sexta-feira, junho 02, 2006

Alma Nua

Talvez tivesses razão... Perdi a alma, perdi a roupa da alma que me vestia de sentimentos e me deixava tão nua perante o teu olhar.
Na vida é assim, perdemos tudo, perdemos os abraços, os beijos, o carinho, o amor, perdemos o ódio e a revolta, perdemos, perdemos...E tu sabes que perdemos.
Porém, hoje sigo nua pela estrada como uma vagabunda, não tenho roupas nem amor, não te tenho a ti, afinal apenas isto diria tudo.
Caminho rumo à vida, aquela que não escolhi, a que tu me indicaste com o dedinho frágil da tua mão trémula e eu simplesmente segui, confiante, decidida, apenas tua. Como costumavas dizer: Para sempre tua.
E perdi o rumo da minha própria vida...anulei as minhas escolhas para ceder às tuas, odiei o outrora amado, sorri ao invés de chorar, amei-te, amei-te e morri.
Morri no fundo do meu ser, despi a minha alma e deixei-a abandonada no cais das nossas vidas, embarquei no teu navio que prometia mundos e no final não me levou além do que já conhecia.
Sonhei coisas bonitas, como sonham as meninas, porque a teu lado eu seria eternamente uma menina.
Os nossos caminhos distanciaram-se, dissémos um ao outro que o amor morreu e ambos baixámos as nossas cabeças por sabermos que isso nunca seria possível.
Mas eu fui, eu fui e tu foste. Fomos aos nossos mundos, descobrimos a essência da vida, tocámos suavemente a liberdade e ganhámos asas de seda para voar no plano infinito dos nossos brilhantes olhos.
Mas, hoje, sozinha desço e subo a avenida, a nossa avenida. Sozinha, como na primeira vez, quando nos conhecemos, quando me disseste o teu nome que nunca mais esqueci. Continuo perdida, com asas, mas perdida por não saber para onde voar, porque a minha alma já não voa, plana.
Diz-me que nunca mais voltas, então dir-te-ei que venhas esta noite, que aqueças o meu coração com os sentimentos que te atravessam, perdir-te-ei que me vistas a alma. Quando vens? Vens?
Traz a última réstia de sol do dia para a escuridão da minha noite, traz o calor do teu quarto para as minhas noites frias e vazias, traz a alegria do teu peito e enche a minha casa, pinta as paredes de luz porque elas só já sabem chorar.
Por fim, traz sentimentos, porque talvez eu os tenha perdido com a dureza da vida.
Quem sabe se ainda será possível sonhar neste labirinto perdido de sonhos? Eu sei e tu sabes, por isso, vem.
Vem com aquilo que és, com o que transportas para o palco da vida, vem e não digas mais nada, sorri apenas.
O teu sorriso será o renascer, será abrigo para as tempestades e roupa para a alma nua. Ouviste? Nua.

Isa Mestre

Sem comentários: