Encosto o nariz contra o espelho e vejo-te do outro lado, e a mãe sempre a dizer:
- tem cuidado, não vás para longe,
E tu a distanciar-te cada vez mais de ti, a ficar cada vez mais próximo do outro que não te pertence.
Um dia olhar-te-ás ao espelho e não te reconhecerás, porque na verdade, não será a tua imagem reflectida, não serão esses teus olhos brilhantes de criança que nos faziam lembrar estrelas em noites de Verão.
Não te percas,
Não vais para longe,
Sempre a minha voz a perseguir-te, a pedir-te que fiques e sejas feliz, a mostrar-te que a loucura reside em nós mesmos.
Talvez outros se tenham olhado nesse mesmo espelho e pensado o que pensas agora, talvez outros tenham pesado as vitórias e as derrotas, acreditando que isso pode determinar quem sai vencedor ou vencido do duro jogo da vida.
E tu permaneces estático em frente a um espelho de um hotel qualquer, numa cidade qualquer onde te olham como se fosses um bicho (onde tantas vezes te perguntas se não somos, afinal, todos bichos). Paraste apenas para retocar o cabelo, ajeitar o visual, e agora…olha para ti! Que fazes? Interrogaste-te? Pensas? Sonhas? Choras ou sorris?
Será que sabes quem és (será que sabemos quem somos, afinal?)?
Desconheces agora as causas que te impedem de prosseguir, que te acorrentam os pés à tua própria existência como se aquele momento fosse a confirmação completa de que não somos absolutamente nada.
Por instantes recordas as palavras da mãe (não vale a pena esconder, sei que as recordas), pensas no seu olhar doce, no gesto terno, no sorriso afável.
Não és o primeiro nem serás o último. Também eu já sorri ao espelho tentando encontrar a alegria de mim, já me perguntei quem era por me julgar tantas vezes incapaz de me encontrar, já parei e pensei, já escrevi histórias de amor, como as que escreves agora.
As palavras saltam-te da alma e acreditas-te louco, pensas que será a última coisa que fazes porque dali a nada todos te acharão demasiado ridículo para casar e ter filhos, para contar histórias de encantar e embalar berços de meninos.
Cogitas sobre o quão inútil te tornaste, despes o fato do outro que há em ti e vês-te nu ao espelho.
Será que algum dia te vais encontrar? Será que alguma estrada te poderá indicar qual o melhor caminho a seguir?
Tem cuidado, não vás para longe. Não te sintas perdido, pois só se perde quem há muito desistiu de se encontrar.
Isa Mestre
domingo, novembro 18, 2007
sexta-feira, outubro 19, 2007
Pedaços de Mim
O teu cheiro ainda na minha almofada. Passados tantos anos. O teu cheiro ainda na minha almofada. Como se tivesses acabado de acordar de uma folga de verão, como se tivesses acabado de abrir os teus olhos de menino, dizendo-me ainda que me amas.
E, de repente, é tudo mentira. Tu já não estás, os teus lábios já não me dizem de cor as palavras que o coração anseia ouvir. Procuro-te nos corredores gelados da minha solidão e encontro-te na cama de outra, enquanto lhe chamas meu amor, afagando-lhe os cabelos contra o peito, enquanto lhe dizes que a amas, como outrora me disseste, enquanto esqueces que um dia foi nessa cama que estiveste deitado comigo, de barriga voltada para o sonho de casarmos e ter filhos. E eu a pensar que palhaço te tornaste, eu a pensar como queria que fosse a mim que abraçasses, que fosse o meu nome que dissesses todos os dias, eu a pensar como eram felizes os dias em que o meu nome era tudo, em que o teu nome era um mundo a girar em volta do meu corpo.
Eu a chamar-te tolo, mas, no mais profundo de mim, a amar-te como desde o primeiro dia em que me apaixonei, a amar-te ainda como naquele olhar em que me pediste uma caneta, a amar-te ainda como no calor do nosso primeiro beijo, a amar-te ainda como se nenhum outro pudesse preencher o teu lugar.
E, no entanto, todos nós a sabermos que é mentira, todos convictos que um dia destes haverá outro coração a bater em compasso, outro olhar a devorar-me por dentro, outro sorriso a ensinar-me a sorrir.
E tu sabes, tu hás-de saber sempre disto. Por isso, ouve bem esta frase, porque quando nos falta coragem para falar, escrevemos.
Existirás em tudo.
E tu sabes que sim. Existirás na saliva dos beijos que trocarmos, nas promessas que lhes fizer, jurando-lhes amor eterno, existirás nos gemidos de prazer, enquanto eles se julgam poderosos, existirás nas verdades e nas mentiras, nas dúvidas e nas certezas. E quando o meu corpo pousar sobre o deles, a minha alma há-de procurar na tua recordação a certeza de jamais poder amar outro homem como te amei a ti.
Mas, mesmo assim, fingirei. Hei-de passar toda a minha vida a fingir.
Fingir que esqueci, que as horas passadas debaixo do cobertor dos sonhos foram apenas espigas levadas pelo vento, fingir que quando o teu olhar se cruza com o meu não há nenhuma voz que me diga baixinho,
- amo-te,
Como repito para o espelho, acreditando que me vês,
- amo-te,
Como me disseste à porta do elevador num dia de Outono,
- amo-te,
Como quando partiste e me deixaste com os cacos de uma palavra desfeita a fugir-me por entre os dedos das mãos.
Sabes o que dói mais? É não saber como colar as peças partidas.
Isa Mestre
E, de repente, é tudo mentira. Tu já não estás, os teus lábios já não me dizem de cor as palavras que o coração anseia ouvir. Procuro-te nos corredores gelados da minha solidão e encontro-te na cama de outra, enquanto lhe chamas meu amor, afagando-lhe os cabelos contra o peito, enquanto lhe dizes que a amas, como outrora me disseste, enquanto esqueces que um dia foi nessa cama que estiveste deitado comigo, de barriga voltada para o sonho de casarmos e ter filhos. E eu a pensar que palhaço te tornaste, eu a pensar como queria que fosse a mim que abraçasses, que fosse o meu nome que dissesses todos os dias, eu a pensar como eram felizes os dias em que o meu nome era tudo, em que o teu nome era um mundo a girar em volta do meu corpo.
Eu a chamar-te tolo, mas, no mais profundo de mim, a amar-te como desde o primeiro dia em que me apaixonei, a amar-te ainda como naquele olhar em que me pediste uma caneta, a amar-te ainda como no calor do nosso primeiro beijo, a amar-te ainda como se nenhum outro pudesse preencher o teu lugar.
E, no entanto, todos nós a sabermos que é mentira, todos convictos que um dia destes haverá outro coração a bater em compasso, outro olhar a devorar-me por dentro, outro sorriso a ensinar-me a sorrir.
E tu sabes, tu hás-de saber sempre disto. Por isso, ouve bem esta frase, porque quando nos falta coragem para falar, escrevemos.
Existirás em tudo.
E tu sabes que sim. Existirás na saliva dos beijos que trocarmos, nas promessas que lhes fizer, jurando-lhes amor eterno, existirás nos gemidos de prazer, enquanto eles se julgam poderosos, existirás nas verdades e nas mentiras, nas dúvidas e nas certezas. E quando o meu corpo pousar sobre o deles, a minha alma há-de procurar na tua recordação a certeza de jamais poder amar outro homem como te amei a ti.
Mas, mesmo assim, fingirei. Hei-de passar toda a minha vida a fingir.
Fingir que esqueci, que as horas passadas debaixo do cobertor dos sonhos foram apenas espigas levadas pelo vento, fingir que quando o teu olhar se cruza com o meu não há nenhuma voz que me diga baixinho,
- amo-te,
Como repito para o espelho, acreditando que me vês,
- amo-te,
Como me disseste à porta do elevador num dia de Outono,
- amo-te,
Como quando partiste e me deixaste com os cacos de uma palavra desfeita a fugir-me por entre os dedos das mãos.
Sabes o que dói mais? É não saber como colar as peças partidas.
Isa Mestre
quinta-feira, outubro 11, 2007
Choveu dentro de mim
Choveu tanto nessa noite. Choveu demasiado nessa noite. Talvez, se não tivesse chovido tanto, as gotas do teu coração não inundassem o meu como que impregnando-se em cada parte do meu corpo, como que sendo minhas a casa instante.
Hoje, quero sacudir as roupas e pingo por todos os lados. Dizem-me que cheiro a ti, que tenho ainda o teu perfume preso no meu pescoço, a tua boca suavemente encostada ao meu ouvido dizendo-me que me ama. Quero fugir. Corro, corro. Mas para onde ir? Se estás em cada momento, se os teus lábios me perseguem como se me beijassem levemente os ombros depois de fazermos amor.
Imagino-te de pés descalços e camisa encharcada a percorrer-me a casa, a procurar duas chávenas de café bem quentinhas para me acolheres junto ao leito, para me calares esta voz que me diz que não posso ser tua, quando já te pertenço.
E ele lá fora. Ao frio, à chuva, ao vento. Ele que foi buscar os miúdos à escola e lhes preparou o jantar, ele que ligou vezes infinitas, procurando a mulher com quem casou. Procurando quem já não sou.
De um lado para o outro, caminha freneticamente pela rua. Imagino as vezes que terá ligado para o escritório, para a minha mãe, para a minha irmã…imagino as imagens que lhe atravessam a mente e quero voltar. Mas tu estás aqui, como lama presa nos meus sapatos, tu permaneces imóvel e apaixonado, risonho e astuto. E pela primeira vez na vida, tenho a certeza de nunca mais poder voltar a amá-lo como te amo a ti.
Fico calada. As minhas palavras denunciariam a paixão e afinal quem sou eu para sonhar? Eu que tenho os sapatos sujos de lama, que estou submersa na infidelidade de quem usa aliança no dedo e tem o coração amarrado pelos traços do destino.
Aqui, na tua cama, deixo de ser a mãe, a esposa que faz o jantar, que passa a ferro e lava a loiça, deixo de ser a menina de sorriso aberto que casou com o arquitecto bem sucedido, para ser apenas tua. Somente tua.
E, por vezes, o que parece tão pouco significa tanto dentro de nós.
Fico mais um pouco. Vou fingir que esqueço que os miúdos chamam por mim, vou fingir que sou feliz com a vida que tenho lá fora. E quando sair deste quarto, vou deixar-te um bilhete na mesa-de-cabeceira. O que dirá não sei. O que farás depois disso apenas tu poderás saber.
Isa Mestre
Hoje, quero sacudir as roupas e pingo por todos os lados. Dizem-me que cheiro a ti, que tenho ainda o teu perfume preso no meu pescoço, a tua boca suavemente encostada ao meu ouvido dizendo-me que me ama. Quero fugir. Corro, corro. Mas para onde ir? Se estás em cada momento, se os teus lábios me perseguem como se me beijassem levemente os ombros depois de fazermos amor.
Imagino-te de pés descalços e camisa encharcada a percorrer-me a casa, a procurar duas chávenas de café bem quentinhas para me acolheres junto ao leito, para me calares esta voz que me diz que não posso ser tua, quando já te pertenço.
E ele lá fora. Ao frio, à chuva, ao vento. Ele que foi buscar os miúdos à escola e lhes preparou o jantar, ele que ligou vezes infinitas, procurando a mulher com quem casou. Procurando quem já não sou.
De um lado para o outro, caminha freneticamente pela rua. Imagino as vezes que terá ligado para o escritório, para a minha mãe, para a minha irmã…imagino as imagens que lhe atravessam a mente e quero voltar. Mas tu estás aqui, como lama presa nos meus sapatos, tu permaneces imóvel e apaixonado, risonho e astuto. E pela primeira vez na vida, tenho a certeza de nunca mais poder voltar a amá-lo como te amo a ti.
