falta de tempo, ou até de coragem se deixou acomodar com tudo aquilo que a vida colocou no seu caminho.
Tudo estava agora mudado, o sítio que tivera aquele brilho incandescente era agora um mar de desilusões. Os vidros estilhaçados, o pouco ruído que se fazia sentir, as flores sepultadas, as faces revoltadas. Antigamente parece que tudo tinha vida, os vidros limpos, a barulheira constante, as flores saltitantes que queriam deixar a sua raiz e saltar-nos para as mãos.
Contive o desespero, olhei em volta e decidi prosseguir.
Não sabia onde estavas mas, recordando os velhos tempos deixei-me guiar por este coração louco que por vezes é farol, bússola e candeeiro.
Lá estavas tu. Como antes, nas quartas à tarde, no entrelaçar dos nossos sorrisos contínuos. Estava tão feliz por voltar a ver-te, ainda que fosse de longe, que nem tivesses reparado na minha presença. Sabia que apenas por isso já teria sido um bom motivo para estar ali.
Esses mesmos cabelos claros, a pele tingida de neve, os olhos penetrantes que se fixavam por momentos no livro que lias. A literatura, a nossa grande paixão. Quem ama nunca esquece, ouviste? Todos os dias antes de adormecer eu lia, apontava, vociferava para mim como se pudesse dizer-te todas aquelas coisas que me saltavam do pensamento. Em cada frase estavas tu, aquilo que me mostraste, o teu sentido que buscou sempre o melhor caminho no meu próprio mundo.
« Psst! Psst! », que saudades tinha deste som com que te chamava normalmente. Ali, naquele momento, alguns anos depois eu estava a chamar-te novamente, parecia irreal e patético, mas estava feliz com isso. Podia ter-te esquecido para sempre mas isso seria impossível.
Levantaste a cabeça do livro e antes de me olhares tive a certeza de que sabias que era eu quem te chamava, que te pedia que me abraçasses.
Corria até ti, como uma menina ansiosa, queria poder contar-te tudo, dizer-te que o tempo foi traiçoeiro, pedir-te desculpa pela longa ausência.
Mas, tu, não me deixaste falar, abraçaste-me nesses teus braços aconchegantes, beijaste-me a testa e apertaste-me contra ti. Chorámos como duas crianças. Voltei a ver esse brilho nos teus olhos, essa luz, o orgulho com que me olhavas. As tuas palavras foram únicas e inesquecíveis, como se eu as pudesse guardar para sempre nesse livro de memórias que há em mim, disseste-me baixinho: «Querida, bom filho à casa torna». E eu voltei a ser a garota que lia e brincava a teu lado, que por ti seria capaz de dar a própria vida.
Entrei nessa nave de ilusão e então senti que não havia nada certo, todos os sentimentos se encontravam numa amálgama e eu, só me apetecia abraçar-te para sempre. Tinha vergonha de voltar a ver-te, que te diria, como agiria, o que acharias de mim?
Caminhei pela terra solta como uma heroína que pisa a passadeira vermelha. Conhecia aquele caminho, tantas as vezes que o percorrera que parecia que as pedras, as covas e as bermas ainda eram as mesmas. As mesmas das manhãs frias, das tardes abrasadoras, dos dias bons e também dos maus.
Todos os dias pensava em ti, sentia saudades daqueles momentos que partilhávamos, das conversas, daquilo que me oferecias com o teu carinho. Então tive medo, que já não te recordasses de mim, que agisses com firmeza e me mostrasses o caminho de regresso.
Na verdade, nada mais sabia. Recordava apenas o antigamente, o passado risonho em que eu era ainda uma menina bonita e imatura. No entanto, recordava-me de ti como se pudesse ver-te diante dos meus olhos todos os dias, com a tua voz meiga e suave, com as palavras sábias, com a presença serena.
Cheguei perto do teu local, o único sítio onde tinha a certeza de poder encontrar-te. Os anos passaram e eu senti-me usada pelo mundo e distante dos sítios e das pessoas que outrora tanto amara. Prometi que voltaria, sempre. Afinal, não passei de uma covarde que pela suposta falta de tempo, ou até de coragem se deixou acomodar com tudo aquilo que a vida colocou no seu caminho.
Tudo estava agora mudado, o sítio que tivera aquele brilho incandescente era agora um mar de desilusões. Os vidros estilhaçados, o pouco ruído que se fazia sentir, as flores sepultadas, as faces revoltadas. Antigamente parece que tudo tinha vida, os vidros limpos, a barulheira constante, as flores saltitantes que queriam deixar a sua raiz e saltar-nos para as mãos.
Contive o desespero, olhei em volta e decidi prosseguir.
Não sabia onde estavas mas, recordando os velhos tempos deixei-me guiar por este coração louco que por vezes é farol, bússola e candeeiro.
Lá estavas tu. Como antes, nas quartas à tarde, no entrelaçar dos nossos sorrisos contínuos. Estava tão feliz por voltar a ver-te, ainda que fosse de longe, que nem tivesses reparado na minha presença. Sabia que apenas por isso já teria sido um bom motivo para estar ali.
Esses mesmos cabelos claros, a pele tingida de neve, os olhos penetrantes que se fixavam por momentos no livro que lias. A literatura, a nossa grande paixão. Quem ama nunca esquece, ouviste? Todos os dias antes de adormecer eu lia, apontava, vociferava para mim como se pudesse dizer-te todas aquelas coisas que me saltavam do pensamento. Em cada frase estavas tu, aquilo que me mostraste, o teu sentido que buscou sempre o melhor caminho no meu próprio mundo.
« Psst! Psst! », que saudades tinha deste som com que te chamava normalmente. Ali, naquele momento, alguns anos depois eu estava a chamar-te novamente, parecia irreal e patético, mas estava feliz com isso. Podia ter-te esquecido para sempre mas isso seria impossível.
Levantaste a cabeça do livro e antes de me olhares tive a certeza de que sabias que era eu quem te chamava, que te pedia que me abraçasses.
Corria até ti, como uma menina ansiosa, queria poder contar-te tudo, dizer-te que o tempo foi traiçoeiro, pedir-te desculpa pela longa ausência.
Mas, tu, não me deixaste falar, abraçaste-me nesses teus braços aconchegantes, beijaste-me a testa e apertaste-me contra ti. Chorámos como duas crianças. Voltei a ver esse brilho nos teus olhos, essa luz, o orgulho com que me olhavas. As tuas palavras foram únicas e inesquecíveis, como se eu as pudesse guardar para sempre nesse livro de memórias que há em mim, disseste-me baixinho: «Querida, bom filho à casa torna». E eu voltei a ser a garota que lia e brincava a teu lado, que por ti seria capaz de dar a própria vida.
quarta-feira, novembro 23, 2005
Os Cavaleiros da Noite
Os Cavaleiros da Noite
Os cavaleiros da noite têm medo do dia. São fortes, poderosos, heróis quando colocados à prova perante apostas miseráveis e patéticas.
