domingo, abril 10, 2005

Campeão

Porque te cortaram as asas doce pássaro inocente? Porquê a ti?
Porque sempre lutaste e quiseste um dia ser feliz ao abrigo da luz do teu maior sonho? Porque deste tudo aquilo que tinhas e ainda o que não tinhas para poder vencer? Porque empenhaste a tua coragem, enquanto outros nem ousaram fazê-lo?
O teu talento tinha asas para voar, soltava-se com leveza sobre algumas folhas de papel, sobre os campos, sobre os relvados, sobre as telas que colorias. Quiseram cortar-te as asas, impedir-te de voar, de ir mais além... Retiraram-te os sonhos como quem te retira o alimento que te mantêm vivo. Mas tu continuaste. A correr, a correr, sempre humilde, guerreiro e honesto, em busca da tua maior arte.
Fizeste tantos planos, sonhaste alto, com o teu futuro e com o nosso, sorriste connosco, brilhaste a nosso lado, iluminaste-nos com a tua luz.
Hoje choras. Choras porque correste quando todos ficaram parados, porque te molhaste quando todos procuraram um abrigo, porque lutaste quando todos desistiram de lutar, porque continuaste vivo quando a eminência da morte estava perto demais.
Não merecias que te cortassem as asas. Apenas querias liberdade para poder fazer aquilo que mais amavas. Merecia-la com o todo o respeito, porque foste um justo vencedor, jogaste limpo e saíste vitorioso, mas, nunca te quiseram oferecer a glória.
No relvado choraste pelo teu destino. No lugar onde tantas vezes nos ofereceste sorrisos depositaste as tuas sinceras lágrimas.
Querias ser um campeão. Era-lo na verdade, embora poucos o tenham reconhecido.
Ninguém quis coroar-te, ninguém quis dar-te a estrela de reconhecimento da grande arte que nasceu contigo.
Por vezes nesse palco onde tudo acontecia, as pessoas não te olhavam, apenas passavam os seus olhos egoístas sobre ti.
Foste trocado, foste vendido, foste coleccionado, foste esquecido. Não o merecias, pois o teu talento estava acima das oportunidades de brilhar que te foram dadas.
Enquanto tu corrias atrás de uma bola, lutavas aguerridamente em cada lance, choravas as derrotas e sorrias ás vitórias, os outros, aqueles que conseguiram singrar, nunca amaram de verdade aquilo que faziam.
Eles foram felizes, tu não.
Não porque te dedicasses menos, tivesses menos talento ou a pontaria aguçada, mas apenas porque ninguém olhou de uma outra forma para ti.
Apenas tu viste sinceridade nesse sujo jogo de interesses, onde foste subjugado em troca de palavras e dinheiro.
Eras demasiado inocente para ver maldade nesses senhores amáveis.
Todos eram iguais aos teus olhos, mas, bem sabes que nem sempre assim foi.
Agora, estás impedido de voar, preso, magoado, inútil.
Na vida por vezes é assim, independentemente do nosso talento ou habilidade.

Isa Mestre

Sem comentários: