terça-feira, maio 31, 2005

Senta-te e chora...

Quando não tiveres mais forças para prosseguir: senta-te e chora...
Chora como um menino, chora como uma criança à qual o mundo ainda não lhe ensinou o seu verdadeiro sentido.
Não tenhas medo de chorar, as lágrimas ajudar-te-ão a crescer, não tenhas vergonha de o fazer, pois tolos são os que não choram.
Não tenhas medo de errar, pois que não erra também não aprende, não tenhas medo de pousar o teu rosto belo no meu ombro e lacrimejar...
Pedir-te-ia que viesses comigo para esse mundo onde não existe dor, mas não tenho esse direito.
Os teus olhos estão inchados do choro, cobertos pelas mãos que escondem a vergonha de um homem ainda pouco maduro, estás a crescer e mal te apercebes. O teu mundo de adolescente parece sempre imensamente traiçoeiro, e onde deveriam surgir as alegrias aparecem subitamente as tristezas.
Diz-me pequeno herói - Quantas vezes quiseste chorar? Quantas vezes desejaste o carinho daqueles que te amam para te ajudarem a superar as dificuldades? Quantas?
Os teus quinze anos de nada servem, são apenas o colorir de uma vida que será para sempre escrita em tons monótonos. Ainda que durante alguns minutos acredites que podes segurar o mundo na palma da mão, no minuto seguinte percebes que o deixaste escapar por entre os dedos.
Sentes-te incompreendido, perdido nessa dimensão à qual julgas não pertencer, queres chorar mas, faltam-te as forças e sobra-te o orgulho.
Olhas-te ao espelho e vês um rosto perdido e cansado, o rosto de um adolescente coberto de borbulhas e com uma expressão ensonada. Sorris tentando disfarçar a tua revolta mas, nunca conseguirás enganar-me, porque sinto o mesmo que tu. Todos o sentimos. Todos sorrimos, todos choramos.
Por isso pequeno jovem não te julgues sozinho no mundo, não te afastes do carinho e do aconchego que os outros podem dar-te, vem senta-te e chora...

Rascunhos de alma

São tolos os que não pensam, mas mais tolos são os que não sentem.
Que frieza impera nessas expressões tristes e monótonas? Para onde foi o brilho dos nossos sorrisos? Onde está a energia e a alegria com que viemos ao mundo?
A nossa existência é feita de puros momentos de extâse, dos sentimentos que albergamos em nós e da nossa própria “essência”.
Há muito que nos habituámos a cingir por estúpidas regras que nos levam apenas à mesquinhice e ao egoísmo.
Quem somos nós? Aqueles que nas ruas vêem os mendigos e são incapazes de levar-lhes algum carinho, os que preferem estar “alegres” através do álcool do que pela sua expressão natural... Digam-me!
Que sociedade é esta? Talvez seja a voz da revolta que fala, mas deparamo-nos constantemente com uma sociedade que não sabe sentir.
Uma sociedade regida pelos interesses, pelo dinheiro que corrompe os nossos sentimentos.
Falava sobre voluntariado um dia destes, e sabem aquilo que ouvi destes humanos que se julgam senhores do mundo? Ouvi que não fariam voluntariado porque não eram remunerados. Para os jovens de hoje em dia, tal como eu, é duro ver esta realidade, esta ilha, este beco sem saída em que se encontra a humanidade.
Bem sei que os jovens não se devem preocupar com assuntos que pela sua perplexidade mais de identificam com os adultos, mas como podemos ficar indiferentes? Como podemos referenciar as nossas belas experiências quando à nossa volta o céu está cinzento e carregado de injustiça?
Nós queríamos um mundo melhor, nós desejávamos que no futuro pudéssemos melhores exemplos para os nossos filhos. Nós queríamos crescer sem o fantasma da guerra a nosso lado, nós queríamos viver sem a ameaça permanente da morte...
Filhos do mundo, filhos do vento, filhos da chuva e do Sol, é isso que somos todos.
Não interessa se uns são mais ricos e outros mais pobres, se uns vivem e outros morrem, se uns são mais felizes e outros menos, se uns são heróis e outros desconhecidos, o que importa é aquilo que existe cá dentro. Quer sejamos novos ou velhos, os sentimentos e os laços que nos prendem a este mundo serão para sempre infindáveis.
As nossas regras compostas numa sociedade em decadência serão apenas a crista de uma enorme onda, na qual navega a profundeza do nosso Ser.
Seremos sempre nós... Nós, os outros e aquilo que sentimos em relação ao mundo.
Enquanto tudo isso existir, então estamos vivos, para nós e para a Humanidade.

Fugitiva

Todos fomos felizes um dia. Tivémos os nossos momentos de euforia, glória ou emoção. Todos lutámos pelos nossos ideias, todos corremos atrás daquilo que nos tornava felizes, todos sorrimos, todos chorámos.
Tocámos a felicidade com as nossas hábeis mãos, sentimo-la com os frágeis corações e quisemos agarra-la para sempre. Não tivémos esse direito, nunca o teremos.
Porque a felicidade é uma fugitiva que corre, salta e se esconde, que aparece e volta a escapar-nos por entre os dedos, como quem busca sempre um novo lugar. Apenas ela surge na neblina suave da noite e nos mostra o seu manto branco, nos leva a voar sobre as suas poderosas asas e nos volta a devolver à vida. Depois... desaparece.
Esconde-se por entre os refúgios da nossa infância, por entre as fragilidades dos nossos sentimentos, perde-se nas ruelas que nos guiam pelo mundo fora. Quando acreditamos tê-la ali tão perto, eis que nos sentimos novamente vazios , ansiosos por buscar a companheira de sempre, a eterna amiga dos bons momentos.
Faz-nos falta a sua capacidade de colocar o sorriso mais sincero do mundo nestes rostos de quem vive arduamente na senda da vida. Sentimos saudade do seu toque, da sua expressão breve, do seu olhar, do calor com que nos aconchegava e revestia as nossas humildes origens. Para ela não havia diferenças, todos podíamos encontrá-la, bastava apenas que lutássemos até ao fim, que ganhássemos essa partida de encontros e desencontros. Alguns prosseguiram, ambiciosos e conquistadores, ávidos por atingi-la e conquistá-la por completo. Outros, resignaram-se, habituaram-se à derrota, saíram de cabeça baixa exibindo com orgulho a bandeira da rendição.
Uns foram felizes, outros continuaram buscando a felicidade a todo o custo.
Ela continua fugindo, como uma criminosa , como uma simples rajada de vento.
Acena-nos lá do fundo, sorri-nos, faz-nos caretas... Mostra-nos que seremos capazes de segurar o seu corpo frágil, os seus pés cintilantes que se movem com perfeição sobre o nosso mundo.
Nós, partimos, corremos, caímos, levantamo-nos e prosseguimos na tentativa de apanhá-la, queremos o seu corpo tocando no nosso, queremos fixar as suas raízes nas nossas e crescer, crescer sempre com um sorriso nos lábios.