Fico calada. As minhas palavras denunciariam a paixão e afinal quem sou eu para sonhar? Eu que tenho os sapatos sujos de lama, que estou submersa na infidelidade de quem usa aliança no dedo e tem o coração amarrado pelos traços do destino.
Aqui, na tua cama, deixo de ser a mãe, a esposa que faz o jantar, que passa a ferro e lava a loiça, deixo de ser a menina de sorriso aberto que casou com o arquitecto bem sucedido, para ser apenas tua. Somente tua.
E, por vezes, o que parece tão pouco significa tanto dentro de nós.
Fico mais um pouco. Vou fingir que esqueço que os miúdos chamam por mim, vou fingir que sou feliz com a vida que tenho lá fora. E quando sair deste quarto, vou deixar-te um bilhete na mesa-de-cabeceira. O que dirá não sei. O que farás depois disso apenas tu poderás saber.
Isa Mestre
segunda-feira, setembro 17, 2007
Ensaio
Será que ficámos escravos do silêncio? Será que se calaram todas as vozes que ontem disseram as palavras mais belas do mundo, os sentimentos mais puros, os mais nobres e sinceros.
Porque hoje, chamo por ti e não há vozes que me respondam do outro lado da vitrina, não há o teu sorriso de menino nem os teus olhos doces de homem.
Fugiste de casa, disseram-me os teus pais, num ar de crueldade e indiferença, como se, de repente, deixasses de ser assunto deles para te arquivarem junto das coisas que nos metem medo, junto dos fantasmas loucos das nossa mentes, nessa caixinha profunda e triste, nesse secreto baú que todos insistimos em ocultar o nome.
Mas eu sei e eles sabem. Nós sabemos que esse baú guarda todas as horas que passámos juntos e todas as memórias para, mais tarde, agrupá-las com o rasto da desilusão.
Embora eles insistam em dar-lhe outros nomes, aquilo que guardam dentro do peito é a revolta e a tristeza de quem te acolheu carinhosamente nos braços e te viu partir, como pássaro que voa sem rumo.
O que sentem é a revolta de dois seres que não se prepararam para o facto de a vida nos impor determinadas escolhas, de a vida nem sempre ser aquilo que esperamos que ela seja.
Com olhos húmidos e expressão amargurada falam-me do dia em que lhes ensinaste que a tolerância talvez seja o valor mais importante da vida.
- Pai, sou homossexual.
É assim que o teu velho repete a frase que ainda ecoa dentro do seu coração, a frase que fere, que magoa, a frase que marca e que mata pela sua diferença, pela sua inevitabilidade. E como se ainda estivesses diante dele, a mesma cara de surpresa, o mesmo olhar de reprovação, as mesmas perguntas a ressoar dentro do coração, os mesmos som repetidos tantas vezes, tantas vezes…
Os seus olhos inundados de culpa a querer chamar-te,
- Paneleiro de merda,
A querer dizer-te que sejas igual a todos os outros, a querer mostrar-te que tudo pode não passar de uma incerteza tola, os seus olhos ainda a desejar querer abraçar-te e acreditar que tudo não passa de uma mentira.
Há nele o maior peso que transportamos para o mundo: a culpa.
A culpa por não ter sido um pai mais presente, por não te ter ensinado a jogar à bola e a brincar com carrinhos, por não te ter levado às meninas e amestrado a beber cerveja como um verdadeiro homem.
Tolice pensar que podemos evitar as nossas próprias escolhas, delimitar outros caminhos senão aqueles que nos pertencem.
Depois, as lágrimas na face da tua mãe. A tristeza da mulher que já esqueceu a desilusão da diferença e que acredita poder voltar a ter-te do seu lado.
Mas tu partiste. Não lhes ensinaste a lição, não lhes provaste que na vida há que aprender todos os dias, e sobretudo, há que aprender com a diferença, com a excepção. Fugiste. Foste cobarde, incapaz de enfrentar as dificuldades que se atravessaram no teu caminho.
Hoje, tropeças nas memórias que te prendem a casa, encalhas na palavra mãe e descem-te as lágrimas pelo rosto quando ensaias o vocábulo pai. Um dia hás-de cair, porque ninguém segue de cabeça erguida, sem cair pelo menos uma vez na vida.
Volta atrás. Ensina-os a tolerar e ensina-te a perdoar. Corre, luta, grita, salta, ama. Mas nunca sejas cobarde ao ponto de fugir.
Isa Mestre
Porque hoje, chamo por ti e não há vozes que me respondam do outro lado da vitrina, não há o teu sorriso de menino nem os teus olhos doces de homem.
Fugiste de casa, disseram-me os teus pais, num ar de crueldade e indiferença, como se, de repente, deixasses de ser assunto deles para te arquivarem junto das coisas que nos metem medo, junto dos fantasmas loucos das nossa mentes, nessa caixinha profunda e triste, nesse secreto baú que todos insistimos em ocultar o nome.
Mas eu sei e eles sabem. Nós sabemos que esse baú guarda todas as horas que passámos juntos e todas as memórias para, mais tarde, agrupá-las com o rasto da desilusão.
Embora eles insistam em dar-lhe outros nomes, aquilo que guardam dentro do peito é a revolta e a tristeza de quem te acolheu carinhosamente nos braços e te viu partir, como pássaro que voa sem rumo.
O que sentem é a revolta de dois seres que não se prepararam para o facto de a vida nos impor determinadas escolhas, de a vida nem sempre ser aquilo que esperamos que ela seja.
Com olhos húmidos e expressão amargurada falam-me do dia em que lhes ensinaste que a tolerância talvez seja o valor mais importante da vida.
- Pai, sou homossexual.
É assim que o teu velho repete a frase que ainda ecoa dentro do seu coração, a frase que fere, que magoa, a frase que marca e que mata pela sua diferença, pela sua inevitabilidade. E como se ainda estivesses diante dele, a mesma cara de surpresa, o mesmo olhar de reprovação, as mesmas perguntas a ressoar dentro do coração, os mesmos som repetidos tantas vezes, tantas vezes…
Os seus olhos inundados de culpa a querer chamar-te,
- Paneleiro de merda,
A querer dizer-te que sejas igual a todos os outros, a querer mostrar-te que tudo pode não passar de uma incerteza tola, os seus olhos ainda a desejar querer abraçar-te e acreditar que tudo não passa de uma mentira.
Há nele o maior peso que transportamos para o mundo: a culpa.
A culpa por não ter sido um pai mais presente, por não te ter ensinado a jogar à bola e a brincar com carrinhos, por não te ter levado às meninas e amestrado a beber cerveja como um verdadeiro homem.
Tolice pensar que podemos evitar as nossas próprias escolhas, delimitar outros caminhos senão aqueles que nos pertencem.
Depois, as lágrimas na face da tua mãe. A tristeza da mulher que já esqueceu a desilusão da diferença e que acredita poder voltar a ter-te do seu lado.
Mas tu partiste. Não lhes ensinaste a lição, não lhes provaste que na vida há que aprender todos os dias, e sobretudo, há que aprender com a diferença, com a excepção. Fugiste. Foste cobarde, incapaz de enfrentar as dificuldades que se atravessaram no teu caminho.
Hoje, tropeças nas memórias que te prendem a casa, encalhas na palavra mãe e descem-te as lágrimas pelo rosto quando ensaias o vocábulo pai. Um dia hás-de cair, porque ninguém segue de cabeça erguida, sem cair pelo menos uma vez na vida.
Volta atrás. Ensina-os a tolerar e ensina-te a perdoar. Corre, luta, grita, salta, ama. Mas nunca sejas cobarde ao ponto de fugir.
Isa Mestre
sexta-feira, agosto 10, 2007
Meio dia e um quarto
Gosto quando me perguntas se quero sair. Gosto de querer dizer não, de sentir que sou capaz de ir contra a vontade do próprio coração para ensinar a mim mesma uma lição de dignidade. Gosto quando no visor do meu telemóvel se desenham as letras do teu nome.
Nunca tive oportunidade de dizer-te, mas adoro as letras do teu nome.
Sabes, talvez seja esta a parte de mim que gosta de ti.
Vou. Com aliança no dedo, com fotografias a encher-me o quarto e a alma, vou com lembranças de todos os momentos, vou na certeza de amar outro e querer-te só a ti.
Disseste-me que tomaríamos um café, quem sabe trocaríamos dois dedos de conversa numa esplanada qualquer… E eu queria dizer-te que adoro a forma como me olhas, adoro o verde desses teus olhos luminosos, que de noite, parecem dois semáforos que se acendem, mostrando-me, que no amor, tal como na vida, nem tudo é proibido.
Chegaste.
Olho-te. Escondo o olhar. Penso. Sonho. Fujo. Quero fugir. Mas a ideia vem novamente.
Quem me dera poder beijar-te.
Que loucura! Não quero. Não posso. O meu coração não te pertence, há algo que me diz que amo alguém, que alguém me ama, do outro lado, onde não há fronteiras, mas existem nuvens cinzentas depois da poeira dos sonhos. Porque contigo, todos os dias parecem incrivelmente risonhos, porque a teu lado todos os cheiros nos pertencem, todas as cidades nos deambulam entre os dedos das mãos.
Falamos sobre coisas banais. Eu finjo não sentir o que sinto, para deixar de ser quem sou, tu, sorrindo, dando-me a ilusória sensação que brincas com a expressão do meu rosto, dizes baixinho o nome dele.
Como se todas as coisas se acendessem, como se todas as memórias se dispusessem lentamente na mesa onde tomamos café. Apetece-me lançar os braços, agarrar algumas memórias, apetece-me que passem cinco anos, apetece-me estar sentada contigo outra vez, acariciando-te os dedos enquanto te digo,
- Fomos felizes,
Apontando para a memória do outro a quem pertence o meu coração.
E tu sorris. No mais profundo de ti, sabes que te adoro, que desde o primeiro dia houve algo mais que companheirismo e alegria.
Sabes que quero beijar-te e não posso, que quero sorrir-te e me falta liberdade para tal.
Sou tua e não te pertenço. Será sempre assim. Porque nada nos dá a liberdade de magoar quando nunca fomos magoados.
Isa Mestre
Nunca tive oportunidade de dizer-te, mas adoro as letras do teu nome.
Sabes, talvez seja esta a parte de mim que gosta de ti.
Vou. Com aliança no dedo, com fotografias a encher-me o quarto e a alma, vou com lembranças de todos os momentos, vou na certeza de amar outro e querer-te só a ti.
Disseste-me que tomaríamos um café, quem sabe trocaríamos dois dedos de conversa numa esplanada qualquer… E eu queria dizer-te que adoro a forma como me olhas, adoro o verde desses teus olhos luminosos, que de noite, parecem dois semáforos que se acendem, mostrando-me, que no amor, tal como na vida, nem tudo é proibido.
Chegaste.
Olho-te. Escondo o olhar. Penso. Sonho. Fujo. Quero fugir. Mas a ideia vem novamente.
Quem me dera poder beijar-te.
Que loucura! Não quero. Não posso. O meu coração não te pertence, há algo que me diz que amo alguém, que alguém me ama, do outro lado, onde não há fronteiras, mas existem nuvens cinzentas depois da poeira dos sonhos. Porque contigo, todos os dias parecem incrivelmente risonhos, porque a teu lado todos os cheiros nos pertencem, todas as cidades nos deambulam entre os dedos das mãos.
Falamos sobre coisas banais. Eu finjo não sentir o que sinto, para deixar de ser quem sou, tu, sorrindo, dando-me a ilusória sensação que brincas com a expressão do meu rosto, dizes baixinho o nome dele.
Como se todas as coisas se acendessem, como se todas as memórias se dispusessem lentamente na mesa onde tomamos café. Apetece-me lançar os braços, agarrar algumas memórias, apetece-me que passem cinco anos, apetece-me estar sentada contigo outra vez, acariciando-te os dedos enquanto te digo,
- Fomos felizes,
Apontando para a memória do outro a quem pertence o meu coração.
