quinta-feira, setembro 17, 2009

Demanda

Usaste poucas palavras. Ensinaste-me desde sempre que não precisamos utilizar muitas se o fizermos com o coração, se o fizermos como se nos amássemos em cada letra, como se nos abraçássemos em cada verbo.
- sou a mulher mais triste do mundo,
Disseste.
Sem deter-me nos pormenores, sorri ao papel que se estendia diante dos meus olhos. Confesso que, de certa forma sempre me fascinou essa tua atracção pelo dramatismo, esse misto de ligeireza e leviandade.
Gostava de poder-te tê-lo dito um dia. Um dia em que os corações se calassem para ouvir apenas a voz que, de quando em vez, ecoa no seu interior, que, de quando em vez, se une na batida descompassada de um amor a quem nunca poderão ser impostos limites.
- sou o homem mais triste do mundo,
(Acredito que a fragilidade é, de certa forma, contagiosa.)
Continuo a escrever-te. Nada me pode deter. Prometi dizer-te tudo apenas numa carta, prometi poupar-te à tristeza das minhas metáforas e à inabilidade dos meus oximoros.
Afinal tu bem sabes, não há nada mais aborrecido do que casar com um escritor.
Pediste-me para ficar só. Sorri-te. Afinal, o que é o amor senão solidão?
Não tenhas medo. Não te pedirei para ficar. Não há cartões de embarque com passaportes caducados.
Nunca poderás perdoar-me, eu sei. Nunca poderás entender que é na dor que encontramos o mais perfeito miradouro para o coração, o mais completo caminho rumo ao sentimento.
Disseste,
- sou a mulher mais triste do mundo,
Não tenho coragem de ler o final da frase. Dói-me a inevitabilidade do verbo que se segue.
Talvez tenhas razão, talvez eu seja apenas mais um daqueles a quem falta arte e sobeja hipocrisia.

Isa Mestre