terça-feira, agosto 01, 2006

Fugi


Sim, tens razão, fugi.
Fingi perder o tempo, as malas carregadas de recordações apenas nossas, fingi perder o oásis de ti para te encontrar noutros mundos, noutros caminhos.
Não quero explicar-te onde erraste, onde me acorrentaste com algemas de cobre ao ouro eterno do teu coração...Não! Não quero!
Porque de tanto ferir aqui dentro, esta ferida hoje já não dói, talvez me tenha habituado a viver com ela, com os teus sentimentos secos no meu coração repleto de magia.
Sento-me à mesa e já não espero por ti, não tens nada para me dar e eu sempre soube disso, sempre soube e tentei não saber, sempre procurei e nunca encontrei.
Estás vazio.
O meu mar de sonho não pode perder-se em ti, entende-me.
Procura-me, porque tu nunca soubeste o que era perder-me. Procura-me agora, vai atrás de mim e diz que me amas, que queres os meus lábios só para ti, pega na mala das nossas recordações e trá-la de novo para dentro de casa. Vens? Procuras-me na noite agora que me perdeste no teu imenso dia?
Traz a tua guitarra e canta-me canções, como nos velhos tempos, quando acreditei que eras menino de ouro no meu mundo encantado, quando julguei puras as tuas palavras e transparentes os meus sentimentos.
Fizemos tanto fogo com a nossa paixão...aquecemos tantos corações com o sentimento que nos percorria a alma...mas hoje, hoje somos nada. Nada. Ouviste?
Tu sabes e eu sei.
Perdido, algures no mundo procuras por mim na noite fria, não me amas, mas queres-me a teu lado. Desejas apenas saber que sou tua, e de mais ninguém, saber que outro não me beija e sinto aquilo que sentia quando me beijavas, queres ter a certeza disso, então chamas-me. Mas não te ouço. Estás longe e a tua voz não chega para alimentar os meus sentidos. Grita, grita por mim.
Eu, do outro lado do mundo, espero cansada junto ao rio onde nos conhecemos, onde construimos tantos mundos sem sair do mesmo lugar, onde descalçamos os sapatos e molhámos os pezinhos no mar do amor. Trago comigo a maleta das recordações, penso em ti, penso em nós, penso no nada em que nos tornámos.
Vou lançá-la ao mar, com ela morrerá o que fomos.Talvez não morras em mim, mas o nosso amor acabará por perder-se no fundo deste rio, morrerá onde nasceu.
Beijo-a, como se te beijasse, lanço o braço para trás e antes de largar o nosso amor, sinto uma mão tocando-me.
Ès tu, sei que és tu, conheço-te o cheiro a tabaco e perfume, conheço-te o toque.
Olho-te. Já não és nada, existes dentro de mim e amo-te, mas não és nada, não podes ser nada no tudo que já foste.
Vieste tarde para dizer que me amavas, vieste quando em mim já não há forças para superar a solidão de tantas noites a chamar pelo teu nome, quando o meu próprio nome já está gasto, quando eu já não sei o que é o amor. Dizes “amo-te” e eu permaneço calada, como se as tuas palavras se enterrassem no fundo do túmulo do nosso sentimento.
Desculpa. Ficarás sozinho no cais da vida, vou-me embora, vou como tantas outras vezes o fizeste, vou, porque tal como dizias o amor é como o vento, passageiro e feroz.
Pega a nossa mala, leva-a tu desta vez, talvez te faça bem carregares as recordações do amor contigo, tornar-te-á mais homem, far-te-á crescer aos poucos.
Não me procures, agora, serás incapaz de encontrar aquilo que fui. Não procures...Eu estou aqui, diante da tua imagem triste, estou aqui e vou embora. Amo-te, digo antes de partir, os meus passos são sentimentos perdidos pela estrada da vida. Se vieres talvez possas apanhá-los e reconstruir o meu coração...Talvez.

Isa Mestre

1 comentário:

Anónimo disse...

"..e quando todos os dias se tornam iguais, é porque as pessoas deixaram de perceber as coisas boas que aparecem em suas vidas sempre que o sol cruza o céu."

..final triste o da historia, mas ainda há o talvez, um graozito de esperança no meio de tanta areia! =)

..os teus textos continuam LINDOS..assim como tu =D

BjinHxX**