terça-feira, maio 31, 2005

Fugitiva

Todos fomos felizes um dia. Tivémos os nossos momentos de euforia, glória ou emoção. Todos lutámos pelos nossos ideias, todos corremos atrás daquilo que nos tornava felizes, todos sorrimos, todos chorámos.
Tocámos a felicidade com as nossas hábeis mãos, sentimo-la com os frágeis corações e quisemos agarra-la para sempre. Não tivémos esse direito, nunca o teremos.
Porque a felicidade é uma fugitiva que corre, salta e se esconde, que aparece e volta a escapar-nos por entre os dedos, como quem busca sempre um novo lugar. Apenas ela surge na neblina suave da noite e nos mostra o seu manto branco, nos leva a voar sobre as suas poderosas asas e nos volta a devolver à vida. Depois... desaparece.
Esconde-se por entre os refúgios da nossa infância, por entre as fragilidades dos nossos sentimentos, perde-se nas ruelas que nos guiam pelo mundo fora. Quando acreditamos tê-la ali tão perto, eis que nos sentimos novamente vazios , ansiosos por buscar a companheira de sempre, a eterna amiga dos bons momentos.
Faz-nos falta a sua capacidade de colocar o sorriso mais sincero do mundo nestes rostos de quem vive arduamente na senda da vida. Sentimos saudade do seu toque, da sua expressão breve, do seu olhar, do calor com que nos aconchegava e revestia as nossas humildes origens. Para ela não havia diferenças, todos podíamos encontrá-la, bastava apenas que lutássemos até ao fim, que ganhássemos essa partida de encontros e desencontros. Alguns prosseguiram, ambiciosos e conquistadores, ávidos por atingi-la e conquistá-la por completo. Outros, resignaram-se, habituaram-se à derrota, saíram de cabeça baixa exibindo com orgulho a bandeira da rendição.
Uns foram felizes, outros continuaram buscando a felicidade a todo o custo.
Ela continua fugindo, como uma criminosa , como uma simples rajada de vento.
Acena-nos lá do fundo, sorri-nos, faz-nos caretas... Mostra-nos que seremos capazes de segurar o seu corpo frágil, os seus pés cintilantes que se movem com perfeição sobre o nosso mundo.
Nós, partimos, corremos, caímos, levantamo-nos e prosseguimos na tentativa de apanhá-la, queremos o seu corpo tocando no nosso, queremos fixar as suas raízes nas nossas e crescer, crescer sempre com um sorriso nos lábios.

Isa Mestre

Sem comentários: