sexta-feira, agosto 10, 2007

Meio dia e um quarto

Gosto quando me perguntas se quero sair. Gosto de querer dizer não, de sentir que sou capaz de ir contra a vontade do próprio coração para ensinar a mim mesma uma lição de dignidade. Gosto quando no visor do meu telemóvel se desenham as letras do teu nome.
Nunca tive oportunidade de dizer-te, mas adoro as letras do teu nome.
Sabes, talvez seja esta a parte de mim que gosta de ti.
Vou. Com aliança no dedo, com fotografias a encher-me o quarto e a alma, vou com lembranças de todos os momentos, vou na certeza de amar outro e querer-te só a ti.
Disseste-me que tomaríamos um café, quem sabe trocaríamos dois dedos de conversa numa esplanada qualquer… E eu queria dizer-te que adoro a forma como me olhas, adoro o verde desses teus olhos luminosos, que de noite, parecem dois semáforos que se acendem, mostrando-me, que no amor, tal como na vida, nem tudo é proibido.
Chegaste.
Olho-te. Escondo o olhar. Penso. Sonho. Fujo. Quero fugir. Mas a ideia vem novamente.
Quem me dera poder beijar-te.
Que loucura! Não quero. Não posso. O meu coração não te pertence, há algo que me diz que amo alguém, que alguém me ama, do outro lado, onde não há fronteiras, mas existem nuvens cinzentas depois da poeira dos sonhos. Porque contigo, todos os dias parecem incrivelmente risonhos, porque a teu lado todos os cheiros nos pertencem, todas as cidades nos deambulam entre os dedos das mãos.
Falamos sobre coisas banais. Eu finjo não sentir o que sinto, para deixar de ser quem sou, tu, sorrindo, dando-me a ilusória sensação que brincas com a expressão do meu rosto, dizes baixinho o nome dele.
Como se todas as coisas se acendessem, como se todas as memórias se dispusessem lentamente na mesa onde tomamos café. Apetece-me lançar os braços, agarrar algumas memórias, apetece-me que passem cinco anos, apetece-me estar sentada contigo outra vez, acariciando-te os dedos enquanto te digo,
- Fomos felizes,
Apontando para a memória do outro a quem pertence o meu coração.
E tu sorris. No mais profundo de ti, sabes que te adoro, que desde o primeiro dia houve algo mais que companheirismo e alegria.
Sabes que quero beijar-te e não posso, que quero sorrir-te e me falta liberdade para tal.
Sou tua e não te pertenço. Será sempre assim. Porque nada nos dá a liberdade de magoar quando nunca fomos magoados.

Isa Mestre