quarta-feira, janeiro 31, 2007

Emboscada



Caminho pela rua, não sei quem sou.
Chamam-me. Não olho para trás, porque mesmo que o alcatrão me prenda os pés, jamais poderá algemar a minha força de viver, a minha vontade de seguir pela estrada fora e desenhar novos rumos.
Chamam-me. Nas vozes cansadas do tempo, nos acordes perfeitos da vida…apenas o meu nome segredado no ouvido do mundo,
- Rodrigo,
O meu nome a percorrer todas as vozes e a ser todos os corpos,
O meu nome a sorrir e a sonhar,
O meu nome a cair,
O meu nome repleto de sangue,
O meu nome a morrer,
- Rodrigo,
Como da última vez que me chamaste.
- Rodrigo,
Como quando a minha mãe disse à enfermeira que nome me daria.
Mas eu não sei quem sou.
Não olho para trás, não sou esse amontoado de palavras soltas que me percorre e me atinge, que me toca e me mata.
Estou cego. Serás que não vês? A raiva cegou-me os olhos, amarrou-me as mãos atrás das costas e deixou apenas o silêncio dos dias frios.
Depois, segredou-te ao ouvido que viesses à minha procura, que viesses atrás de mim como as mães correm atrás dos filhos no parque.
Hoje, chamas-me e nada sou, porque a tua voz é a raiva que tenho no peito, o punho cerrado dentro do coração, a lágrima perdida no labirinto do sentir.
A tua voz cada vez mais forte,
- Rodrigo, Rodrigo,
E eu quase a ceder, quase a parar, quase a admitir que sou eu, mesmo que queira fugir e dizer que não sei, eu quase a ceder…quase.
Oxalá pudesse perguntar-te por onde andaste todo este tempo, que caminhos percorreste, que vidas viveste, que amores acolheste no teu seio. Mas, a estrada é longa e espera por mim, as mochilas repletas de sonhos são pesadas e empurram-me para o mais fundo da terra.
Não me peças que te espere. Cala essas palavras de desespero que não são mais que réstias de compaixão, tal como migalhas que marcam o caminho de regresso.
Diz o meu nome ao silêncio. Apenas ele te responderá, apenas ele saberá de onde venho e para onde vou. Porque o silêncio é o que sou e o que sinto.

Isa Mestre

2 comentários:

Felipe disse...

silêncios gritantes apavorantes calmos mentirosos e verdadeiros e insuficientes...

chega a doer esse silêncio, não?
em mim dói um pouco. acho q o suficiente para me sentir vivo...
mas sentir-se vivo nem é tão necessariamente bonito assim...
mas pode ser tb, né...

Conceição Bernardino disse...

Olá,
Ser feliz, do ponto de vista da psicologia, não é ter uma vida perfeita, mas saber extrair sabedoria dos erros, alegria das dores, força das decepções, coragem dos fracassos. Ser feliz neste sentido é o requisito básico para a saúde física e intelectual.
Paragrafo retirado do livro “Nunca desista dos seus sonhos” do autor augusto Cury.

É dos sonhos que eu vivo com os pés bem assentes na terra, força!
Beijinhos
Conceição Bernardino