quinta-feira, setembro 07, 2006

Fico

Porque vieste se sabes que vou? Se sabes que a vida são partidas e chegadas.
Porquê? Vieste para dizer-me "fica", ou vais continuar a calar esse grito que te atormenta? Vais continuar a fingir que está tudo bem? Que não sentes, que nunca sentes...?
Eu já sei que é tudo mentira.
Já vi o que há para além do homem arranjado que usa perfumes caros e se barbeia todos os dias, eu já vi a luz que te percorre todos os poros do corpo, eu já vi que me amas.
Não precisas acender o cigarro e dizer-me que te apeteceu falar, já não precisas coçar a orelha timidamente enquanto bates suavemente com o pé no chão.
Estás nervoso, eu sei.
Revejo-me. Quantas vezes estive assim? Quantas vezes fui a menina apaixonada que tremia, que esbracejava, que sorria com medo de sorrir, que ajeitava o cabelo e perguntava ao coração quantas mais vezes bateria ele assim...
Não te preocupes, já não precisas de dizer-me que sou importante para ti, que as nossas birrinhas foram apenas loucuras de dois jovens em busca de um lugar no mundo, já não precisas atirar o cigarro pela janela fora e fingir que não se passa nada.
Eu sei, eu sempre soube.
Mesmo quando disseste que me odiavas eu sabia que naquela palavra estava a maior expressão de amor, quando foste embora eu soube que voltarias, quando choraste eu soube que sorririas, quando me olhaste eu soube que jamais poderias olhar outra mulher assim.
O amor sente-se, conhece-se, aprende-se.
Sentas-te outra vez, ainda começas a frase,
- Sabes...
Vamos, diz, diz lá o que anda preso nesse coração, esse sentimento tão lindo que te fez vir até aqui, que te fez perder dois autocarros e estar diante de mim com esse olhar brilhante.
Não consegues terminar a frase, o amor retira-nos as palavras, torna-nos tolos em todos os momentos, mata-nos a naturalidade.
Eu sei tudo.
Sei que acordaste e pensaste que era mulher para ti, sei que te olhaste ao espelho e ajeitaste os caracóis que eu tanto gosto, sei que te fixaste na minha fotografia e repetiste milhares de vezes o que irias dizer-me.
E agora estás sem palavras.
Não te preocupes querido, o silêncio segredou-me ao ouvido o que querias dizer-me.
Eu sempre soube.
Mas porquê apenas hoje? Hoje que vou, que nada me pode impedir, hoje que olho como uma louca para os bilhetes de avião enquanto me dizes que me amas.
Eu ia em busca do meu sonho...quem julgas que és? Já não sou a menina que deixaria tudo e correria para os teus braços...
A vida ensina, a vida castiga, magoa, mas ensina.
Perguntas-me se acredito no amor. Pergunta tola. Já sabes a resposta, porque perguntas? Para encher o ar de palavras? Para te sentires um pouco melhor enquanto eu vou ao quarto e carrego nas mãos as minhas duas malas? Para teres a certeza que essa pergunta há-de ecoar na minha alma até ao final dos meus dias?
- Claro que acredito.
E tu sorris.
Fica, fica, fica. Pareces um cachorrinho à volta dos donos, pedindo ossinhos e carinho. Também é isso que queres. Ossinhos e carinho.
Talvez seja também isso que quero, ter-te só para mim, dormir a teu lado e chamar-te cabeçudo na manhã seguinte, perguntar-te tudo aquilo que ainda me atormenta e ouvir-te carinhosamente a desfazer todas as minhas dúvidas.
Que sentido faria partir? Sobrevoar o mar e atingir as estrelas? Porquê, para quê? Se tu és o meu mar em noites de tempestade, se és a minha estrela quando o mundo parece mergulhado na escuridão, se és um único sentimento por entre tanta gente que nunca soube sentir.
- Amo-te,
dizes.
Cala-te. Essa palavra está gasta, é bonita mas está gasta. Guarda-a dentro de ti e usa-a um dia mais tarde, um dia em que te sentes à lareira e contes aos teus netinhos a nossa história. Aí dir-lhe-ás: Como a amava...
E a palavra será novamente bela, ganhará luz, voltará a transportar para dentro de mim algo que me peça vida.
Por agora, fica apenas. Afinal eu já sei tudo, sempre soube.
Não vou, fico contigo, sempre quis ficar, sempre quis saber que te perdia para finalmente te encontrar, para te ouvir dizer que te faço falta, que sou especial, que não posso ir....Eu sempre quis ver-te chorar por mim. O amor é também vingança, ou não fossem todas as vezes que chorei por ti.
Mas eu fico, fico e amo-te.

Isa Mestre

4 comentários:

Anónimo disse...

xii isa...ta lindo...=) gostei mt...

Anónimo disse...

Isa, simplesmente adoro a forma como escreves. tenho uma coisa mto breve a dizer-te...Investe neste teu talento! é raro encontrar alguem na nossa idade que se interesse pela escrita e a leitura da forma que tu te entregas! gostei deste texto, alias como de todos os que ja li =)

Anónimo disse...

Xkrevex mxm mt bem..ta lindoo!..kontinua...

Anónimo disse...

Xkrevex mxm mt bem..ta lindoo!..kontinua...