E tu sorris. No mais profundo de ti, sabes que te adoro, que desde o primeiro dia houve algo mais que companheirismo e alegria.
Sabes que quero beijar-te e não posso, que quero sorrir-te e me falta liberdade para tal.
Sou tua e não te pertenço. Será sempre assim. Porque nada nos dá a liberdade de magoar quando nunca fomos magoados.
Isa Mestre
segunda-feira, junho 25, 2007
Esboço de Partida
Seria triste dizer-te adeus, pensei na hora da partida. Seria triste dizer adeus a todos os passos, a todas as escadas que subimos juntos, a todos os bancos onde nos sentámos, a todas as nuvens onde pousámos os nossos sorrisos. Seria triste sorrir-te com lágrimas para te dizer que vou para mais uma etapa, que vou em busca dos mesmos sonhos que trouxe debaixo do braço, como espiga levada pelo vento.
Ainda ontem a aragem doce dos sonhos nos tolhia os rostos assustados de meninos e hoje é o vento de norte a embalar-me os passos, a dizer-me que não posso mais ficar, a provar-me que as minhas pernas se tornaram demasiado pesadas para o caminho a percorrer.
Separam-nos duas portas, dois mundos, duas vidas…separam-nos um adeus e um até já que nunca serei capaz de pronunciar. Mentir-te-ia em ambos os casos, e tu bem sabes, que nas artes da falsidade careço de engenho e perícia.
Mas, afinal, nada muda quando os sonhos permanecem no lugar da memória.
Deixa os teus livros em cima da mesa, amanhã outros olhos olhar-te-ão atentamente, outras mãos buscarão as tuas procurando antídoto para os males do mundo, outros pensamentos se cruzarão com a tua vontade de viver.
Talvez amanhã te lembres de mim, do rosto vago e indefinido por entre os semblantes da multidão, do sorriso maroto e do gesto indelével demarcado no teu coração.
Nunca te direi adeus, nunca caminharei solitária pelo corredor que nos separa para te dizer aquilo que trago junto ao peito. Amanhã, quando perceberes a minha ausência, tenho a certeza que te recordarás dos silêncios entre uma e outra conversa, das pausas amistosas entre sorrisos, e nesse momento, não precisarás de palavras para saber que te adoro.
Vejo-te ainda ao fundo, tento erguer a mão, esboçar algo parecido com um gesto de partida, mas, de pronto, o coração diminui-me os braços para me encher a alma, encolhe-me os dedos para me esticar o sorriso.
Como se diz adeus, quando queremos ficar?
Se ao menos pudéssemos aprender tudo na escola…
Isa Mestre
Ainda ontem a aragem doce dos sonhos nos tolhia os rostos assustados de meninos e hoje é o vento de norte a embalar-me os passos, a dizer-me que não posso mais ficar, a provar-me que as minhas pernas se tornaram demasiado pesadas para o caminho a percorrer.
Separam-nos duas portas, dois mundos, duas vidas…separam-nos um adeus e um até já que nunca serei capaz de pronunciar. Mentir-te-ia em ambos os casos, e tu bem sabes, que nas artes da falsidade careço de engenho e perícia.
Mas, afinal, nada muda quando os sonhos permanecem no lugar da memória.
Deixa os teus livros em cima da mesa, amanhã outros olhos olhar-te-ão atentamente, outras mãos buscarão as tuas procurando antídoto para os males do mundo, outros pensamentos se cruzarão com a tua vontade de viver.
Talvez amanhã te lembres de mim, do rosto vago e indefinido por entre os semblantes da multidão, do sorriso maroto e do gesto indelével demarcado no teu coração.
Nunca te direi adeus, nunca caminharei solitária pelo corredor que nos separa para te dizer aquilo que trago junto ao peito. Amanhã, quando perceberes a minha ausência, tenho a certeza que te recordarás dos silêncios entre uma e outra conversa, das pausas amistosas entre sorrisos, e nesse momento, não precisarás de palavras para saber que te adoro.
Vejo-te ainda ao fundo, tento erguer a mão, esboçar algo parecido com um gesto de partida, mas, de pronto, o coração diminui-me os braços para me encher a alma, encolhe-me os dedos para me esticar o sorriso.
Como se diz adeus, quando queremos ficar?
Se ao menos pudéssemos aprender tudo na escola…
Isa Mestre
quarta-feira, abril 11, 2007
Irmãos do Sonho
Agora a vida é a sério, chama por nós, estica-nos as mãos e espera que as agarremos com toda a força do mundo.
Recordo ainda a voz do pai,
- Um dia a vida será a sério.
É verdade. E nós a pensar que esse dia nunca mais chegaria, que seríamos sempre garotos debaixo das asas do nosso pequeno herói, protegidos pela força do amor que nos unia, nós a pensar que eram tudo palavras soltas no tempo, palavras de pai para ouvidos de filho, palavras de uma alma madura para uma semente em crescimento.
Depois, a vida fez-nos crescer e cresceu connosco.
No rosto do pai há ainda os meninos que fomos ontem, as pedrinhas lançadas em ricochete na ribeira, as fisgas arremessadas à lata pendurada no arame farpado das nossas vidas. Nas suas mãos, ainda os espinhos de uma existência sofrida, as marcas profundas na pele, o desejo de abraçar-nos novamente e sentir os seus dedos de encontro aos nossos.
Onde estamos, meu irmão?
Longe, longe. Como se nos separassem rios distintos, margens intransponíveis, livros onde se escreve o que somos e o que sentimos, ainda que os capítulos sejam intermináveis e repletos de palavras vagabundas.
E o coração, onde o deixámos? Ou será que nos tornámos meras peças de fábrica, produzidas em série?
Que tens tatuado no peito? O amor que nos acolheu ou o frio da ausência que nos mata? Que tens tatuado no peito?
A minha pergunta a percorrer o quarto, a soltar-se pela cidade, a voar em busca dos teus olhos sôfregos e ambiciosos…e lá no fundo de mim, novamente a voz suave, os olhos ternos, o sorriso franco e o gesto alegre,
- Um dia a vida será a sério,
E novamente o teu olhar de miúdo, os braços pequeninos e as mãos singelas, novamente a tua voz de quem quer ser homem assim que a vida lhe permita tamanha ousadia,
- Sim pai, sim pai…
E o pai quase a fingir que acredita que entendeste a lição, quase a virar costas e a sorrir, imaginando-nos homens feitos e de barba rija. Quase.
Afinal, passados tantos anos e tanta vida ainda somos uns meninos.
A infância não cai nem morre, simplesmente, por vezes esquecemo-nos de lembrá-la, e é isso que provoca em nós a ilusória sensação de nos imaginarmos maiores do que somos na realidade.
Um dia a vida será a sério, ouviste?
Isa Mestre
Recordo ainda a voz do pai,
- Um dia a vida será a sério.
É verdade. E nós a pensar que esse dia nunca mais chegaria, que seríamos sempre garotos debaixo das asas do nosso pequeno herói, protegidos pela força do amor que nos unia, nós a pensar que eram tudo palavras soltas no tempo, palavras de pai para ouvidos de filho, palavras de uma alma madura para uma semente em crescimento.
Depois, a vida fez-nos crescer e cresceu connosco.
No rosto do pai há ainda os meninos que fomos ontem, as pedrinhas lançadas em ricochete na ribeira, as fisgas arremessadas à lata pendurada no arame farpado das nossas vidas. Nas suas mãos, ainda os espinhos de uma existência sofrida, as marcas profundas na pele, o desejo de abraçar-nos novamente e sentir os seus dedos de encontro aos nossos.
Onde estamos, meu irmão?
Longe, longe. Como se nos separassem rios distintos, margens intransponíveis, livros onde se escreve o que somos e o que sentimos, ainda que os capítulos sejam intermináveis e repletos de palavras vagabundas.
E o coração, onde o deixámos? Ou será que nos tornámos meras peças de fábrica, produzidas em série?
Que tens tatuado no peito? O amor que nos acolheu ou o frio da ausência que nos mata? Que tens tatuado no peito?
A minha pergunta a percorrer o quarto, a soltar-se pela cidade, a voar em busca dos teus olhos sôfregos e ambiciosos…e lá no fundo de mim, novamente a voz suave, os olhos ternos, o sorriso franco e o gesto alegre,
- Um dia a vida será a sério,
E novamente o teu olhar de miúdo, os braços pequeninos e as mãos singelas, novamente a tua voz de quem quer ser homem assim que a vida lhe permita tamanha ousadia,
- Sim pai, sim pai…
E o pai quase a fingir que acredita que entendeste a lição, quase a virar costas e a sorrir, imaginando-nos homens feitos e de barba rija. Quase.
Afinal, passados tantos anos e tanta vida ainda somos uns meninos.
A infância não cai nem morre, simplesmente, por vezes esquecemo-nos de lembrá-la, e é isso que provoca em nós a ilusória sensação de nos imaginarmos maiores do que somos na realidade.
Um dia a vida será a sério, ouviste?
Isa Mestre
sábado, março 03, 2007
Errante
Não posso calar a tua voz, não posso.
Tu a dizeres que tenho culpa, que nunca deveria ter sido como fui, que nunca deveria ter feito todas as coisas que fiz, que nunca poderia ter existido na tua vida.
Desculpa. Pudesse eu voltar atrás, mudar o rumo dos sonhos, enveredar por uma outra estrada estreita senão aquela em que nos conhecemos: a estrada da vida. Garanto-te que tudo seria diferente. No meu lugar haverias de ter uma rapariga de sonhos firmes e flores presas no cabelo, uma menina que acreditasse que o amor é terno e te fizesse acreditar nisso mesmo.
E agora, que queres fazer? Se eu naquele dia enveredei pela estrada onde também caminhavas com passos firmes e olhar perdido, se eu naquele dia me apaixonei por esse sorriso de menino vagabundo e aventureiro…
Que queres fazer? Matar a verdade, matar os dias como julgaste matar os sentimentos que tens dentro do peito?
Insistes. Não posso calar a tua voz, não posso.
Porque as minhas mãos são frágeis e o meu coração ainda quer se o bilhetinho colado no armário dos teus amores, porque os meus dedos ainda acolhem o pedaço de ouro que me deste em troca de amor e fidelidade.
Não posso matar a culpa, afastar as palavras que um dia te feriram e magoaram. Fui eu. O juiz a perguntar quem é inocente e quem é culpado e a minha voz lá no fundo do teu espírito,
- Fui eu,
Acuso-me. Fui eu. Repito. Fui eu.
Que se passa? Porque te levam a ti? Porque te algemam a vontade de viver e te condenam à grilheta?
Tu gritas. E eu não posso calar a tua voz.
Como te disse, conhecemo-nos na estrada errada. Oxalá esse teu sorriso maroto se tivesse cruzado com os meus olhos ávidos de carinho numa estrada mais longa, onde a vida nos permitisse ser mais do que somos, onde a vida te deixasse ser meu por mais alguns instantes.
Desculpa se te magoei, mas não quero fingir. Não posso.
Acorrentem-me os braços, amordacem-me para não chamar mais pelo teu nome, limpem-me as lágrimas do rosto e coloquem-me a tua imagem junto ao peito. Depois…a vida saberá o que fazer comigo.
Isa Mestre
Tu a dizeres que tenho culpa, que nunca deveria ter sido como fui, que nunca deveria ter feito todas as coisas que fiz, que nunca poderia ter existido na tua vida.
Desculpa. Pudesse eu voltar atrás, mudar o rumo dos sonhos, enveredar por uma outra estrada estreita senão aquela em que nos conhecemos: a estrada da vida. Garanto-te que tudo seria diferente. No meu lugar haverias de ter uma rapariga de sonhos firmes e flores presas no cabelo, uma menina que acreditasse que o amor é terno e te fizesse acreditar nisso mesmo.
E agora, que queres fazer? Se eu naquele dia enveredei pela estrada onde também caminhavas com passos firmes e olhar perdido, se eu naquele dia me apaixonei por esse sorriso de menino vagabundo e aventureiro…
Que queres fazer? Matar a verdade, matar os dias como julgaste matar os sentimentos que tens dentro do peito?
Insistes. Não posso calar a tua voz, não posso.
Porque as minhas mãos são frágeis e o meu coração ainda quer se o bilhetinho colado no armário dos teus amores, porque os meus dedos ainda acolhem o pedaço de ouro que me deste em troca de amor e fidelidade.
Não posso matar a culpa, afastar as palavras que um dia te feriram e magoaram. Fui eu. O juiz a perguntar quem é inocente e quem é culpado e a minha voz lá no fundo do teu espírito,
- Fui eu,
Acuso-me. Fui eu. Repito. Fui eu.
Que se passa? Porque te levam a ti? Porque te algemam a vontade de viver e te condenam à grilheta?
Tu gritas. E eu não posso calar a tua voz.
Como te disse, conhecemo-nos na estrada errada. Oxalá esse teu sorriso maroto se tivesse cruzado com os meus olhos ávidos de carinho numa estrada mais longa, onde a vida nos permitisse ser mais do que somos, onde a vida te deixasse ser meu por mais alguns instantes.
Desculpa se te magoei, mas não quero fingir. Não posso.
Acorrentem-me os braços, amordacem-me para não chamar mais pelo teu nome, limpem-me as lágrimas do rosto e coloquem-me a tua imagem junto ao peito. Depois…a vida saberá o que fazer comigo.
Isa Mestre
sábado, fevereiro 17, 2007
Loucura
Podes tirar o penso da ferida. Eu já sei que existe dor, que há sangue que jamais poderei estancar, já sei que os teus braços e as tuas mãos correm desesperadamente atrás de um mundo que te foge, que me foge, que nos foge.
Não te quero curar as feridas. Não tenho palavras que nos unam, sentimentos que nos façam um do outro, como o mar pertence à terra, como a luz pertence ao dia. Não tenho uma história que te torne meu, porque estendo as mãos e não te sinto a pele, mas sim o vazio das manhãs frias em que te procurei na neblina da madrugada.
Eles dizem que não existes, que és fruto desta árvore que vive em mim, deste mundo de fantasia que tinge as paredes do meu quarto de mil cores e de mil sons.
Eles a dizer,
- É mentira.
E tu dentro de mim, a tua voz em sussurros repetidos,
- Estou aqui.
E eu a saber que estás, a querer olhar mais para dentro de ti, até te ver por completo, até sentir que o teu peito bate com a precisão dos ponteiros do relógio da minha alma.
Ás vezes apetece-me tocar-te, trazer-te pela mão para dentro do meu mundo, ensinar-te cada rosto, cada expressão, cada palavra, cada pessoa que me habita.
E quando eles me levam para os consultórios e me chamam louca, apetece-me dizer-lhes que olhem para ti, porque existes em cada um deles com a mesma alegria e plenitude com quem vives no meu corpo.
Recordo os relatórios pousados sobre a mesa dos homens robustos e de pele queimada pelo tempo, sempre as mesmas letras esquecidas no papel, as letras perdidas entre ti e mim,
- Alienação mental com modificação profunda da personalidade,
Que verdade é esta? A que mentira nos propõem?
Não me chega dizer que sei quem sou, eles querem mais, eles continuam a procurar o teu rasto, como felinos com olfacto apurado e olhos bem abertos na escuridão da noite, eles perguntam,
- Quem vive dentro de ti? ,
E eu respondo com o silêncio. Não me vendo por respostas fáceis, não me deixo comprar pelas ilusões que a vida já me proporcionou. Não sou criança. Antes o fosse…mas não sou .
Calem-se todas as vozes. Porque se minto, o silêncio responderá em meu nome, e se digo verdade, apenas uma voz se unirá à minha para cantarmos a mesma canção.
Escutem! Ouço passos ao longe. Será que és tu, ou o médico que me julga louca?
Apenas um dos dois. Tal como no mundo. Apenas uma escolha. Apenas um destino. Apenas uma vida para uma morte.
Isa Mestre
Não te quero curar as feridas. Não tenho palavras que nos unam, sentimentos que nos façam um do outro, como o mar pertence à terra, como a luz pertence ao dia. Não tenho uma história que te torne meu, porque estendo as mãos e não te sinto a pele, mas sim o vazio das manhãs frias em que te procurei na neblina da madrugada.
Eles dizem que não existes, que és fruto desta árvore que vive em mim, deste mundo de fantasia que tinge as paredes do meu quarto de mil cores e de mil sons.
Eles a dizer,
- É mentira.
E tu dentro de mim, a tua voz em sussurros repetidos,
- Estou aqui.
E eu a saber que estás, a querer olhar mais para dentro de ti, até te ver por completo, até sentir que o teu peito bate com a precisão dos ponteiros do relógio da minha alma.
Ás vezes apetece-me tocar-te, trazer-te pela mão para dentro do meu mundo, ensinar-te cada rosto, cada expressão, cada palavra, cada pessoa que me habita.
E quando eles me levam para os consultórios e me chamam louca, apetece-me dizer-lhes que olhem para ti, porque existes em cada um deles com a mesma alegria e plenitude com quem vives no meu corpo.
Recordo os relatórios pousados sobre a mesa dos homens robustos e de pele queimada pelo tempo, sempre as mesmas letras esquecidas no papel, as letras perdidas entre ti e mim,
- Alienação mental com modificação profunda da personalidade,
Que verdade é esta? A que mentira nos propõem?
Não me chega dizer que sei quem sou, eles querem mais, eles continuam a procurar o teu rasto, como felinos com olfacto apurado e olhos bem abertos na escuridão da noite, eles perguntam,
- Quem vive dentro de ti? ,
E eu respondo com o silêncio. Não me vendo por respostas fáceis, não me deixo comprar pelas ilusões que a vida já me proporcionou. Não sou criança. Antes o fosse…mas não sou .
Calem-se todas as vozes. Porque se minto, o silêncio responderá em meu nome, e se digo verdade, apenas uma voz se unirá à minha para cantarmos a mesma canção.
Escutem! Ouço passos ao longe. Será que és tu, ou o médico que me julga louca?
Apenas um dos dois. Tal como no mundo. Apenas uma escolha. Apenas um destino. Apenas uma vida para uma morte.
Isa Mestre
quarta-feira, janeiro 31, 2007
Emboscada
Caminho pela rua, não sei quem sou.
Chamam-me. Não olho para trás, porque mesmo que o alcatrão me prenda os pés, jamais poderá algemar a minha força de viver, a minha vontade de seguir pela estrada fora e desenhar novos rumos.
Chamam-me. Nas vozes cansadas do tempo, nos acordes perfeitos da vida…apenas o meu nome segredado no ouvido do mundo,
- Rodrigo,
O meu nome a percorrer todas as vozes e a ser todos os corpos,
O meu nome a sorrir e a sonhar,
O meu nome a cair,
O meu nome repleto de sangue,
O meu nome a morrer,
- Rodrigo,
Como da última vez que me chamaste.
- Rodrigo,
Como quando a minha mãe disse à enfermeira que nome me daria.
Mas eu não sei quem sou.
Não olho para trás, não sou esse amontoado de palavras soltas que me percorre e me atinge, que me toca e me mata.
Estou cego. Serás que não vês? A raiva cegou-me os olhos, amarrou-me as mãos atrás das costas e deixou apenas o silêncio dos dias frios.
Depois, segredou-te ao ouvido que viesses à minha procura, que viesses atrás de mim como as mães correm atrás dos filhos no parque.
Hoje, chamas-me e nada sou, porque a tua voz é a raiva que tenho no peito, o punho cerrado dentro do coração, a lágrima perdida no labirinto do sentir.
A tua voz cada vez mais forte,
- Rodrigo, Rodrigo,
E eu quase a ceder, quase a parar, quase a admitir que sou eu, mesmo que queira fugir e dizer que não sei, eu quase a ceder…quase.
Oxalá pudesse perguntar-te por onde andaste todo este tempo, que caminhos percorreste, que vidas viveste, que amores acolheste no teu seio. Mas, a estrada é longa e espera por mim, as mochilas repletas de sonhos são pesadas e empurram-me para o mais fundo da terra.
Não me peças que te espere. Cala essas palavras de desespero que não são mais que réstias de compaixão, tal como migalhas que marcam o caminho de regresso.
Diz o meu nome ao silêncio. Apenas ele te responderá, apenas ele saberá de onde venho e para onde vou. Porque o silêncio é o que sou e o que sinto.
Isa Mestre
sábado, janeiro 13, 2007
A Palavra
Leio-te nos lábios. As tuas palavras falam de amor.
Amor?
Que palavra é essa? ,
perguntam os filhos aos pais ao final do dia.
Os olhos impacientes dos meninos que te ouviram na rua a pregar uma doutrina em que já ninguém acredita… os olhos dos meninos em busca de algumas palavras no seio dos corações.
- O que é o amor, papá? ,
Pergunta ele.
E o senhor fica calado. Tu bem vês o seu silêncio camuflado por detrás da vergonha, da face séria e comprometida.
- Não é nada filho, esquece o que diz aquele senhor.
Seria tão mais fácil esquecer… Tu bem sabes que é isso que todos eles querem. Esquecer que há mundo, que há sentimentos que nos prendem como amarras profundas, que nos prendem e nos sufocam.
Porque, na verdade, vivemos para amar, e essa é uma realidade para a qual nunca estaremos verdadeiramente preparados. Porque amar é uma tarefa dura e as nossas pernas estão cansadas de percorrer o espaço vazio.
Mas, a tua pergunta continua a ecoar no coração do menino. È impossível esquecê-la, porque ele ainda tem dentro de si todos os “porquês” do mundo, todas as palavras desconhecidas e todos os lugares nunca antes vistos.
Porém, o papá nunca lhe negara responder às suas perguntas, o papá nunca lhe dissera que esquecesse.
O menino, na sua voz rouca e inocente, insiste na palavra de cinco letrinhas,
- O que é o amor, papá?
E tu bem vês… O senhor a pegá-lo por um braço, a sacudi-lo num gesto de reprovação, a dizer-lhe baixinho, evitando o escândalo denunciado,
- Bem te disse para não falares com estranhos! ,
E novamente a voz do miúdo, num sussurro,
- Mas…papá…
Pobre menino.
Ele apenas queria saber o que era o amor, o que foi um dia…
Mas, há quem se envergonhe de sentir, de responder com alegria e firmeza face à inocência de um menino. Há quem cale o sentir por detrás da voz sumida, mas se esqueça que tu sabes ler nos lábios.
Amor? Que palavra é essa?
Muitos hão-de perguntar-se, muitos hão-de encontrar respostas sem sair do mesmo lugar.
Muitos hão-de descobrir o que é o amor, tal como o menino que olhou para dentro de si e sorriu.
Isa Mestre
Amor?
Que palavra é essa? ,
perguntam os filhos aos pais ao final do dia.
Os olhos impacientes dos meninos que te ouviram na rua a pregar uma doutrina em que já ninguém acredita… os olhos dos meninos em busca de algumas palavras no seio dos corações.
- O que é o amor, papá? ,
Pergunta ele.
E o senhor fica calado. Tu bem vês o seu silêncio camuflado por detrás da vergonha, da face séria e comprometida.
- Não é nada filho, esquece o que diz aquele senhor.
Seria tão mais fácil esquecer… Tu bem sabes que é isso que todos eles querem. Esquecer que há mundo, que há sentimentos que nos prendem como amarras profundas, que nos prendem e nos sufocam.
