quarta-feira, setembro 28, 2005

Sozinhos

Abandonaste-os quando eles mais precisaram de ti, deixaste de sorrir-lhe no momento em que o teu sorriso seria o abrir das portas do seu mundo, os teus braços fecharam-se quando eles te quiseram abraçar, quando te quiseram contar as novidades, quando fizeram aquilo que todos os miúdos fazem.
Chamaram incessantemente por ti e tu não estavas lá, julgaste que havia outros valores, outros interesses, outras pessoas que mereceriam mais atenção.
Esqueceste os seus rostos cintilantes e o carinho que te deram durante tanto tempo, ignoraste que eles te amaram, que deixaram de fazer muitas coisas para estar contigo, que discutiram muitas vezes com o intuito de te proteger.
Choraram por ti, por não estares do seu lado com a tua presença aconchegante, o teu olhar sincero, as palavras premeditadas, a ética e os valores que colocavas em cada acção.
Ensinaste-lhes a viver com dignidade, fizeste com que respeitassem os outros e a si mesmos, no entanto, quando eles cresceram surgiu-lhe diante dos olhos a realidade fria e cruel de quem se vê obrigado a lutar com as suas armas, a viver sozinho sem o carinho e sem o amor que lhes dispensaste em determinadas alturas.
Fizeste-os acreditar que estarias eternamente do seu lado, tal como escudo protector, que os levarias para a guerra da vida e lhes mostrarias como vencer os maiores e os mais fortes. No entanto, os mais fortes apareceram e eles agiram como inocentes deixando-se ferir e magoar até que as forças se acabassem por completo. Caíram na lama suja, foram pisados e ultrajados, enquanto tu estiveste distante sem te preocupares onde e como estariam. Foram fortes e corajosos, seguiram os princípios que lhes ensinaste e provaram aos outros que eram capazes.
Cresceram e aprenderam a sobreviver às tempestades da vida, à tua ausência, à dor do abandono.
Não guardaram rancor, pois nos corações nobres não há espaço para sentimentos cruéis.
Eles continuam a sorrir longe dos teus olhos, sorriem como antigamente, com alegria, com ânimo, tal como se os seus sorrisos fossem os passaportes para o mundo da glória.
O mundo que é apenas deles, aquele que deixaste para trás quando as tuas decisões incalculadas causaram o sofrimento de dois seres inocentes.
No entanto, jamais te apontariam o dedo, e quando esperasses receber desprezo da sua parte eles seriam os primeiros a dar-te a mão.
Afinal, por muitos erros que tenhas cometido és a mulher que eles mais amam na vida, a que mais admiram, a que mais alegria poderia proporcionar-lhes, a que mais gozo lhes daria ver sorrir. Foste tu que os ensinaste a andar, a falar, a comer, a brincar, a ler e a escrever, foram os teus braços que os aconchegaram durante anos, foi a tua face que beijaram todas as noites antes de adormecer. E isso, nada deste mundo poderá mudar.
Fizeste as tuas escolhas, não devo criticar-te por isso, respeito-te e este sentimento não mudará. Desejo apenas que sejas feliz, independentemente do sítio onde estás espero que a última réstia de sol possa iluminar todos os teus dias.
Talvez um dia voltes, um dia que não seja tarde demais, um dia que os nossos olhos se encham de brilho por ver-te chegar, um dia de sol e de alegria como hoje…

1 comentário:

Anónimo disse...

Eu, Deca, chorei e a Tânia chorou... porque este teu texto deixou-nos muito comovidas, mas ao mesmo tempo fortes e esperançosas de ultrapassar este difícil obstáculo...
Obrigada pela motivação!
Nota da Deca: Isa, quero pedir-te desculpa por te ter magoado, mas apenas precisava de deitar cá pra fora os meus sentimentos...mas também quero, e isto com mais intensidade, agradecer-te por seres quem és. Tens sido a melhor mãe que eu alguma vez podia ter...OBRIGADA! Adoro-te.