A mulher senta-se. Não sorri. Sabe, afinal que os sorrisos atrapalham sempre um bocadinho. Apercebe-se que ninguém à sua volta sorriu. Sente-se feliz por não ter sorrido. Por momentos tem a sensação de que se sorrisse seria vista como algo ridículo. E se há coisa que tem medo é de ser vista como tal.
Sento-me também. Não na mesma mesa, mas no mesmo palco. Também eu com medo de ser visto como algo ridículo. Venho sozinho. Pergunto-me se haverá no mundo alguma fórmula capaz de anular o factor pergunta. Anular de uma vez por todas a velha que se senta diante de mim a conjecturar se sou paneleiro ou se me morreu a mulher.
Visto-me de preto. Um ponto a favor do luto. Se calhar até tem pena de mim.
Nem uma coisa nem outra. Sou alérgico à mentira. Sou alérgico, portanto, a casamentos.
Os outros menos alérgicos que eu, mais enérgicos na farsa, mais poderosos na personagem que vestem para se esquecerem de quem são. Não que eu não me esqueça também por vezes. Mas não sou tão bom actor.
A minha mãe pergunta-me,
- és feliz?
E eu penso que a felicidade é apenas a mulher que se senta sem sorrir com medo que o seu sorriso possa parecer ridículo.
É isso a felicidade. A ilusão de sermos perfeitos aos olhos dos outros.
Respondo-lhe que sim. Ainda que nunca consiga pôr os lençóis direitos quando faço a cama, ainda que me sente sozinho, ainda que me sinta pressionado pelos olhos de qualquer uma mulher a encontrar um destino. Mesmo que eu não queira tê-lo, mesmo que ele não me faça falta nenhuma.
sábado, setembro 17, 2011
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