domingo, agosto 20, 2006

Chegar a ti


Sentado na pedra onde tantas vezes olhámos o mar, sinto as ondas beijando-me a sola dos pés, o cheiro da maresia invadindo-me as narinas.
Quero crescer por dentro, como crescem os verdadeiros homens, como voltam a crescer as árvores às quais lhes foram retiradas as raízes.
Eu, apenas quero crescer depois de ti, depois que o teu olhar se desprendeu do meu e pousou noutros lugares deste nosso horizonte, depois que as tuas mãos abandonaram os meus dedos serenos e fugidios, depois que o teu sorriso maroto se perdeu por detrás da infinita rocha da nossa vida.
Mas, sinto-me cansado de tanto correr, correr para longe quando a eminência do teu aparecimento está sempre tão perto, correr atrás de novos mundos quando o meu mundo continuará a ser sempre teu, correr na tentativa de encontrar uma nova estrada quando o alcatrão do nosso sentimento ainda me prende os pés e me impede de prosseguir. Mas eu continuo a correr, a correr atrás de um caminho que se revela impossível de encontrar, porque eu corro na escuridão de olhos vendados pela fúria, eu corro sem saber para onde, quando todos me dizem que afinal basta correr...desaparecer por momentos e fingir que tudo não passou de um sonho mau...basta correr e no dia seguinte acordar cansado mas sem ti, cansado mas sem o sentimento que me percorre as veias e repousa no meu triste coração.
Eu queria correr para longe, mas, diz-me, para quê correr se estarás sempre aqui? Se o coração não é objecto que se substitua ou se ensine a amar? Correr para quê, se as minhas pernas só procuram as tuas no frio do Inverno que se estende perante o meu olhar?
Já não quero mais este mundo que escolhi para mim, na verdade, talvez nunca o tenha querido verdadeiramente.
Tu bem dizias que as pessoas mudavam, eu dizia que não, fingia que seria sempre o mesmo garoto apaixonado que fazia loucuras por ti, o que corria atrás da tua sombra como se corre atrás dos autocarros...louco, extasiado, eufórico.
Mas eu mudei, hoje que vejo o pôr-do-sol percebo que nada na vida será igual, que apenas a natureza tem a incrível capacidade de se repetir todos os dias. Eu não, eu mudei, tu mudaste, afinal todos mudamos, precisamos da mudança tal como os dependentes precisam da sua droga.
Porque é que o que não devia acontecer acontece sempre? Porque os caminhos que buscamos nos fogem por entre os dedos? Porquê, meu amor, porquê?
Eu quero aprender a sorrir depois das lágrimas. Deixa-me apenas ser um raio de luz que entra pela tua janela a dentro, uma onda que te beija os pés e te faz cócegas, deixa-me apenas correr pelas estradas da vida para chegar sempre ao mesmo lugar: a ti, só a ti.

Isa Mestre

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