Porque, na verdade, vivemos para amar, e essa é uma realidade para a qual nunca estaremos verdadeiramente preparados. Porque amar é uma tarefa dura e as nossas pernas estão cansadas de percorrer o espaço vazio.
Mas, a tua pergunta continua a ecoar no coração do menino. È impossível esquecê-la, porque ele ainda tem dentro de si todos os “porquês” do mundo, todas as palavras desconhecidas e todos os lugares nunca antes vistos.
Porém, o papá nunca lhe negara responder às suas perguntas, o papá nunca lhe dissera que esquecesse.
O menino, na sua voz rouca e inocente, insiste na palavra de cinco letrinhas,
- O que é o amor, papá?
E tu bem vês… O senhor a pegá-lo por um braço, a sacudi-lo num gesto de reprovação, a dizer-lhe baixinho, evitando o escândalo denunciado,
- Bem te disse para não falares com estranhos! ,
E novamente a voz do miúdo, num sussurro,
- Mas…papá…
Pobre menino.
Ele apenas queria saber o que era o amor, o que foi um dia…
Mas, há quem se envergonhe de sentir, de responder com alegria e firmeza face à inocência de um menino. Há quem cale o sentir por detrás da voz sumida, mas se esqueça que tu sabes ler nos lábios.
Amor? Que palavra é essa?
Muitos hão-de perguntar-se, muitos hão-de encontrar respostas sem sair do mesmo lugar.
Muitos hão-de descobrir o que é o amor, tal como o menino que olhou para dentro de si e sorriu.
Isa Mestre
domingo, janeiro 07, 2007
Músicos do Tempo
Subitamente as minhas mãos que se agitam, os meus dedos a mover-se como se diante de mim ainda estivesse o piano onde tocámos tanta vida e construímos tantos sonhos.
Sabes…só hoje entendi que nunca soube tocar piano. Que as minhas mãos não foram mais que instintos do coração, movimentos da alma, sorrisos de dentro do mais profundo de mim.
Eu não sabia tocar piano, eu sabia tocar profundamente nesse coração gelado pelo tempo, pela mágoa e pela dor.
Hoje, sento-me sozinho ao piano e as mãos são analfabetas nessas teclas cansadas do meu olhar ingénuo e perdido.
Onde estão as partituras do nosso amor? Onde?
Perdidas pela casa onde já não existo, onde os meus passos se perdem na tristeza de viver sem ti? Onde?
Escondidas por detrás desses muros altos a que chamamos de solidão? Para além dessa fronteira de estradas e caminhos que nunca percorri?
Oxalá pudesse ir buscá-las, reaprender a tocar essa melodia tantas vezes repetida no silêncio inócuo dos nossos dias.
Mas não posso. Tu sabes que não posso.
Porque ainda gritas lá longe,
- Fica.
Eu fico, não te preocupes, eu fico com a tristeza semeada no lugar do amor, com algo que bate mas não é coração, com algo que sente e não é alma.
E a tua voz lá no fundo,
- Não serves para nada!
Tens razão. Não sirvo para nada. Vão longe os tempos em que o meu sorriso era a alegria no teu olhar, em que os meus dedos se deslocavam suavemente sobre os teus na magia de quem faz da música o derradeiro caminho para a felicidade.
Hoje é tudo ilusão. Sou um vagabundo solitário de mãos vazias e coração aberto.
Não sou músico, como outrora me chamaste, não sou amor, como soletravam os teus lábios na doçura das tardes quentes de Outono. Sou estes dedos que não se cansam de chamar por ti, sou esta música que ecoa no ar sem nunca atingir o seu verdadeiro destino, sou um pássaro de olhos vendados em busca do seu rumo e do seu ninho.
Junto de ti. É aí o meu lugar. Mesmo que digas que não presto e que me queres longe, mesmo que finjas que esqueceste para te entregares nas partituras de outra vida.
Serás sempre aquilo que sou.
Nada mais, nem nada menos que isso. Afinal, nascemos para o que somos.
Isa Mestre
Sabes…só hoje entendi que nunca soube tocar piano. Que as minhas mãos não foram mais que instintos do coração, movimentos da alma, sorrisos de dentro do mais profundo de mim.
Eu não sabia tocar piano, eu sabia tocar profundamente nesse coração gelado pelo tempo, pela mágoa e pela dor.
Hoje, sento-me sozinho ao piano e as mãos são analfabetas nessas teclas cansadas do meu olhar ingénuo e perdido.
Onde estão as partituras do nosso amor? Onde?
Perdidas pela casa onde já não existo, onde os meus passos se perdem na tristeza de viver sem ti? Onde?
Escondidas por detrás desses muros altos a que chamamos de solidão? Para além dessa fronteira de estradas e caminhos que nunca percorri?
Oxalá pudesse ir buscá-las, reaprender a tocar essa melodia tantas vezes repetida no silêncio inócuo dos nossos dias.
Mas não posso. Tu sabes que não posso.
Porque ainda gritas lá longe,
- Fica.
Eu fico, não te preocupes, eu fico com a tristeza semeada no lugar do amor, com algo que bate mas não é coração, com algo que sente e não é alma.
E a tua voz lá no fundo,
- Não serves para nada!
Tens razão. Não sirvo para nada. Vão longe os tempos em que o meu sorriso era a alegria no teu olhar, em que os meus dedos se deslocavam suavemente sobre os teus na magia de quem faz da música o derradeiro caminho para a felicidade.
Hoje é tudo ilusão. Sou um vagabundo solitário de mãos vazias e coração aberto.
Não sou músico, como outrora me chamaste, não sou amor, como soletravam os teus lábios na doçura das tardes quentes de Outono. Sou estes dedos que não se cansam de chamar por ti, sou esta música que ecoa no ar sem nunca atingir o seu verdadeiro destino, sou um pássaro de olhos vendados em busca do seu rumo e do seu ninho.
Junto de ti. É aí o meu lugar. Mesmo que digas que não presto e que me queres longe, mesmo que finjas que esqueceste para te entregares nas partituras de outra vida.
Serás sempre aquilo que sou.
Nada mais, nem nada menos que isso. Afinal, nascemos para o que somos.
Isa Mestre
quarta-feira, dezembro 27, 2006
Duas horas
Posso ir embora quando quiseres, basta uma palavra, um gesto, o teu indicador de encontro à porta que nos separa do mundo lá fora.
Podes mandar-me embora como o fazes com o cão quando chega a casa com as patas sujas de lama e o focinho a latejar. Afinal, também eu estou suja, trago comigo a sujidade de uma vida que não me permite ser mais do que sou, trago comigo a vergonha de um mundo que não me pertence mas que enfrento todos os dias.
Tu telefonaste e eu vim. Já nos conhecemos. Não é a primeira vez que os teus olhares se cruzam com o vazio da minha existência, que o teu desejo se cruza nos caminhos da minha necessidade.
Apetece-me dizer-te que tens uns olhos lindos que parecem sempre querer abraçar o mundo, apetece-me dizer-te que acredito nos sentimentos que tens no peito, que gosto da forma como dispões os livros nas prateleiras, que aprecio a forma como me olhas…
Mas por vezes o silêncio fala tanto, que prefiro permanecer calada no calor que nos acolhe.
Caminho de olhos vendados pelo teu mundo, com passos incertos vou marcando em ti aquilo que sou.
Vimo-nos duas vezes. Mas eu bem sei que não és como todos os outros.
Enquanto eles me pedem desejo e me corrompem a alma, tu olhas-me, sorris-me, dás-me a dignidade que julguei perdida nas avenidas e rotundas da vida.
Não queres minutos de prazer, não queres gemidos nem uma mulher que te faça sentir alguém.
Quando me telefonas eu sei que queres apenas companhia. O teu sorriso e o meu junto da lareira, o teu olhar perdido que me conta todas as histórias do mundo, a dignidade de quem sonha poder enganar o destino.
Sou parte de ti, metade dessa solidão que te assola o peito, metade desta solidão que cresceu comigo e vive aqui, do outro lado do mundo. No lugar onde não me vendo para conseguir dinheiro fácil ao final do mês, onde não finjo prazer para enganar quem me paga, onde não me sinto suja como se chafurdasse na lama um dia inteiro.
Queres oferecer-me dignidade, eu sei, os teus olhos são o reflexo do que te vai na alma.
- Podes tomar banho, se quiseres,
Dizes tu.
Eu sei, dar-me-ias o mundo, mas a sujidade que tenho dentro do peito permaneceria exactamente igual.
Afinal, eu seria sempre a mulher que chamaste por algumas horas, o pedaço de prazer, desejo e loucura que os outros vêem em mim.
Não podes ignorar a verdade.
Sou uma mulher suja. Ouviste?
Não há nada que possa mudá-lo. Nem a tua voz a consolar-me o choro, nem o teu sorriso a envergonhar-me as lágrimas, nem o teu mundo repleto de magia a fazer face à minha escuridão…
Daqui a pouco vou embora. Pagaste por duas horas de companhia, duas horas de mágoa, duas horas roubadas à solidão. Faltam apenas dois minutos. O teu tempo acabou, agora há quem chame do outro lado, quem não queira companhia, quem se sinta vazio e queira roubar-me o corpo e a alma.
Acabou. Mas ao menos tentaste.
Isa Mestre
Podes mandar-me embora como o fazes com o cão quando chega a casa com as patas sujas de lama e o focinho a latejar. Afinal, também eu estou suja, trago comigo a sujidade de uma vida que não me permite ser mais do que sou, trago comigo a vergonha de um mundo que não me pertence mas que enfrento todos os dias.
Tu telefonaste e eu vim. Já nos conhecemos. Não é a primeira vez que os teus olhares se cruzam com o vazio da minha existência, que o teu desejo se cruza nos caminhos da minha necessidade.
Apetece-me dizer-te que tens uns olhos lindos que parecem sempre querer abraçar o mundo, apetece-me dizer-te que acredito nos sentimentos que tens no peito, que gosto da forma como dispões os livros nas prateleiras, que aprecio a forma como me olhas…
Mas por vezes o silêncio fala tanto, que prefiro permanecer calada no calor que nos acolhe.
Caminho de olhos vendados pelo teu mundo, com passos incertos vou marcando em ti aquilo que sou.
Vimo-nos duas vezes. Mas eu bem sei que não és como todos os outros.
Enquanto eles me pedem desejo e me corrompem a alma, tu olhas-me, sorris-me, dás-me a dignidade que julguei perdida nas avenidas e rotundas da vida.
Não queres minutos de prazer, não queres gemidos nem uma mulher que te faça sentir alguém.
Quando me telefonas eu sei que queres apenas companhia. O teu sorriso e o meu junto da lareira, o teu olhar perdido que me conta todas as histórias do mundo, a dignidade de quem sonha poder enganar o destino.
Sou parte de ti, metade dessa solidão que te assola o peito, metade desta solidão que cresceu comigo e vive aqui, do outro lado do mundo. No lugar onde não me vendo para conseguir dinheiro fácil ao final do mês, onde não finjo prazer para enganar quem me paga, onde não me sinto suja como se chafurdasse na lama um dia inteiro.
Queres oferecer-me dignidade, eu sei, os teus olhos são o reflexo do que te vai na alma.
- Podes tomar banho, se quiseres,
Dizes tu.
Eu sei, dar-me-ias o mundo, mas a sujidade que tenho dentro do peito permaneceria exactamente igual.
Afinal, eu seria sempre a mulher que chamaste por algumas horas, o pedaço de prazer, desejo e loucura que os outros vêem em mim.
Não podes ignorar a verdade.
Sou uma mulher suja. Ouviste?
Não há nada que possa mudá-lo. Nem a tua voz a consolar-me o choro, nem o teu sorriso a envergonhar-me as lágrimas, nem o teu mundo repleto de magia a fazer face à minha escuridão…
Daqui a pouco vou embora. Pagaste por duas horas de companhia, duas horas de mágoa, duas horas roubadas à solidão. Faltam apenas dois minutos. O teu tempo acabou, agora há quem chame do outro lado, quem não queira companhia, quem se sinta vazio e queira roubar-me o corpo e a alma.
Acabou. Mas ao menos tentaste.
Isa Mestre
quinta-feira, dezembro 14, 2006
Falso
Sim.
Hoje, não há nada que me impeça de sorrir-te. Esqueci os lamentos, as tristezas, as vezes em que me afastei para sacudir a dor do resguardo profundo da alma.
Mas hoje, prometo que te sorrio, do início ao fim, como no teatro, desde o abrir até ao cerrar das cortinas, desde o despontar do sol até ao nascer da lua que se estende sobre as nossas cabeças.
Não quero saber se amanhã chove, se amanhã o mundo chora por não saber quem somos…não, não quero!
Sou o presente, aquilo que vivo e o que sinto. Sou a tua voz quando estás exausto de gritar, sou o teu sorriso quando os lábios se recusam a sorrir, sou o teu sol quando as nuvens negras ameaçam o mundo.
Seguimos vagabundos pelas avenidas da nossa vida, conduzes loucamente por entre as fileiras intermináveis e eu sorrio, não porque ache piada à imprudência do teu acto, mas porque o teu simples olhar seria razão mais do que suficiente para o meu mundo se abrir a teu lado, tal como um baralho de cartas na mão de um profissional.
A música a sair-te da alma, a inundar-te o corpo repleto de energia…
Penso.
Porquê eu? Porquê tu? Porquê nós?
Porquê? Se enquanto cantas estridentemente eu apenas quero dizer-te que odeio música, se enquanto exuberas de alegria eu apenas quero mostrar-te que o meu mundo é tristeza e silêncio…
Eu já te tinha dito. Não vou mentir mais, estou cansada de mentir.
- Não sou pessoa para ti,
A minha voz a ecoar na amálgama de sons do teu carro, a minha voz a tornar-se cada vez maior, a minha voz a elevar-se sobre a música…e por fim, apenas a minha voz.
(Ouviste?)
- Não sou pessoa para ti.
Desligas a música.
Sinto-me importante. Como uma actriz num palco de sonhos que não é meu, como uma ladra rodeada de seguranças que querem saber a todo o custo porque roubo.
De novo a tua voz a ecoar no silêncio virgem do interior do teu carro,
- Porquê? ,
Quero dizer-te que somos muito diferentes, que nunca será possível amar assim, quero dizer-te que adoro o teu jeito de sorrir, a forma como me abraças, o calor com que te entregas ao mundo. Mas não te imagino meu. Não. Nunca poderia fazê-lo.
Sabes…a alma não se pode propor a enganos que o coração não vende.
- Não te amo,
As minhas palavras levam-te a convicção com que me embalaste por este mundo fora, sinto-me ridícula, como se com um sopro destruísse em breves instantes o castelo de cartas que demorou anos a edificar.
Mas, não posso mentir-te, não posso mentir-me.
Bem sei que dói, que sou cobarde porque insisto em correr atrás de algo que me foge das mãos, que procura luz quando eu vivo na escuridão deste sentimento que me acorrenta.
Pudesse eu amar-te como o amo e faria de ti o homem mais feliz do mundo, ouviria contigo a música das nossas vidas e gritaria como uma louca pelas ruas da cidade… Agora, apenas te posso dizer: Sim.
Sim, a uma amizade que não é amor, a um sorriso que não é de quem ama, mas de quem acarinha. Por isso, hoje, não há nada que me impeça de sorrir-te, nem mesmo os monstros do amor verdadeiro a assolar-me a consciência de um amor fingido.
Isa Mestre
Hoje, não há nada que me impeça de sorrir-te. Esqueci os lamentos, as tristezas, as vezes em que me afastei para sacudir a dor do resguardo profundo da alma.
Mas hoje, prometo que te sorrio, do início ao fim, como no teatro, desde o abrir até ao cerrar das cortinas, desde o despontar do sol até ao nascer da lua que se estende sobre as nossas cabeças.
Não quero saber se amanhã chove, se amanhã o mundo chora por não saber quem somos…não, não quero!
Sou o presente, aquilo que vivo e o que sinto. Sou a tua voz quando estás exausto de gritar, sou o teu sorriso quando os lábios se recusam a sorrir, sou o teu sol quando as nuvens negras ameaçam o mundo.
Seguimos vagabundos pelas avenidas da nossa vida, conduzes loucamente por entre as fileiras intermináveis e eu sorrio, não porque ache piada à imprudência do teu acto, mas porque o teu simples olhar seria razão mais do que suficiente para o meu mundo se abrir a teu lado, tal como um baralho de cartas na mão de um profissional.
A música a sair-te da alma, a inundar-te o corpo repleto de energia…
Penso.
Porquê eu? Porquê tu? Porquê nós?
Porquê? Se enquanto cantas estridentemente eu apenas quero dizer-te que odeio música, se enquanto exuberas de alegria eu apenas quero mostrar-te que o meu mundo é tristeza e silêncio…
Eu já te tinha dito. Não vou mentir mais, estou cansada de mentir.
- Não sou pessoa para ti,
A minha voz a ecoar na amálgama de sons do teu carro, a minha voz a tornar-se cada vez maior, a minha voz a elevar-se sobre a música…e por fim, apenas a minha voz.
(Ouviste?)
- Não sou pessoa para ti.
Desligas a música.
Sinto-me importante. Como uma actriz num palco de sonhos que não é meu, como uma ladra rodeada de seguranças que querem saber a todo o custo porque roubo.
De novo a tua voz a ecoar no silêncio virgem do interior do teu carro,
- Porquê? ,
Quero dizer-te que somos muito diferentes, que nunca será possível amar assim, quero dizer-te que adoro o teu jeito de sorrir, a forma como me abraças, o calor com que te entregas ao mundo. Mas não te imagino meu. Não. Nunca poderia fazê-lo.
Sabes…a alma não se pode propor a enganos que o coração não vende.
- Não te amo,
As minhas palavras levam-te a convicção com que me embalaste por este mundo fora, sinto-me ridícula, como se com um sopro destruísse em breves instantes o castelo de cartas que demorou anos a edificar.
Mas, não posso mentir-te, não posso mentir-me.
Bem sei que dói, que sou cobarde porque insisto em correr atrás de algo que me foge das mãos, que procura luz quando eu vivo na escuridão deste sentimento que me acorrenta.
Pudesse eu amar-te como o amo e faria de ti o homem mais feliz do mundo, ouviria contigo a música das nossas vidas e gritaria como uma louca pelas ruas da cidade… Agora, apenas te posso dizer: Sim.
Sim, a uma amizade que não é amor, a um sorriso que não é de quem ama, mas de quem acarinha. Por isso, hoje, não há nada que me impeça de sorrir-te, nem mesmo os monstros do amor verdadeiro a assolar-me a consciência de um amor fingido.
Isa Mestre
sexta-feira, dezembro 01, 2006
A minha amizade nas mãos do mundo
O teu sorriso quase a fingir que estás feliz, o teu sorriso que mesmo quando a alegria não mora do lado de dentro consegue ser sempre tão puro e sincero. Porque apenas a simplicidade habita nesse mundo.
Por momentos, esqueço as lágrimas que tantas vezes desenharam figuras pelo teu rosto, o sofrimento que vive aí nesse cantinho escondido do peito.
Enquanto sorris esqueço tudo. A fome, o frio, o medo, esqueço os corações que matam lá fora julgando poder vencer o mundo.
Depois, na minha voz sumida,
- Como estás? ,
E tu quase sem saber que me dizer, com as lágrimas a empurrarem-se umas às outras e a ameaçar saltar para o meu mundo.
Beijo-te a face.
Sabes…por vezes é tão difícil fazê-lo, mostrar que estou aqui e és alguém dentro de mim.
Mas eu sei que entenderás, porque o meu beijo é o,
- Conta comigo,
Que os meus lábios jamais conseguirão pronunciar.
Depois, vou embora, levo-te no pensamento, para onde quer que vá, percorra quantos mundos percorrer. Porque hei-de sempre recordar-me, que por mais tristeza que exista , há-de existir sempre um sorriso sincero e terno, um sorriso que vem de dentro e se deposita no meu coração.
Porque apenas tu te entregas ao mundo, naquilo que és, na bondade que te habita, na humildade que te faz, na menina que já é imensamente mulher.
Não te peço que esqueças as tristezas, eu bem sei que é utopia e mentira!
Porém, lembra-te que sem tristeza não haveria alegria, que sem ódio não existiria amor, que sem corações maus seria impossível distingui-los dos bons.
Os homens fazem-se aos poucos, conhecem-se e constroem-se, tal como casas.
Por isso, lembra-te sempre que te cabe a ti escolher os bons tijolos, aqueles que não ruirão à primeira rajada de vento, os que permanecerão firmes quando tudo o resto cair.
Esses tijolos serão o teu sorriso quando a vontade de chorar for maior.
Lembra-te que toda a casa tem bons e maus tijolos, e que sem uns os outros não existiriam.
Sorri, chora, grita, luta, cai, ergue-te e vence.
Mas, faz da vida o teu campo, semeia os teus valores e encarrega-te de vê-los crescer, tal como uma semente que brota sob o olhar atento da mãe.
O meu coração estará sempre aberto para o teu sorriso nobre, para a gargalhada sincera, para essa amizade tão grande que não cabe nas mãos do mundo.
Isa Mestre
Por momentos, esqueço as lágrimas que tantas vezes desenharam figuras pelo teu rosto, o sofrimento que vive aí nesse cantinho escondido do peito.
Enquanto sorris esqueço tudo. A fome, o frio, o medo, esqueço os corações que matam lá fora julgando poder vencer o mundo.
Depois, na minha voz sumida,
- Como estás? ,
E tu quase sem saber que me dizer, com as lágrimas a empurrarem-se umas às outras e a ameaçar saltar para o meu mundo.
Beijo-te a face.
Sabes…por vezes é tão difícil fazê-lo, mostrar que estou aqui e és alguém dentro de mim.
Mas eu sei que entenderás, porque o meu beijo é o,
- Conta comigo,
Que os meus lábios jamais conseguirão pronunciar.
Depois, vou embora, levo-te no pensamento, para onde quer que vá, percorra quantos mundos percorrer. Porque hei-de sempre recordar-me, que por mais tristeza que exista , há-de existir sempre um sorriso sincero e terno, um sorriso que vem de dentro e se deposita no meu coração.
Porque apenas tu te entregas ao mundo, naquilo que és, na bondade que te habita, na humildade que te faz, na menina que já é imensamente mulher.
Não te peço que esqueças as tristezas, eu bem sei que é utopia e mentira!
Porém, lembra-te que sem tristeza não haveria alegria, que sem ódio não existiria amor, que sem corações maus seria impossível distingui-los dos bons.
Os homens fazem-se aos poucos, conhecem-se e constroem-se, tal como casas.
Por isso, lembra-te sempre que te cabe a ti escolher os bons tijolos, aqueles que não ruirão à primeira rajada de vento, os que permanecerão firmes quando tudo o resto cair.
Esses tijolos serão o teu sorriso quando a vontade de chorar for maior.
Lembra-te que toda a casa tem bons e maus tijolos, e que sem uns os outros não existiriam.
Sorri, chora, grita, luta, cai, ergue-te e vence.
Mas, faz da vida o teu campo, semeia os teus valores e encarrega-te de vê-los crescer, tal como uma semente que brota sob o olhar atento da mãe.
O meu coração estará sempre aberto para o teu sorriso nobre, para a gargalhada sincera, para essa amizade tão grande que não cabe nas mãos do mundo.
Isa Mestre
quarta-feira, novembro 15, 2006
O silêncio dos dias felizes
Aqui o silêncio não nos mata, não nos fere, não nos magoa.