São rapazes e raparigas, homens e mulheres, que buscam na noite o consolo para os seus dias menos bons, para os falhanços, para as tristezas. Eis que os vemos alegres, imponentes segurando as garrafas de bebida que prometem fazer esquecer o mundo. Sentem-se felizes, então saltam, pulam, bebem uns copos, parecem loucos vagueando no seu mundo de perdição e exibicionismo. Os outros, os sóbrios que se divertem e buscam alegria riem-se dos seus actos, das suas quedas, das suas palavras embriagadas pela crueldade da vida.
De noite em noite, de bar em bar, tudo é para esquecer.
Bebe-se para esquecer, fumam-se “charros”, cometem-se erros graves julgando que essa é a única saída para um Universo de desespero.
Mas, mesmo sendo os mais fracos, os cavaleiros da noite julgam-se temíveis e indestrutíveis enquanto a escuridão consome a sua vontade de viver.
Depois, vem o dia.
O terrível dia em que a luz toma o lugar da escuridão e o mundo volta a ser de todos e não apenas deles. A ressaca apodera-se-lhes do corpo e leva-lhes a alma. Nesse momento, os imbatíveis tornam-se novamente nos meninos de outrora, suplicam para que a dor se vá e em seu lugar venha a paz dos dias felizes. Porque os cavaleiros da noite são os vagabundos do dia. Os frágeis que se escondem por detrás da faceta de heróis, os que são pessoas diferentes sob efeitos de álcool e narcóticos.
Os cavaleiros da noite, perdem de dia os seus cavalos e caminham a pé, desprovidos de forças, descalços tal como mendigos que buscam uma razão para viver. Caminham sem rumo, sem futuro, sem sonhos, afinal no terminar de cada tarde o sol cede gentilmente o seu lugar à lua e então voltam a ser os senhores do mundo.
Que haja luz capaz de iluminar as vidas sem rumo, carinho capaz de colmatar a falta que vive nos seus espíritos, mãos capazes de guiá-los pelo mundo fora, sem as luzes ofuscantes e o nevoeiro constante das noites de solidão e euforia perdidas entre uma e outra esquina.
Os cavaleiros da noite têm medo do dia. São fortes, poderosos, heróis quando colocados à prova perante apostas miseráveis e patéticas.
São rapazes e raparigas, homens e mulheres, que buscam na noite o consolo para os seus dias menos bons, para os falhanços, para as tristezas. Eis que os vemos alegres, imponentes segurando as garrafas de bebida que prometem fazer esquecer o mundo. Sentem-se felizes, então saltam, pulam, bebem uns copos, parecem loucos vagueando no seu mundo de perdição e exibicionismo. Os outros, os sóbrios que se divertem e buscam alegria riem-se dos seus actos, das suas quedas, das suas palavras embriagadas pela crueldade da vida.
De noite em noite, de bar em bar, tudo é para esquecer.
Bebe-se para esquecer, fumam-se “charros”, cometem-se erros graves julgando que essa é a única saída para um Universo de desespero.
Mas, mesmo sendo os mais fracos, os cavaleiros da noite julgam-se temíveis e indestrutíveis enquanto a escuridão consome a sua vontade de viver.
Depois, vem o dia.
O terrível dia em que a luz toma o lugar da escuridão e o mundo volta a ser de todos e não apenas deles. A ressaca apodera-se-lhes do corpo e leva-lhes a alma. Nesse momento, os imbatíveis tornam-se novamente nos meninos de outrora, suplicam para que a dor se vá e em seu lugar venha a paz dos dias felizes. Porque os cavaleiros da noite são os vagabundos do dia. Os frágeis que se escondem por detrás da faceta de heróis, os que são pessoas diferentes sob efeitos de álcool e narcóticos.
Os cavaleiros da noite, perdem de dia os seus cavalos e caminham a pé, desprovidos de forças, descalços tal como mendigos que buscam uma razão para viver. Caminham sem rumo, sem futuro, sem sonhos, afinal no terminar de cada tarde o sol cede gentilmente o seu lugar à lua e então voltam a ser os senhores do mundo.
Que haja luz capaz de iluminar as vidas sem rumo, carinho capaz de colmatar a falta que vive nos seus espíritos, mãos capazes de guiá-los pelo mundo fora, sem as luzes ofuscantes e o nevoeiro constante das noites de solidão e euforia perdidas entre uma e outra esquina.
Asas Partidas
Vivemos nas entranhas daquilo que somos, no nosso mundo, nas nossas restrições desse jogo de poder e inocência que controlamos na perfeição.
O mundo não faria o menor sentido se não fossemos nós. Sempre nós, os nossos problemas, as nossas alegrias, tristezas, os gritos de dor abafados pela voz rancorosa do mundo.
E tu, serias capazes de deixar de voar para nos oferecer asas de cetim, inquebráveis, invencíveis tal como as tuas?
Voas, voas, voas e as tuas asas jamais se partem.
Voas sozinho pelo mundo, com o coração magoado, como se morresses a cada segundo e no minuto seguinte as tuas asas estivessem lá em cima outra vez, como um pássaro que voa sem fim, rumo aos sonhos, rumo ás fronteiras do nosso ser.
E vais por aí, duvidas da verdade, enganas a mentira, fazes-nos acreditar que ter-te do nosso lado é ter o mundo na palma da mão.
A multidão passa por ti, olha-te como um estranho, chama-te louco, comentam segredando que és diferente, riem-se de ti, troçam dos teus passos determinados.
Tu, sereno e feliz, envolto na nuvem azul do teu ser, respondes sorrindo: Riem-se de mim por ser diferente, eu, rio-me por vocês serem todos iguais.
A multidão toca-te, olha no teu rosto agudizado pelo terror dos dias tristes, querem magoar-te, porque a sociedade vive na fome da vingança, na inveja daqueles que encontram tudo aquilo que os faz felizes.
Tentam derrubar-te a todo o custo, um a seguir do outro, cospem-te na cara, tu sorris para eles, sorris para o mundo, limpas o rosto, segues de cabeça erguida. Querem matar-te, és incómodo para o mundo, denuncias a verdade, o teu talento seria capaz de alimentar os podres e insaciáveis deste mundo.
Perseguem-te, levam punhais escondidos, serão capazes dos actos mais baixos para ferir-te. Mas tu não sentes, os punhais trespassam-te a pele e tu continuas a sorrir como um menino. As armas dos homens jamais poderão retirar-te a vida, porque no teu mundo apenas a caneta é arma de arremesso. Nas folhas brancas a mancha de sangue denuncia a dor em que a sociedade vive.
Ès anjo? Ès escritor? Ès sábio? Ès louco?
Não sei, mas és alguém e isso torna-te mais “pessoa” do que todos nós.
Alguém que vive, que pensa, que é livre, nós, há muito desistimos de crescer, de viver, de sonhar, agora combatemos invejosamente aqueles que continuam a tentar fazê-lo.
Deixámos de ser alguém e passámos a ser algo, como os objectos, como os animais, sem racionalidade, sem coração, sem asas que nos permitam voar.
O mundo não faria o menor sentido se não fossemos nós. Sempre nós, os nossos problemas, as nossas alegrias, tristezas, os gritos de dor abafados pela voz rancorosa do mundo.
E tu, serias capazes de deixar de voar para nos oferecer asas de cetim, inquebráveis, invencíveis tal como as tuas?
Voas, voas, voas e as tuas asas jamais se partem.
Voas sozinho pelo mundo, com o coração magoado, como se morresses a cada segundo e no minuto seguinte as tuas asas estivessem lá em cima outra vez, como um pássaro que voa sem fim, rumo aos sonhos, rumo ás fronteiras do nosso ser.
E vais por aí, duvidas da verdade, enganas a mentira, fazes-nos acreditar que ter-te do nosso lado é ter o mundo na palma da mão.
A multidão passa por ti, olha-te como um estranho, chama-te louco, comentam segredando que és diferente, riem-se de ti, troçam dos teus passos determinados.
Tu, sereno e feliz, envolto na nuvem azul do teu ser, respondes sorrindo: Riem-se de mim por ser diferente, eu, rio-me por vocês serem todos iguais.
A multidão toca-te, olha no teu rosto agudizado pelo terror dos dias tristes, querem magoar-te, porque a sociedade vive na fome da vingança, na inveja daqueles que encontram tudo aquilo que os faz felizes.
Tentam derrubar-te a todo o custo, um a seguir do outro, cospem-te na cara, tu sorris para eles, sorris para o mundo, limpas o rosto, segues de cabeça erguida. Querem matar-te, és incómodo para o mundo, denuncias a verdade, o teu talento seria capaz de alimentar os podres e insaciáveis deste mundo.
Perseguem-te, levam punhais escondidos, serão capazes dos actos mais baixos para ferir-te. Mas tu não sentes, os punhais trespassam-te a pele e tu continuas a sorrir como um menino. As armas dos homens jamais poderão retirar-te a vida, porque no teu mundo apenas a caneta é arma de arremesso. Nas folhas brancas a mancha de sangue denuncia a dor em que a sociedade vive.
Ès anjo? Ès escritor? Ès sábio? Ès louco?
Não sei, mas és alguém e isso torna-te mais “pessoa” do que todos nós.
Alguém que vive, que pensa, que é livre, nós, há muito desistimos de crescer, de viver, de sonhar, agora combatemos invejosamente aqueles que continuam a tentar fazê-lo.
Deixámos de ser alguém e passámos a ser algo, como os objectos, como os animais, sem racionalidade, sem coração, sem asas que nos permitam voar.
quarta-feira, novembro 16, 2005
Falso Rebanho
Num ápice roubaram o que é nosso, invadiram a terra que pisámos, o espaço que nos pertence, o passado que vivemos em comum, as alegrias e as tristezas.
E vocês seguiram, como um rebanho guiado por uma ovelha enganada que em falso foi traída pelas armadilhas maliciosas da vida.
Aos poucos perdemos o que era nosso, os sentimentos que nos ligavam uns aos outros, as brincadeiras, os sorrisos, a felicidade da qual outrora tanto nos orgulhámos. Porque vocês precisavam agradar aos outros, aos que surgiram na vossa vida em melhor momento, os que se mostraram mais alegres e mais divertidos, talvez mais falsos e carregados de sentimentos contraditórios, mas isso não interessa. Porque os laços que nos ligavam foram esquecidos em prol da imagem que transparecia do outro lado do espelho, no lugar onde estavam os outros, os que julgariam ou idolatrariam os vossos actos, os que definiriam se se tratavam de boas ou más pessoas.
Então os nossos rostos ficaram encerrados nas gavetas do vosso pensamento, no álbum de recordações da vida, e agora as forças e amor que nos ligam já não são suficientes para sorrir.
Na vida ganham-se umas coisas, perdem-se outras.
A tela da nossa amizade foi borrada pelos próprios artistas, foram usadas cores cinzentas, o dia chorou, nós chorámos, gritámos ao mundo que tudo estava ao contrário.
Porque não ficámos? Digam-me. Porque não ficámos pelo nosso mundo e fomos felizes da mesma forma que éramos? Porque precisamos sempre de agradar ao que vem, ao que pretende invadir aquilo que somos e deturpar o que existe entre nós? Será que a força que nos unia não era suficiente para nos suportarmos e precisámos de ir mais além? Não sei. Não encontro respostas,o meu céu está cinzento e a minha garganta inflamada pelos gritos de dor proferidos na escuridão da noite.
Como facas que se espetaram no meu peito e feriram gravemente, imagens de dor que jamais esquecerei, como se fosse trocada por algo maior, mais forte, mais digno.
Porque não deixaram que a nossa amizade crescesse ao abrigo daquilo que somos?
Então, seguiram as ovelhas enganadas, ultrajadas, seguiram pela mão do pastor , a mão que separou os nossos caminhos, que vos conduziu por aí, pela estrada do erro, da infâmia, do medo daqueles que erram e temem perder o que anteriormente parecia pertencer-lhes para sempre.
Agora esse espelho já não reflecte as duas faces, porque apenas nós continuamos atónitos e desejosos de voltar a ver-vos, ansiosos que os nossos braços se unam aos vossos numa dança de sentimento. A outra face do espelho escureceu, as figuras que vos olhavam com interesse desvaneceram-se no horizonte e agora a imagem reflectida caiu no vazio do esquecimento.
Nós, continuamos aqui, porque os fiéis e os verdadeiros amigos não partem , continuam à espera , de braços abertos, de coração repleto de amor. Então o rebanho volta, para o bem e para o mal, para as noites frias e para o calor do nosso sentimento.
E vocês seguiram, como um rebanho guiado por uma ovelha enganada que em falso foi traída pelas armadilhas maliciosas da vida.
Aos poucos perdemos o que era nosso, os sentimentos que nos ligavam uns aos outros, as brincadeiras, os sorrisos, a felicidade da qual outrora tanto nos orgulhámos. Porque vocês precisavam agradar aos outros, aos que surgiram na vossa vida em melhor momento, os que se mostraram mais alegres e mais divertidos, talvez mais falsos e carregados de sentimentos contraditórios, mas isso não interessa. Porque os laços que nos ligavam foram esquecidos em prol da imagem que transparecia do outro lado do espelho, no lugar onde estavam os outros, os que julgariam ou idolatrariam os vossos actos, os que definiriam se se tratavam de boas ou más pessoas.
Então os nossos rostos ficaram encerrados nas gavetas do vosso pensamento, no álbum de recordações da vida, e agora as forças e amor que nos ligam já não são suficientes para sorrir.
Na vida ganham-se umas coisas, perdem-se outras.
A tela da nossa amizade foi borrada pelos próprios artistas, foram usadas cores cinzentas, o dia chorou, nós chorámos, gritámos ao mundo que tudo estava ao contrário.
Porque não ficámos? Digam-me. Porque não ficámos pelo nosso mundo e fomos felizes da mesma forma que éramos? Porque precisamos sempre de agradar ao que vem, ao que pretende invadir aquilo que somos e deturpar o que existe entre nós? Será que a força que nos unia não era suficiente para nos suportarmos e precisámos de ir mais além? Não sei. Não encontro respostas,o meu céu está cinzento e a minha garganta inflamada pelos gritos de dor proferidos na escuridão da noite.
Como facas que se espetaram no meu peito e feriram gravemente, imagens de dor que jamais esquecerei, como se fosse trocada por algo maior, mais forte, mais digno.
Porque não deixaram que a nossa amizade crescesse ao abrigo daquilo que somos?
Então, seguiram as ovelhas enganadas, ultrajadas, seguiram pela mão do pastor , a mão que separou os nossos caminhos, que vos conduziu por aí, pela estrada do erro, da infâmia, do medo daqueles que erram e temem perder o que anteriormente parecia pertencer-lhes para sempre.
Agora esse espelho já não reflecte as duas faces, porque apenas nós continuamos atónitos e desejosos de voltar a ver-vos, ansiosos que os nossos braços se unam aos vossos numa dança de sentimento. A outra face do espelho escureceu, as figuras que vos olhavam com interesse desvaneceram-se no horizonte e agora a imagem reflectida caiu no vazio do esquecimento.
Nós, continuamos aqui, porque os fiéis e os verdadeiros amigos não partem , continuam à espera , de braços abertos, de coração repleto de amor. Então o rebanho volta, para o bem e para o mal, para as noites frias e para o calor do nosso sentimento.
sexta-feira, novembro 04, 2005
Na escuridão da noite
Evitas o dia, como se a sua luz pudesse corroer os pedaços de solidão e de tristeza que te invadem a alma.
Pedes que te fechem as janelas, que te cerrem as portas que te podem ligar a este nosso mundo louco.
Queres a solidão, pede-la tal como os poetas desesperados pedem a morte.
A campainha toca, as nossas mãos estão cansadas de tanto esbracejar e pedir-te que abras a porta do teu mundo para que possamos entrar, as nossas gargantas estão inflamadas pelo rancor e pelo ódio que expressas nas palavras amargas e solitárias.
«Desapareçam», gritas-nos com voz autoritária e feroz, ages como um louco que teme falhar e desiludir a solidão. Queríamos um tractor para lavrar o teu sofrimento e semear nesse coração o amor que outrora nos aproximou de ti. Até quando pensas sobreviver sozinho? Na escuridão da noite, nos passos incertos e indeterminados por esse quarto negro, nesse trepar pelas paredes que nos separam de ti.
Escondes-te…Continuas a agir como um cobarde, como um ladrão que roubou a nossa felicidade e teme ser apanhado, como um egocêntrico que o mundo abandonou à beira mar.
Olha para a humanidade, julgas que somos todos felizes? Cada um faz pela sua felicidade, pelo que é, pelo que será amanhã. E tu continuas de braços cruzados à espera que a morte te colha no teu berço abandonado. Luta!
Abandona a escuridão, deixa a solidão para aqueles que, infelizmente, já não podem viver na companhia dos outros.
Vive a vida e não te preocupes com o amanhã. O mundo de lá pode ser bonito, mas aqui também o é.
Deixa que as cortinas dos teus olhos se encantem com aquilo que acontece lá fora, por detrás das paredes obscuras e sólidas que te rodeiam.
Serás um homem completo quando permitires aos outros que te possam completar, encher os teus talentos, preencher os teus dias com a sua alegria.
Abandona a tua capa negra e vêm para o nosso País Azul, onde as pessoas, tal como os pássaros podem voar, voar e voar, sem rumo, sem fim, sem barreiras.
Abre os teus braços e acolhe o mundo que outrora te abraçou aquando da tua primeira lufada de ar fresco. Sê feliz longe dos demónios que te perseguem, deixa-nos entrar no teu mundo, connosco levamos o sol, o brilho das coisas bonitas, o éden do presente, o perfume da alegria que paira no ar.
Não há tristezas, ouviste?
Isa Mestre
Pedes que te fechem as janelas, que te cerrem as portas que te podem ligar a este nosso mundo louco.
Queres a solidão, pede-la tal como os poetas desesperados pedem a morte.
A campainha toca, as nossas mãos estão cansadas de tanto esbracejar e pedir-te que abras a porta do teu mundo para que possamos entrar, as nossas gargantas estão inflamadas pelo rancor e pelo ódio que expressas nas palavras amargas e solitárias.
«Desapareçam», gritas-nos com voz autoritária e feroz, ages como um louco que teme falhar e desiludir a solidão. Queríamos um tractor para lavrar o teu sofrimento e semear nesse coração o amor que outrora nos aproximou de ti. Até quando pensas sobreviver sozinho? Na escuridão da noite, nos passos incertos e indeterminados por esse quarto negro, nesse trepar pelas paredes que nos separam de ti.
Escondes-te…Continuas a agir como um cobarde, como um ladrão que roubou a nossa felicidade e teme ser apanhado, como um egocêntrico que o mundo abandonou à beira mar.
Olha para a humanidade, julgas que somos todos felizes? Cada um faz pela sua felicidade, pelo que é, pelo que será amanhã. E tu continuas de braços cruzados à espera que a morte te colha no teu berço abandonado. Luta!
Abandona a escuridão, deixa a solidão para aqueles que, infelizmente, já não podem viver na companhia dos outros.
Vive a vida e não te preocupes com o amanhã. O mundo de lá pode ser bonito, mas aqui também o é.
Deixa que as cortinas dos teus olhos se encantem com aquilo que acontece lá fora, por detrás das paredes obscuras e sólidas que te rodeiam.
Serás um homem completo quando permitires aos outros que te possam completar, encher os teus talentos, preencher os teus dias com a sua alegria.
Abandona a tua capa negra e vêm para o nosso País Azul, onde as pessoas, tal como os pássaros podem voar, voar e voar, sem rumo, sem fim, sem barreiras.
Abre os teus braços e acolhe o mundo que outrora te abraçou aquando da tua primeira lufada de ar fresco. Sê feliz longe dos demónios que te perseguem, deixa-nos entrar no teu mundo, connosco levamos o sol, o brilho das coisas bonitas, o éden do presente, o perfume da alegria que paira no ar.
Não há tristezas, ouviste?
Isa Mestre
Voz Perdida
Deixo-te na timidez dos teus dias.
Na clareza da luz dos teus olhos, na folha de papel que acolhe as tuas palavras solitárias e perdidas. Ès uma voz perdida. Um cristal que se esconde por aqui e por ali, impedindo que alguém te acolha nos braços e possa lapidar-te. Ès uma rocha fora do rochedo, igualmente forte, mas sozinha.
E vejo-te sorrir, com as paredes, com as esquinas, com os pássaros, com a alegria que as personagens dos livros conseguem transmitir-te. Será que o teu mundo é real? Ou valerá mais essa timidez que te esconde por detrás dos olhares inquietos e distraídos da humanidade. Também quero olhar-te, mais uma vez, sentir essa emoção que já não cabe no peito e transborda pelos olhos, mas, quando olho já não estás, partiste e nem disseste um adeus. Adeus, não! Até logo…Adeus é para sempre e sei que voltarás.
Ao nosso olhar esfuma-se na escuridão da noite, desapareces por entre os barcos e a neblina dos nossos passos. És tímido, perdes-te onde os outros se encontram, dizes o que não há para dizer, sentes o que não se sente, sonhas quando o mundo parece pequeno demais para tantas quimeras.
Tenho medo de magoar o teu coração sensível, o que jamais foi amado, o que nunca amou, o que se poderá partir ao toque grosseiro e sentido de alguém.
