quinta-feira, janeiro 26, 2006

Canção

Invade-me uma sensação de liberdade e de alegria, quer expandir-se por todos os poros da minha alma… então sorrio, canto canções.
Subitamente vem-me à imaginação as melodias de meninos, recordo as músicas da nossa adolescência conturbada, depois…depois as notas dessa nossa canção saltam-me para o coração e os meus lábios desenham pela casa a música que tantas vezes ouvimos. Eu canto-a, como na primeira vez, com a mesma emoção, como se as minhas cordas vocais ainda permanecessem idênticas, como se a maturidade não se tivesse apoderado do meu corpo.
È a canção da morte…da tua morte. Porque enquanto a canto e recordo os momentos vividos, tu agonizas do outro lado do planeta, tentas despedir-te do mundo, das pessoas, das palavras… na tua cabeça ecoa essa mesma canção, aquela que eu canto com um sorriso nos lábios e alegria na alma.
Não sei de nada, não sei que naquele preciso momento estás a dizer-me adeus, não sei que as horas jamais poderão prolongar a tua estada neste mundo, não sei se devo cantá-la, ou se devo ceder ao silêncio desta casa.
A alegria esvai-se em instantes, volta o vazio, perde-se a alegria, regressa a madrasta tristeza ao meu rosto pueril.
De repente, tento cantar, mas os sons ficam presos nesta garganta ferida de tanto chamar o teu nome, as palavras não saem, as notas perdem-se na minha cabeça sem conseguir atingir o coração.
És tu quem me tira esta canção da alma, és tu que respiras a última lufada de ar da vida, e eu perdida e triste nem me apercebo que apesar da distância estás a morrer nos meus braços.
Então calo-me. Deixo-te ir sem fazer frente à morte, sem lutar com a minha espada de ouro, sem dizer que te amo antes que seja tarde demais…Deixo-te partir, para sempre…
Vejo a tua vida escapar-me por entre os dedos e não consigo detê-la, quero agarrar essa canção, esse som, essa alegria que cultivámos durante anos, mas tu, afastas-me as mãos, guardas a letra da nossa canção junto do teu peito, sorris-me e vais-te.
Vou inocentemente à tua procura, julgo ainda poder segurar-te a mão e prender-te à vida, mas os meus dedos pequeninos revelam-se incapazes de salvar-te da dor e da morte.
Então a alegria foge-me do rosto, a canção junta-se a ti e abandona o meu corpo, a minha alma, a minha vida. Sei que jamais poderei cantá-la sozinha, porque agora tu já não estará do outro lado do Planeta para completar os versos em branco que a minha distracção deixou escapar, porque esses sons parecerão cemitérios daquilo que fomos e que vivemos…
Por isso, se queres que cante, vem! Empresta-me esse coração que ainda é meu, dá-me essa alma que me pertence, junta a tua voz à minha e cantarolemos como loucos a nossa canção, a canção da vida, a canção que te levou nos braços da morte…


Isa Mestre

2 comentários:

Anónimo disse...

está lindo! mas acho que andas a falar muito em mortem, atenção aos assentos e ao plural

beijinhos adoro-te

desconhecida

Anónimo disse...

Que dizer? Que mais uma vez os teus textos deicham-se sem palavras?! És como que o meu anjinho das palavras... lool
Consegues transmitir sensações, pensamentos que parecem impossíveis de transmitir por palavras, mas tu consegues! =D
mais uma vez PARABENS.. e quanto aos 3-1 ...Esquece lá isso... SLB the best 4ever :) lOl.. **BjU