quinta-feira, novembro 18, 2004

Inverno

Inverno

Estação fria, rostos fechados, mentes cansadas do trabalho e exaustas da rotina que lhes é imposta. As pessoas caminham pelas ruas quase sempre com um passo apressado como que fugindo das “lágrimas do céu”. Todos procuram um abrigo, um sítio onde possam aconchegar-se junto à lareira ou no conforto de suas casas. Na televisão programas patéticos vão-nos entretendo, e não nos preocupa mais nada. Conformamo-nos com a ignorância, despreocupamo-nos em pensar se existe alguém que precisa de nós... Somos frios, gelados... tal como o vento que passa sobre os nossos rostos.
Desanimados, deprimidos e inconscientes vivemos dentro da nossa própria “concha”. Somos irmãos do egoísmo, da depressão, da ignorância e da preguiça. Nossas mãos estão “vazias”, havidas de boas acções, desejosas de poder levar a tão desejada refeição de carinho ao pobre que, nas ruas se sujeita à chuva e ao frio dos Invernos mais rigorosos.
Estamos sempre tão ocupados com os nossos problemas, as nossas questões, as nossas dúvidas e as nossas discussões pessoais que não nos resta nem um minuto para reflectir sobre a vida de muitos outros. Esses que por momentos dormem ao frio e ao relento nessas noite de luar, passadas sobre o banco de um jardim ou na calçada de uma rua qualquer. O Inverno é frio, cada vez mais frio.
Quando chega o Natal pensamos apenas na festa, nos presentes e na comida. E aqueles que nada disso têm? E os que passam o Natal agarrados à seringa, à garrafa de bebida ou ao pobre cão igualmente abandonado?
Esse homem que dorme no jardim, humildemente enfeitado e sob imensas luzes de diversas cores, a pessoa que também sente, o homem que chora.
No entanto, suas lágrimas jamais chegarão até nós, perder-se-ão algures num canto do mundo. Sozinho chora a sua mágoa, esse velho grisalho que faz da rua a sua única casa.
Enquanto nós distribuímos presentes esse homem que nas mãos leva a miséria oferece sua alma ao vício em troca de alguma inconsciência.
O mundo não é justo.
O Inverno é cada vez mais frio.

Isa Mestre

Sem comentários: