domingo, outubro 08, 2006

A neblina da despedida



Poderia simplesmente partir, mas não quero.
Sento-me no leito das ondas e penso em ti.
Recordo-me das conversas à beira-mar, dos encontros no corredor da escola, dos sorrisos entre uma e outra alegria, das lágrimas nos intervalos frios da tristeza.
Eu poderia simplesmente partir...mas não posso, não posso e não quero.
Antes tenho de encontrar-te, abraçar-te com tudo aquilo que existe em mim, dizer-te as palavras maduras que em tempos me pareceram verdes e ridículas.
Tu mereces, tu mereces.
Não preciso de procurar-te porque sempre soube onde encontrar-te, sempre soube em que porta bater, sempre soube que sorriso me receberia...eu sempre soube e hoje ainda sei.
Por isso espero...toco nervosamente na campainha e espero...Oxalá nunca o tivesse feito, tomara tivesse sido bem mais fácil dizer-te adeus, como se dentro de mim não faltasse alguma coisa que fica aqui entre mim e ti , algo que não posso levar na mala.
O olhar foge-me para o teu carro, o pensamento diz-me que estás ali, que dentro de pouco tempo me abrirás a porta e eu permanecerei quieta sem saber que dizer-te, sem saber como te diga que vou, que vou e não sei quando volto, que vou e só vim para me despedir, que vou e só vim porque és importante, porque te adoro, porque viverás no meu coração até ao último dia da minha vida.
Tu não abres.Ouço o eco da campainha... e cá fora, o frio das despedidas, o cinzento do teu carro a mostrar-me de que cor se tinge o meu dia, as gotas de humidade no pára-brisas a mostrar-me quantas lágrimas chorarei por ti.
Já ouço os teus passos a aproximar-se da porta, já sinto o teu cheiro a misturar-se com a humidade que cai sobre mim, já pressinto as tuas mãos tocando suavemente na fechadura que te separa do mundo cá fora.
Chamas-me...
- Miúda...
Que saudades, que saudades sentirei de ouvir-te chamar-me assim, de ver-te sorrir, de me segurares as mãos quentes e me transportares um pouco de alento para dentro da alma...
Tu chamaste-me como todas as vezes, como nos dias de alegria, como nas tardes de tristeza, como nas gargalhadas, como nas chatices...
Agora, que me chamaste uma vez mais...como dizer-te que vou?
Tenho a voz entorpecida pela crueldade da vida, o coração gelado pelas tempestades que arrasam o meu cais, as mãos frias pelo gelo que se apoderou dos nossos mundos...estou triste e digo-te,
- Vou.
Como quando me perguntavas se queria ir beber um cafézinho,
- Vou.
Como quando afirmavas que teria força para fazer frente à vida,
- Vou.
Como quando sorrias e perguntavas se ia contigo,
- Vou.
Mas, tu bem sabes...o verbo é o mesmo, mas este ir é tão mais difícil que o outro...
Ainda que queira esconder o sentimento, está-me espelhada na cara a dor que sinto por partir, por vir aqui hoje e dizer-te secamente,
- Adeus.
Adeus, porque eu não tenho mais palavras, porque o que sinto não me sai dos lábios, vive no coração.
Pedes-me para entrar, mas eu fico, eu fico porque daqui a nada vou embora e nunca mais me vês, porque afinal só vim dizer-te que te adoro sem precisar de usar uma única palavra, eu só vim mostrar-te que falamos a mesma língua: a do sentimento.
Por isso, depois das palavras ditas, depois da amálgama de sentimentos que nos trespassa o peito, abraço-te apenas, como se naquele abraço não houvesse malas de angústia e sacos de dor...Como se eu fosse apenas, como se naquele abraço me transportasses para o aeroporto e eu te visse acenar-me lá do fundo.
- Nunca te esquecerei, sabes?
È claro que sabes!
Um beijo na cara, um até sempre, um “gosto muito de ti”, um adeus que nunca serei capaz de pronunciar, um sentimento que me salta do peito e se semeia no teu coração.

Isa Mestre

1 comentário:

Anónimo disse...

Os teus textos sentem-se msm ka dentro.. tocam-nos bem la no fundo.. e fazem-nos pensar.. pensar e sorrir por saber k felizmente ainda existem pessoas k konseguem paxar tais sentimentos atraves d simples palavras =)

beiJo*