sábado, janeiro 13, 2007

A Palavra

Leio-te nos lábios. As tuas palavras falam de amor.
Amor?
Que palavra é essa? ,
perguntam os filhos aos pais ao final do dia.
Os olhos impacientes dos meninos que te ouviram na rua a pregar uma doutrina em que já ninguém acredita… os olhos dos meninos em busca de algumas palavras no seio dos corações.
- O que é o amor, papá? ,
Pergunta ele.
E o senhor fica calado. Tu bem vês o seu silêncio camuflado por detrás da vergonha, da face séria e comprometida.
- Não é nada filho, esquece o que diz aquele senhor.
Seria tão mais fácil esquecer… Tu bem sabes que é isso que todos eles querem. Esquecer que há mundo, que há sentimentos que nos prendem como amarras profundas, que nos prendem e nos sufocam.
Porque, na verdade, vivemos para amar, e essa é uma realidade para a qual nunca estaremos verdadeiramente preparados. Porque amar é uma tarefa dura e as nossas pernas estão cansadas de percorrer o espaço vazio.
Mas, a tua pergunta continua a ecoar no coração do menino. È impossível esquecê-la, porque ele ainda tem dentro de si todos os “porquês” do mundo, todas as palavras desconhecidas e todos os lugares nunca antes vistos.
Porém, o papá nunca lhe negara responder às suas perguntas, o papá nunca lhe dissera que esquecesse.
O menino, na sua voz rouca e inocente, insiste na palavra de cinco letrinhas,
- O que é o amor, papá?
E tu bem vês… O senhor a pegá-lo por um braço, a sacudi-lo num gesto de reprovação, a dizer-lhe baixinho, evitando o escândalo denunciado,
- Bem te disse para não falares com estranhos! ,
E novamente a voz do miúdo, num sussurro,
- Mas…papá…
Pobre menino.
Ele apenas queria saber o que era o amor, o que foi um dia…
Mas, há quem se envergonhe de sentir, de responder com alegria e firmeza face à inocência de um menino. Há quem cale o sentir por detrás da voz sumida, mas se esqueça que tu sabes ler nos lábios.
Amor? Que palavra é essa?
Muitos hão-de perguntar-se, muitos hão-de encontrar respostas sem sair do mesmo lugar.
Muitos hão-de descobrir o que é o amor, tal como o menino que olhou para dentro de si e sorriu.

Isa Mestre

1 comentário:

Felipe disse...

eu, como o pai, não responderia a pergunta.
essa pergunta pertence à categoria das perguntas absurdas.
e, como sabemos, as respostas às perguntas absurdas são surdas.
como as crianças têm sensibilidades q só a vida pode permitir, o menino provavelmente entendeu o q os olhos do pai diziam já q ele acabou olhando para dentro de si sorrindo...

mas isso são continuações q se passariam dentro de meu mundo de ilusões q acariciam...