domingo, abril 16, 2006

Não esqueci

Não mentirei.
Porquê enganar-me? Sei que quando olhar adiante ninguém vai lá estar, serei apenas eu. Eu e o que restou de vós em mim. Eu e as minhas recordações tolas de quem um dia disse que não esqueceria, eu e as minhas loucuras que agora me transformaram numa louca perdida longe da dimensão desse nosso viver, eu e os sentimentos que me acompanham, eu e os rostos que ainda não se perderam na minha memória.
E recordarei as nossas conversas, os nossos medos e as nossas incertezas, voltarei a gritar como uma menina que chama por vós, a sentir medo como sentimos, a duvidar e a procurar resposta para as minhas dúvidas tal como procurámos. E voltarei a ver-vos diante dos meus olhinhos radiantes, como se eu fosse novamente a criança e pudesse abraçar-vos a todos. Mas, são minutos efémeros, perdidos, tristes e desamparados na minha memória fria arrastada por um sopro do coração. Apenas minutos repletos daquele amor e daquela inocência que julguei eternos. Porém, a eternidade perdeu-se quando a vida nos cortou os caminhos, nos guiou por diferentes rotas.
E eu deixei que ela vos levasse sem lhe fazer frente, deixei-a vencer, tal como um doente incapaz de enfrentar a própria doença. Resignei-me acreditando que seria possível esquecer a saudade, o amor, os laços que nos uniam. Na verdade, tudo não passou de uma ilusão. Menti. A mim mesma e a todos vós.
Porque, na verdade, não esqueci nada, nem a saudade, nem as alegrias que partilhámos, nem os momentos em que desejei ter-vos novamente a meu lado. Não esqueci que o amor se perde, que também cai em esquecimento. Não esqueci o momento em que partimos; devagar porque aqueles minutos pareceram anos, ridículos porque o amor torna-nos simplesmente ridículos.
Saímos a correr por entre a neblina da manhã que nos cobriu os rostos de um nevoeiro de saudade e nostalgia, partimos e dissemos: «Esperemos que nos voltemos a encontrar» e todos baixámos a cabeça por sabermos que esse momento não existiria. Despedimo-nos, os nossos passos levaram-nos pelos caminhos da vida e os nossos corações ficaram para sempre presos aquele momento, aquela mentira, ao engano cego a que a alma se propôs.
E hoje eu estou aqui…sozinha recordando-nos, revivendo-nos no meu imenso mar de solidão e vazio, no meu pássaro que perdeu as asas para voar, as asas do sonho, do nosso sonho… Talvez ainda estejam perdidas por aqui, nos cantos que percorremos, nas palavras que dissemos, nos papéis que escrevemos, talvez não seja tarde ainda para buscá-las e reaprender a voar, talvez não seja demasiado tarde para voltar a acreditar na nossa mentira, talvez possa ouvir novamente as nossas músicas e buscar a terra distante em que existimos, em que nos despedimos sem sequer imaginar que jamais voltaríamos a ver-nos.

Isa Mestre

1 comentário:

Anónimo disse...

mt bom. mt bom mesmo, talvez dos melhores :p adorei**