domingo, maio 28, 2006

Feliz Inocência

Eu era feliz e não sabia.
Quando o céu se pintava eternamente de azul e a vida parecia estar em cada uma das estrelas que me acompanhavam pelo mundo, quando os pássaros traziam nos seus bicos a magia de mais um dia, quando eu sorria e não sabia ao certo porque sorria…eu era feliz.
Todas as coisas chamavam por mim e eu sorria…vagabunda, sonhadora, menina… sorria e via nas coisas tristes alguma felicidade, nas pétalas de cada flor a essência do meu próprio ser.
E dizia que a felicidade não se atinge, dizia que ser feliz é sorrir, apenas isso. Na verdade, era apenas isso, sorrir e transportar o mundo na palma da mão.
Por vezes as pessoas ganhavam dimensões dentro de mim, tornavam-se pesadas de mais para que as transportasse nos meus braços, então, levava-as no coração.
E ainda que eu não fosse feliz todos os dias, tinha em mim uma réstia de todos aqueles que pela vida fora conheceram a felicidade. Era um pouco do seu sorriso, da sua gargalhada, do seu ânimo, da sua força de viver.
Na planta da felicidade fui raiz, caule e flor, também dei os meus frutos, os nossos frutos.
Porém, a felicidade esteve perto de mais e quando isso acontece revelamo-nos quase sempre incapazes de agarrá-la, de compreendê-la, de conseguir dizer que somos felizes, sem medo de o fazer.
Mas, é nesses breves instantes que a nossa inocência de meninos que buscam toda a vida um ideal se cobre do nevoeiro das manhãs frias e nos mostra que há dias felizes e horas inesquecíveis.
Hoje sei.
Quando a felicidade parte sabemos que a tivemos nas mãos e deixamo-la escapar, porque fica apenas o seu rasto, a sua marca profunda naquilo que somos, o seu cheiro entranhado nas nossas roupas, a sua tatuagem nos nossos corpos e o desenho inesquecível nos corações.
Então, abrimos a janela e chamamos por ela.
Mas ela não vem, ela nunca vem.
Buscamo-la nos sítios errados quando, afinal, a temos tão perto, abrimos a janela e gritamos, quando basta apenas abrir a porta dos nossos corações e deixá-la entrar.
Hoje, ficou em mim.
Ficou o seu sorriso que é o meu, o sorriso que não esqueci.
Deixou-me ainda as palavras, as que me guiam pelo mundo e são a estrela que me permite alcançar o horizonte. Onde eu não estou as palavras encontram-me, recriam-me, fazem-me mulher, porque as mulheres fazem-se aos poucos.
Por isso, acredito que com tudo aquilo que ficou ainda é possível encontrar dentro de mim a pessoa que sonhou, que sorriu, que lutou e que venceu. Talvez eu ainda seja feliz e continue sem sabê-lo…

Isa Mestre

domingo, maio 07, 2006

Fiquei

Não chorei. Saíste a correr e eu fiquei, perdida, triste, magoada, fiquei apenas mulher sentada à mesa onde conversámos. Fiquei com os sonhos, com os planos do nosso futuro, com as palavras que me deixaste, com a mágoa que semeaste no meu coração.
Permaneci calada enquanto a dor escreveu dentro de mim a nossa história, depois, abri esse livro e li as suas páginas, uma a uma, como quem vê o final se aproximar e deseja que para além daquelas páginas existam outras escondidas algures sobre o imenso dossier da vida. Esperei encontrar as desejadas páginas, busquei-as por toda a parte, toquei infinitas vezes nas palavras escritas esperando que se multiplicassem, que escrevessem novas histórias em que voltássemos a ser os protagonistas, esperei, esperei e morri.
Morri nessas páginas em que o nosso amor foi sepultado. Mas não chorei, não te pedi que voltasses, não te liguei, não te procurei. Fiquei apenas eu, eu e a dor que se sepultou no meu peito.
Quando a manhã se estendeu perante o meu olhar estiquei o braço na esperança de voltar a encontrar-te no espaço vazio, na ténue alegria de poder voltar a tocar-te e a sentir-te, na terna ilusão de voltar a ter-te a meu lado. Procurei-te nos objectos que ainda restaram da tua presença, porque as pessoas partem, os objectos não.
Mas não chorei. Contive as lágrimas e guardei as palavras que poderia ter-te dito nessa manhã de Setembro, guardei-as na caixinha do nosso amor, por isso, se ainda tiveres a chave e quiseres abri-la, fá-lo com cuidado para que não as deixes escapar por entre os teus dedos fugidios e vagabundos.
Quando a noite se aproximou, abri o guarda-fatos e olhei-me ao espelho, imaginei-te olhando-me também e na minha imagem surgiu o teu reflexo, a tua luz, a tua beleza dentro daquilo que sou. E vi-te uma vez mais. Estavas vestido de forma informal, tinhas nos olhos um brilho especial, como duas candeias na escuridão da minha noite. Chamaste-me. Eu fiquei, sentada na minha cama, como uma pobre menina que devaneia constantemente e já não distingue a recordação da realidade.
Chamaste-me e eu fiquei. Ouviste?
Não fingi que já não precisava de ti, mentiria se o dissesse, não disse que não me fazias falta, não afiancei que os meus olhos já não te procuravam na imensidão desta casa vazia. Não! Apenas fiquei. Fiquei porque não tinha o direito de ir e magoar-me uma vez mais, fiquei porque o meu amor é demasiado para tão pouco carinho, fiquei porque o coração me disse que a recordação é a mais bela coisa da vida, fiquei para não construir outros mundos e vê-los ruir diante dos meus olhos.
Enquanto vagueaste como um louco eu fiquei sentada na escuridão do meu quarto e ouvi-me, ouvi a voz que há dentro de mim, a voz que me disse que erguesse a cabeça e guardasse no coração o melhor de nós.
Fi-lo, fá-lo-ei para sempre, mas recuso-me a chorar e a procurar-te por aí quando afinal a recordação do nosso amor é tudo aquilo que resta de ti em mim.
Por isso, saíste e eu fiquei.

Isa Mestre

domingo, abril 16, 2006

Diz-me tu

Errei. Fi-lo inocentemente, levando o teu coração na minha mão sem saber ao certo que rumo seguir. Agora, queria pedir-te desculpa, mas as palavras são poucas e sobram-me coisas para te dizer, os sentimentos espalhados pelo meu coração anseiam saltitar para os teus sentidos e cantar-te belas canções, de amizade, de amor, de alegria.
Mas, o teu rosto magoado impede-me de sorrir, de fazer as loucuras de sempre…Porquê? Porque partiste deste nosso mundo e me deixaste sozinha pelas ruas do sentimento? Vem ter comigo, diz-me onde errei, guia-me pelo mundo, sê a minha bússola enquanto eu te guio pelo mapa da vida.
Deixa-me chegar até ti…ao coração distante, ao menino doce que descobri por detrás da faceta de vilão, à amizade que julguei eterna. Vamos…deixa-me entrar suavemente em ti, como na primeira vez, deixa-me entrelaçar os teus dedos nos meus e mostrar-te um pouco do mundo. Ou será que não me queres mais? A nossa amizade ter-se-á perdido no sentimento magoado que persiste?
Desculpa se errei, se julguei erradamente aqueles que mais amas, se estive longe quando deveria estar perto, se te repreendi quando deveria ter-te passado a mão pela cabeça…
Porém isso jamais poderia mudar algo…Será que não entendes que serás para sempre o miúdo mimado que eu detesto mas sem o qual não consigo viver? Será que não percebes que devo mostrar-te o caminho certo quando segues pela estrada errada? Fá-lo-ei sempre por amor, por carinho, por respeito.
Ou queres perder-te neste deserto de vida? Queres seguir as tabuletas erradas e vagueares como um louco pelo caminho que te resta percorrer?
A escolha é tua, porque independentemente de tudo eu estarei sempre a teu lado, para te amar, te proteger, te sorrir mesmo quando o teu rosto sisudo se recusa a devolver-me a alegria com que ouso enfrentar-te.
Perdoa-me pelas vezes que julgo tudo saber, pelos meus erros de menina, pelo egoísmo… Mas ao menos perdoa-me, fala, sorri, chora, inova…Não permaneças escravo da dor que se encerra no peito e se espelha nas faces…extravasa o sentir, o viver, o amar… Abre as tuas páginas soltas e agastadas do tempo, feridas pela vida…deixa-me ler esse bonito livro que és.
Peço-te apenas que não permitas que o ressentimento vença esta batalha, porque eu estarei na fileira da frente a lutar pelo amor, levarei nas faces a alegria dos bonitos dias que passámos e junto ao peito a nossa fotografia… a imagem de loucos que sorriram, que venceram, que amaram, que jamais permitirão que se perca aquilo que de melhor a vida lhes proporcionou.

Isa Mestre

Não esqueci

Não mentirei.
Porquê enganar-me? Sei que quando olhar adiante ninguém vai lá estar, serei apenas eu. Eu e o que restou de vós em mim. Eu e as minhas recordações tolas de quem um dia disse que não esqueceria, eu e as minhas loucuras que agora me transformaram numa louca perdida longe da dimensão desse nosso viver, eu e os sentimentos que me acompanham, eu e os rostos que ainda não se perderam na minha memória.
E recordarei as nossas conversas, os nossos medos e as nossas incertezas, voltarei a gritar como uma menina que chama por vós, a sentir medo como sentimos, a duvidar e a procurar resposta para as minhas dúvidas tal como procurámos. E voltarei a ver-vos diante dos meus olhinhos radiantes, como se eu fosse novamente a criança e pudesse abraçar-vos a todos. Mas, são minutos efémeros, perdidos, tristes e desamparados na minha memória fria arrastada por um sopro do coração. Apenas minutos repletos daquele amor e daquela inocência que julguei eternos. Porém, a eternidade perdeu-se quando a vida nos cortou os caminhos, nos guiou por diferentes rotas.
E eu deixei que ela vos levasse sem lhe fazer frente, deixei-a vencer, tal como um doente incapaz de enfrentar a própria doença. Resignei-me acreditando que seria possível esquecer a saudade, o amor, os laços que nos uniam. Na verdade, tudo não passou de uma ilusão. Menti. A mim mesma e a todos vós.
Porque, na verdade, não esqueci nada, nem a saudade, nem as alegrias que partilhámos, nem os momentos em que desejei ter-vos novamente a meu lado. Não esqueci que o amor se perde, que também cai em esquecimento. Não esqueci o momento em que partimos; devagar porque aqueles minutos pareceram anos, ridículos porque o amor torna-nos simplesmente ridículos.
Saímos a correr por entre a neblina da manhã que nos cobriu os rostos de um nevoeiro de saudade e nostalgia, partimos e dissemos: «Esperemos que nos voltemos a encontrar» e todos baixámos a cabeça por sabermos que esse momento não existiria. Despedimo-nos, os nossos passos levaram-nos pelos caminhos da vida e os nossos corações ficaram para sempre presos aquele momento, aquela mentira, ao engano cego a que a alma se propôs.
E hoje eu estou aqui…sozinha recordando-nos, revivendo-nos no meu imenso mar de solidão e vazio, no meu pássaro que perdeu as asas para voar, as asas do sonho, do nosso sonho… Talvez ainda estejam perdidas por aqui, nos cantos que percorremos, nas palavras que dissemos, nos papéis que escrevemos, talvez não seja tarde ainda para buscá-las e reaprender a voar, talvez não seja demasiado tarde para voltar a acreditar na nossa mentira, talvez possa ouvir novamente as nossas músicas e buscar a terra distante em que existimos, em que nos despedimos sem sequer imaginar que jamais voltaríamos a ver-nos.

Isa Mestre

segunda-feira, abril 03, 2006

Espiga

Não quero que pares, que te sintas perdido, que o teu corpo repouse tristemente sem saber para que lugar ir.
Não quero que deixes de sonhar nunca, ouviste? Não quero.
Por isso não te retiro as asas do sonho quando eu sei que ainda podes voar tão alto, não te digo que não há infinito quando também os meus olhos o alcançam ávidos de atingi-lo, não te digo que a estrada acabará quando a minha vontade de persegui-la continua firme contrariando as nossas fraquezas.
Prometo. Não deixarei que a tua estrada se acabe, tal como uma folha de papel quando chega ao fim… Prometo-te que correrei ao armário mais próximo para buscar a próxima antes que a imaginação se perca nas ruas da minha incerteza, correrei para buscar outra estrada para ti, para o teu destino, para os caminhos do mundo que tantas vezes se cruzam com os nossos.
Encarregar-me-ei que o final da estrada te pareça sempre eternamente distante e que exista sempre na tua alma ânimo para prosseguir até ao fim.
Lutando para sorrir, lutando para enfrentar as tempestades da vida, lutando para te tornares mais forte, tal como o tronco de um castanheiro.
Lutando para que as tuas pernas tenham sempre forças para desbravar o caminho adiante e sublimar os obstáculos que se avizinham, lutando para que as tuas mãos possam agarrar o mundo e não mais deixá-lo escapar, lutando para que os teus olhos vejam coisas bonitas e o teu coração sinta o que é amar, lutando para afastar-te da miséria, da guerra, do ódio, da dor.
Primeiramente, aprenderás o quanto é belo o mundo, trabalharás arduamente com a tua inteligência, depois, o teu corpo ainda franzino enfrentará as coisas ás quais nos habituámos a chamar de “coisas más” e as tuas mãos abraçarão a espada do futuro, não a espada que mata, mas a espada que luta, que defende, que espalha talento pelo mundo. Mas, antes terás de aprender a usar a inteligência para que a tua espada não fira outros corpos magoados pela tua ambição desmedida.
Farás as tuas lutas, travarás as tuas batalhas, e eu estarei aqui para te ver, sempre… Como naquele dia no teatro, como quando pensavas que eu não estava lá e me escondia afinal atrás da cortina para que não ficasses nervoso.
Lembra-te sempre, por mais batalhas que traves, quer as venças ou saias derrotado, as mais importantes travam-se interiormente, entre nós e aquilo que somos.
Não magoes, meu amor, não faças uso daquilo que jamais quis que aprendesses a usar. Sê feliz longe de todas aquelas coisas que julgam tornar o homem feliz mas afinal o tornam cada vez mais pequeno e inútil.
Cresce…nunca te recuses a crescer, nunca o encares como uma crítica, nem nunca penses já ter crescido o suficiente porque crescerás até morrer.
Eu ainda cresço todos os dias, porque não crescerias tu minha pequena semente dourada que despontou do meu campo de trigo?
Cresce contigo, cresce com as asneiras, com as críticas, cresce com a vida porque se não for ela mesma ninguém mais poderá ensinar-te a tornares-te grande, dia após dia.
Vamos! Leva contigo os dias, as noites, os sorrisos, a meninice que te engrandece…leva contigo aquilo que sou, pois para onde quer que vá levar-te-ei no coração e ver-te-ei colher as plantas que um dia eu semeei quando te trazia no leito.

terça-feira, março 21, 2006

Nas pisadas da noite

Nas pisadas da noite

Nas pisadas da noite encontraram o dia.
Eram robustos, lutadores, aguerridos, orgulhosos, ambiciosos, eram a ponta da lança pronta a atacar o inimigo, a estrela a despontar nos céus, o sorriso no rosto dos mais sisudos. Vestiam-se humildemente e no coração levavam o amor e o respeito que lhes fora incutido desde crianças. Muitos quiseram impedi-los de ir além, de atingir o caminho que os grandes percorreram, quiseram cortar-lhes as asas quando eles ainda tinham tanto espaço livre para voar. Mas eles continuaram a perseguir os seus sonhos, como fiéis heróis em busca de um ideal, como trepadores de montanhas que esboçam um tímido sorriso ao chegar ao cume. Como eles próprios, como vieram ao mundo, com a mesma pureza, inocência e bondade com que respiraram a primeira lufada de ar fresco.
Porém, o caminho revelou-se sinuoso, o mundo insistiu em mostrar-lhes a sua pequeneza perante a imensidão.
Inconformados choraram. Porque as suas roupas esfarrapadas jamais revelariam o conteúdo dos sentimentos que lhes enchiam o coração, choraram porque as lágrimas jamais seriam sinal de fraqueza, afinal fora com elas que aprenderam a crescer e a seguir novos rumos.
E nas pisadas da noite encontraram o dia.
Ainda que a luz fosse fraca souberam encontrá-la na dura escuridão, ainda que os sentimentos de pouco valessem eles souberam sentir, ousaram sentir.
As suas roupas continuaram pobres, tristes, sujas porém os seus corações limpos conseguiram ensinar ao mundo a lição do verdadeiro amor. Muitos lhes chamaram vagabundos ao passar pelas ruas, no entanto, outros tantos olharam-nos como heróis oferecendo-lhes o seu próprio sentir. E as janelas dos seus rostos abriram-se para o mundo, abraçaram-no sem pudor, sorriram, porque do sorriso nasce a alegria patente em cada gesto.
A lua iluminou as suas noites mais frias em busca de um mundo diferente… não um mundo melhor (tornara-se banal pedi-lo), porém um mundo diferente, um mundo com os mesmos homens de hoje mas capazes de construir um amanhã diferente. Talvez um mundo sem dor, sem ódio, sem raiva, sem luxo, sem injustiça, talvez…
E o sol acolheu os seus sorrisos perdidos no horizonte, os sorrisos de quem despertou mais um dia e ambicionou torná-lo maior que todos os outros, mais repleto de vida, de cor, de magia.
Por isso, hoje não seremos apenas nós, mas também estas duas estrelinhas perdidas na imensidão do Universo que cantam connosco o hino da nossa alegria de viver.
Na verdade, afinal também nós encontrámos nas suas pisadas da noite o rumo do nosso dia.

Isa Mestre

quinta-feira, março 09, 2006

No aeroporto da minha alma

No aeroporto da minha alma aterram as alegrias e as tristezas, os sonhos e as desilusões, a loucura e a falta dela.
E as luzes do meu espírito continuam a brilhar, para que o próximo avião carregado de sonhos e repleto de coragem não perca a sua rota, não desvie o seu caminho nem por um segundo. Em terra, os sentimentos gesticulam, gritam, desesperam por vezes, mas, na aterragem tudo é serenidade, paz, alívio, apenas o barulho ensurdecedor dos motores, símbolo da força dos meus sonhos que continua a preencher as horas vazias deste coração. Os passageiros entram e saem, como vagabundos, como viajantes da última carruagem desse comboio da vida. Alguns perdem-se na complexidade das coisas, outros seguem perdidos e acabam por encontrar o seu destino final.
Por isso, as minhas bagagens estão feitas, estou pronta para partir.
Comigo levo as folhas de papel e a caneta, levo tudo aquilo que me basta para ser feliz!
Aceno lá do fundo àqueles que me conduzem até aos sonhos mas optam por ficar na porta de embarque esperando que a minha alma volte.
O aeroporto cheio de gente saúda aqueles que embarcam para o novo sonho, a nova aventura de viver, com as lágrimas nos olhos, tocam-lhes pela última vez e dizem… Até um dia…
Até ao dia em que o aeroporto da minha alma for pequeno demais para tanto sonho, até ao dia em que voltarei a brilhar, até ao dia em que voltarei a abraçar esses corpos cansados da expectativa, enquanto que o meu continua a procurá-la por todos os lugares.
Mas vocês continuam a acompanhar-me em todas as viagens da minha alma, ainda que vos faltem as forças e vos sobeje a experiência, conduzem-me até ao destino, como se de uma menina frágil me tratasse, como se com o derradeiro olhar me dissessem: «Vai correr tudo bem».
Depois, eu vou por aí, por esse mundo fora, descobrir aquilo que vocês já descobriram, cometer os erros que cometeram, sorrir tal como sorriram… Regressar tal como regressaram, com a alegria nos braços, transportando-a cuidadosamente como se de um bebé se tratasse.
E no regresso o meu rosto extenuado esboça o sorriso de sempre, então caminham até mim, beijam-me e abraçam-me, depois voltamos ao nosso mundo, à realidade que nos abraça a cada lufada de ar fresco…
O aeroporto da minha alma fica novamente vazio, desprovido de ânsia, de nervosismo, de cor, de luz, de magia…até ao próximo voo, até ao próximo sorriso nas asas do vento…

Isa Mestre

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Algo em alguém

Dentro de mim a noite parece escrever palavras confusas nas folhas soltas e velhas do meu coração. Mas essas, são palavras invisíveis, palavras que apenas tu entendes, que apenas tu lês. São sentimentos perdidos de quem já nem sabe o que é sentir.
Diz-me … será que ainda sinto? Ou abandonei por completo o meu corpo por não poder mais tocar o teu? Agora sou uma analfabeta incapaz de ler o teu pensamento, o teu corpo, o teu olhar, o teu sonho que morreu na minha face manchada pela derrota. E a noite volta a trazer-te para dentro de mim quando ainda nem sequer partiste… traz a tua face ingénua e pura, os teus olhinhos brilhantes fitando o Universo de magia e cor, os teus braços hábeis que agarram todas as coisas e as transformam nos mais bonitos momentos… Eu insisto que ainda é possível, mesmo que saiba que não, os teus olhos continuam a dizer-me que em ti existirá sempre um sim, o teu coração será eternamente o poço fechado onde me afogarei. E quando o mundo morrer eu ficarei viva para saber que ainda estás aqui: no meu peito, nas letrinhas que desenho na folha de papel, nos pedaços de madeira que ardem estridentemente na lareira da nossa juventude.
A minha saudade queima as tuas cartas, deseja tê-las longe, mas, ainda que as tuas palavras pareçam morrer no fogo, ainda que eu as mate, sei que elas jamais poderão extinguir-se dentro de mim.
Mesmo que as minhas roupas estejam perfumadas hei-de sempre sentir o odor do teu tabaco contagiando todas as partes do meu corpo, mesmo que não estejas, imaginar-te-ei sentado junto da lareira contando-me pequenas histórias da vida.
Permanecerás. Sobre o tempo, sobre as coisas mórbidas, sobre os olhares, sobre as crianças que brincam no jardim… Ainda bem que falamos nelas…
Sabes quem são?
São teus filhos…filhos do amor, da compreensão, da luta, da força, do orgulho, da convicção, da loucura, da magia que transportaste para dentro de mim.
Olha por eles…dá-lhes a mão já que serás incapaz de voltar a entrelaçar os teus dedos nos meus.
Vamos…vai vê-los sorrir… afinal, têm o teu sorriso, o abrir do mundo naqueles dentinhos de leite que se escondem por detrás da boca pequenina de lábios encarnados. Sorriem como tu, como sorriste nas noites de amor, nos dias perfeitos em que julgámos contornar a imperfeição. Mas, foi impossível, sabe-lo como eu… e eles que brincam no jardim são um símbolo disso mesmo, da nossa imperfeição. Da nossa incapacidade de amar, de sonhar, de sorrir mesmo quando nos apeteceu chorar.
Mas não me arrependo, porque eles são aquilo que sou, aquilo que somos, o que tu também és…são as palavras invisíveis dessa folha de papel que insisto em queimar todos os dias, são os laços inquebráveis que ainda nos unem, são os sentimentos que jamais morrerão…eles, amor, eles são o mundo…toca-lhes e voarás…ama-os e voltarás a sentir o que o amor.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Força

Que tens nessa alma?
Uma força imensa, uma capacidade de superar todos os obstáculos, de sorrir mesmo quando apetece chorar…
Enfrentaste sozinha as maiores tempestades e o teu barco continua firme sobre as imperiosas ondas da vida. No silêncio e na solidão do teu quarto encontras soluções, caminhos para delinear a tua vida, caminhos certos, caminhos de quem ousa sentir e não vive apenas por viver.
Porque essa força que impera no teu sorriso é o espelho do que vai nesse coração cintilante, nessas palavras que sem nada transmitir poderiam conter o mundo apenas na tua expressão apaixonada.
Tu és a flor… A que sofre devido à maldade dos humanos e continua a perfumar a mão que lhe retira vida, a que perdida na imensidão do espaço se destaca pelo seu brilho, pelas suas fortes raízes, pelo seu sorrir, pelo seu olhar…
Mas que força exubera desse nobre coração? Esse coração que sente, que vive, que sorri e que chora.
A vida ensinou-te a crescer, independente, feliz, sozinha na imensidão do mundo que parecia querer devorar-te…e tu cresceste, lutaste pela tua independência e venceste, ensinaste ao mundo que bastava força para vingar, para ser feliz. E quando a vida te impôs obstáculos, tu sorriste novamente, agarraste essa força que transportas no peito e seguiste adiante.
Caíste mas ergueste-te, tal como um anjo que perdeu as asas e anseia voltar a voar.
Sofreste. Mas nunca deixaste que o sofrimento manchasse os bonitos sentimentos da alma, esses mantiveste-os fiéis e intactos perante a ameaça da dor que nos mata os sentidos.
Quando todos esperaríamos a teimosa lágrima que teimava em descer-te das faces ofereceste-nos a força que nos faltou em momentos cruciais. Nós que tínhamos todos os motivos para sorrir, permanecemos quietos e calados, tristes e inconformados perante a tua dor, mas tu voltaste, repleta de forças e ensinaste-nos mais uma vez a sorrir, mesmo quando as forças te faltavam e a alegria não sobejava no humilde coração.
Mas a tua força levou-nos além…Mostrou-nos que tínhamos de ser capazes em todos os momentos, fossem eles de alegria ou dor.
E com os teus sorrisos foste-nos ensinando a crescer… Com a tua força guiaste-nos para a difícil guerra da vida e lutaste connosco lado a lado, como se de irmãos nos tratássemos….
Curaste as nossas feridas e com convicção prosseguimos a luta…. A sorrir, sempre a sorrir. Força no coração, humildade nas faces e um imenso caminho a preencher.
Depois… o caminho para casa, o doloroso destino que tivemos de percorrer sozinhos, porque tu, tu já lá não estavas, apenas a tua força nos guiou pelo mundo fora como bússola que orientou as coordenadas dos nossos frágeis corpos.

Isa Mestre

domingo, fevereiro 05, 2006

Antes de Partir

Beijo-te antes de partires.
Não sei se voltarei a ver-te, se os meus olhos se cruzarão com os teus no atribulado cais da vida, se a minha alma se juntará à tua para mais uma divagação, se o meu coração se partirá antes que venhas consertá-lo. Não sei.
Mas, não choro, não sofro, apenas vivo nessa recordação que parece guiar os meus passos pela noite escura.
Talvez seja a última…Talvez…Ou quem sabe não será?
Lá vens tu com a tua voz penetrante, acusando-me de tristeza, de semear no teu coração a ansiedade da perda, da morte, do fim de todas as coisas… Trazes nas mãos a alegria de viver, nos olhos o brilho da vida, pois tu sabes o que isso é, eu talvez não o saiba, por isso falo tantas vezes de morte.
Porque tenho medo de perder-te, que os meus olhos não contemplem mais essa figura que me habituei a amar, tenho receio que vás para longe e te esqueças da menina que ensinaste a crescer.
Trazes os livros amontoados nas mãos calejadas pela caneta, um lápis na mão direita disposto a assinalar os meus erros na senda da vida, um sorriso nos lábios, uma alegria no coração que apenas com palavras jamais conseguirei expressar.
Convido-te a ficares comigo mais alguns instantes, mas insistes em partir, outros precisam de ti. Tenho de aprender a deixar de lado o egoísmo, tenho de aprender que a tua grandeza não morre na minha alma pequenina, tenho de aprender que vives atarefado e eu sou apenas mais uma pequena tarefa do teu dia. Sou apenas o momento em que me olhas, me elogias, me criticas, me beijas, me tocas nas faces, me sorris, e depois...o resto da vida é composto de nadas.
Mas, quero sempre beijar-te, como se fosse a última vez, quero dizer-te que te adoro, que és a pessoa mais importante da minha vida, agradecer-te por tudo, mas tu…permaneces calado, tapas-me a boca e impedes-me de fazer-te sorrir.
Mas eu quero dize-lo! Deixa-me falar! Amanhã pode ser tarde demais! «Guarda as palavras no coração, ele saberá como transmiti-las sob a forma de sentimentos».
Sim, eu sei. E tu também sabes porque sentes o quanto te amo, o quanto te admiro. Apenas um olhar diria tudo, pois o amor é criminoso e transporta nas faces o maior símbolo da sua presença.
Eu sorrio-te, sabes como adoro sorrir, tu…devolves-me o sorriso, aquelas nossas expressões são amo-tes largados pela rua, são folhas caídas da grande árvore dos afectos.
Não precisamos dizer mais nada, sabes como somos, falamos apenas com os olhares e quando parto sei tudo sobre ti e tu tudo sobre mim, apesar do silêncio sinto-me como se tivéssemos falado horas e horas.
Tu vais sem pudor, sabes que amanhã me encontrarás no mesmo sítio, porém eu anseio que o amanhã não chegue, que a vida me corte as asas que me permitem voar…
Mas, sossego a minha inquietação…como se os teus olhos azuis fossem o mar calmo perante uma noite de luar, e eu a estrela perdida que sonha contigo.
Afinal no dia seguinte a tua figura serena surge novamente ao final da rua…tinhas razão velhote…mas quem me diz que hoje não será o último? Quem me diz que as minhas raízes querem ficar para sempre presas a este solo? Quem me diz que amanhã na tua eterna convicção de me encontrares não mais me encontrarás? Quem me diz que os momentos são infinitos quando o próprio mundo um dia se esgotará? Por isso, beijo-te antes de partires, deposito os meus lábios nas faces rosadas do frio, na barba fustigada pela chuva que cai sobre as nossas cabeças…é o último, eu sei disso, mas não me impede que aja como se fosse o primeiro…

Isa Mestre

domingo, janeiro 29, 2006

Bruno

Se a saudade tivesse um nome chamar-se-ia Bruno.
Bruno, a palavra de cinco letrinhas que me fez voar sobre as suas asas, o sentido da vida reunido naquele momento, naquele nome, naquela expressão, naquele olhar…
A noite chora, chama por ti, os barcos trazem inscrições na sua proa, os pássaros levam a minha saudade nas suas frágeis asas, o vento leva-a no peito, enquanto a minha voz sumida chama por ti…Bruno, Bruno, Bruno…
Será que te perdeste por aí? Será que posso ir buscar-te com as minhas mãozinhas delicadas, ou ter-te-ei deixado fugir para sempre? Será que há amanhã? Será que o momento se resume à efemeridade? Será Bruno?
Porque não voltas mais? A este cais atribulado das nossas vidas, a esta rotina estonteante que apenas tu sabias quebrar da melhor forma…
Aquilo que foste desvanece-se aos poucos na nossa memória, os teus contornos perdem precisão e os sentimentos ganham força neste coração que anseia abraçar-te.
Mas tu, tu já lá não estás.
Oxalá pudesse chamar por ti, como fiz tantas vezes quando brincávamos como criancinhas pequenas…mas agora a minha voz trémula perde-se no infinito sem atingir o teu coração, agora as estrelas ficam quietas, são testemunhas caladas da minha dor.
Agora a areia da praia insiste em apagar o teu nome, apenas poderemos escrevê-lo juntos, sei disso.
Queimo folhas, rasgo palavras, oxalá pudesse eu matar a dor que me atravessa a alma.
Não espero mais, Bruno. A cada barco que passa a minha esperança de ver-te voltar morre nas profundas águas do oceano, restam-me as palavras, as que me deixaste, as que ficaram de herança deste amor tão bonito que nem o tempo conseguiu apagar.
E essas não as sepulto junto do teu túmulo que não existe, guardo-as comigo para sempre, na caixinha do meu coração, no sorriso da minha alma.
Porque por mais que eu abra o mapa, o teu nome está em todas as partes, as coordenadas do meu peito serão eternamente tuas, ainda que não exista esse dia, esse momento, esse amar, os meus caminhos serão sempre os nossos caminhos.
Os meus pezinhos percorrem a casa, as minhas roupas espalham-se pelo chão, os meus livros abrem-se perante o atento olhar da vida, mas faltas tu…o teu cheiro, o caminhar decidido, a excentricidade da tua música, a loucura do teu ser. Falta o livro fora do sítio, a camisa desarrumada, o tapete sujo dos teus passos enlameados pela casa, falta a rosa nessa jarra vazia que a minha saudade foi incapaz de preencher. Falta o teu perfume espalhado pela rua, o teu sorriso reflectido nas montras da cidade, o teu flash que captava todas as emoções…
Todas as coisas chamam por ti…mas o meu coração, esse cansou-se de esperar e gravou o teu nome para sempre junto das mais bonitas coisas da vida.

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Canção

Invade-me uma sensação de liberdade e de alegria, quer expandir-se por todos os poros da minha alma… então sorrio, canto canções.
Subitamente vem-me à imaginação as melodias de meninos, recordo as músicas da nossa adolescência conturbada, depois…depois as notas dessa nossa canção saltam-me para o coração e os meus lábios desenham pela casa a música que tantas vezes ouvimos. Eu canto-a, como na primeira vez, com a mesma emoção, como se as minhas cordas vocais ainda permanecessem idênticas, como se a maturidade não se tivesse apoderado do meu corpo.
È a canção da morte…da tua morte. Porque enquanto a canto e recordo os momentos vividos, tu agonizas do outro lado do planeta, tentas despedir-te do mundo, das pessoas, das palavras… na tua cabeça ecoa essa mesma canção, aquela que eu canto com um sorriso nos lábios e alegria na alma.
Não sei de nada, não sei que naquele preciso momento estás a dizer-me adeus, não sei que as horas jamais poderão prolongar a tua estada neste mundo, não sei se devo cantá-la, ou se devo ceder ao silêncio desta casa.
A alegria esvai-se em instantes, volta o vazio, perde-se a alegria, regressa a madrasta tristeza ao meu rosto pueril.
De repente, tento cantar, mas os sons ficam presos nesta garganta ferida de tanto chamar o teu nome, as palavras não saem, as notas perdem-se na minha cabeça sem conseguir atingir o coração.
És tu quem me tira esta canção da alma, és tu que respiras a última lufada de ar da vida, e eu perdida e triste nem me apercebo que apesar da distância estás a morrer nos meus braços.
Então calo-me. Deixo-te ir sem fazer frente à morte, sem lutar com a minha espada de ouro, sem dizer que te amo antes que seja tarde demais…Deixo-te partir, para sempre…
Vejo a tua vida escapar-me por entre os dedos e não consigo detê-la, quero agarrar essa canção, esse som, essa alegria que cultivámos durante anos, mas tu, afastas-me as mãos, guardas a letra da nossa canção junto do teu peito, sorris-me e vais-te.
Vou inocentemente à tua procura, julgo ainda poder segurar-te a mão e prender-te à vida, mas os meus dedos pequeninos revelam-se incapazes de salvar-te da dor e da morte.
Então a alegria foge-me do rosto, a canção junta-se a ti e abandona o meu corpo, a minha alma, a minha vida. Sei que jamais poderei cantá-la sozinha, porque agora tu já não estará do outro lado do Planeta para completar os versos em branco que a minha distracção deixou escapar, porque esses sons parecerão cemitérios daquilo que fomos e que vivemos…
Por isso, se queres que cante, vem! Empresta-me esse coração que ainda é meu, dá-me essa alma que me pertence, junta a tua voz à minha e cantarolemos como loucos a nossa canção, a canção da vida, a canção que te levou nos braços da morte…


Isa Mestre

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Obrigada!

Há momentos em que o horizonte pára e eu penso... Penso em mim, penso em vós, penso em todos aqueles que de alguma forma ou de outra me ajudam diariamente a poder fazer aquilo que amo. Para vós um obrigada não basta, nunca existirão palavras capazes de expressar o que sinto. Mas, há nomes que nunca se esquecem, há pessoas que ficarão para sempre em nós, naquilo que fazemos e naquilo que somos pela vida fora.

Agradecimentos

Entre todas as pessoas que diariamente me ajudam quero muito especialmente agradecer à Professora Fernanda Lima, grande amiga que desde sempre me apoiou e me iluminou o caminho, tal como uma candeia na noite. Ensinou-me muito daquilo que sei hoje, a si lhe devo a força que me deu em todos os momentos e as alegrias que partilhámos juntas. Obrigada pela paciência , pelos erros que corrigimos, pelas vezes que reescrevemos... Obrigada por tudo. Sempre no meu coração...
Ainda um agradecimento especial à minha Professora de Literatura, Eduarda, pela compreensão e ajuda e por nos ensinar não apenas a Literatura mas também um pouco da vida.
Muito Obrigada!

Na alegria do teu sorriso

Na alegria do teu sorriso


Longe mas perto. Não quero mais ouvir essa voz magoada, esses sons frágeis que me enganam, que me traem, que se perdem nos palácios da minha recordação infinita. Não és tu. Não a pessoa que eu conheci. A mulher forte e lutadora, a que me ensinou a ver em cada obstáculo um pretexto para ganhar forças e sorrir pela vida fora, não a que me ensinou a vencer e me demonstrou vivamente como faze-lo.
A vida jamais poderá derrubar aquilo que és e o que transportas para o mundo, por isso, esconde as tuas lágrimas, mata-as na rua criminosa da dor, altera o tom de voz, ganha coragem, força, alento.
Vou ter contigo, prometo-te. Para te abraçar e te dizer que te adoro, para te beijar as faces e dar-te forças para prosseguir, ou quem sabe para ficarmos apenas no silencio dos sentimentos que nos unem? Mas eu vou. Vou procurar o rosto risonho que me fez crescer, a expressão bonita que me acolheu tantas vezes as tempestades da minha vida.
Não chores mais, querida, não suporto saber que sofres, mereces o mundo e não o que ele tem de pior. Vamos, segue comigo essa estrela, coloca o teu braço sobre o meu ombro e vamos sonhar um pouco, como nos velhos tempos, como quando íamos à boleia das palavras e parávamos ao abrigo de um pensamento qualquer. Vamos lá, ainda és capaz de me ensinar isto e muito mais, mostra-me como se sorri verdadeiramente, com alma, com coração.
Pega na folha de papel e risca as minhas palavras, obriga-me a pensar, a pôr em causa o que faço, a rescrever, a sorrir para ti, a admirar-te como sempre o fiz. Eu acenarei com a cabeça. Dir-te-ei alguns disparates, afinal a minha juventude não me permite muito mais…Tu voltarás a devolver-me o sorriso nobre, pousas a tua caneta sobre o papel e escreves palavras, palavras que nos ouvem, palavras que nos lêem, palavras que nos libertam, palavras que sentem, palavras que se perdem nas avenidas da nossa vida e se encontram mais além.
Precisas de mim e eu preciso de ti. Hoje e sempre. Será eternamente igual, nada mudará, e eu agradeço ao mundo por isso.
Estou aqui, amiga. Para os bons e para os maus momentos, para a festa e para a tragédia, para sorrir e para chorar, para abraçar e para ficar quieta no meu canto, para falar e ficar calada.
Por isso, caminho até ti, sei que a tua força move o mundo, o teu coração seria capaz de acolher o sofrimento que vive no mundo, sei que sorris, sei que voltarás a sorrir, a tua força nunca mais se acabará, o teu espírito será sempre o teu espírito, o que admiro, o que amo, o que respeito.
E no sorriso dos teus lábios o mundo espelha a alegria que é viver.

Bilhete Perdido

Foge agora… é tempo de saíres pela porta fora, vai, vai depressa para que não possa deter-te.
Precisas do teu mundo, do teu espaço, porque eu por te amar julguei que poderia construir um mundo novo. Liberta-te de mim. Não quero mais causar-te sofrimento, dor, tristeza. Chega!
Não vou mais cortar-te as asas e pedir-te desculpa no momento seguinte. Vai e não tenhas medo, coragem! Porque eu serei sempre a mesma, a que ama mas magoa, a que quer liberdade mas te aprisiona nos seus braços.
Desculpa. Mais uma vez, desculpa. Mas desta feita é para sempre, não voltes, não quero ver-te chorar!
Verás que o mundo lá fora é bem mais bonito. Sem o meu amor que insiste em prender-te, em sufocar-te com o calor da possessão, em manter-te eternamente junto a mim.
Vai, querido.
Não tenhas medo do meu sofrimento, sai por essa porta, descobre o novo mundo que um dia desbravaste com todo o teu nobre coração.
Eu continuarei por aqui, com as minhas manias, com as minhas ideias, com as chatices habituais, gesticulando, discutindo com os objectos, sorrindo com as folhas de papel.
Os meus olhos cansados buscar-te-ão ao final do dia, quando a minha astúcia precisar dos teus lábios para repousar a alma, mas, tu já não vais lá estar.
Tanto as minhas mãos quiseram prender-te que chegou o dia em que decidiram que seria melhor deixar-te ir, tanto os meus lábios quiseram os teus que hoje o nosso beijo perdeu-se na memória do nosso amor, tanto te amei que acabei com as lágrimas salgadas beijando-me os lábios e pedindo-te que fosses.
Não me perguntes porquê? Olha para dentro de ti. As respostas estão sempre dentro de nós.
O mundo espera-te. O universo está repleto de pessoas fantásticas, não te prendas a quem não te merece ou não faz por te merecer. Vai embora!
Não digas mais nada, vai simplesmente.
Deixa a aliança morrer sozinha no fundo da rua, na esquina onde a tua dor e revolta a depositar, no frio chão coberto pelas tuas lágrimas de cetim. Não olhes para trás. Olha adiante, as tuas asas já podem voar, bate-as, inova, grita, sorri!
Eu vejo-te da janela, com os olhos brilhantes de emoção, quero dizer-te adeus. Não! Não consigo! Desviarei o olhar como faço sempre que a dor se insere no meu peito.
Mas, pelo canto do olho ainda te verei chorar, como um anjinho de coração magoado, mas um anjo que voa, que vai mais além sem que nenhuma mão possa tolher o seu voo.
Volta um dia mais tarde… se eu não estiver deixa um bilhete na porta, vem dizer-me que me amas, vem sorrir porque agora já podes sonhar, porque as minhas vagarosas mãos já não possuem o corpo domesticado, porque agora és apenas tu e não aquele que nasceu para ser apenas meu. Entendes?
Dir-me-ás que está tudo bem, que voltaste a amar, a ser feliz, que fizeste todas aquelas coisas que apenas imaginavas serem possíveis ao meu lado. Eu, perdida no meu mundo, sorrirei. Aprendi que pelo facto de estarmos presos ao mundo nada nos dá o direito de prender os outros a nós.

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Dá-me a tua mão

De olhos vendados enfrento o mundo. A loucura cegou-me, o nevoeiro é forte demais e impede-me de seguir em frente.
Parece que as forças se acabaram, os pés recusam-se a tocar o solo, os meus olhos cobertos de lágrimas enfrentam os dias tristes e solitários passados entre uma e outra espera. Espera de quê? Espera de quem? Talvez da morte, quem sabe? Porque pior que morrer é sentir que a morte está perto.
Ela espreita pela janela, eu encubro a cara por entre os lençóis da vida, julgo poder esconder-me para sempre. Ela entreolha-me e vai embora uma vez mais, garante-me que voltará, que da próxima vez será para sempre, que virá buscar-me do meu leito e me levará nos seus braços negros e traiçoeiros.
Baixo a cabeça, caio resignado e choro, tenho medo! Tal como um menino que se esconde por detrás dos armários quando a tempestade está por perto…
Que anjo virá arrancar-me dos braços da morte?
A minha fala está entorpecida pela crueldade de perder os que mais amo, agora, nada mais importa, por isso, se quereis levar-me, vinde, vinde devagarinho, sem barulho, sem dor, sem sofrimento. Leva-me para o céu, ensina-me a voar sobre as nuvens, mostra-me aqueles que retiraste dos meus braços e devolve-me o amor que nos unia.
Mas, antes, deixa-me dizer adeus a este mundo louco, deixa-me dizer “Amo-te” àqueles que sempre mereceram ouvi-lo, deixa-me voltar a olhar para esta imensidão e perceber que tudo isto não me pertence, deixa-me sorrir, deixa-me chorar, deixa-me sonhar uma vez mais… Depois, leva-me… Para o mundo que julgamos existir, para o sítio onde não se sente, não se sofre, simplesmente vive-se.
A nossa presença aqui torna-se insustentável quando tudo o que precisamos para viver já partiu. È mentira quando dizemos que tudo passa, é mentira quando tentamos enganar a dor no jogo vão de lhe dar limites. O mundo não é mais que uma ilusão que criámos para nos sentirmos bem connosco, para julgarmos que seríamos mais fortes que a natureza, que a lei da vida.
Vou com a morte, dar-lhe-ei a mão, chamar-me-ão cobarde porque não consegui suportar a dor e optei pelo caminho mais fácil, mas eu sentir-me-ei feliz pois a minha existência resumia-se a respirar, comer, beber e dormir. Há determinadas fases na vida em que é necessário viver, eu sei que jamais seria capaz de voltar a fazê-lo. Por isso, sou um fugitivo da dor, um vagabundo da noite que deu a mão à morte e a convidou a entrar nos seus sonhos. Um homem que voltou a ser menino, caminhou pela estrada escura e encontrou a luz num país perdido.

Isa Mestre

quarta-feira, novembro 30, 2005

Gota de Orvalho

Desculpa porque me tornei num monstro. Numa obsessão poderosa por tudo o que impedia de amar. Trabalho, desporto, obrigações, tudo me impediu de amar os outros, de dispensar-lhes um pouco do meu tempo e voltar a ser alguém.
Quando vocês mais precisaram de mim eu estive distante, em compromissos inadiáveis que adiaram o meu encontro com o amor. Hoje sinto-me estúpida, indefesa perante a vulgaridade da vida, tanto tempo perdido, estupidamente perdido. E vocês precisaram das minhas mãos, dos meus abraços, das minhas palavras, e eu estava longe, no egoísmo dos meus dias, na loucura e na consumição de tornar-me feliz. Como poderia ser mais feliz do que aquilo que me tornavam? Segui nessa correria louca e nem me preocupei em saber quem ficava para trás e quem estava ali do meu lado dizendo-me que estava errada.
Uns perderam-se, outros morreram e eu continuei no meu mundo rancoroso e cruel de quem tem necessidade de refugiar-se na falta de tempo para esquecer os falhanços da vida. Hoje houve tanta coisa que ficou por fazer, por dizer… Tanta gente que quis abraçar, dizer-lhes o quanto os amava e agora, agora é tarde demais. O tempo levou as palavras, levou-vos a vós, eu tornei-me numa vagabunda que percorre toda a casa e se revela incapaz de encontrar algo ou alguém que lhe devolva vida.
A vossa luz perdeu-se no final desse corredor da vida, as papeladas tornaram-me velha e agora as minhas mãos buscam no vazio as expressões que quero abraçar.
Oxalá pudesse voltar atrás no tempo, viver convosco o que não vivi, abraçar-vos antes que fosse tarde demais e a vida vos tirasse da minha rota.
Ter-vos juntos de mim, nessa nossa fogueira de carinho, nas hastas de alegria que atiçavam o fogo do calor que nos unia.
Os meus dedos buscam as vossas figuras nos sítios onde tantas vezes estivemos, hoje tudo não passa de névoa, eu permaneço sentada, canto canções, conto histórias, sorrio para vocês como se o tempo parasse nos breves instantes em que sinto que tinha de ter estado do vosso lado.
Perdoem-me por favor, afinal, era apenas uma flor na idade de nascer, queria desbravar o mundo e mostrar que seria maior, mais forte, imbatível, que as minhas raízes jamais seriam arrancadas. Inocentemente fui colhida pelas hábeis mãos da vida que me mostraram que sem vós não poderia ir mais além.
Tornei-me numa planta perdida na imensidão do jardim da vida, distante e infeliz, sem capacidade para crescer e tornar-me mais forte, dar filhos, alegrar as pessoas à sua passagem. Quis ser maior e tornei-me cada dia mais frágil, tal como uma gota de orvalho que desliza até ao solo onde acaba por morrer, sozinha, perdida, triste.

Reencontro

Voltei. Voltei para te ver. Porque nem a distância que separa os oceanos pode separar-nos a nós.
Entrei nessa nave de ilusão e então senti que não havia nada certo, todos os sentimentos se encontravam numa amálgama e eu, só me apetecia abraçar-te para sempre. Tinha vergonha de voltar a ver-te, que te diria, como agiria, o que acharias de mim?
Caminhei pela terra solta como uma heroína que pisa a passadeira vermelha. Conhecia aquele caminho, tantas as vezes que o percorrera que parecia que as pedras, as covas e as bermas ainda eram as mesmas. As mesmas das manhãs frias, das tardes abrasadoras, dos dias bons e também dos maus.
Todos os dias pensava em ti, sentia saudades daqueles momentos que partilhávamos, das conversas, daquilo que me oferecias com o teu carinho. Então tive medo, que já não te recordasses de mim, que agisses com firmeza e me mostrasses o caminho de regresso.
Na verdade, nada mais sabia. Recordava apenas o antigamente, o passado risonho em que eu era ainda uma menina bonita e imatura. No entanto, recordava-me de ti como se pudesse ver-te diante dos meus olhos todos os dias, com a tua voz meiga e suave, com as palavras sábias, com a presença serena.
Cheguei perto do teu local, o único sítio onde tinha a certeza de poder encontrar-te. Os anos passaram e eu senti-me usada pelo mundo e distante dos sítios e das pessoas que outrora tanto amara. Prometi que voltaria, sempre. Afinal, não passei de uma covarde que pela suposta falta de tempo, ou até de coragem se deixou acomodar com tudo aquilo que a vida colocou no seu caminho.
Tudo estava agora mudado, o sítio que tivera aquele brilho incandescente era agora um mar de desilusões. Os vidros estilhaçados, o pouco ruído que se fazia sentir, as flores sepultadas, as faces revoltadas. Antigamente parece que tudo tinha vida, os vidros limpos, a barulheira constante, as flores saltitantes que queriam deixar a sua raiz e saltar-nos para as mãos.
Contive o desespero, olhei em volta e decidi prosseguir.
Não sabia onde estavas mas, recordando os velhos tempos deixei-me guiar por este coração louco que por vezes é farol, bússola e candeeiro.
Lá estavas tu. Como antes, nas quartas à tarde, no entrelaçar dos nossos sorrisos contínuos. Estava tão feliz por voltar a ver-te, ainda que fosse de longe, que nem tivesses reparado na minha presença. Sabia que apenas por isso já teria sido um bom motivo para estar ali.
Esses mesmos cabelos claros, a pele tingida de neve, os olhos penetrantes que se fixavam por momentos no livro que lias. A literatura, a nossa grande paixão. Quem ama nunca esquece, ouviste? Todos os dias antes de adormecer eu lia, apontava, vociferava para mim como se pudesse dizer-te todas aquelas coisas que me saltavam do pensamento. Em cada frase estavas tu, aquilo que me mostraste, o teu sentido que buscou sempre o melhor caminho no meu próprio mundo.
« Psst! Psst! », que saudades tinha deste som com que te chamava normalmente. Ali, naquele momento, alguns anos depois eu estava a chamar-te novamente, parecia irreal e patético, mas estava feliz com isso. Podia ter-te esquecido para sempre mas isso seria impossível.
Levantaste a cabeça do livro e antes de me olhares tive a certeza de que sabias que era eu quem te chamava, que te pedia que me abraçasses.
Corria até ti, como uma menina ansiosa, queria poder contar-te tudo, dizer-te que o tempo foi traiçoeiro, pedir-te desculpa pela longa ausência.
Mas, tu, não me deixaste falar, abraçaste-me nesses teus braços aconchegantes, beijaste-me a testa e apertaste-me contra ti. Chorámos como duas crianças. Voltei a ver esse brilho nos teus olhos, essa luz, o orgulho com que me olhavas. As tuas palavras foram únicas e inesquecíveis, como se eu as pudesse guardar para sempre nesse livro de memórias que há em mim, disseste-me baixinho: «Querida, bom filho à casa torna». E eu voltei a ser a garota que lia e brincava a teu lado, que por ti seria capaz de dar a própria vida.

quarta-feira, novembro 23, 2005

Os Cavaleiros da Noite

Os Cavaleiros da Noite

Os cavaleiros da noite têm medo do dia. São fortes, poderosos, heróis quando colocados à prova perante apostas miseráveis e patéticas.
São rapazes e raparigas, homens e mulheres, que buscam na noite o consolo para os seus dias menos bons, para os falhanços, para as tristezas. Eis que os vemos alegres, imponentes segurando as garrafas de bebida que prometem fazer esquecer o mundo. Sentem-se felizes, então saltam, pulam, bebem uns copos, parecem loucos vagueando no seu mundo de perdição e exibicionismo. Os outros, os sóbrios que se divertem e buscam alegria riem-se dos seus actos, das suas quedas, das suas palavras embriagadas pela crueldade da vida.
De noite em noite, de bar em bar, tudo é para esquecer.
Bebe-se para esquecer, fumam-se “charros”, cometem-se erros graves julgando que essa é a única saída para um Universo de desespero.
Mas, mesmo sendo os mais fracos, os cavaleiros da noite julgam-se temíveis e indestrutíveis enquanto a escuridão consome a sua vontade de viver.
Depois, vem o dia.
O terrível dia em que a luz toma o lugar da escuridão e o mundo volta a ser de todos e não apenas deles. A ressaca apodera-se-lhes do corpo e leva-lhes a alma. Nesse momento, os imbatíveis tornam-se novamente nos meninos de outrora, suplicam para que a dor se vá e em seu lugar venha a paz dos dias felizes. Porque os cavaleiros da noite são os vagabundos do dia. Os frágeis que se escondem por detrás da faceta de heróis, os que são pessoas diferentes sob efeitos de álcool e narcóticos.
Os cavaleiros da noite, perdem de dia os seus cavalos e caminham a pé, desprovidos de forças, descalços tal como mendigos que buscam uma razão para viver. Caminham sem rumo, sem futuro, sem sonhos, afinal no terminar de cada tarde o sol cede gentilmente o seu lugar à lua e então voltam a ser os senhores do mundo.
Que haja luz capaz de iluminar as vidas sem rumo, carinho capaz de colmatar a falta que vive nos seus espíritos, mãos capazes de guiá-los pelo mundo fora, sem as luzes ofuscantes e o nevoeiro constante das noites de solidão e euforia perdidas entre uma e outra esquina.

Asas Partidas

Vivemos nas entranhas daquilo que somos, no nosso mundo, nas nossas restrições desse jogo de poder e inocência que controlamos na perfeição.
O mundo não faria o menor sentido se não fossemos nós. Sempre nós, os nossos problemas, as nossas alegrias, tristezas, os gritos de dor abafados pela voz rancorosa do mundo.
E tu, serias capazes de deixar de voar para nos oferecer asas de cetim, inquebráveis, invencíveis tal como as tuas?
Voas, voas, voas e as tuas asas jamais se partem.
Voas sozinho pelo mundo, com o coração magoado, como se morresses a cada segundo e no minuto seguinte as tuas asas estivessem lá em cima outra vez, como um pássaro que voa sem fim, rumo aos sonhos, rumo ás fronteiras do nosso ser.
E vais por aí, duvidas da verdade, enganas a mentira, fazes-nos acreditar que ter-te do nosso lado é ter o mundo na palma da mão.
A multidão passa por ti, olha-te como um estranho, chama-te louco, comentam segredando que és diferente, riem-se de ti, troçam dos teus passos determinados.
Tu, sereno e feliz, envolto na nuvem azul do teu ser, respondes sorrindo: Riem-se de mim por ser diferente, eu, rio-me por vocês serem todos iguais.
A multidão toca-te, olha no teu rosto agudizado pelo terror dos dias tristes, querem magoar-te, porque a sociedade vive na fome da vingança, na inveja daqueles que encontram tudo aquilo que os faz felizes.
Tentam derrubar-te a todo o custo, um a seguir do outro, cospem-te na cara, tu sorris para eles, sorris para o mundo, limpas o rosto, segues de cabeça erguida. Querem matar-te, és incómodo para o mundo, denuncias a verdade, o teu talento seria capaz de alimentar os podres e insaciáveis deste mundo.
Perseguem-te, levam punhais escondidos, serão capazes dos actos mais baixos para ferir-te. Mas tu não sentes, os punhais trespassam-te a pele e tu continuas a sorrir como um menino. As armas dos homens jamais poderão retirar-te a vida, porque no teu mundo apenas a caneta é arma de arremesso. Nas folhas brancas a mancha de sangue denuncia a dor em que a sociedade vive.
Ès anjo? Ès escritor? Ès sábio? Ès louco?
Não sei, mas és alguém e isso torna-te mais “pessoa” do que todos nós.
Alguém que vive, que pensa, que é livre, nós, há muito desistimos de crescer, de viver, de sonhar, agora combatemos invejosamente aqueles que continuam a tentar fazê-lo.
Deixámos de ser alguém e passámos a ser algo, como os objectos, como os animais, sem racionalidade, sem coração, sem asas que nos permitam voar.