domingo, agosto 16, 2009

Talvez

Disse,
- Posso ainda fazer-te feliz. E as palavras a soarem tão sinceras, tão breves, por momentos tão melódicas quanto verdadeiras. Depois, o teu olhar, o teu sorriso, depois todas as coisas às quais nunca saberei ao certo que nome dar.
Ela pergunta-me se esqueci.
Como poderia esquecer?,
Apetece-me dizer-lhe.
Fico em silêncio. Estou demasiado habituada a ele. Somos dois desconhecidos a habitar o mesmo espaço, os mesmos sete palmos de terra que por vezes se assemelham a uma mão repleta de solidão a querem abraçar-nos com fulgor, pedindo-nos que fiquemos, que fiquemos para sempre.
Ela olha-me, eu devolvo-lhe o olhar. Há meses que assim é. Há meses que luta por uma palavra, por uma frase, por um latido que denuncie a minha dor. Preocupa-se comigo. Consigo sabê-lo, consigo senti-lo. De certa forma, creio que a única razão que a traz aqui é tentar perceber se ainda estou viva.
Que poderia dizer-lhe? Que saberia eu dizer-lhe quando inúmeras vezes sei tão pouco.
Talvez um dia lhe conte a nossa história. Talvez um dia lhe conte do dia em que te disse com olhos brilhantes e voz serena,
- Posso ainda fazer-te feliz,
Talvez lhe conte do dia em que partiste. Talvez lhe conte do dia em que nunca mais pudeste voltar. Talvez doa. Talvez magoe. Talvez.
Por momentos sou ainda a menina de olhar doce e palavras embaladas pelo vento,
-Posso ainda fazer-te feliz.
Por momentos és ainda a única pessoa que soube e pude amar,
- Sabes que fujo da felicidade a sete pés.
Tinhas razão. Fugiste mais rápido que o próprio tempo, mas esqueceste-te que depois da morte apenas o amor pode curar os corações partidos.

Isa Mestre