domingo, maio 07, 2006

Fiquei

Não chorei. Saíste a correr e eu fiquei, perdida, triste, magoada, fiquei apenas mulher sentada à mesa onde conversámos. Fiquei com os sonhos, com os planos do nosso futuro, com as palavras que me deixaste, com a mágoa que semeaste no meu coração.
Permaneci calada enquanto a dor escreveu dentro de mim a nossa história, depois, abri esse livro e li as suas páginas, uma a uma, como quem vê o final se aproximar e deseja que para além daquelas páginas existam outras escondidas algures sobre o imenso dossier da vida. Esperei encontrar as desejadas páginas, busquei-as por toda a parte, toquei infinitas vezes nas palavras escritas esperando que se multiplicassem, que escrevessem novas histórias em que voltássemos a ser os protagonistas, esperei, esperei e morri.
Morri nessas páginas em que o nosso amor foi sepultado. Mas não chorei, não te pedi que voltasses, não te liguei, não te procurei. Fiquei apenas eu, eu e a dor que se sepultou no meu peito.
Quando a manhã se estendeu perante o meu olhar estiquei o braço na esperança de voltar a encontrar-te no espaço vazio, na ténue alegria de poder voltar a tocar-te e a sentir-te, na terna ilusão de voltar a ter-te a meu lado. Procurei-te nos objectos que ainda restaram da tua presença, porque as pessoas partem, os objectos não.
Mas não chorei. Contive as lágrimas e guardei as palavras que poderia ter-te dito nessa manhã de Setembro, guardei-as na caixinha do nosso amor, por isso, se ainda tiveres a chave e quiseres abri-la, fá-lo com cuidado para que não as deixes escapar por entre os teus dedos fugidios e vagabundos.
Quando a noite se aproximou, abri o guarda-fatos e olhei-me ao espelho, imaginei-te olhando-me também e na minha imagem surgiu o teu reflexo, a tua luz, a tua beleza dentro daquilo que sou. E vi-te uma vez mais. Estavas vestido de forma informal, tinhas nos olhos um brilho especial, como duas candeias na escuridão da minha noite. Chamaste-me. Eu fiquei, sentada na minha cama, como uma pobre menina que devaneia constantemente e já não distingue a recordação da realidade.
Chamaste-me e eu fiquei. Ouviste?
Não fingi que já não precisava de ti, mentiria se o dissesse, não disse que não me fazias falta, não afiancei que os meus olhos já não te procuravam na imensidão desta casa vazia. Não! Apenas fiquei. Fiquei porque não tinha o direito de ir e magoar-me uma vez mais, fiquei porque o meu amor é demasiado para tão pouco carinho, fiquei porque o coração me disse que a recordação é a mais bela coisa da vida, fiquei para não construir outros mundos e vê-los ruir diante dos meus olhos.
Enquanto vagueaste como um louco eu fiquei sentada na escuridão do meu quarto e ouvi-me, ouvi a voz que há dentro de mim, a voz que me disse que erguesse a cabeça e guardasse no coração o melhor de nós.
Fi-lo, fá-lo-ei para sempre, mas recuso-me a chorar e a procurar-te por aí quando afinal a recordação do nosso amor é tudo aquilo que resta de ti em mim.
Por isso, saíste e eu fiquei.

Isa Mestre

2 comentários:

Anónimo disse...

tanto palavreado tanto palavreado mas eu continuo na minha: "matematicar eh q eh viver" :D eheh :X bjos maluca :P

Anónimo disse...

Nao sou homem d formalidades. nao escrevo o k sinto nem o k me vai na alma ou no coracao, nao so pk nao comsigo, mas tb pk nao kero. sozinho tranco m dentro d mim, mas axo k, por akilo k vejo sinto e le-o tu transmites o k sentes d forma clara. comsegues tornar sentimentos rigidos em paixoes infinitas. dou t os parabens por ixo. mostras uma personalidade forte e caracter. continua sem saber o k os outros pemsam e iras longe. jks e felicidades. "Es o k sentes e nao o k dizem"