Aqui o silêncio é a palavra mais bela do mundo, o eco mais profundo da alma, o silêncio é a tua voz e a minha quando estamos calados e nos assenta tão bem esse ar de ingenuidade.
Quando tu dizes,
- não há palavras,
E eu bem sei que não as há, eu bem sei quantas outras vezes preenchemos a ar de sons vazios e sem sentido, e tu também sabes, tu também sonhas que os homens nunca hão-de ter palavras nos momentos verdadeiramente felizes.
Havemos de ficar para sempre olhando-nos, procurando o que não se encontra, sonhando como tolos no palco de alegrias que é a vida.
Por isso, hei-de continuar a olhar sem saber que dizer, e quando me disseres que não tens palavras eu hei-de dizer-te que sou feliz.
Hei-de dizer-te aquilo que não se diz todos os dias, hei-de fazer-te sorrir como sorriste quando provaste o teu primeiro caramelo. E mais tarde, contá-lo-ás aos teus filhos, aos teus netos, dir-lhe-ás que no espaço do silêncio encontraste o amor, que na casa vazia da ausência encontraste a flor mais bela do mundo: a felicidade.
Nunca te esqueças de dizer-lhes que não há palavras para os momentos de felicidade, que não há sons quando a música dos sonhos nos embala a vida.
Sabes…talvez por isso sinta tanto a tua falta… porque o ar está cheio de palavras e não consigo agarrar nenhuma delas, porque as pessoas estão repletas de sons que me ensurdecem os ouvidos e me cegam a alma. E eu, perdida em mim, preciso apenas de silêncio. Do silêncio de quando nos olhávamos como se não existisse mais ninguém no mundo, do silêncio dos momentos felizes que hoje são demasiado grandes e não cabem na porta, do silêncio da felicidade que partiu como uma pena levada pelo vento…sem rumo, sem destino.
Sinto falta de te ter junto a mim e de ouvirmos o mar na sua melodia de revolta, o riso louco das flores que brincam no jardim, quando apenas nós sentimos, quando apenas nós nos acreditamos vivos num mundo de tanta gente a desejar a morte.
Não peço palavras que me façam esquecer que estou só no mundo, não peço sorrisos que me ensinem a sorrir, só peço o silêncio dos dias felizes. E tu, que pedes?
Isa Mestre
Aqui o silêncio é a palavra mais bela do mundo, o eco mais profundo da alma, o silêncio é a tua voz e a minha quando estamos calados e nos assenta tão bem esse ar de ingenuidade.
Quando tu dizes,
- não há palavras,
E eu bem sei que não as há, eu bem sei quantas outras vezes preenchemos a ar de sons vazios e sem sentido, e tu também sabes, tu também sonhas que os homens nunca hão-de ter palavras nos momentos verdadeiramente felizes.
Havemos de ficar para sempre olhando-nos, procurando o que não se encontra, sonhando como tolos no palco de alegrias que é a vida.
Por isso, hei-de continuar a olhar sem saber que dizer, e quando me disseres que não tens palavras eu hei-de dizer-te que sou feliz.
Hei-de dizer-te aquilo que não se diz todos os dias, hei-de fazer-te sorrir como sorriste quando provaste o teu primeiro caramelo. E mais tarde, contá-lo-ás aos teus filhos, aos teus netos, dir-lhe-ás que no espaço do silêncio encontraste o amor, que na casa vazia da ausência encontraste a flor mais bela do mundo: a felicidade.
Nunca te esqueças de dizer-lhes que não há palavras para os momentos de felicidade, que não há sons quando a música dos sonhos nos embala a vida.
Sabes…talvez por isso sinta tanto a tua falta… porque o ar está cheio de palavras e não consigo agarrar nenhuma delas, porque as pessoas estão repletas de sons que me ensurdecem os ouvidos e me cegam a alma. E eu, perdida em mim, preciso apenas de silêncio. Do silêncio de quando nos olhávamos como se não existisse mais ninguém no mundo, do silêncio dos momentos felizes que hoje são demasiado grandes e não cabem na porta, do silêncio da felicidade que partiu como uma pena levada pelo vento…sem rumo, sem destino.
Sinto falta de te ter junto a mim e de ouvirmos o mar na sua melodia de revolta, o riso louco das flores que brincam no jardim, quando apenas nós sentimos, quando apenas nós nos acreditamos vivos num mundo de tanta gente a desejar a morte.
Não peço palavras que me façam esquecer que estou só no mundo, não peço sorrisos que me ensinem a sorrir, só peço o silêncio dos dias felizes. E tu, que pedes?
Isa Mestre
sexta-feira, novembro 03, 2006
Cresci, mamã!
A noite cai sobre nós, eu continuo a ralhar-te, continuo a acreditar que ainda sou a luz que te pode indicar o melhor caminho a seguir, que ainda posso desviar-te dos atalhos perigosos e devolver-te à inocência dos teus oito anos de idade.
Tu bem sabes que não, bem sabes que a vida nos guia pelo caminho que os nossos próprios passos marcam, afinal tu queres apenas dizer-me que aprenderás por ti próprio, que aprenderás com as feridas que doem mas curam, com as quedas que te derrubam mas te ajudam a crescer.
Eu continuarei a ralhar-te, a fingir que te posso salvar do mundo, proteger-te junto de mim como se estivesses numa redoma de vidro e ninguém te pudesse tocar.
Como sou rídicula...
Sou mãe, e embora seja cruel dizê-lo, todas as mães são ridículas.
Porque até último dia da tua vida continuarei a acreditar que posso resguardar-te de todo o sofrimento, que posso oferecer-te aquilo que mais ninguém te dará pela vida fora. Acreditarei que precisarás sempre de mim , mesmo que por vezes pareças esquecer que existo, mesmo que por vezes eu pense em voz alta,
-São miúdos...
Sim, para mim serás sempre um miúdo, o garoto que me pedia gelados e danoninhos de banana, o puto que com os olhos brilhantes de alegria suplicava por uma história ao final da noite.
E a tua voz sempre a dizer-me,
- Cresci, mãe, cresci.
E eu a fingir que nem te ouço, como quando tinhas nove ou dez aninhos e te dirijias à fita métrica colada no roupeiro e gritavas estridentemente,
- Cresci, mãe, cresci.
E para mim, ainda é tudo igual, porque embora tenhas crescido em centímentos , os homens fazem-se pelas mãos da vida, e essas segurar-te-ão e ensinar-te-ão até morrer.
Quando estiveres triste, ainda chamarás por mim no silêncio da tua alma, na súplica do teu olhar de homem que por momentos voltará a ser o menino que corria para os meus braços em busca de consolo...quando estiveres triste, dirás,
- Mamã, mamã... (como disseste tantas outras vezes)
Não te cansarás de repeti-lo até que as minhas palavras te sosseguem o espírito, até que a tua agitação apazigue nos meus braços, como quando eras menino e te acalmava o choro.
Hoje, não mais adormecerás no meu colo, mas procurá-lo-ás como consolo para os teus falhanços, como abrigo para as tempestades da vida, como antídoto para o ódio que por vezes parece apoderar-se do coração.
Partilharei com as minhas amigas a alegria de ter-te a meu lado, tal como no dia em que me chamaste "mamã", como no dia em que te nasceu o primeiro dentinho, como no dia em que deste os primeiros passos, dir-lhes-ei,
- O meu menino...
O meu menino que cresceu, que se fez homem aos poucos, que hoje reclama independência enquanto ainda chama por mim na escuridão da noite.
Vai meu amor, vai! Não posso nem devo impedir-te. A vida é isto mesmo. Partidas e chegadas.
Eu ainda me lembro... do cheiro a colónia de bebé, do teu fatinho azul quando te trouxe do hospital, eu ainda me lembro do brilho a inundar-me os olhos e do orgulho a ocupar todos os espaços ainda vazios do teu novo quarto.
Tudo foi perfeito. O berço, o bebé, o papá, a mamã, a família toda em teu redor e eu ansiosa que todos se fossem para estarmos a sós: apenas tu e eu, no mundo colorido que fomos ao longo de nove meses.
Hoje, volvidos um par de anos, vividos tantos momentos, passadas tantas horas e tantos dias, é hora de partir, de dizer,
-Até logo mamã,
Até logo meu amor, vai com as asas dos sonhos e constrói o teu próprio ninho, sê feliz porque só quem é feliz sabe voar pelos céus da vida.
(Para ti, que estás aí desse lado e tens as mãos cheias de carinho,escuta, são para ti estas palavras. Sente-as, vive-as. Sim, eu sei que o farás.)
Isa Mestre
Isa Mestre
sábado, outubro 28, 2006
Folha de Outono
Ainda que não quisesse, ter-te-ia trazido comigo nessa tarde de Outono. Porque foi no teu rosto que se encontraram os meus passos perdidos, foi no teu olhar que o meu amor renasceu, como uma flor que desabrocha depois da escuridão, depois da morte.
Nunca esquecerei os teus olhos que me pediam carinho, eram mundos espelhados no azul profundo do teu olhar, mundos diferentes dos que conhecera. Porque ao olhar os outros homens, senti-os vazios, ocos de sentimento, porém contigo foi diferente, porque os teus olhos pediam carinho e os deles sempre pediram desejo.
Porque não precisavas de roupas de marca e perfumes caros, porque conquistavas com o que tinhas dentro do peito, não precisavas de te sentir cheio de futilidade para finalmente seres alguém no mundo.
Só tu sorrias como nunca vi sorrir ninguém, o sorriso terno, os dentinhos brancos e brilhantes nessa boquinha de sinceridade, nessa ternura tão tua que desde o primeiro momento sonhei minha.
Por fim, o anel no dedo, o anel a dizer-me que não estás ali, que não és o homem que desejei naquele momento, que não és aquele que conheci e deixei escapar por entre os dedos vadios da vida. O anel a dizer-me para eu te esquecer, a dizer-me que já tens o coração ocupado e não tenho o direito de aparecer, de aparecer para te dizer aquilo que nunca te disse, para te mostrar o que sempre te escondi, para ser, finalmente, quem nunca fui, para te dizer somente: Amo-te.
Porém, talvez o nevoeiro me tenha cegado a vista e impedido de ver que o tempo passa, que o tempo apaga e esquece, que o tempo se encarrega de devolver vida a quem por momentos julgou perdê-la.
Deixa lá, eu esqueço, eu vou e nem te digo que estou aqui, eu sou cobarde e egoísta, eu sou!
Mas, esse anel no dedo paralisa-me os passos, cala-me as palavras, mata-me o amor com que sonhei durante anos. Afinal, eu só queria saber, eu só esconderia as lágrimas por detrás das cortinas do meu rosto e perguntar-te-ia aquilo que nunca tive coragem de perguntar-te,
- És feliz?
Não perguntaria se casaste, se tiveste filhos, se me esqueceste...não!
- És feliz? - apenas esta pergunta a ecoar dentro de mim, a escrever aquilo que sinto, a perguntar-te num sussuro aquilo que alma sempre quis saber, aquilo que alimenta o coração e te deixa tão nu perante o meu olhar.
Mas, não tenho esse direito. Quem sou eu? Quem sou eu dentro de ti? Ainda te lembras?
Aproximo-me timidamente enquanto lês o jornal, sento-me a teu lado e permaneço no silêncio da tarde de Outono passada no parque... Eu, apenas perdida no meu mundo de ilusões...passados tantos anos apenas sozinha, sozinha e vazia porque os sonhos já não me habitam, porque os pássaros já não cantam.
Tu, entregue ao mundo, quieto e calado quando apenas sinto os olhinhos a movimentar-se de uma linha para a outra.
Sento-me a teu lado e volto a ser a menina que te procurava ansiosamente na sala de aula.
Não sei que te diga, não sei que te chame, agora, só sei que te amo. Agora, o tempo cortou-me as asas, roubou-me as palavras, gastou-me os nomes...porque eu só sei que te amo.