Isa Mestre

Neblina

Na neblina da noite perco-te os passos, esqueço que um dia existimos, abraço o vazio como se pudesse abraçar-te.
E nas ruas, o silêncio que um dia criámos, o ar que respirámos, os lugares onde estivemos, tudo o que partilhámos...
Contei-te histórias, de embalar, de encantar, de sorrir e de chorar. Nessa amálgama de abraços construímos a nossa própria fogueira, aquecemo-nos com o lume da vida.
A nossa amizade nunca teve o seu tempo, o seu espaço, o seu significado, apenas existia, e a sua simplicidade marcava a diferença.
No meu quarto as músicas que um dia ouvimos, os gestos, as palavras, as loucuras, tudo está à distância de um simples toque, de um vaguear pela mente desconhecida.
O cheiro do teu perfume, a lembrança do teu rosto singular, os cabelos que te afogavam a cara num misto de beleza e incerteza.
Fomos amigos, um dia fomo-lo com todas as nossas forças e sentimentos.
Talvez nunca nos tivéssemos apercebido, mas, na verdade os maiores amigos são aqueles que o são sem nos darmos conta disso.
Revejo-te novamente diante de mim, cintilante, alegre, tocas nos cabelos e olhas nos meus olhos como se com um simples olhar pudesses tocar-me.
Estás feliz. Sorris para mim e eu sorrio para ti.
Fixamo-nos por momentos, como se nos esquecemos dos nossos papéis neste mundo, como se esquecêssemos as falas, os sentimentos e as acções.
Continuo a olhar nos teus doces olhos, esperando que dos teus perfeitos lábios saiam os signos que te percorrem o pensamento. Mas, continuas calado, apenas esses teus olhos negros dão vida a um corpo imóvel.
Esquecemo-nos do mundo, da plateia gloriosa que nos rodeia, que nos aplaude e nos apupa, agora somos apenas nós.
Faremos aquilo que o coração mandar, seremos escravos desse sentimento tão bonito que nos prende como fortes correntes.
A nossa amizade será sempre a mais forte e sincera, embora saibamos que um dia perdêramo-la.
Quando uma amizade se perde, não há culpados, não há julgados, apenas restam os inocentes, os que sofreram na pele a dor de perder alguém.
Por isso, fomos ambos inocentes neste golpe cruel.
Tu erraste, eu errei.
Nós errámos, como tantos outros o fizeram. Apenas isso...

Isa Mestre






Na neblina da noite perco-te os passos, esqueço que um dia existimos, abraço o vazio como se pudesse abraçar-te.
E nas ruas, o silêncio que um dia criámos, o ar que respirámos, os lugares onde estivemos, tudo o que partilhámos...
Contei-te histórias, de embalar, de encantar, de sorrir e de chorar. Nessa amálgama de abraços construímos a nossa própria fogueira, aquecemo-nos com o lume da vida.
A nossa amizade nunca teve o seu tempo, o seu espaço, o seu significado, apenas existia, e a sua simplicidade marcava a diferença.
No meu quarto as músicas que um dia ouvimos, os gestos, as palavras, as loucuras, tudo está à distância de um simples toque, de um vaguear pela mente desconhecida.
O cheiro do teu perfume, a lembrança do teu rosto singular, os cabelos que te afogavam a cara num misto de beleza e incerteza.
Fomos amigos, um dia fomo-lo com todas as nossas forças e sentimentos.
Talvez nunca nos tivéssemos apercebido, mas, na verdade os maiores amigos são aqueles que o são sem nos darmos conta disso.
Revejo-te novamente diante de mim, cintilante, alegre, tocas nos cabelos e olhas nos meus olhos como se com um simples olhar pudesses tocar-me.
Estás feliz. Sorris para mim e eu sorrio para ti.
Fixamo-nos por momentos, como se nos esquecemos dos nossos papéis neste mundo, como se esquecêssemos as falas, os sentimentos e as acções.
Continuo a olhar nos teus doces olhos, esperando que dos teus perfeitos lábios saiam os signos que te percorrem o pensamento. Mas, continuas calado, apenas esses teus olhos negros dão vida a um corpo imóvel.
Esquecemo-nos do mundo, da plateia gloriosa que nos rodeia, que nos aplaude e nos apupa, agora somos apenas nós.
Faremos aquilo que o coração mandar, seremos escravos desse sentimento tão bonito que nos prende como fortes correntes.
A nossa amizade será sempre a mais forte e sincera, embora saibamos que um dia perdêramo-la.
Quando uma amizade se perde, não há culpados, não há julgados, apenas restam os inocentes, os que sofreram na pele a dor de perder alguém.
Por isso, fomos ambos inocentes neste golpe cruel.
Tu erraste, eu errei.
Nós errámos, como tantos outros o fizeram. Apenas isso...

Isa Mestre