domingo, abril 10, 2005

A distância que nunca nos separou

Pai, disseste-me um dia que as coisas mais importantes da vida são aqueles que nascem connosco.
Tinhas razão.
Eu nasci contigo e tu criaste-te, implementaste-me o respeito, a ambição e os sonhos.
Quando nasci quiseste oferecer-me uma vida melhor, quiseste poderes orgulhar-te um dia de mim. Todos os pais sonham poder orgulhar-se dos seus filhos.
Partiste então... Com mágoa, dor e muitas lágrimas. Reuniste os teus sentimentos e transformaste-os numa força que te permitiria vencer.
Grande parte da minha infância foi passada distante de ti, cresci longe dos teus olhos, que apenas se fixavam em mim duas vezes por ano.
Como custava não poder ter-te a meu lado... O carinho, o amor, o aconchego e as histórias de encantar que os pais contam aos filhos.
Mas sempre soube que estavas longe para poderes oferecer-me aquilo que julgavas merecer, isso fazia-me orgulhosa.
A tua voz distante que chamava por mim todos os dias, sempre a mesma voz carinhosa, sábia e atenta. Corria para o telefone para contar-te todas as novidades do dia, as vitórias e as derrotas, as lágrimas e os sorrisos. E tu ouvias-me sempre com a mesma atenção, orgulho e emoção de uma pai babado.
Estavas longe mas isso nunca te impediu de participares na minha educação como se estivesses verdadeiramente a meu lado.
Eu cresci. Ouvindo a tua voz, os teus conselhos, as tuas suaves reprimendas marcadas pela saudade.
Ensinaste-me a tornar-me uma “mulherzinha”, a apoiar-me nas fraquezas e torná-las nas minhas maiores forças.
Foste o maior exemplo de esforço e amor que alguma vez poderia ter tido.
Obrigado, pai.
Tu que suportaste a saudade para poderes oferecer-me uma escola, uma casa, livros, cadernos, lápis e canetas. Privaste-te do prazer de me ver crescer, da alegria de levares-me à escola no primeiro dia, do amor da minha mãe. Tudo isto o fizeste por mim e pelo meu irmão.
Enquanto dormíamos, tu apenas dormitavas, pois no dia seguinte seria uma jornada de trabalho intensa sob o frio que te gelava a alma.
Tivémos saudades, muitas saudades, também as tiveste.
A nossa história é o maior exemplo de que a distância jamais poderá ser culpada dos nossos falhanços a nível da educação.
Na verdade, milhares e milhares de quilómetros nos separavam, mas , nunca foste um pai distante.
Pelo contrário, sempre serás um pai brilhante.

Isa Mestre

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