Não quero que percas essa inocência, a vulnerabilidade louca que têm as criancinhas amáveis e ternas do mundo perfeito.
As tuas mãos são como as pétalas de uma flor nas quais bailam as abelhas numa dança de harmonia e prazer.
O mundo parece girar à tua volta, nesses breves instantes em que a tua voz perdida se solta para o mundo e lhe mostra o talento que vive em ti. Depois volta o silêncio, a timidez dos teus dias, o teu corpo imóvel entregue a uma parede solitária, os olhos que se movimentam como duas esferas brilhantes, como dois berlindes valiosos, observam o mundo e retiram dele a sua melhor parte.
Então cumpres-te, vais com as nuvens e acenas lá de cima, vais até onde a tua força chegar. Vais longe, porque és apenas uma voz perdida que deposita palavras no vento.
Isa Mestre
Na clareza da luz dos teus olhos, na folha de papel que acolhe as tuas palavras solitárias e perdidas. Ès uma voz perdida. Um cristal que se esconde por aqui e por ali, impedindo que alguém te acolha nos braços e possa lapidar-te. Ès uma rocha fora do rochedo, igualmente forte, mas sozinha.
E vejo-te sorrir, com as paredes, com as esquinas, com os pássaros, com a alegria que as personagens dos livros conseguem transmitir-te. Será que o teu mundo é real? Ou valerá mais essa timidez que te esconde por detrás dos olhares inquietos e distraídos da humanidade. Também quero olhar-te, mais uma vez, sentir essa emoção que já não cabe no peito e transborda pelos olhos, mas, quando olho já não estás, partiste e nem disseste um adeus. Adeus, não! Até logo…Adeus é para sempre e sei que voltarás.
Ao nosso olhar esfuma-se na escuridão da noite, desapareces por entre os barcos e a neblina dos nossos passos. És tímido, perdes-te onde os outros se encontram, dizes o que não há para dizer, sentes o que não se sente, sonhas quando o mundo parece pequeno demais para tantas quimeras.
Tenho medo de magoar o teu coração sensível, o que jamais foi amado, o que nunca amou, o que se poderá partir ao toque grosseiro e sentido de alguém.
Não quero que percas essa inocência, a vulnerabilidade louca que têm as criancinhas amáveis e ternas do mundo perfeito.
As tuas mãos são como as pétalas de uma flor nas quais bailam as abelhas numa dança de harmonia e prazer.
O mundo parece girar à tua volta, nesses breves instantes em que a tua voz perdida se solta para o mundo e lhe mostra o talento que vive em ti. Depois volta o silêncio, a timidez dos teus dias, o teu corpo imóvel entregue a uma parede solitária, os olhos que se movimentam como duas esferas brilhantes, como dois berlindes valiosos, observam o mundo e retiram dele a sua melhor parte.
Então cumpres-te, vais com as nuvens e acenas lá de cima, vais até onde a tua força chegar. Vais longe, porque és apenas uma voz perdida que deposita palavras no vento.
Isa Mestre
sexta-feira, outubro 28, 2005
A sua carta
Queridos Pais,
Hoje senti que é hora de partir. Durante anos criaram-me com carinho e ofereceram-me tudo aquilo que desejei, hoje, sinto que preciso libertar-me e ir mais além. Preciso conhecer o mundo que durante anos me esconderam com medo que a realidade pudesse magoar-me.
Tornei-me frágil ao abrigo da vossa protecção, nunca soube o que era sofrer e talvez por isso sinta necessidade de o fazer.
Não quero ser um parasita nas vossas vidas, apenas pretendo aprender a voar pelas minhas próprias asas. Não significa que não precise mais de vós, mas, apenas vos quero dizer-vos que já não sou a vossa bébe.
Cresci. Será que são capazes de entender?
Agora já não faço birras nas idas ao supermercado nem preciso do leite quente a tempo e horas. Apenas o vosso carinho continua a ser necessário em mim.
Não significa que tenha deixado de amar-vos mas, tudo na vida tem o seu tempo e neste momento algo se encarregou de me mostrar que este é o meu momento de acção.
Preciso de errar, de fugir dessa teia de perfeição, de desaparecer por momentos indefinidos e abstrair-me do mundo. Preciso saber quem sou!
Até aqui fui aquilo que vocês quiseram que eu fosse. Basta!
Esta é a minha vida, os meus amigos, os meus dias, as minhas paixões.
Talvez devesse calcular os riscos que este acto pode implicar, mas prefiro não fazê-lo porque então tenho a absoluta certeza que desistira agora mesmo.
Peço-vos que não encarem esta carta como um símbolo de ingratidão, porque vos amo cada dia mais e estarei eternamente agradecida por tudo aquilo que fizeram por mim.
Apenas preciso de voar um bocadinho, está bem? Apenas vou conhecer um pouco do mundo e da sua crueldade. Depois, voltarei.
Sei que os vossos braços estarão sempre abertos para mim, ainda que digam que não, sei que sim.
Não se preocupem comigo pois preciso de sofrer, de aprender a viver e a ser independente para além das vossas asas protectoras.
Prometo-vos que correrá tudo bem. Confiem em mim.
Sou uma adolescente como tantas outras e ainda estou a aprender a viver, por isso, optei por tomar esta decisão neste momento, afinal, é na aprendizagem que devemos modificar aquilo que acreditamos estar mal connosco.
Não vou fugir. Seria um acto cobarde demais. Quero apenas libertar-me um pouco do nosso mundo partilhado.
Deixem-me viver.
Sem me gritarem aos ouvidos o que devo ou não fazer, sem palavras meigas que possam atenuar a minha dor, sem redomas que possam afastar-me dos perigos da vida.
Nunca se esqueçam que vos amo. Ouviram? Nunca!
Hoje senti que é hora de partir. Durante anos criaram-me com carinho e ofereceram-me tudo aquilo que desejei, hoje, sinto que preciso libertar-me e ir mais além. Preciso conhecer o mundo que durante anos me esconderam com medo que a realidade pudesse magoar-me.
Tornei-me frágil ao abrigo da vossa protecção, nunca soube o que era sofrer e talvez por isso sinta necessidade de o fazer.
Não quero ser um parasita nas vossas vidas, apenas pretendo aprender a voar pelas minhas próprias asas. Não significa que não precise mais de vós, mas, apenas vos quero dizer-vos que já não sou a vossa bébe.
Cresci. Será que são capazes de entender?
Agora já não faço birras nas idas ao supermercado nem preciso do leite quente a tempo e horas. Apenas o vosso carinho continua a ser necessário em mim.
Não significa que tenha deixado de amar-vos mas, tudo na vida tem o seu tempo e neste momento algo se encarregou de me mostrar que este é o meu momento de acção.
Preciso de errar, de fugir dessa teia de perfeição, de desaparecer por momentos indefinidos e abstrair-me do mundo. Preciso saber quem sou!
Até aqui fui aquilo que vocês quiseram que eu fosse. Basta!
Esta é a minha vida, os meus amigos, os meus dias, as minhas paixões.
Talvez devesse calcular os riscos que este acto pode implicar, mas prefiro não fazê-lo porque então tenho a absoluta certeza que desistira agora mesmo.
Peço-vos que não encarem esta carta como um símbolo de ingratidão, porque vos amo cada dia mais e estarei eternamente agradecida por tudo aquilo que fizeram por mim.
Apenas preciso de voar um bocadinho, está bem? Apenas vou conhecer um pouco do mundo e da sua crueldade. Depois, voltarei.
Sei que os vossos braços estarão sempre abertos para mim, ainda que digam que não, sei que sim.
Não se preocupem comigo pois preciso de sofrer, de aprender a viver e a ser independente para além das vossas asas protectoras.
Prometo-vos que correrá tudo bem. Confiem em mim.
Sou uma adolescente como tantas outras e ainda estou a aprender a viver, por isso, optei por tomar esta decisão neste momento, afinal, é na aprendizagem que devemos modificar aquilo que acreditamos estar mal connosco.
Não vou fugir. Seria um acto cobarde demais. Quero apenas libertar-me um pouco do nosso mundo partilhado.
Deixem-me viver.
Sem me gritarem aos ouvidos o que devo ou não fazer, sem palavras meigas que possam atenuar a minha dor, sem redomas que possam afastar-me dos perigos da vida.
Nunca se esqueçam que vos amo. Ouviram? Nunca!
domingo, outubro 16, 2005
PRÉMIO REVELAÇÃO DO CONCURSO LITERÁRIO DO ELOS CLUBE DE FARO JOVENS AUTORES 2005
SER PORTUGÛES
Foste português, foste herói, foste um sábio que vagueou pelo mundo e nos deixou um pouco de si.
Tinhas olhos castanhos e cabelos negros, aspecto de velhinho e um visual pouco cuidado.
Conheci-te num aeroporto estrangeiro, quando eu, ainda frágil e insegura menina tentava encontrar a porta de embarque.
Estava perdida, apetecia-me chorar tal como uma criancinha. Que fariaagora?Sozinha, num país estrangeiro, com uma língua desconhecida. Certamente experimentaria o sabor do desconhecido naquela tarde. Subitamente uma voz entrou no meu ouvido, uma voz suave, que entoou não apenas no meu aparelho auditivo mas também no meu coração. Alguém falara português. Ali naquele lugar desconhecido, no aeroporto onde já derramara algumas da minhas lágrimas, subitamente alguém falara português. Foste uma luz que iluminou o meu dia, uma alegria que com palavras seria impossível de explicar.Enquanto milhares e milhares de pessoas se dirigiam às portas de embarque entoando as mais diversas línguas, para ti parecia que o mundo havia parado à tua volta.
Falavas sozinho, na nossa bonita língua , com um atabalhoado mas, no entanto mais sábio do alguma vez imaginara.
Aproximei-me de ti. Parecias brincar com as palavras, parecias feliz,sorrias, sorrias, sorrias, havias de sorrir até que a morte te levasse.Reparei que falavas com um grupo de jovens estrangeiros, mas, como poderia ser? Afinal estavas a falar português... Pois, lá estavas tu, sempre asorrir, a exibir a nossa língua a mostrar-lhe o orgulho de ser português.
Eles, atónitos, olhavam-te com admiração e incerteza, na verdade,daquilo que dizias nada compreendiam mas o teu olhar e a tua forma de falar cativaram-nos e mesmo sem saber nada de ti continuaram a olhar-te atenciosamente.
Fitaste-me com alegria, falaste também para mim. Tinhas uma voz doce,contavas a um par de jovens algumas histórias típicas do nosso país.
Falavas de literatura, de história, de arte. E naquela imensidão de pessoas,apenas eu poderia entender-te.
No teu rosto levemente desenhado havia o português dos nossos dias.
Havia o sábio, o sonhador, o herói que partiu em busca do desconhecido conquistando tudo e todos.
Tu não eras como os outros. Não tinhas vergonha, não tinhas medo de ser português... Enquanto eles escondiam a sua língua por detrás de um inglês vergonhoso tu exibiste-a sem pudor, mostrando ao mundo que neste pequeno cantinho vive um povo de imensa dignidade.
Ouvi-te durante horas, ouvi-te perante o barulho que misteriosamente se transformara em silêncio para ouvir as bonitas palavras que te saíam dos encarnados lábios.
« Nós, os portugueses, somos seres bonitos. Na nossa terra acolhemos todos aqueles que queiram visitá-la, do nosso alimento faremos o dos outros e com a nossa água mataremos a sede alheia. Somos um pequeno pontinha perdido no imenso mapa do mundo, mas somos um pontinho mais importante do que muitas manchas que cobrem esse atlas universal. Nós, portugueses, estamos em todas as partes do mundo. A viagem sempre fez parte do nosso espírito, da nossa alma enquanto cidadãos lusos. Aprendemos a viajar e a conquistar , a sonhar ir mais além. Ser português é motivo de honra. Porque somos nós que corremos mesmo quando todos decidem ficar parados, porque nos molhamos quando todos buscam um abrigo, porque nós ousamos viver mesmo quando a iminência da morte está perto demais.».
Tinhas razão, meu velho. Eu tenho orgulho por ser das tuas gentes,partilhar as alegrias do nosso povo, as nossas tradições, as nossas loucuras,os traços característicos da nossa espécie.
A espera tornara-se longa nesse aeroporto algures na Europa, os outros abandonaram-te mas eu não. Precisava de ti.Partilhámos ambos a alegria de termos nascido nesse tão lindo país daPenínsula Ibérica, e tu, como farol sempre pronto a iluminar-me mostraste-me a porta de embarque, e como se isso não bastasse, viajaste comigo para este cantinho do mundo - Portugal.
Afinal era tão bom ser português...
Recordámos Luso , o brilhante Deus do Olimpo que deu nome às nossas gentes, viajámos com Luís de Camões e a sua poesia única, pousamos pormomentos nossos olhos nos heróis portugueses que um dia nos fizeram orgulharmo-nos deles.
Também eu me orgulho de ti , meu velho. Da sabedoria que transmitias ao mundo, da abertura e alegria com que deste a conhecer o nosso país am ilhares de pessoas que conheceste.
Orgulho-me de teres sido o bom português: O que deixa tudo para oúltimo momento, o que brilha, o que sorri, o que chora e o que transporta todo o seu talento para o palco da vida.
O Português que tal como dizias está em todas as partes do mundo.A mensagem que nos deixaste ainda persiste, ainda vive nos nossos corações, nos olhares daqueles que escutaram atenciosamente tudo o que lhes disseste. Obrigado, meu velho. Porque tu foste português, porque lutaste na guerra e venceste, porque te encarregaste sempre de limpar o nome do nosso país enquanto outros o mancharam. Obrigado por nunca, em nenhuma parte do mundo, teres tido vergonha de seres português.
Honraste-nos, fizeste-nos unirmo-nos em defesa daquilo que amamos ehoje cantamos juntos a nossa glória. A glória de uma país que jamais morrerá, a glória dos brilhantes antepassados e a alegria do meninos que construirão neste cantinho inigualável um futuro risonho.
Autora: Isa Mestre
SER PORTUGÛES
Foste português, foste herói, foste um sábio que vagueou pelo mundo e nos deixou um pouco de si.
Tinhas olhos castanhos e cabelos negros, aspecto de velhinho e um visual pouco cuidado.
Conheci-te num aeroporto estrangeiro, quando eu, ainda frágil e insegura menina tentava encontrar a porta de embarque.
Estava perdida, apetecia-me chorar tal como uma criancinha. Que fariaagora?Sozinha, num país estrangeiro, com uma língua desconhecida. Certamente experimentaria o sabor do desconhecido naquela tarde. Subitamente uma voz entrou no meu ouvido, uma voz suave, que entoou não apenas no meu aparelho auditivo mas também no meu coração. Alguém falara português. Ali naquele lugar desconhecido, no aeroporto onde já derramara algumas da minhas lágrimas, subitamente alguém falara português. Foste uma luz que iluminou o meu dia, uma alegria que com palavras seria impossível de explicar.Enquanto milhares e milhares de pessoas se dirigiam às portas de embarque entoando as mais diversas línguas, para ti parecia que o mundo havia parado à tua volta.
Falavas sozinho, na nossa bonita língua , com um atabalhoado mas, no entanto mais sábio do alguma vez imaginara.
Aproximei-me de ti. Parecias brincar com as palavras, parecias feliz,sorrias, sorrias, sorrias, havias de sorrir até que a morte te levasse.Reparei que falavas com um grupo de jovens estrangeiros, mas, como poderia ser? Afinal estavas a falar português... Pois, lá estavas tu, sempre asorrir, a exibir a nossa língua a mostrar-lhe o orgulho de ser português.
Eles, atónitos, olhavam-te com admiração e incerteza, na verdade,daquilo que dizias nada compreendiam mas o teu olhar e a tua forma de falar cativaram-nos e mesmo sem saber nada de ti continuaram a olhar-te atenciosamente.
Fitaste-me com alegria, falaste também para mim. Tinhas uma voz doce,contavas a um par de jovens algumas histórias típicas do nosso país.
Falavas de literatura, de história, de arte. E naquela imensidão de pessoas,apenas eu poderia entender-te.
No teu rosto levemente desenhado havia o português dos nossos dias.
Havia o sábio, o sonhador, o herói que partiu em busca do desconhecido conquistando tudo e todos.
Tu não eras como os outros. Não tinhas vergonha, não tinhas medo de ser português... Enquanto eles escondiam a sua língua por detrás de um inglês vergonhoso tu exibiste-a sem pudor, mostrando ao mundo que neste pequeno cantinho vive um povo de imensa dignidade.
Ouvi-te durante horas, ouvi-te perante o barulho que misteriosamente se transformara em silêncio para ouvir as bonitas palavras que te saíam dos encarnados lábios.
« Nós, os portugueses, somos seres bonitos. Na nossa terra acolhemos todos aqueles que queiram visitá-la, do nosso alimento faremos o dos outros e com a nossa água mataremos a sede alheia. Somos um pequeno pontinha perdido no imenso mapa do mundo, mas somos um pontinho mais importante do que muitas manchas que cobrem esse atlas universal. Nós, portugueses, estamos em todas as partes do mundo. A viagem sempre fez parte do nosso espírito, da nossa alma enquanto cidadãos lusos. Aprendemos a viajar e a conquistar , a sonhar ir mais além. Ser português é motivo de honra. Porque somos nós que corremos mesmo quando todos decidem ficar parados, porque nos molhamos quando todos buscam um abrigo, porque nós ousamos viver mesmo quando a iminência da morte está perto demais.».
Tinhas razão, meu velho. Eu tenho orgulho por ser das tuas gentes,partilhar as alegrias do nosso povo, as nossas tradições, as nossas loucuras,os traços característicos da nossa espécie.
A espera tornara-se longa nesse aeroporto algures na Europa, os outros abandonaram-te mas eu não. Precisava de ti.Partilhámos ambos a alegria de termos nascido nesse tão lindo país daPenínsula Ibérica, e tu, como farol sempre pronto a iluminar-me mostraste-me a porta de embarque, e como se isso não bastasse, viajaste comigo para este cantinho do mundo - Portugal.
Afinal era tão bom ser português...
Recordámos Luso , o brilhante Deus do Olimpo que deu nome às nossas gentes, viajámos com Luís de Camões e a sua poesia única, pousamos pormomentos nossos olhos nos heróis portugueses que um dia nos fizeram orgulharmo-nos deles.
Também eu me orgulho de ti , meu velho. Da sabedoria que transmitias ao mundo, da abertura e alegria com que deste a conhecer o nosso país am ilhares de pessoas que conheceste.
Orgulho-me de teres sido o bom português: O que deixa tudo para oúltimo momento, o que brilha, o que sorri, o que chora e o que transporta todo o seu talento para o palco da vida.
O Português que tal como dizias está em todas as partes do mundo.A mensagem que nos deixaste ainda persiste, ainda vive nos nossos corações, nos olhares daqueles que escutaram atenciosamente tudo o que lhes disseste. Obrigado, meu velho. Porque tu foste português, porque lutaste na guerra e venceste, porque te encarregaste sempre de limpar o nome do nosso país enquanto outros o mancharam. Obrigado por nunca, em nenhuma parte do mundo, teres tido vergonha de seres português.
Honraste-nos, fizeste-nos unirmo-nos em defesa daquilo que amamos ehoje cantamos juntos a nossa glória. A glória de uma país que jamais morrerá, a glória dos brilhantes antepassados e a alegria do meninos que construirão neste cantinho inigualável um futuro risonho.
Autora: Isa Mestre
sexta-feira, outubro 14, 2005
Adeus não! Até logo.
Sinto a tua falta.
Das palavras carinhosas, dos gestos que apenas tu conseguias fazer na perfeição, do teu toque, do beijo que nos depositavas na faces sempre com o mesmo carinho, do adeus sempre tão sentido, sinto falta de partir olhar para trás e ter a certeza de que tu estás lá para me acenares da varanda.
E quando os outros nos rejeitavam os desejos de criança, tu estavas sempre lá, confortando-nos, fazendo algo para que pudéssemos ser felizes. Acariciavas-nos a cabeça, adormecias-nos no teu colo como se isso pudesse ser resolução para todas as nossas brigas. E era-o realmente. Obrigado, avó.
Dói muito.
Pensar que da próxima vez que algo não correr bem tu já não vais estar presente para amparar as nossas lágrimas.
Oxalá pudesse ter-te dito o quanto te amava...
Desculpa. Se algumas vezes as palavras estavam demasiado verdes para serem ditas, agora só me apetece dizer-te: Amo-te, amo-te muito.
No entanto, agora, as minhas palavras já não passam de ecos, de sons que se perdem ao final do corredor da vida.
Lembrarei sempre esse sorriso nobre, a expressão doce, o amor que tinhas para oferecer ao mundo. Por isso, continuarei a sorrir, tal como tu o fazias, sorrirei até que a morte me leve.
Jamais te esquecerei.
Estarei sempre aqui, serei sempre um pouco daquilo que me deste, do que me ensinaste, do que me levaste a descobrir pelos caminhos da vida.
Foi pelas tuas mãos que tantas vezes caminhei, impediste-me de cair pois o teu carinho amparava-me nessa correria louca, própria da minha meninice.
Escrevo-te, avó, porque tenho a certeza que podes ouvir-me, que me sentes, que me beijas de noite como tantas vezes o fizeste, e que me acordas de manhã da forma única como apenas tu o fazias.
Continuo a ouvir-te, no seio do meu coração, na lágrima que me corre das faces, na alegria que foi ter partilhado a minha vida contigo.
Partiste, mas para mim estarás sempre aqui, cada vez mais perto, num sítio onde podemos caminhar e partilhar os nossos sentimentos.
Disseste-me “até logo”, avó. Depois partiste, jamais regressaste desse mundo de lá, mas, sei que um dia te encontrarei, afinal foi apenas como se nos despedíssemos para uma ida às compras.
Por isso, até logo.
Nunca te esqueças que te amo.
Das palavras carinhosas, dos gestos que apenas tu conseguias fazer na perfeição, do teu toque, do beijo que nos depositavas na faces sempre com o mesmo carinho, do adeus sempre tão sentido, sinto falta de partir olhar para trás e ter a certeza de que tu estás lá para me acenares da varanda.
E quando os outros nos rejeitavam os desejos de criança, tu estavas sempre lá, confortando-nos, fazendo algo para que pudéssemos ser felizes. Acariciavas-nos a cabeça, adormecias-nos no teu colo como se isso pudesse ser resolução para todas as nossas brigas. E era-o realmente. Obrigado, avó.
Dói muito.
Pensar que da próxima vez que algo não correr bem tu já não vais estar presente para amparar as nossas lágrimas.
Oxalá pudesse ter-te dito o quanto te amava...
Desculpa. Se algumas vezes as palavras estavam demasiado verdes para serem ditas, agora só me apetece dizer-te: Amo-te, amo-te muito.
No entanto, agora, as minhas palavras já não passam de ecos, de sons que se perdem ao final do corredor da vida.
Lembrarei sempre esse sorriso nobre, a expressão doce, o amor que tinhas para oferecer ao mundo. Por isso, continuarei a sorrir, tal como tu o fazias, sorrirei até que a morte me leve.
Jamais te esquecerei.
Estarei sempre aqui, serei sempre um pouco daquilo que me deste, do que me ensinaste, do que me levaste a descobrir pelos caminhos da vida.
Foi pelas tuas mãos que tantas vezes caminhei, impediste-me de cair pois o teu carinho amparava-me nessa correria louca, própria da minha meninice.
Escrevo-te, avó, porque tenho a certeza que podes ouvir-me, que me sentes, que me beijas de noite como tantas vezes o fizeste, e que me acordas de manhã da forma única como apenas tu o fazias.
Continuo a ouvir-te, no seio do meu coração, na lágrima que me corre das faces, na alegria que foi ter partilhado a minha vida contigo.
Partiste, mas para mim estarás sempre aqui, cada vez mais perto, num sítio onde podemos caminhar e partilhar os nossos sentimentos.
Disseste-me “até logo”, avó. Depois partiste, jamais regressaste desse mundo de lá, mas, sei que um dia te encontrarei, afinal foi apenas como se nos despedíssemos para uma ida às compras.
Por isso, até logo.
Nunca te esqueças que te amo.
domingo, outubro 09, 2005
Deixa-me só
Sem o olhar do mundo, sem as crateras de dor e sofrimento que despontam do meu coração, sem pressas, sem sentimentos, sem pressão, sem sentir as palavras dos outros perseguindo-me a cada passo, sem ouvir essa voz que me guia.
Deixa-me apenas só. Não me digas aquilo que quero ouvir, deixa-me na solidão dos meus dias e liberta-me para que possa pedir ao mundo um tempo de paragem.
Deixa-me sonhar, ir ao topo das montanhas, ao fundo do mar, à superfície terrestre e ao interior do mundo.
Deixa-me explorar os lugares que nunca vi, acordar ao amanhecer e adormecer ao entardecer, sonhar, saltar, pular, gritar, ser feliz, quem sabe... Mas, deixa-me só.
Como uma espiga levada pelo vento ou uma pétala de uma flor qualquer.
Preciso de conhecer a solidão, sentir a falta de alguém, dos conselhos, das críticas, das expectativas e dos falhanços de cada um.
Não tenhas medo, não estou a enlouquecer, nem deixei de amar o mundo como dantes, apenas preciso do meu mundo, no meu lugar, com o meu pôr-do-sol, com a minha alegria.
Apenas poderei ser completa para os outros quando o conseguir ser em relação a mim mesma.
Não te percas por entre os corredores que nos levam mais além, não abandones o teu caminho porque em breve voltarás a contar com a minha presença do teu lado.
Por agora, abandona-me, deixa-me à deriva, como se deixam os barcos velhos e apodrecidos. Irei ao sabor das ondas, embalada pela doce canção da vida, encontrarei o meu porto e o meu abrigo, porque não há horas erradas para os momentos certos.
O meu corpo deslizará levemente sobre as delicadas mãos da vida, que naquele precioso e breve instante me agarrarão com pujança devolvendo-me ao meu mundo.
Por isso, segue o teu caminho, acena-me lá do fundo fazendo-me caretas e gestos de carinho enquanto a minha imagem se torna cada vez mais pequena até se perder finalmente na linha do horizonte.
Isa Mestre
Deixa-me apenas só. Não me digas aquilo que quero ouvir, deixa-me na solidão dos meus dias e liberta-me para que possa pedir ao mundo um tempo de paragem.
Deixa-me sonhar, ir ao topo das montanhas, ao fundo do mar, à superfície terrestre e ao interior do mundo.
Deixa-me explorar os lugares que nunca vi, acordar ao amanhecer e adormecer ao entardecer, sonhar, saltar, pular, gritar, ser feliz, quem sabe... Mas, deixa-me só.
Como uma espiga levada pelo vento ou uma pétala de uma flor qualquer.
Preciso de conhecer a solidão, sentir a falta de alguém, dos conselhos, das críticas, das expectativas e dos falhanços de cada um.
Não tenhas medo, não estou a enlouquecer, nem deixei de amar o mundo como dantes, apenas preciso do meu mundo, no meu lugar, com o meu pôr-do-sol, com a minha alegria.
Apenas poderei ser completa para os outros quando o conseguir ser em relação a mim mesma.
Não te percas por entre os corredores que nos levam mais além, não abandones o teu caminho porque em breve voltarás a contar com a minha presença do teu lado.
Por agora, abandona-me, deixa-me à deriva, como se deixam os barcos velhos e apodrecidos. Irei ao sabor das ondas, embalada pela doce canção da vida, encontrarei o meu porto e o meu abrigo, porque não há horas erradas para os momentos certos.
O meu corpo deslizará levemente sobre as delicadas mãos da vida, que naquele precioso e breve instante me agarrarão com pujança devolvendo-me ao meu mundo.
Por isso, segue o teu caminho, acena-me lá do fundo fazendo-me caretas e gestos de carinho enquanto a minha imagem se torna cada vez mais pequena até se perder finalmente na linha do horizonte.
Isa Mestre
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