Isa Mestre
Nunca esquecerei os teus olhos que me pediam carinho, eram mundos espelhados no azul profundo do teu olhar, mundos diferentes dos que conhecera. Porque ao olhar os outros homens, senti-os vazios, ocos de sentimento, porém contigo foi diferente, porque os teus olhos pediam carinho e os deles sempre pediram desejo.
Porque não precisavas de roupas de marca e perfumes caros, porque conquistavas com o que tinhas dentro do peito, não precisavas de te sentir cheio de futilidade para finalmente seres alguém no mundo.
Só tu sorrias como nunca vi sorrir ninguém, o sorriso terno, os dentinhos brancos e brilhantes nessa boquinha de sinceridade, nessa ternura tão tua que desde o primeiro momento sonhei minha.
Por fim, o anel no dedo, o anel a dizer-me que não estás ali, que não és o homem que desejei naquele momento, que não és aquele que conheci e deixei escapar por entre os dedos vadios da vida. O anel a dizer-me para eu te esquecer, a dizer-me que já tens o coração ocupado e não tenho o direito de aparecer, de aparecer para te dizer aquilo que nunca te disse, para te mostrar o que sempre te escondi, para ser, finalmente, quem nunca fui, para te dizer somente: Amo-te.
Porém, talvez o nevoeiro me tenha cegado a vista e impedido de ver que o tempo passa, que o tempo apaga e esquece, que o tempo se encarrega de devolver vida a quem por momentos julgou perdê-la.
Deixa lá, eu esqueço, eu vou e nem te digo que estou aqui, eu sou cobarde e egoísta, eu sou!
Mas, esse anel no dedo paralisa-me os passos, cala-me as palavras, mata-me o amor com que sonhei durante anos. Afinal, eu só queria saber, eu só esconderia as lágrimas por detrás das cortinas do meu rosto e perguntar-te-ia aquilo que nunca tive coragem de perguntar-te,
- És feliz?
Não perguntaria se casaste, se tiveste filhos, se me esqueceste...não!
- És feliz? - apenas esta pergunta a ecoar dentro de mim, a escrever aquilo que sinto, a perguntar-te num sussuro aquilo que alma sempre quis saber, aquilo que alimenta o coração e te deixa tão nu perante o meu olhar.
Mas, não tenho esse direito. Quem sou eu? Quem sou eu dentro de ti? Ainda te lembras?
Aproximo-me timidamente enquanto lês o jornal, sento-me a teu lado e permaneço no silêncio da tarde de Outono passada no parque... Eu, apenas perdida no meu mundo de ilusões...passados tantos anos apenas sozinha, sozinha e vazia porque os sonhos já não me habitam, porque os pássaros já não cantam.
Tu, entregue ao mundo, quieto e calado quando apenas sinto os olhinhos a movimentar-se de uma linha para a outra.
Sento-me a teu lado e volto a ser a menina que te procurava ansiosamente na sala de aula.
Não sei que te diga, não sei que te chame, agora, só sei que te amo. Agora, o tempo cortou-me as asas, roubou-me as palavras, gastou-me os nomes...porque eu só sei que te amo.
Isa Mestre
domingo, outubro 08, 2006
A neblina da despedida
Poderia simplesmente partir, mas não quero.
Sento-me no leito das ondas e penso em ti.
Recordo-me das conversas à beira-mar, dos encontros no corredor da escola, dos sorrisos entre uma e outra alegria, das lágrimas nos intervalos frios da tristeza.
Eu poderia simplesmente partir...mas não posso, não posso e não quero.
Antes tenho de encontrar-te, abraçar-te com tudo aquilo que existe em mim, dizer-te as palavras maduras que em tempos me pareceram verdes e ridículas.
Tu mereces, tu mereces.
Não preciso de procurar-te porque sempre soube onde encontrar-te, sempre soube em que porta bater, sempre soube que sorriso me receberia...eu sempre soube e hoje ainda sei.
Por isso espero...toco nervosamente na campainha e espero...Oxalá nunca o tivesse feito, tomara tivesse sido bem mais fácil dizer-te adeus, como se dentro de mim não faltasse alguma coisa que fica aqui entre mim e ti , algo que não posso levar na mala.
O olhar foge-me para o teu carro, o pensamento diz-me que estás ali, que dentro de pouco tempo me abrirás a porta e eu permanecerei quieta sem saber que dizer-te, sem saber como te diga que vou, que vou e não sei quando volto, que vou e só vim para me despedir, que vou e só vim porque és importante, porque te adoro, porque viverás no meu coração até ao último dia da minha vida.
Tu não abres.Ouço o eco da campainha... e cá fora, o frio das despedidas, o cinzento do teu carro a mostrar-me de que cor se tinge o meu dia, as gotas de humidade no pára-brisas a mostrar-me quantas lágrimas chorarei por ti.
Já ouço os teus passos a aproximar-se da porta, já sinto o teu cheiro a misturar-se com a humidade que cai sobre mim, já pressinto as tuas mãos tocando suavemente na fechadura que te separa do mundo cá fora.
Chamas-me...
- Miúda...
Que saudades, que saudades sentirei de ouvir-te chamar-me assim, de ver-te sorrir, de me segurares as mãos quentes e me transportares um pouco de alento para dentro da alma...
Tu chamaste-me como todas as vezes, como nos dias de alegria, como nas tardes de tristeza, como nas gargalhadas, como nas chatices...
Agora, que me chamaste uma vez mais...como dizer-te que vou?
Tenho a voz entorpecida pela crueldade da vida, o coração gelado pelas tempestades que arrasam o meu cais, as mãos frias pelo gelo que se apoderou dos nossos mundos...estou triste e digo-te,
- Vou.
Como quando me perguntavas se queria ir beber um cafézinho,
- Vou.
Como quando afirmavas que teria força para fazer frente à vida,
- Vou.
Como quando sorrias e perguntavas se ia contigo,
- Vou.
Mas, tu bem sabes...o verbo é o mesmo, mas este ir é tão mais difícil que o outro...
Ainda que queira esconder o sentimento, está-me espelhada na cara a dor que sinto por partir, por vir aqui hoje e dizer-te secamente,
- Adeus.
Adeus, porque eu não tenho mais palavras, porque o que sinto não me sai dos lábios, vive no coração.
Pedes-me para entrar, mas eu fico, eu fico porque daqui a nada vou embora e nunca mais me vês, porque afinal só vim dizer-te que te adoro sem precisar de usar uma única palavra, eu só vim mostrar-te que falamos a mesma língua: a do sentimento.
Por isso, depois das palavras ditas, depois da amálgama de sentimentos que nos trespassa o peito, abraço-te apenas, como se naquele abraço não houvesse malas de angústia e sacos de dor...Como se eu fosse apenas, como se naquele abraço me transportasses para o aeroporto e eu te visse acenar-me lá do fundo.
- Nunca te esquecerei, sabes?
È claro que sabes!
Um beijo na cara, um até sempre, um “gosto muito de ti”, um adeus que nunca serei capaz de pronunciar, um sentimento que me salta do peito e se semeia no teu coração.
Isa Mestre
quarta-feira, setembro 27, 2006
Sozinho
Quantas antes de mim?
Quantos rostos antes do meu? Quantos sorrisos antes dos meus dentinhos a desenhar o teu mundo? Quantos?
E agora...apenas tu, tu e a mulher da rua, sentados no mesmo banco, esperando-me.
Não te olho, caminho de olhos vendados e imagino-te: a sorrir, sempre a sorrir, porque se não sorrisses não serias o mundo que procuro, mas réstia da escuridão que há muito encontrei.
Abro os olhos, porém não te vejo.
Apenas a mulher de rua, a cara magra e o corpo faminto, os olhos que parecem pedir mundos que me escapam por entre os dedos das mãos.
A pele tisnada pelo destino, as mãos sujas da miséria, os olhos gastos da vida.
Hoje, não te vou abraçar.
Só hoje, sentar-me-ei ao lado dessa mulher e falaremos sobre a vida, só hoje aprenderei a permanecer calada quando as nuvens negras ameaçarem o meu céu sempre tão azul, sempre tão profundo, sempre tão limpo.
Depois, enquanto me olhas e me pedes que te beije, procurarei desesperadamente nos bolsos alguns trocos...trocos de dor, trocos de culpa, trocos de quem não suporta ver a fome bater-lhe à porta sem saber que dar-lhe de comer.
Fingirei que não houve mundo depois disso naquela noite.
Fingirei que não me beijaste e não me disseste que me amavas, fingirei que não te apoderaste do meu corpo levando-me algures para outro mundo...
Porque na verdade, eu nunca estive contigo.
O coração permanece onde o olhar se perde.
E eu fiquei, no rosto daquela mulher, nas suas mãos desossadas e frias, ávidas de se aquecerem na fogueira da vida.
Embora os teus bracinhos me guiassem pela rua fora e as tuas palavras tentassem escrever mundos dentro de mim, eu fiquei, e tu sabes que eu fiquei.
Quando jantámos não precisámos de talheres porque comemos o amargo silêncio da dor, lambemos as feridas profundas do coração e ficámos ainda com o sabor do sangue na boca.
Ao amanhecer, senti-me só.
Pétala de rosa abandonada ao vento, espiga de trigo lançada sobre a seara.
De resto, nada mais, apenas o frio da solidão a congelar-me todas as partes do corpo.
Sabes... Pensei em ti.
A solidão dói e tu estiveste sozinho nessa noite, sempre sozinho.
Isa Mestre
Quantos rostos antes do meu? Quantos sorrisos antes dos meus dentinhos a desenhar o teu mundo? Quantos?
E agora...apenas tu, tu e a mulher da rua, sentados no mesmo banco, esperando-me.
Não te olho, caminho de olhos vendados e imagino-te: a sorrir, sempre a sorrir, porque se não sorrisses não serias o mundo que procuro, mas réstia da escuridão que há muito encontrei.
Abro os olhos, porém não te vejo.
Apenas a mulher de rua, a cara magra e o corpo faminto, os olhos que parecem pedir mundos que me escapam por entre os dedos das mãos.
A pele tisnada pelo destino, as mãos sujas da miséria, os olhos gastos da vida.
Hoje, não te vou abraçar.
Só hoje, sentar-me-ei ao lado dessa mulher e falaremos sobre a vida, só hoje aprenderei a permanecer calada quando as nuvens negras ameaçarem o meu céu sempre tão azul, sempre tão profundo, sempre tão limpo.
Depois, enquanto me olhas e me pedes que te beije, procurarei desesperadamente nos bolsos alguns trocos...trocos de dor, trocos de culpa, trocos de quem não suporta ver a fome bater-lhe à porta sem saber que dar-lhe de comer.
Fingirei que não houve mundo depois disso naquela noite.
Fingirei que não me beijaste e não me disseste que me amavas, fingirei que não te apoderaste do meu corpo levando-me algures para outro mundo...
Porque na verdade, eu nunca estive contigo.
O coração permanece onde o olhar se perde.
E eu fiquei, no rosto daquela mulher, nas suas mãos desossadas e frias, ávidas de se aquecerem na fogueira da vida.
Embora os teus bracinhos me guiassem pela rua fora e as tuas palavras tentassem escrever mundos dentro de mim, eu fiquei, e tu sabes que eu fiquei.
Quando jantámos não precisámos de talheres porque comemos o amargo silêncio da dor, lambemos as feridas profundas do coração e ficámos ainda com o sabor do sangue na boca.
Ao amanhecer, senti-me só.
Pétala de rosa abandonada ao vento, espiga de trigo lançada sobre a seara.
De resto, nada mais, apenas o frio da solidão a congelar-me todas as partes do corpo.
Sabes... Pensei em ti.
A solidão dói e tu estiveste sozinho nessa noite, sempre sozinho.
Isa Mestre
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