quarta-feira, novembro 23, 2005

Os Cavaleiros da Noite

Os Cavaleiros da Noite

Os cavaleiros da noite têm medo do dia. São fortes, poderosos, heróis quando colocados à prova perante apostas miseráveis e patéticas.
São rapazes e raparigas, homens e mulheres, que buscam na noite o consolo para os seus dias menos bons, para os falhanços, para as tristezas. Eis que os vemos alegres, imponentes segurando as garrafas de bebida que prometem fazer esquecer o mundo. Sentem-se felizes, então saltam, pulam, bebem uns copos, parecem loucos vagueando no seu mundo de perdição e exibicionismo. Os outros, os sóbrios que se divertem e buscam alegria riem-se dos seus actos, das suas quedas, das suas palavras embriagadas pela crueldade da vida.
De noite em noite, de bar em bar, tudo é para esquecer.
Bebe-se para esquecer, fumam-se “charros”, cometem-se erros graves julgando que essa é a única saída para um Universo de desespero.
Mas, mesmo sendo os mais fracos, os cavaleiros da noite julgam-se temíveis e indestrutíveis enquanto a escuridão consome a sua vontade de viver.
Depois, vem o dia.
O terrível dia em que a luz toma o lugar da escuridão e o mundo volta a ser de todos e não apenas deles. A ressaca apodera-se-lhes do corpo e leva-lhes a alma. Nesse momento, os imbatíveis tornam-se novamente nos meninos de outrora, suplicam para que a dor se vá e em seu lugar venha a paz dos dias felizes. Porque os cavaleiros da noite são os vagabundos do dia. Os frágeis que se escondem por detrás da faceta de heróis, os que são pessoas diferentes sob efeitos de álcool e narcóticos.
Os cavaleiros da noite, perdem de dia os seus cavalos e caminham a pé, desprovidos de forças, descalços tal como mendigos que buscam uma razão para viver. Caminham sem rumo, sem futuro, sem sonhos, afinal no terminar de cada tarde o sol cede gentilmente o seu lugar à lua e então voltam a ser os senhores do mundo.
Que haja luz capaz de iluminar as vidas sem rumo, carinho capaz de colmatar a falta que vive nos seus espíritos, mãos capazes de guiá-los pelo mundo fora, sem as luzes ofuscantes e o nevoeiro constante das noites de solidão e euforia perdidas entre uma e outra esquina.

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